Crítica | Terrifier 2 - Um slasher popular e sem qualidade
Se em Aterrorizante, Art, o Palhaço, parecia apenas um psicopata insano, em Terrifier 2 há indícios de que ele é, na verdade, uma entidade sobrenatural que se diverte ao torturar e matar suas vítimas.
Dirigido e roteirizado por Damien Leone, Terrifier 2 acompanha Sienna Shaw (Lauren LaVera), uma estudante do ensino médio que está confeccionando uma fantasia projetada por seu falecido pai para a festa de Halloween.
O roteiro tenta estabelecer uma conexão entre Sienna e o vilão, com a protagonista tendo sonhos recorrentes com Art, o Palhaço. Esses sonhos se tornam cada vez mais reais, até que Sienna é transportada para o bizarro universo de Art, onde ele orquestra um banho de sangue.
No entanto, essa relação é superficial e não há uma explicação clara para os sonhos com o palhaço. A aparição de Art nos sonhos, ou pesadelos, remete às origens do sádico palhaço, mas a justificativa para tal acontecimento é bastante vaga.
Diferentemente de outros slashers, como A Hora do Pesadelo, em que Freddy Krueger tem um motivo para sua matança, Art não possui uma motivação explícita. O roteiro apresenta mais falhas do que acertos, com Leone buscando transformar Art em um ícone cult do cinema trash de horror.
Mesmo sendo um entretenimento de baixa qualidade, o longa, com um orçamento de US$ 250 mil, teve um desempenho surpreendente nas bilheterias mundiais, arrecadando milhões. Esse sucesso fez com que a produção garantisse uma terceira parte.
Terrifier 2 se tornou um conteúdo viral no TikTok, com jovens compartilhando e comentando exaustivamente vídeos em que Art, o Palhaço, aparecia. O filme não é indicado para menores; pelo contrário, trata-se de uma obra de terror extremo, com muito, mas muito sangue, incluindo cenas de tortura e desmembramento de corpos.
Há um público para esse tipo de produção, e, mesmo sendo considerado fraco por muitos, Terrifier 2 ainda tem seus fãs que comparecem em massa aos cinemas, não tanto pelo roteiro, mas para ver Art, um possível novo ícone do gênero slasher.
Terrifier 2 (idem, EUA – 2022)
Direção: Damien Leone
Roteiro: Damien Leone
Elenco: Lauren LaVera, David Howard Thornton, Elliott Fullam, Sarah Voigt, Kailey Hyman
Gênero: Horror
Duração: 138 min.
Crítica | Aterrorizante - É um horror ruim com elementos fetichistas
Art, o palhaço, está longe de ser um ícone da cultura pop, mas, queira ou não, já tem o seu espaço no cenário dos slashers e, principalmente, no coração dos fãs do gênero. Antes de Aterrorizante (título no Brasil de Terrifier), Art já havia aparecido em Terrifier - O Início (All Hallows' Eve).
O palhaço claramente foi inspirado no famoso serial killer John Wayne Gacy, e por já ter sido introduzido sem êxito em All Hallows' Eve (2013) recebeu uma nova chance em Aterrorizante. No longa, o vilão experimenta diferentes formas de matar suas vítimas, na maioria das vezes o fazendo com muita brutalidade e sanguinolência.
Aterrorizante é um filme ruim, quase nada se salva nele — nem o roteiro, muito menos a direção sem rumo de Damien Leone. O criador de Art quis fazer uma obra trash, recheada de gore para os fãs cult do cinema de horror, mas, com uma história tão ruim, fica difícil viralizar a produção da mesma forma que ocorreu com Terrifier 2.
Na trama, duas garotas que se divertem na noite de Halloween precisam lutar para sobreviver ao maníaco Art e à matança que ele provoca em todos que cruzam seu caminho. Há tanto sangue e partes de corpos extirpados que fica óbvio que Damien queria nos mostrar o quão sádico o vilão é ao praticar seus crimes, e como os espectadores são fetichistas em acompanhar tal barbaridade.
A narrativa do longa deixa muito a desejar. Não há esforço em desenvolver o vilão, as protagonistas ou a própria história. Na antologia Aterrorizante - O Início, havia um toque sobrenatural no vilão, com ele saindo da tela e ganhando forma na vida real
Em Aterrorizante, nada disso acontece. Ele é apresentado apenas como um assassino psicótico, sem qualquer profundidade além disso. Ao abandonar a essência sobrenatural do palhaço e focar em algo mais realista, o roteiro acaba por fazer com que Art perca a sua natureza.
A verdade é que Terrifier (título original) tinha tudo para ser melhor, tanto em relação ao seu vilão quanto à final girl, que é uma péssima personagem. A única coisa a se lembrar no futuro é da trasheira e de Art, e nada mais além disso.
Aterrorizante (Terrifier, EUA – 2016)
Direção: Damien Leone
Roteiro: Damien Leone
Elenco: Jenna Kanell, Samantha Scaffidi, David Howard Thornton e Catherine Corcoran
Gênero: Horror, Thriller
Duração: 85 min.
Crítica | O Aprendiz mistura ficção e realidade para falar sobre Donald Trump
Este é o tipo de filme que consegue dividir a audiência antes mesmo de sua estreia por estar diretamente relacionado a uma polarização da realidade política (no caso, entre progressistas e conservadores sobre Trump). Claro que, em termos cinematográficos, isso prejudica a forma como a produção é vista, para o bem e para mal: quem não gosta do personagem retratado tende a minimizar os defeitos do filme, enquanto quem é seu admirador irá no sentido oposto.
O fato é que O Aprendiz não parece muito interessado em ser fiel à realidade dos fatos. Há um aviso que abre o filme e explica isso, mas não só: seu diretor (Ali Abbasi, de Holy Spider) deixa isso muito claro quando declara que pretendia "fazer uma versão ‘punk rock’ de um filme histórico, o que significa que tínhamos que manter um pouco da energia, uma certa ideia [e não] sermos minuciosos demais sobre os detalhes e o que é verdadeiro ou falso”, conforme ele esclareceu à Vanity Fair em Cannes.
Claro que quando você se refere a um personagem que não apenas existe, como está concorrendo ao cargo mais importante do mundo (a presidência dos Estados Unidos) é preciso ser muito ingênuo para aceitar a alegação do cineasta. O fato agrava-se porque o filme é lançado não seis meses antes, tampouco um mês depois, mas precisamente um mês antes de as próprias eleições em que ele concorre acontecerem. É "punk rock" demais para um filme só.
Narrativa sobre Trump muda de tom no meio da projeção
O enredo concentra-se num período específico da vida do milionário Donald Trump, a partir do momento em que ele tenta alavancar sua própria carreira no mundo dos negócios e troca o círculo de influência do pai (uma figura depreciativa) pela do advogado e lobista de bastidor Roy Cohn (já retratado no documentário Bully. Covarde. Vítima - A História de Roy Cohn, um original HBO). Cohn funciona como figura mefistotélica até a metade da trama, quando os papéis se transformam e também quando o filme desiste da linha que seguia até então.
A primeira metade é um retrato frenético das transformações sofridas por Nova York na passagem entre uma cidade decadente e deteriorada por uma nova paisagem, cujos edifícios erguidos por Trump funcionam como símbolo de revitalização mas também de ferocidade contra as políticas públicas progressistas até então adotadas. É também quando o jovem Trump conhece Ivana, uma modelo do leste europeu que acaba seduzida pelo assédio do empresário e a promessa de uma vida luxuosa.
Até determinado ponto, o roteiro trabalha bem as contradições e fraquezas de personagens multidimensionais e evita a saída fácil de eleger mocinhos e vilões. Mas é como se o diretor lembrasse de repente que, bem, este não é um filme qualquer, ele será lançado semanas antes da eleição e há um "recado" que deve ser dado. O que eram conflitos humanos convertem-se num retrato caricatural das figuras reais envolvidas e a escolha pela fantasia prevalece, inclusive com passagens que já foram amplamente refutadas pelos envolvidos e encenadas aqui como reais.
Se a lenda é mais interessante que a realidade, filma-se a lenda
Embora a ambientação do filme seja rica e os personagens despertem real interesse por serem figuras que ainda hoje ressoam na mente dos espectadores, não dá pra ignorar o fato de que a dupla de atores central carrega o filme até o fim (especialmente depois que ele vira uma história em quadrinhos vagabunda). Sebastian Stan replica perfeitamente as manias corporais de Trump - embora ele funcione melhor no retrato cômico do que no desfecho, em que ele se converte no Mefisto por si mesmo - mas é Jeremy Strong (o ator excepcional da série Sucessão) quem rouba a cena, num desempenho comovente, minucioso e que consegue emocionar mesmo depois que o filme desistiu de ser uma obra cinematográfica para virar mais um instrumento de proselitismo mesmo que o "espirito do tempo" exige.
Caso mantivesse até o final a ambiguidade e a ironia mais fina com que inicia seu filme, Abbasi superaria a polarização irritante e reducionista que impera no debate cultural. No final, o que resta é a demonização sobre uma personalidade da vida real que pouco ajuda a compreender o contexto e o momento histórico em que esse grupo de figuras públicas esteve e continua a estar inserido. Sempre que o cinema torna-se mero instrumento de doutrinação política -e isso vale para ambos os lados, visto que também os conservadores ridicularizados aqui são especialistas em reduzir o fenômeno artístico ao discurso ideológico que lhes convém - é como se houvesse uma eleição em que todos perdem ao mesmo tempo.
https://www.youtube.com/watch?v=m7TkGQurpS8
Crítica | A Garota da Vez mostra talento de Anna Kendrick na direção

Estreia na direção da carismática atriz Anna Kendrick, A Garota da Vez é o tipo de filme que promete pouco (até por ser um primeiro trabalho e uma produção relativamente modesta) mas acaba entregando um produto acima da media: e isso se dá precisamente pelo trabalho da nova diretora.
Baseado em fatos reais, o roteiro segue os passos de um serial killer norte-americano dos anos 1970, Rodney Alcala (Daniel Zovatto), que acaba por se cruzar com a participante de um reality-show ultrajante (Kendrick) na própria gravação no estúdio de TV.
Enquanto a gravação do programa se desenvolve, o roteiro alterna momentos do passado e do futuro em que o assassino encontra outras de suas vítimas. E este é o ponto de maior fraqueza do filme, especialmente na primeira metade, que acaba sendo um pouco confusa e truncada por causa dessa escolha e das alterações na linha do tempo e no ponto de vista - de resto, um clichê típico do cinema "pós-moderno" e que, hoje, acaba sendo menos "surpreendente" do que um roteiro tradicional rigorosamente linear.
Da metade para o final, quando o enredo define mais claramente quem são os personagens e qual deve ser nosso grau de interesse em cada um deles, o filme cresce porque tem uma diretora visualmente interessada em seu material.
Cenas brilhantes e uma atuação intensa de uma jovem atriz
Desde o início, a inspiração de Kendrick parece clara, até pela ambientação e por se tratar de uma história real: o Zodíaco de David Fincher. Se no início ela não faz jus ao outro filme - um verdadeiro clássico no gênero - a maneira como duas sequências são, mais tarde, conduzidas, não devem nada aos melhores momentos da produção que lhe serviu provavelmente de inspiração: aquela entre a protagonista e o assassino que se inicia num bar e termina num grande momento cinematográfico, no estacionamento, e a que se dá no deserto entre Rodney e Amy, uma de suas vítimas ( a novata Autumn Best, brilhante). São dois momentos de grande cinema e que devem crédito possivelmente também ao diretor de fotografia, Zach Kuperstein (do excelente Noites Brutais).
Saber filmar é meio caminho andado para ser uma boa diretora, e Kendrick demonstra que sabe. Os maiores problemas de sua estreia na direção são resultado das escolhas que o roteiro faz. Se houvesse se concentrado num menor número de vítimas e explorado mais os climas e o suspense (como acontece nas duas sequências acima), A Garota da Vez seria excepcional. Não é. Mas é ótimo, e isso não é pouco no cinema de Hollywood de 2024.
Crítica | Os Horrores de Caddo Lake não é "elaborado": é só chato e confuso

Os Horrores de Caddo Lake - que chega agora ao Max - guarda semelhanças com outro filme recém-lançado no streaming brasileiro: Identidades em Jogo (da Netflix). Ambos sofrem dos mesmos problemas, embora o segundo consiga ser minimamente divertido - há tantas "regras", trapaças internas e desafios lógicos para acompanhar os enredos que o ato de assistir converte-se num exercício cansativo e nada recompensador, uma espécie de jogo da memória de duas horas em que as cartinhas podem mudar de lugar por conta própria e o espectador não tem como vencer.
A melhor credencial aqui é a produção de M. Night Shyamalan, que provavelmente sentiu-se atraído pelo "segredo" do filme. Basta digitar "Caddo Lake" nos mecanismos de busca e tal segredo é revelado automaticamente. Aqui, não faremos isso. Mas é bom avisar que o tal "segredo" não tem nada de altamente original: é só confuso mesmo e repleto de problemas de lógica interna que aparentemente foram deixados de lado na leitura do roteiro.
Filme é uma correria entrecortada sem fim
Na trama, uma menina de oito anos desaparece na região pantanosa do lago do título, localizado no estado norte-americano do Texas. A partir daí, dois personagens envolvem-se na busca - cada um a seu modo e com particulares motivações. Não há mistério, preparação ou criação de suspense - e, no caso, o filme lembra outra produção, o insuportável O Mal que nos Habita, que segue a mesma linha de raciocínio de que basta colocar os personagens para correr para um lado e para o outro, cobrir com meia dúzia de efeitos sonoros e o filme se erguerá sozinho. Não, isso não irá acontecer.
A partir daqui, qualquer observação mais aprofundada a respeito da trama poderá revelar a chave para compreendê-la e não faremos isso. O espectador que suportar as quase duas horas de Dylan O'Brien (da saga Maze Runner) e Eliza Scanlen (de Adoráveis Mulheres) correndo em círculos com a mesma expressão estupefata o tempo todo será brindado com a revelação, que não é grande coisa e não vale o esforço e atenção dispensada ao filme até esse momento.
Identidades em Jogo é ultrajante e fantasioso, duvida da inteligência do espectador ao mesmo tempo que desafia sue memória de maneira cansativa: mas é, de todo modo, engraçado e visualmente atordoante. Os Horrores de Caddo Lake, por sua vez, é tão entrecortado que não permite que a plateia envolva-se com os conflitos e o drama dos protagonistas.
O paralelismo da montagem tem um ritmo infeliz que só torna a trama ainda mais inutilmente complicada: quando você arrisca a se interessar por uma cena, ela acaba e já estamos em outra. O resultado está muito abaixo do que se espera de uma produção original com o selo Max e a assinatura de Shyamalan nos créditos.
Crítica | Guerra e Revolta, da Netflix, enche os olhos com ação impressionante, mas ritmo lento atrapalha
Guerra e Revolta chega ao catálogo da Netflix
"Guerra e Revolta", dirigido por Kim Sang-man e com roteiro coescrito pelo renomado Park Chan-wook, é um épico de época ambientado durante a dinastia Joseon na Coreia. Protagonizado pelo astro coreano Gang Dong-won, o filme narra a jornada de um ex-escravo que se transforma no líder de uma rebelião. É um filme que mistura ação, política e drama em uma narrativa que, apesar de seus pontos altos, também traz alguns tropeços.
Se você busca um filme para curar o terrível tédio do fim de semana, "Guerra e Revolta" pode ser uma boa escolha. Com uma cinematografia de tirar o fôlego e cenas de luta impressionantes, ele tem seus momentos de brilho. Mas, como todo épico, há pontos que não convencem tanto e que valem uma análise mais detalhada. O filme está disponível na Netflix.
Ponto alto: cenas de ação impressionantes e valores de produção
Uma das coisas que mais me chamaram a atenção em "Guerra e Revolta" foi a sua beleza visual. O diretor de fotografia Ju Sung-lim fez um trabalho incrível, capturando os detalhes de cada cena com uma riqueza que te deixa de queixo caído. Seja nos campos de batalha ou nas paisagens da Coreia feudal, cada enquadramento parece uma obra de arte.
As cenas de luta são outro destaque. A coreografia é meticulosamente desenhada e, apesar da violência gráfica com muita espada e sangue para todos os lados, você percebe uma elegância nos movimentos. O clímax do filme, que acontece em uma praia deserta envolta em névoa, é simplesmente espetacular. É uma dessas cenas que ficam na memória por muito tempo, principalmente se você é fã de bons duelos.
Ponto fraco: falta de ritmo e de profundidade
Agora, vamos falar sobre os problemas que "Guerra e Revolta" enfrenta, especialmente quando se trata do ritmo e do desenvolvimento dos personagens. A história começa com uma execução pública, lançando o espectador diretamente no conflito que moldará todo o enredo. No entanto, o filme rapidamente perde essa energia inicial.
A amizade entre os dois personagens centrais, Cheon-yeong (Gang Dong-won) e Jong-ryeo (Park Jeong-min), que deveria ser o coração emocional da trama, acaba soando um pouco superficial. A química entre os personagens simplesmente não convence, e o motivo pelo qual eles se tornam amigos nunca é bem explorado. Isso faz com que a transição de aliados para inimigos perca parte de seu peso dramático.
Além disso, embora "Guerra e Revolta" tenha uma boa dose de ação e emoção, o ritmo às vezes parece apressado demais. Sabe quando você sente que o filme poderia ter se aprofundado mais em certos pontos, mas tudo é resolvido rapidamente para seguir em frente? A sensação é essa. Talvez essa seja uma daquelas histórias que funcionariam melhor como uma série de TV, onde haveria mais espaço para explorar as nuances e complexidades dos personagens.
Comédia forçada não ajuda Guerra e Revolta
Outro ponto que merece ser discutido é a direção de Kim Sang-man, que nem sempre parece estar no controle da narrativa. As transições entre as cenas e as linhas do tempo são um pouco confusas, o que pode atrapalhar o entendimento de onde estamos na história. Parece que, em alguns momentos, a trama se perde em sua própria complexidade.
O filme também tenta inserir elementos cômicos em meio ao caos, mas esses momentos acabam parecendo forçados e fora de lugar. Não é que o humor não possa coexistir com a ação e o drama — afinal, isso já foi feito com sucesso em muitos filmes. Mas, em "Guerra e Revolta", a tentativa de equilibrar esses elementos simplesmente não funciona como deveria.
O filme enche os olhos
Apesar desses problemas, é inegável que "Guerra e Revolta" é um filme tecnicamente bem feito. A produção é de alta qualidade, com figurinos e cenários que realmente transportam o espectador para o período histórico da dinastia Joseon. Além disso, a ausência de um uso exagerado de CGI é um alívio. Hoje em dia, é difícil ver um filme de ação que não dependa inteiramente de efeitos visuais, e "Guerra e Revolta" se destaca por manter uma abordagem mais tradicional e realista.
O filme também explora, de forma sutil, direções de arte que fazem referências a traços culturais e egoístas dos personagens. Esses pequenos detalhes são divertidos de detectar para quem está atento, mas acabam não sendo completamente desenvolvidos ao longo da trama.
Gang Dong-won: o nome do filme
Um grande acerto de "Guerra e Revolta" é a performance de Gang Dong-won. Ele entrega uma atuação poderosa como Cheon-yeong, trazendo uma intensidade e uma fisicalidade que dão vida ao personagem. Mesmo que o roteiro não ofereça a profundidade que gostaríamos, Dong-won consegue elevar o material com seu talento e presença de tela.
É quase impossível não se impressionar com as habilidades de luta de Gang Dong-won. Ele se move com uma precisão incrível durante as cenas de ação, e sua interpretação de um líder rebelde é o que dá alma ao filme. É seguro dizer que, sem ele, "Guerra e Revolta" perderia boa parte de seu impacto.
Então, vale a pena ver Guerra e Revolta?
"Guerra e Revolta" é um filme que se destaca pelos seus visuais, cenas de ação bem coreografadas e a atuação de Gang Dong-won. Não é perfeito — sofre com problemas de ritmo, desenvolvimento superficial dos personagens e uma direção que às vezes se perde. Mas, se você gosta de épicos de ação com um toque histórico, há muito o que aproveitar aqui.
Para aqueles que já são fãs do gênero ou que procuram uma experiência visualmente deslumbrante com boas cenas de luta, "Guerra e Revolta" é uma escolha sólida. Pode não ser uma obra-prima, mas é um filme que entretém e, no final das contas, vale as duas horas investidas. Se você estiver disposto a ignorar alguns de seus defeitos, ele certamente irá proporcionar um bom entretenimento.
Review | Diablo IV: Vessel of Hatred resgata sentimento de satisfação do jogo base em seu lançamento
Pouco mais de um ano depois do lançamento de Diablo IV, um dos meus jogos prediletos de 2023, a primeira expansão, Vessel of Hatred, finalmente foi lançada, dando sequências aos eventos explosivos e caóticos da campanha do jogo original. A espera compensou com a Blizzard entregando mais uma vez o sentimento satisfatório que senti na estreia do original.
Por R$179,90, Vessel of Hatred traz uma boa parcela de conteúdo que são muito pertinentes à experiência do jogo original. Temos a continuação da campanha, uma nova classe de personagem, a nação Nahantu com 7 regiões diferentes de selva, masmorras e porões inéditos, a volta dos Mercenários e conteúdo endgame. O preço é salgado, mas em um pacote completo por praticamente 320 reais, é uma oferta excelente.
https://www.youtube.com/watch?v=mtM0WpHEjWU
Pontas soltas do Ódio
Apesar da história de Diablo IV ser um dos pontos que mais elogiei, é um fato que a aventura não possui um final conclusivo. Vessel of Hatred agora traz as consequências da fuga de Neyrelle com a Pedra da Alma que possuía Mephisto. Ela parte para a região quente e repleta de selvas de Nahantu, para tentar destruir o demônio de vez, mas pela falta de experiência, Mephisto consegue reverter o controle e dominar a mente da jovem maga.
O Viajante, após eventos em Kyovashad envolvendo os sobreviventes da incursão no Inferno, com a Madre Prava e o novo personagem Urivar, soldado da legião do anjo Inarius, acaba em rota direta para encontrar Neyrelle e resolver a praga de corrupção que afeta Nahantu, destruindo tudo o que toca.
Como de costume, há bastante qualidade na narrativa de Vessel of Hatred que traz sua boa parcela de cinemáticas de altíssima qualidade. Entretanto, a experiência é curta, mal beirando as cinco horas, para resultar em um final que mais uma vez deixa uma ponta solta importantíssima para ser resolvida na já anunciada segunda expansão. Aqui, apenas Neyrelle é trabalhada com a história girando em torno dela. O que é uma pena, já que a personagem era fraca desde o original e isso não muda na expansão.
Há adições de novos personagens interessantes como Eru, um xamã natispírito que auxilia a viajante durante a jornada, além de outros comparsas divertidos que podem ser contratados como Mercenários após desbloquearmos o hub de quartel general em determinado ponto da campanha.
Porém, por ser curta, a expansão deixa muitas pontas soltas - além da óbvia que fecha a história. Por exemplo, Urivar, um potencial antagonista humano, é trabalhado pouco tempo com seus cavaleiros calcinados, sumindo após a introdução da história. Outras peças importantes como Lorath não são vistos aqui. E, na parte que mais chama a atenção, é a ausência completa das forças do Paraíso, sem qualquer anjo ou Tyrael agindo para impedir os planos de Mephisto. Não é algo que faça muito sentido no quadro geral da obra, mas só resta aguardar para ver o que Blizzard planeja.

Na base do Ódio
Apesar do trocadilho do subtítulo, parece que realmente foi necessário ser na base do ódio para a Blizzard parar de estragar a experiência de Diablo IV. Para quem não se lembra, em questão de semanas a desenvolvedora aplicou um nerf pesado em todas as classes de personagens, gerando uma revolta colossal da comunidade. Um erro que levou muitos meses para ser mitigado e, pelo visto, resolvido agora com Vessel of Hatred.
Em termos de mecânicas, há poucas novidades, apenas variações do que já conhecemos. A nova classe natispírito é bem divertida e traz uma árvore nova de habilidades misturando um pouco de tudo o que já havia sido visto no bárbaro, druida, mago e necromante. Usando forças primordiais da floresta, o jogador pode se valer de habilidades da águia, jaguar, gorila e centopeia.
Particularmente, a agilidade de combate do jaguar com o dano contínuo da centopeia em diversos efeitos de veneno me conquistaram, resultando em um bom ritmo de jogo - afinal começar outro personagem do zero para conhecer as novidades da temporada é sempre algo brutal. O gorila foca em dano em grupo e habilidades de tanque, enquanto a águia traz evasão e fragilidade. Aqui, as habilidades ainda possuem sinergias, mas o caminho é menos óbvio que o do bárbaro e do necromante, por exemplo.
Durante a campanha, o jogador também pode recrutar quatro mercenários para acompanhar na aventura. A característica vinda de Diablo II é mais superficial aqui, sem manejamento de inventário, mas traz uma árvore de habilidades exclusivas para cada um dos mercenários que são bastante distintos entre si. Além disso, o jogador também pode usar um segundo personagem como reforço, aplicando uma habilidade extra defensiva ou ofensiva quando realizar determinado comando. É também bem-vindo que cada um deles possui uma pequena questline a ser seguida, com boas historinhas.
Outra novidade é a inserção das runas, novos modificadores que trabalham com habilidades distintas e desencadeiam melhorias quando combinadas - todas possuem uma parte superior e outra inferior. Para quem já viu o tanto de modificadores que o jogo recebeu, não é nada que vá impressionar, mas para quem nunca acompanhou uma temporada antes, será uma adição divertida.
A mudança de mecânica mais substancial está mesmo no endgame de Vessel of Hatred adicionando dois modos de jogo que são muito interessantes, apesar de um deles ser um tanto polêmico. No caso, o que mais chama a atenção é o modo Dark Citadel, uma raid de Diablo IV.
O modo é cooperativo exclusivamente, o que pode desagradar alguns, mas o matchmaking de Diablo IV está melhor do que nunca e é fácil encontrar um pessoal pronto para jogar com você. Essa masmorra possui pontos nos quais ao menos dois jogadores precisam agir simultaneamente em salões diferentes para progredir, usando até mesmo recursos de puzzles inéditos e divertidos que variam a jogabilidade do título.
A raid é perfeita para adquirir mais equipamentos lendários e aprimorar o sistema paragon quando aberto, além de contar com um vendedor que traz itens bastante interessantes. Esse modo indica que aos poucos a Blizzard deve tornar Diablo IV o ARPG em um verdadeiro MMO e, bom, acho que adequado dada a natureza de jogo como serviço que o título possui.
O outro modo, que pode ser feito individualmente, é o subterrâneo da cidade Kurast, a maior de Nahantu. Trata-se de um teste de tempo que libera mais recompensas conforme a matança do jogador na masmorra com alguns monstros aumentando o limite do cronômetro. Antes do trial, o jogador também adicionar oferendas para conseguir mais itens desejados ou recursos diferentes, oferecendo um controle maior do que deseja ganhar após concluir o desafio - o mesmo sistema pode ser visto no Andarilho dos Reinos que é tema dessa boa 6ª temporada.

Luxo infernal
Como de costume, a Blizzard entrega também um alto valor de produção para a expansão que possui ótima apresentação. A região de Nahantu é ótima de ser revisitada e traz mapas distintos o suficiente para tornar o lugar rico, além de ser repleta de inimigos - perfeita para farmar level rapidamente já que a densidade de inimigos foi muito retrabalhada aqui.
Há novas masmorras e porões, além de quests secundárias que exploram mais da mitologia do lugar, evocando o tema espiritual e a conexão com a natureza em diversas vezes. Tendo um personagem natispírito, Nahantu se torna ainda mais especial, pois é como se estivéssemos em casa com o Viajante.
As novas cidades, como Kurast, possuem um charme completo, além da trilha musical continua excelente como de costume. Os gráficos do jogo mantém a boa qualidade já vista anteriormente, além do game estar performando muito bem, corrigindo bugs bizarros que testemunhei ano passado. Entretanto, ainda há alguma instabilidade, pois presenciei alguns crashes na jogatina, embora raros.
Ao longo do ano de existência, o jogo também foi aprimorado em outros sentidos, incluindo em seu inventário, montarias, novos comerciantes, densidade de inimigos e também novas dificuldades - agora 8 níveis no total, mantendo o loop insano de gameplay de aprimorar itens ad nauseam.
Renascido das Cinzas
É inegável que a Blizzard simplesmente errou feio no começo do tempo de vida de Diablo IV dias após entregar uma baita experiência. Eu mesmo fiquei decepcionado após recomendar o jogo com nota máxima na época. Agora, depois de muito trabalho e feedback da comunidade, os desenvolvedores escutaram os pedidos e encontraram um meio termo.
Diablo IV: Vessel of Hatred é uma ótima expansão que traz bastante conteúdo, embora o preço seja um pouco salgado para diversos jogadores. Para quem ainda não entrou em Santuário, trata-se da oportunidade perfeita, por sinal. O jogo base segue continuamente aprimorado com as temporadas e, hoje, existem muitas atividades endgame para fazer e se divertir - não tenha dúvidas, Diablo é um jogo MUITO divertido. É possível enfrentar chefes de mundo, as Marés Infernais, completar sussurros, os fossos, as hordas infernais e agora com o subterrâneo de Kurast e a Dark Citadel há ainda mais conteúdo. Logo, trata-se de uma oportunidade excelente de descobrir ou revisitar o que a Blizzard se empenhou em trabalhar nos últimos meses.
O futuro segue promissor para Diablo IV que deve trazer uma infinidade de conteúdo por anos de suporte já planejados que serão revelados aos poucos. Agora, vou aproveitar ainda mais minha estadia infernal em Santuário com progressão melhorada e muitos drops de itens excelentes.
Agradecemos a cópia gentilmente cedida pela Blizzard para a realização desta análise.
Crítica | Super/Man: A História de Christopher Reeve faz retrato emocionante de astro trágico

Documentários da HBO costumam manter um padrão bastante alto de realização: você sabe que encontrará num deles farto material de arquivo e as entrevistas necessárias para compreender a história e os personagens reais envolvidos. Não é diferente neste Super/Man: A História de Christopher Reeve, que faz um retrato bastante emocional da trajetória do ator desde o início de sua carreira até o drama pessoal que ocupou a última década de sua vida.
Nascido em Nova York, em 1952, Christopher Reeve teve uma carreira iniciada no teatro (onde contracenou com astros como William Hurt e Jeff Daniels), mas se tornou realmente célebre em dois momentos de sua vida: quando assumiu o papel de Super-Homem na superprodução dirigida por Richard Donner, em 1978, e anos depois, quando um trágico acidente ocasionou a seríssima lesão que tomaria a maior parte de seus movimentos, em contraste evidente com o personagem que fizera dele uma celebridade mundialmente reconhecida.
Documentário toma cuidado ao lidar com situações embaraçosas
Por ser um documentário típico da HBO, podemos esperar aqui um padrão elevado de realização, mas, ao mesmo tempo, o filme irá lidar de forma delicada (quase cerimonial) com temas da biografia de Reeve que poderiam tornar a história menos arrebatadora: por exemplo, suas dificuldades no primeiro casamento, uma decorrência óbvia dos problemas familiares que enfrentara na própria infância.
Esse detalhe, entretanto, pouco atrapalha o resultado final, pelo simples fato de que a história de Reeves é fascinante e tem drama o suficiente: um galã de Hollywood muito carismático que, em decorrência de uma tragedia de baixíssima probabilidade, teria que enfrentar desafios impensáveis mesmo para o intérprete do maior super-herói do imaginário popular do século XX.
Os momentos mais emotivos do documentário alternam-se com algumas curiosidades de filmagens, que poderiam ocupar um espaço maior. De toda forma, é impressionante até hoje a qualidade dos efeitos visuais do primeiro Superman, e seu voo é ainda hoje uma das maiores proezas, o verdadeiro ápice, dos "efeitos práticos" (ou seja, aqueles que não contam com os recursos da computação gráfica, sendo realizados no próprio set), um conceito tão perfeitamente realizado que sobrevive bem até hoje.
A qualidade visual do primeiro Superman (um filme que, de resto, é tocante e empolgante mesmo para as plateias atuais) é a grande marca que Reeves deixou no imaginário da cultura popular do século XX. Sua história pessoal, de tragédia e resistência, não ficam abaixo dela, fazendo com que vida e arte se confundam e resultem em lágrimas (muito compreensíveis) na plateia.
Review | Until Dawn consegue justificar existência de remake com boas novidades
A SuperMassive Games surpreendeu muita gente com a qualidade entregue em Until Dawn em 2015, um dos grandes exclusivos do PS4. O jogo de terror apresentado nos moldes de “filme” narrativo com diversas escolhas para delimitar o destino da história, foi consagrado como um dos melhores do gênero que já havia sido explorado pela Quantic Dream com Heavy Rain e Beyond.
Até então, na época, Detroit não havia sido lançado e Until Dawn conquistou o destaque de todo o gênero por se propor a ser uma experiência de horror definitiva - mesmo que a história por si seja uma reverência ao cinema hollywoodiano do gênero dos anos 80, 90 e 2000.
Agora, nove anos depois, o jogo retorna totalmente refeito pela Ballistic Moon. Com o PlayStation 5 já tendo uma má fama enorme envolvendo a quantia massiva de remasters e remake, muita gente entortou o nariz para a nova versão do jogo, mas afirmo categoricamente que se trata de um dos melhores remakes já produzidos e que fazem sentido de existir.
https://www.youtube.com/watch?v=8nApBGPy0ao
Marketing fraco, experiência rica
O que mais vai prejudicar Until Dawn é seu marketing fraco. Muitas novidades sobre o remake, só fui descobrir quando de fato comecei a jogar. A começar, o jogo inteiro foi feito na nova Unreal Engine 5 e parece usar a técnica dos meta humanos, apresentando modelos de personagens ainda mais realistas com animações faciais aprimoradas.
Enquanto no elenco de nove protagonistas as animações são ok, o jogador vai experimentar o vale da estranheza com o Dr. Hill que sofre de um exagero gigante em suas expressões faciais caricatas prejudicadas pelo overacting do ator Peter Stormare.
Por conta da mudança de engine, agora é possível mexer a câmera livremente, largando os enquadramentos fixos do original. Por conta disso, a exploração do jogo é mais encorajada e a interação com objetos e colecionáveis, fica muito mais interessante e presente. Ainda assim, isso não significa que o level design apresente mudanças significativas. Ainda se trata de um jogo extremamente linear de corredores estreitos com alguns bolsões exploráveis.
A jogabilidade mistura bastante os trechos de câmera livre para as cinemáticas interativas nas quais o jogador decide os caminhos do Efeito Borboleta e acerta os quick time events. Nesses trechos mais cinemáticos de exploração limitada, a Ballistic Moon aproveitou para enquadrar novos planos e oferecer uma experiência ainda mais cinematográfica.
Se valendo do Lumen e de efeitos Ray tracing em iluminação e sombreamento global, preservando a paleta de cores azuis e brancas, de fato a apresentação de Until Dawn nunca foi tão bela. A modelagem dos personagens está bastante fidedigna aos originais com aperfeiçoamentos nítidos.
Como o sistema de iluminação está retrabalhado, a experiência fica bastante imersiva. Por eu ser muito calejado com terror e tendo visto muitos filmes do gênero, não me assusto com o jogo de modo algum e a atmosfera não é muito opressiva a ponto de causar ansiedade ou de me congelar pelo medo do desconhecido.
O tom de Until Dawn sempre pende mais para o camp de horror teen em vez de ser algo mais cerebral e aterrorizante. A direção original sempre gostou de reverenciar o estilo escrachado de Sam Raimi em Evil Dead e slashers de psicopata com toques de Jogos Mortais. Logo, há muito investimento em jump scares fajutos com muletas sonoras de efeitos de som altos para garantir o susto. Isso pode funcionar em muita gente, mas pessoalmente já achava bem pedestre desde a época do original.
O que quero dizer é que a experiência de horror de Until Dawn será mesmo pessoal. Se você gosta desse estilo de terror, terá um verdadeiro prato cheio com o remake. Terror adolescente clássico de qualidade.

Oportunidades perdidas em novo Until Dawn?
Porém, nem tudo é positivo no remake, no que tange a versão de PS5 pelo menos. Infelizmente o jogo roda travado nos 30 fps, sem a possibilidade de aumentar o frame rate. Isso traz sim a experiência cinematográfica desejada pelo estúdio, mas ao mesmo tempo prejudica a gameplay já vagarosa do jogo.
É uma tortura controlar os personagens se arrastando, andando no passo mais lento possível, como se fossem verdadeiros tanques de guerra. Como não se trata de um survival horror e sim um filme interativo, essas passagens de gameplay podiam ter sido reformuladas ou pelo menos terem adicionado uma velocidade de marcha para os personagens andarem um tanto mais rápido.
Por conta disso, o jogo sofre um pouco no ritmo, mas quando a situação quase fica realmente negativa, uma passagem de ação acontece para tornar a experiência mais divertida. Ainda se tratam de dez capítulos variando de tamanho, trazendo 22 opções importantes do jogador para delinear a história e alguns colecionáveis.
Aliás, os totens seguem esquisitos com os personagens os investigando, tendo premonições bizarras e não emitindo nenhuma opinião sobre o que foi mostrado. Bem esquisito mesmo, uma falha de design herdada da versão original. Aliás, a trilha musical também é retrabalhada com novas canções licenciadas, além de haver por padrão a proporção ultrawide de 21:9 que realmente foi uma boa adição aqui.
De glitches e bugs, o jogo tem sua parcela, no entanto. Há alguns pop-ins que surgem em tela com carregamento tardio de texturas e algumas quedas de fps. Nada é grave, porém, e é certo que tudo seja corrigido em patches futuros.
Até o Amanhecer
Para quem nunca jogou Until Dawn, é óbvio que esta versão é a recomendada. Entretanto, para quem já é veterano e ainda tem a aventura violenta da Supermassive recente na cabeça, não é uma boa ideia investir no valor cheio do jogo. Trata-se de uma experiência curta com um fator de replay relativamente limitado.
Logo, é bom esperar alguma promoção boa para cair de cabeça no título, além de que ele deve receber melhorias para quem adquirir a versão Pro do console. Já no PC, se trata de uma bela oportunidade de conhecer o jogo que lançou a Supermassive como referência no mercado, sendo especialista em jogos do tipo tendo lançado o igualmente bom The Quarry há um tempo. O título tem a minha recomendação de qualquer forma. Trata-se de uma experiência divertida de alta qualidade lançada em um momento muito propício: o querido mês do Halloween.
Agradecemos a PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.
Crítica | Lobos é filme de uma piada só (e ela não tem graça)

Se fosse uma produção barata, Lobos - dirigido por Jon Watts, de uma das inumeráveis versões de Homem-Aranha - seria uma atração mediana de Sessão da Tarde, o tipo de filme que sempre povoou a TV aberta e funcionava como uma ponte entre duas atrações mais provocativas. Mas não é o caso: estamos falando de uma produção beirando a centena de milhão de dólares, e a primeira pergunta que se faz é por quantas aprovações um roteiro tão previsível e aborrecido teve que passar para que finalmente saísse do papel. Porque em algum momento, uma ou mais pessoas (estas em altos postos dentro da indústria) olharam para o que estava escrito e pensaram: "Este é o roteiro certo para queimar 100 milhões de dólares".
Bem, não era. Totalmente apoiado na "química" entre Brad Pitt e George Clooney, tudo no filme é artificial: a ambientação, o "sarcasmo", a fotografia que converte todos os ambientes em salas de espera de hospital, a trilha musical enfadonha, as reviravoltas previsíveis. Em alguns momentos, o constrangimento atinge seu ápice porque, conforme sabemos, não se trata aqui de uma produção vagabunda, mas sim de um produto cuja origem é a elite da indústria. Duas cenas chamam atenção nesse sentido: um atropelamento em câmera lenta que lembra uma infinitude de comerciais de TV e que não provoca nada (tensão, dúvida, horror, nada, é como observar um adolescente mascando chiclete) e a dança folclórica na qual os protagonistas são acidentalmente envolvidos, que é tão mal encenada, falsa e caricatural que nos faz questionar a capacidade de discernimento de todos os participantes.
Você já viu essa história antes (e se divertiu mais)
Há muito pouco a se falar a respeito da "trama": Pitt e Clooney interpretam dois especialistas do submundo que limpam cenas de crime. Logo, ambos se veem envolvidos numa situação que escapa ao controle da dupla forçada e se desenrola toda numa mesma noite. Eles irão se deparar com alguns clichês inevitáveis (como o dos vilões do leste europeu, uma caracterização repetitiva que também beira o ridículo mas, convenhamos, não foi inventada por este filme), num desenrolar que já foi explorado outras vezes com resultados mais vívidos e eventualmente originais. A "graça" do filme se reduz à quantidade de vezes em que os dois astros irão se hostilizar, mas a ideia é tão mecanicamente desenvolvida que em 15 minutos não surte mais efeito.
Se pensarmos que, não muitos anos atrás, Pitt e Clooney estavam estrelando produções sofisticadas, originais e divertidas como a trilogia Ocean's Eleven, teremos que admitir a triste realidade de que o cinemão de entretenimento hollywoodiano desaba ladeira abaixo como numa das cenas que frequentemente são vistas em suas atuais superproduções: numa câmera lenta desnecessária, pirotécnica e arrastada.
Lobos é simplesmente um roteiro ruim que jamais deveria ter saído do papel e não há embalagem luxuosa o suficiente para esconder isso.