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Críticas

Crítica | Okja

A barreira entre as fábulas ocidentais e orientais sempre foi muito latente. É natural que nem todos espectadores mais jovens que se deparam com a arte oriental de Hayao Miyazaki, por exemplo, consigam assimilar as profundas mensagens sobre o crescimento ou ambientais que inundam os filmes do diretor. Mas é difícil encontrar alguém que não fique absolutamente comovido com o espetáculo visual de suas animações feitas à mão. Mas no caso da grande indústria, o tempo é curto, e histórias menos amparadas na “realidade” dos espectadores nem sempre são bem recebidas. Coube a Bong Joon Ho enfrentar esse desafio de unir mundos aparentemente tão distantes.

Okja vem depois de Expresso do Amanhã, primeiro filme anglófono do diretor sul-coreano, baseado no quadrinho do francês Jacques Lob e Jean-Marc Rochette, Le Transperceneige. Depois desse conto distópico, repleto de sadismo e violência caricata, Okja puxa o freio de mão nesse quesito para apresentar uma narrativa “infantil” capaz de atingir o público mais diverso. Essa sobriedade cai muito bem para reger a história de uma garotinha coreana, Mikha (Seo-Hyun Ahn), que vive numa casa na montanha com seu avô e cuida da superporca que dá nome ao filme.

A existência desse animal dá-se graças aos experimentos da empresa Mirando, dirigida pela gerente-celebridade Lucy Mirando (Tilda Swinton). O mundo passa fome e a empresa alimentícia está em busca de soluções. O que a sociedade não sabe, no entanto, ou finge não saber – refletindo  atitudes muito atuais – é que esses experimentos não são tão limpos quanto suas propagandas. A natureza é prejudicada, animais têm suas vidas desperdiçadas em nome da ciência artificial que vai alimentar o estômago dos humanos.

Depois de dezenas de experimentos, o superporco, pelo seu aspecto mais agradável, foi escolhido entre os animais mutantes para ser mostrado ao mundo, antes de ser industrializado em uma série de alimentos. Vários espécimes desses animais foram distribuídos pelo mundo, entre diversos fazendeiros. Em 10 anos, quem conseguisse criar o maior e mais saudável animal, ganharia o torneio promovido pela Mirando.

Okja é criada solta, em contato com a natureza, sem métodos artificiais. O experimento cresce naturalmente. Desse paralelo, nasce a melhor e mais carinhosa das relações entre a garota Mikha e sua superporca. O biólogo Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal), outra excêntrica figura representante da Mirando, (algo como um “Richard, o caçador de aventuras” exagerado) vem buscar Okja para levá-la para Nova York. Daí, se instaura a trama de resgate. Mikha vai atrás de sua amigo e vai encontrar nesse caminho uma equipe de rebeldes da ALF (Animal Liberation Federation), comandada por Jay (Paul Dano), que pretende libertar Okja das garras da empresa, e ainda conseguir desmascarar as atrocidades da Mirando.

Okja segue esse embate entre o um mundo engolido pelo capitalismo, envolto em todo o seu cinismo (bem utilizado na publicidade que antecedeu o lançamento do filme), e um mundo “verde”, resistente e contestador. Juntam-se a esses paralelos, uma discussão sobre tradução em diversos níveis, tanto mais literais, linguísticos, como mais metafóricos, do contato entre mundos distintos.

Também entra em jogo o ótimo uso da computação gráfica, em conjunto com as belas composições e com a fotografia que destaca os contrastes e a variedade das cores, na sua relação com o real – aspecto que o diretor já havia mostrado com muita competência em O Hospedeiro.

Em linhas gerais, trata-se de uma reimaginação mais violenta e direta de A Menina e o Porquinho. O problema é que Okja não consegue suavizar suas mudanças de tom, perdendo coesão. Os primeiros minutos trazem um desnecessário e intragável prólogo dos planos da Mirando. Depois de um empolgante primeiro ato, uma brilhante cena de perseguição, embalada numa jocosa trilha circense, seguem-se passagens arrastadas, que parecem deslocadas. Um problema da estruturação do roteiro e da montagem, que não conseguem deixar no espectador o mesmo nível de engajamento. Desemboca em uma conclusão tocante, agridoce e um tanto egoísta para além da conta. Esqueçamos a cena pós-créditos (será que é um requisito agora para filmes de grandes produtoras?).

Esse problema leva também para uma falta de desenvolvimento dos personagens, que ora parecem mais estereotípicos. O que não seria problema nenhum, mas ao longo da narrativa despontam alguns comportamentos mais complexos – no final das contas, ignorados. Assim como as interpretações, em especial de Swinton e Gyllenhaal, que não empolgam.

Okja está longe de ser perfeito, feito por um diretor muito hábil e versátil, que sabe fazer Spielberg conversar com Oriente como nunca. É um filme em que Bong repete de várias maneiras, e com outra roupagem, momentos bem sucedidos de seus filmes anteriores. Mas seu peso, a sinceridade de suas alegorias, em comparação com outras produções recentes do gênero, ainda é grande. A prova definitiva de que Bong Joon Ho foi uma das escolhas acertadas da Netflix concentra-se na melhor frase do filme: "Não é meu. É propriedade da empresa."

Okja (idem, EUA, Coréia do Sul– 2017)

Direção: Bong Joon Ho
Roteiro: Bong Joon Ho e Jon Ronson
Elenco: Ahn Seo-hyun, Tilda Swinton, Paul Dano, Jake Gyllenhaal, Byun Hee-bong e Steven Yeun
Gênero: Aventura
Duração: 118 min

https://www.youtube.com/watch?v=GhyHd2gPLMU


by Redação Bastidores

Crítica | Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Sem Spoilers)

Em um mercado saturado de super-heróis, poucos têm o mesmo apelo e identificação do público do que o Homem-Aranha. O alter ego de Peter Parker sempre se destacou por lidar com os problemas rotineiros da adolescência, lutando contra supervilões ao mesmo tempo em que precisa se preocupar com tarefas de casa e provas na escola. É uma abordagem que muitos fãs já cobraram nas encarnações anteriores do personagem, com Tobey Maguire e Andrew Garfield avançando rapidamente pela fase do colegial - onde as grandes histórias do personagem tomaram local.

Marcando agora o primeiro filme solo do personagem inserido no badalado Universo Cinematográfico da Marvel (em uma aliança inédita entre a Sony de Amy Pascal e a Marvel Studios de Kevin Feige), Homem-Aranha: De Volta ao Lar dedica-se a explorar esse lado mais escolar e adolescente do herói, até mesmo por apostar em um ator mais jovem, aliando isso à sonhada ideia em finalmente ver o Cabeça-de-Teia junto aos Vingadores. No fim, o filme entrega exatamente o que poderíamos esperar dessa proposta, e o resultado definitivamente é agradável.

A trama começa algum tempo após os eventos de Capitão América: Guerra Civil, com um animado Peter Parker (Tom Holland) começando uma nova carreira de super-herói com o uniforme lhe dado a ele por Tony Stark (Robert Downey Jr). Ansioso pelo próximo chamado para se juntar aos Vingadores, Peter precisa lidar com seus problemas cotidianos na escola, desde sua paixão pela colega Liz Allen (Laura Harrier) até o fato de seu amigo Ned (Jacob Batalon) descobrir sua identidade secreta. Para piorar, a cidade ganha uma ameaça incisiva na forma do Abutre (Michael Keaton), que planeja vender armas de destruição em massa resgatadas da Batalha dos Vingadores em Nova York.

Clube da Teia

Durante a campanha de divulgação do filme, a ideia do projeto por parte dos realizadores era fazer um filme que seguisse a escola de John Hughes, centrado em dramas adolescentes e humor mais leve - só que inserido na gama de super-heróis. De certa forma, o roteiro do batalhão Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Christopher Ford, Chris McKenna, Erik Sommers e o diretor Jon Watts acerta ao dedicar boa parte de sua duração a esse núcleo colegial, com diversas sequências em que Peter balanceia os afazeres da escola com sua atuação como Homem-Aranha; e há um humor acertado quando os roteiristas bolam ideias triviais e realistas que humanizam o personagem, como quando encontra-se em uma região sem prédios, impedindo que use as teias para se balançar e forçando-o a traçar um percurso a pé. 

As piadas funcionam na maior parte do tempo (sempre temos os excessos típicos de produções da Marvel, inevitavelmente), e muito deve-se também ao ótimo elenco. A começar pelo Peter de Tom Holland, que surge com o mesmo carisma promissor que havia sido apresentado em Guerra Civil, sendo uma mistura curiosa entre o aspecto nerd e tímido de Tobey Maguire e o jeito mais descolado e cool de Andrew Garfield, e dessa vez adicionando - pela primeira vez -  o explosivo entusiasmo de um adolescente em meio a um contexto grandioso, como na fabulosa sequência epistolar em que vemos gravações do celular Peter da batalha no aeroporto em uma espécie de vlog. De maneira similar, os coadjuvantes de Jacob Batalon, Zendaya, Laura Harrier e um elenco bem diverso também funcionam, especialmente Batalon por oferecer um alívio cômico preciso e espontâneo. Robert Downey Jr também chega na medida certa como Tony Stark, jamais sobrecarregando o filme ou roubando presença do protagonista, diferentemente do que o marketing indicava.

Fator que sempre é o elemento mais defeituoso na maioria das produções do gênero, o vilão Abutre é outro acerto inesperado. Michael Keaton oferece uma figura realista e que carrega uma motivação condizente e bem explorada pelo texto, que enfim expande o universo "menor" da Marvel ao ilustrar as consequências da batalha dos Vingadores em Nova York, com a equipe de Keaton resgatando armas e aparatos dos longas anteriores (até mesmo com referências ao andróide Ultron), e também pelo fato de a escola de Peter trazer diversos vídeos instucionais estrelados pelo Capitão América de Chris Evans. E com o Abutre sendo a representação de um trabalhador comum que perde seu emprego quando Tony Stark terceiriza seu trabalho de reconstrução da cidade, temos um antagonista multifacetado e que vai além de uma mera caricatura - e Keaton explora isso muito bem, especialmente quando aprendemos mais sobre sua vida pessoal.

Direção eficiente

Em quesito de direção, é mais um exemplo da escola Marvel de se utilizar diretores com pouca experiência para comandar grandes produções. No caso de Jon Watts, que só traz o indie A Viatura como trabalho anterior, o diretor faz um trabalho competente na construção de um bom ritmo e um equilíbrio natural entre humor e ação. Porém, Watts não se arrisca e também não oferece nada que traga personalidade ou que o diferencie de todos os outros diretores que já pisaram na Marvel até agora. A ação carece de imaginação e depende demais de efeitos visuais sem vida e artificiais, onde a ausência de uma cor vibrante e textura nos tecidos virtuais torna a experiência... passável, e até confusa; vide os cortes intensos e planos fechados durante uma luta entre o Aranha e Abutre em um avião. Ou, para ir mais além, a cena em que o herói tenta salvar uma balsa que se parte em duas, onde em momento algum temos o peso e sensação de perigo que deveria estar presente - a clássica jornada do herói.

É muito difícil não comparar com o trabalho fantástico de Sam Raimi, já que Watts não entrega nenhuma sequência do nível de uma cena do trem, aproximando-se do tipo de trabalho que Marc Webb fez em seus dois Espetacular Homem-Aranha (ainda que Webb mereça créditos pelo belo visual e contraste em seus filmes). Porém, Watts tem seus bons momentos, e curiosamente são aqueles que envolvem uma escala mais simples. Por exemplo, quando o herói escala o Monumento a Washington, há uma pausa no ritmo intenso e na música vibrante de Michael Giacchino para que o protagonista observe a altura e sinta um leve medo de nunca antes ter atingido um nível tão alto, e o enquadramento em plongeé do diretor ajuda a reforçar essa sensação vertiginosa. De forma similar - mas usando o recurso oposto - a cena em que Peter e o Abutre conversam em um carro instiga pela claustrofobia dos planos fechados, sendo uma bela herança da trilogia de Raimi.

E o coração?

Então chegamos ao grande problema do filme, que afeta tanto a ação quanto a história: emoção. Ainda que o longa permeie temas relevantes como a aceitação e amadurecimento de Peter como herói, enfatizando como o traje do Homem-Aranha deveria ser apenas um complemento a seu caráter - motivando a troca de roupa no terceiro ato, nunca temos uma aprofundamento realmente sincero e dramático. Basta lembrar como os filmes de Sam Raimi dedicavam tempo a sequências mais paradas, introspectivas e movidas por um texto bem escrito, que entregavam uma mensagem moral eficiente e eram capazes de nos motivar e inspirar. Aqui, não há nada disso, e deve-se apontar como a personagem da Tia May (vivida por Marisa Tomei) passou de um dos símbolos mais importantes da mitologia do herói, cheia de conselhos e mensagens poderosas, para só mais um alívio cômico; o único momento de afeto entre os dois é tão raso quanto uma piscina de bolinhas, já que o filme parece mais interessado apenas em chegar na próxima piada.

Nem mesmo o romance com Liz Allen gera um pingo de empatia, sendo apenas uma crush adolescente com pouco desenvolvimento, isso pelo roteiro não oferecer tempo o suficiente, usando o cenário de um baile como tentativa de aproximá-los e também pela falta de química entre Holland e Harrier. Talvez nem fosse pra ser, mas não é nada como Tobey Maguire e Kirsten Dunst na primeira trilogia, ou a química intensa entre Andrew Garfield e Emma Stone no arco de Webb. Confesso que sem esse desenvolvimento amoroso elaborado, o personagem torna-se um tanto... vazio. Ou talvez seja apenas minha nostalgia.

Mesmo com esses problemas, é inegável que Homem-Aranha: De Volta ao Lar seja o melhor filme do personagem em muito tempo. Não traz a emoção e o espetáculo de algumas da magistral trilogia de Sam Raimi, mas oferece uma abordagem jovial divertida e engraçada para o herói, favorecida pelo ótimo trabalho de seu elenco. Porém, ainda que divirta, é um pouco triste observar como o cinema de super-heróis só parece preocupado com o escapismo, sem muito a adicionar em sua proposta moral. 

Traz grandes poderes, mas sem muitas responsabilidades.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming, EUA - 2017)

Direção: Jon Watts
Roteiro: Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts, Christopher Ford, Chris McKenna e Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr, Marisa Tomei, Jon Favreau, Laura Harrier, Zendaya, Jacob Batalon, Donald Glover, Angourie Rice, Tony Revolori, Martin Starr, Bokeem Woodbine, Logan Marshall-Green, Michael Chernus, Michael Mando, Hannibal Buress, Kenneth Choi
Gênero: Aventura
Duração: 133 min

https://www.youtube.com/watch?v=x5Q0AzHr3FM

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by Lucas Nascimento

Crítica | Fando e Lis

Em 1957, Alejandro Jodorowsky lançou um curta-metragem chamado A Gravata. Contando a história de um parisiense cuja profissão consistia em vender cabeças humanas (o texto foi adaptado de um conto de Thomas Mann), a produção chamou atenção do poeta e cineasta Jean Cocteau. De certa maneira, o apoio do artista francês foi essencial para que o jovem chileno continuasse a investir na carreira de cineasta. No entanto, foi somente onze anos depois - três após ter realizado um estranho curta nomeado Teatro Sin Fin e pelo qual não recebeu crédito - que ele voltou a dirigir, desta vez, um longa metragem, o simbólico, onírico e irregular Fando e Lis.

É difícil dizer do que a obra se trata. O único elemento de sua trama que, talvez, possa ser resumido é este: Fando (Sergio Klainer) e Lis (Diana Mariscal), os personagens que dão nome ao filme, vivem em um mundo pós apocalíptico, no qual uma "guerra final" destruiu todas as cidades, fazendo delas nada mais do que ruínas e escombros, apesar de uma dessas cidades, intitulada "Tar", continuar existindo e ser, segundo a lenda, um local onde todas as dores humanas cessam e são substituídas pelo gozo contínuo e a felicidade eterna. Já em relação ao restante do filme, qualquer outro elemento da narrativa dificilmente se encaixará em um rótulo catalogador.

Portanto, admitindo que estamos na seara do viés interpretativo, é possível chegar a algumas conclusões, e a primeira delas diz respeito ao ano de produção do longa. Lançado numa época em que o Mundo borbulhava no caldeirão das revoluções sexuais, sociais, políticas e econômicas, Fando e Lis, estranhamente, parece ser um protesto contra o liberalismo comportamental típico da década de 1960. Ao longo do trajeto em direção à cidade prometida de Tar, o casal principal contrasta constantemente a sua inocência (percebam como Lis é de um branco translúcido) com a devassidão daqueles com os quais trava contato (logo no começo, de uma maneira demasiadamente óbvia, quando vemos os dois brincarem com bonecas e soldadinhos de chumbo, fica evidente o caráter infantil de suas personalidades).

Em um universo onde o sexo, aparentemente, é o único deus venerado pelas pessoas (prestem atenção como a maioria daqueles que passam pela tela revelam-se detentores de uma determinada característica sexual, podendo ser tanto a libertinagem e a indefinição dos gêneros, quanto o exercício de poder sobre o outro), o que poderia ter se tornado uma cruel ironia, nas mãos de Jodorowsky, se transforma na salvação dos personagens. Estou falando, é claro, da paraplegia de Lis. O fato de não poderem consumar sexualmente a relação é essencial para que continuem mantendo a aura angelical responsável por suas retidões morais.

Nesse sentido, a forte imagética cristã adquire proporções muito maiores (o final é uma clara referência ao Jardim do Éden). Fando e Lis - mas, principalmente, o primeiro, afinal de contas, ele é o protagonista da história - são como Jesus Cristo caminhando entre os pecadores. Para encerrarem as suas jornadas de uma maneira transcendente, precisam resistir às tentações diabólicas e as provações de um mundo que lhes rejeita constantemente. Todavia, o nazareno, embora ignorante de certas coisas, caminhava ciente de seu destino e propósito. Os dois personagens principais, por sua vez, são movidos apenas pelo desejo de encontrarem um lugar que elimine o fardo que carregam. Assim como Cristo conduziu a sua cruz pelo calvário, Fando o fez com Lis, mas, obviamente, há um abismo separando o nível de auto consciência de cada um.

No entanto, por mais explicativa que possa ser essa análise, ela ainda não é suficiente para dar conta de todos os eventos que preenchem a narrativa. Momentos como a impactante cena dos músicos e homens vivendo suas vidas nas ruínas de uma cidade destruída, a sequência em que vários personagens brincam com uma espécie de graxa, ou até mesmo o instante em que Fando interage com a sua mãe, parecem necessitar de uma outra chave interpretativa, podendo ser vistas como um comentário de Jodorowsky sobre o estado do Mundo, da arte e a psicanálise, respectivamente. 

Embalado numa narrativa exageradamente simbólica e enigmática, tudo isso que foi mencionado é construído sobre uma técnica caótica, a qual, às vezes, revela um esteta talentoso (é sublime o plano em que, ao girar, a câmera não só reflete a confusão mental de Lis, como capta a fuga de Fando ao fundo) e um cineasta ciente das ferramentas que estão à disposição (a edição de som, repleta de barulhos estranhos e produzidos posteriormente, é brilhante); porém, noutras vezes, revela um artista flertando com a mídia errada (em certos momentos, parece que o filme é uma colagem de pinturas abstratas e não uma narrativa em desenvolvimento) e deveras repetitivo (chega um instante em que alguns comentários se tornam redundantes).

Embora a história de amantes lutando pelo seu amor enquanto o mundo ao redor entra em completo colapso possa ser comovente, tudo em Fando e Lis revela ao espectador que o longa foi realizado por um diretor de primeira viagem. Apenas com o passar do tempo, as qualidades do longa se extrapolariam e passariam a respingar nas obras futuras. Já os defeitos, por vezes, seriam trocados por equívocos diferentes, por outras, seriam completamente eliminados. Contudo, quem assiste ao filme desconhecendo por completo a obra posterior de Jodorowsky, reconhece que o diretor chileno é um esteta e dono de uma mente inconvencional e desafiadora, porém, dificilmente, afirma que esteve diante de um cineasta realmente talentoso.

Fando e Lis (Fando y Lis, Chile – 1968)

Direção: Alejandro Jodorowsky
Roteiro: Alejandro Jodorowsky e Fernando Arrabal
Elenco: Sergio Kleiner, Diana Mariscal, María Teresa Rivas, Tamara Garina, Juan José Arreola
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 96 min


by Redação Bastidores

Crítica | Inseparáveis

Inseparáveis realizou um feito que parecia impossível: tirar de Cinquenta Tons Mais Escuros o título de pior filme lançado nos cinemas em 2017. Roteirizado e dirigido por Marcos Carnevale, esta reinvenção argentina do francês Intocáveis sequer tenta esconder a sua natureza cínica e caça-níqueis, deixando incessantemente escancarado o fato de que nada mais é do que um esforço para capitalizar entorno do estrondoso sucesso do longa que Éric Toledano e Olivier Nakache comandaram em 2011 - e se estou usando o termo "reinvenção" para me referir a Inseparáveis, é porque sou generoso demais para definir esta produção como o que ela realmente é: um "Ctrl+C/Ctrl+V" feito com preguiça e que, no simples processo de copiar e colar o que havia no excelente original, acabou apagando a sua verdadeira essência.

Resumir a trama, neste caso, seria perda de tempo: basta dizer que um milionário tetraplégico chamado Felipe, em busca de um ajudante que não o trate piedosamente como um mero necessitado, contrata Tito, um jovem malandro que mora na área mais humilde da cidade. Com isso, cria-se uma amizade inesperada entre dois indivíduos completamente distintos - a diferença é que, se na versão francesa tínhamos François Cluzet e Omar Sy dividindo uma química surpreendente e fabulosa, aqui temos Oscar Martínez (de Relatos Selvagens) e Rodrigo de la Serna (de Diários de Motocicleta) formando uma dupla apática e que se limita a imitar os trabalhos de outras pessoas.

Esta, inclusive, é a essência deste Inseparáveis, que parece não compreender algo que deveria ser básico: refilmar não significa reproduzir literalmente. Uma coisa é recriar uma obra e pontualmente remeter à fonte que inspirou esta nova versão; outra é copiar descaradamente cada passagem do material original sem fazer questão de incluir novidades ou inventar uma identidade própria. O que Marcos Carnevale faz não é uma "reinvenção pouco inventiva" (como o recente A Bela e a Fera); é uma réplica desalmada e dispensável. A composição visual da maioria dos planos é idêntica ao que Toledano e Nakache fizeram em Intocáveis, os diálogos permanecem inalterados na maior parte do tempo e até mesmo a estrutura do roteiro é reciclada sem quaisquer alterações (e por mais que o parapente seja substituído por uma cavalgada, não creio que isto seja uma inovação considerável).

Mas afinal, por que Inseparáveis empalidece tanto diante de Intocáveis se a sua forma e seu conteúdo foram reutilizados com exatidão? Simples: porque a "alma" do projeto anterior não está presente nesta reimaginação - e se Toledano e Nakache criavam algo legítimo, Carnevale não faz absolutamente nada além de uma simulação pífia e inequívoca do que a dupla de franceses realizou em 2011 (não é à toa que, enquanto assistia a Inseparáveis, tive vontade de pausar a projeção ao fim de cada uma das cenas e rever a versão original destas). Por outro lado, nos raríssimos momentos onde Carnevale faz algo que não necessariamente copia sua fonte de inspiração, ele expõe uma fragilidade notável como cineasta, dando origem a planos simplesmente feios e que soam amadores (como aqueles ambientados nas ruas mais pobres da cidade).

Ainda assim, o que mais impressiona no trabalho de Marcos Carnevale é o seu comprometimento com o conceito de piegas - o que, por si só, demonstra que o diretor não deve ter compreendido o longa de Toledano e Nakache: se Intocáveis se esforçava para fugir do melodrama a qualquer custo e jamais tentava forçar o espectador a experimentar determinadas emoções, Inseparáveis usa e abusa de recursos baratos para arrancar lágrimas do espectador, fazendo questão de empregar uma trilha sonora melosa a fim de realçar o drama de determinadas situações e atingindo o ápice da cafonice na sequência que envolve uma cavalgada. A mesma obviedade pode ser constatada nos instantes onde o filme tenta abraçar o bom humor, adotando um estilo de comédia que parece ter sido pensado por uma criança que não se acostumou a exercitar sua imaginação - um exemplo disso é a cena em que Tito pinta um quadro: era realmente necessário mostrá-lo cuspindo tinta no painel, como se isso esclarecesse a sua irreverência diante da Arte?

De qualquer forma, é difícil esperar sutileza de uma obra que não consegue sequer desenvolver uma dinâmica orgânica e natural entre os protagonistas - e se a versão original fazia questão de construir a amizade inesperada entre Philippe e Driss gradualmente ao longo de todo o primeiro ato, esta refilmagem tropeça ao forçar uma relação afetiva entre Felipe e Tito de uma hora para a outra. Por falar em personagens, Oscar Martínez não tem muito o que fazer aqui, limitando-se a replicar o que já havia sido feito por François Cluzet em 2011 sem incluir quaisquer novidades.

O que nos traz a Tito: vivido por Rodrigo de la Serna como um sujeito insuportável e antipático, o papel que originalmente pertenceu ao ótimo Omar Sy é desempenhado, nesta versão argentina, por um personagem com um timing cômico pavoroso - e se Driss funcionava em Intocáveis graças à naturalidade sincera e irreverente que havia na atuação de Sy, Tito fracassa em Inseparáveis porque Serna sempre parece fazer um esforço exageradíssimo para divertir o público, apelando para gracinhas que, além de pedestres, passam longe das tiradas espontâneas que existiam no longa francês. (Observem a forma hilária como o sorridente e despojado Omar Sy dizia "Você tomou este remédio para tentar se matar? O máximo que vai conseguir é passar três semanas sem cagar". Agora, vejam a maneira sisuda e sem graça como Rodrigo de la Serna recita a mesma fala e perceberão a diferença abismal entre uma performance e outra.) Além disso, as atitudes de Tito variam dependendo das necessidades do roteiro (aqui, ele é malandro; ali, ele é estúpido; num momento, ele é gentil; em outro, ele é tremendamente grosseiro), o que ocorre sem nenhuma lógica e prejudica a concepção do personagem em vez de torná-lo mais complexo ou imprevisível.

De todo modo, nada é mais incômodo do que a postura babaca que frequentemente leva Tito a assediar suas colegas de trabalho, algo que nunca é confrontado de modo considerável pelo roteiro. Lembram-se de uma cena onde Driss se inclinava para tentar beijar a secretária de Philippe e era imediatamente correspondido com um tapa na cara, em Intocáveis? Pois o que era engraçado naquela situação não era a tentativa de Driss, mas a agressão que este recebia em troca - e é isto o que Marcos Carnevale não parece compreender, já que, em certo momento de Inseparáveis, Tito simplesmente agarra a secretária de Felipe, a arremessa numa cama e parte para os beijos descontrolados como se isso fosse divertido por si só.

Pecando também ao eliminar o apelo universal que existia em Intocáveis a fim de privilegiar uma personalidade exclusivamente argentina, tentando funcionar mais para uma nacionalidade específica do que para um escopo internacional, Inseparáveis se preocupa tanto com a repetição de cada detalhe da obra original que acaba nem se dando ao trabalho de corrigir algumas de suas falhas naturais (desta forma, o recurso dramático incluído artificialmente no fim do segundo ato torna-se ainda mais perceptível nesta refilmagem).

Assim, o resultado final desta produção é o mesmo que ver uma imitação ser feita por um mímico incrivelmente sem graça e que reconhece a sua própria incompetência, mas que não faz nada para tentar solucioná-la.

Inseparáveis (Inseparables, Argentina - 2017)

Direção e Roteiro: Marcos Carnevale
Elenco: Rodrigo de La Serna, Oscar Martinez, Carla Peterson, Alejandra Flechner
Gênero: Dramédia
Duração: 110 minutos


by Redação Bastidores

Crítica | Meu Malvado Favorito 3

Não é de hoje que repito que Chris Meledandri é um gênio da animação infantil muito embora geralmente desgoste de quase todos os seus filmes ou os ache apenas irrelevantes. Nitidamente o produtor tem uma abordagem nada comum na indústria de anunciar seu nome logo nos primeiros minutos de filme: Uma produção de Chris Meledandri. É algo que lembra a Hollywood clássica dos anos 1930, 40 e 50.

Isso aconteceu em Pets e Sing. Agora com Meu Malvado Favorito 3, a história se repete... Em todos os sentidos. Novamente temos um filme de alto valor de produção, com tecnologia de animação, iluminação e texturas equiparável às da Pixar e Disney, mas preservando o mesmo roteiro preguiçoso de sempre. Nisso, já dá para inferir que, no quarto filme dessa franquia, Meledandri está deixando o ego comer bom-senso: Gru e seus Minions estão trilhando um caminho bem parecido ao que aconteceu com Shrek.

Maleficamente medíocre

Não é novidade para ninguém que os roteiros das produções da Ilumination deixam bastante a desejar. Em sua maioria, contam histórias divertidas, com mensagens razoáveis, mas facilmente esquecíveis. O que é mais celebrado até agora são os minions e suas piadas que flertam com screwball e o nonsense. De resto, não há muito há destacar além das quantias exorbitantes de dinheiro que eles rendem na bilheteria.

A última vez que tínhamos visto Gru salvar o mundo de outro super-vilão foi em 2013 com a primeira sequência do original. A terceira incursão traz exatamente a mesma fórmula, expandido razoavelmente o universo da franquia.

Aqui, Ken Daurio e Cinco Paul trazem um declínio de Gru após ele causar a demissão dele próprio e da esposa, Lucy, ao falharem na captura de um novo vilão chamado Balthazar Bratt. Desempregado e sem planos de retornar à vilania, Gru não sabe o que fazer para sustentar sua família. Porém, sua vida sofre uma radical reviravolta quando descobre a existência de um irmão gêmeo ricaço até então desconhecido, Dru.

Com ele, Gru descobrirá mais sobre seu pai e tentará reaver o bem roubado por Brett na tentativa de resgatar seu emprego. Enquanto isso, o vilão favorito ainda tem que conciliar seu tempo para dar atenção à sua família e aos minions que preparam um motim.

Além de Minions, esse é nitidamente o primeiro filme dessa franquia que mostra uma junção de núcleos diversos para conseguir sustentar a narrativa ao longo de seus 90 minutos. Isso, na verdade, é um baita problema, pois confere um ar de episódio de seriado para um longa-metragem.

Não demora nada para abandonarmos o núcleo concentrado em Gru e Dru para encontrarmos outros focados em exibir Lucy tentando ser uma verdadeira mãezona para Agnes, Margo e Edith, elaborar a motivação recalcada do antagonista Balthazar Brett ou para inserir as gags totalmente deslocadas dos minions amotinados liderados por Mel. Mas não se engane, no meio do filme, outro arco surge focando na busca de Agnes por um unicórnio nas florestas do condado onde Dru mora.

É absolutamente normal termos animações com narrativas interpoladas como, por exemplo, Procurando Nemo. Mas na grande maioria dos casos, a interpolação serve para mostrar os diferentes núcleos seguindo objetivos semelhantes, para a conquista da jornada. Já aqui, como você pode ter percebido, as tramas são totalmente independentes em sua maioria. Não adicionam nada relevante ou uma passagem dramática de crescimento desses personagens que já estão nas telas há três filmes. Trata-se da velha e fraca “encheção” de linguiça. Puro filler fraco já que não a mínima atenção dedicada para os personagens da obra. Eles terminam exatamente do mesmo modo que começam – com exceção de Dru que também é escrito na base da mediocridade.

Ao menos, a adição dos novos personagens traz algum vigor a uma história natimorta. Apesar da atenção completamente rudimentar para as Agnes, Margo e Edith que servem apenas para virar donzelas em perigo (pela terceira vez seguida), Dru, o irmão cabeludo e afeminado de Gru, tem bons momentos. O personagem possui alguma motivação e o jogo de conquista para tentar atrair Gru de volta para a vilania rende passagens cheias de ação que tiram a obra de certo marasmo.

O problema é que as sequências de “maldades” são pouco inspiradas. Dru também, gradativamente, vai ficando mais idiota se comportando como um minion “crescido” durante outra invasão ao covil caricato do vilão da vez. Fica claro que essa troca de natureza para Dru existe apenas por causa da ausência dos minions que embarcam em uma aventura sozinhos mais se assemelhando a diversas esquetes cômicas de curtas-metragens envolvendo números musicais em um show de talentos e na prisão.

Porém, mesmo com essas constantes interrupções, pelo caráter bastante descompromissado da obra, dificilmente a audiência infantil ficará perdida. As histórias sempre carregadas com cores fortes e direção simplória, permite que a experiência de ver esse longa seja tão simples quanto sua narrativa. Não há grandes pretensões aqui, além do alto faturamento. Ao menos, no resquício mínimo de maturidade que a franquia desenvolveu, não temos tantas piadas escatológicas dessa vez. O humor é sim levemente refinado, mas passa longe de envolver – piadas repetidas têm a tendência de perder a graça.

Recalque Favorito

O que é mais estranho em Meu Malvado Favorito 3 talvez seja sua maior qualidade: o vilão Balthazar Bratt. O filme já é iniciado com um breve panorama sobre o passado tragicômico do personagem. Bratt era uma pequena estrela-mirim de um seriado de mal gosto dos anos 1980, porém, quando atingiu a puberdade, a audiência caiu levando o cancelamento da obra – tudo isso é jogado em tela através da exposição bastante preguiçosa de um apresentador de telejornal.

Porém, o menino não ficou contente com a destruição de seu sonho e trabalhou muito até se tornar um super vilão. Apesar do plano maléfico não fazer o menor sentido, Bratt segue uma jornada de vingança pessoal contra Hollywood. E, justamente por isso, é possível associar certo recalque ou ressentimento de Meledandri com a indústria em si.

Isso é jogado em evidência na tela com referências agressivas nada sutis à Pixar – um peixe-palhaço é destroçado pelo motor do jet ski de Gru para você terem uma ideia. Bratt também declama a todo momento que seu seriado deveria ter ganhado um Oscar ou um Emmy – Meledandri foi indicado ao Oscar de Animação por Meu Malvado Favorito 2. Enfim, são diversas menções odiosas à indústria como um todo. Não é preciso ter meio miolo para associar uma coisa à outra, ainda mais devido a força que o produtor impõe sobre esses filmes.

Rapidamente o personagem vira um vilão de uma nota só e perde o interesse do público já na metade da obra – principalmente por conta da repetição exaustiva da frase de efeito pedigree de Bratt. Uma pena, pois apresentação dele é um show à parte rendendo o melhor momento da obra embalada ao som de Bad! de Michael Jackson. A proposta principal é mostrar como Bratt é traumatizado pelo fim abrupto da fama e, por consequência, ficou preso na década de 1980 ainda adotando cortes de cabelo e moda pertencentes àquela geração.

Todas as canções ou riffs que embalam as ações do personagem são sucessos disco como Take On Me e Sussudio o que traz uma boa dose de piadas para os mais velhos. Mas as boas ideias se esgotam rapidamente nos levando, de novo, para uma espécie de minions robóticos que ajudam Bratt na vilania – algo mais rudimentar do que havíamos visto no filme anterior. Já as armas do vilão despertam bastante interesse também pela criatividade. Sejam os chicletes de bola ou o robô mecha, sempre há algo muitíssimo coerente para a característica oitentista do vilão. Aliás, a temática seria um prato cheio para os diretores, caso usassem a linguagem cinematográfica da época em passagens especiais - ao menos, utilizam a linguagem televisiva brega que se popularizou nessa década para mostrar trechos do seriado juvenil protagonizado pelo vilão.

Mesmo com uma narrativa tão insossa que adora desperdiçar boas ideias e negar qualquer desenvolvimento para personagens novos e antigos, Meu Malvado Favorito 3 merece muitos elogios pela técnica da direção de arte. Desde sempre, destaco que os filmes da Ilumination têm uma soberba criatividade para criação de cenários diversos e também para os designs encantadoramente caricatos dos personagens que figuram nas suas histórias.

Nesse exemplar, há diversos cenários memoráveis e novas armas e veículos para Gru usar em suas missões deixando as sequências de ação bastante dinâmicas e visualmente atraentes – destaque para o domínio dos diretores em tornar todo o trabalho visual fluido e coerente. Uma dessas grandes passagens envolve uma confusão na cidadezinha franco-germânica que Dru mora. Basicamente é a melhor cena do filme por, enfim, deixar os personagens evoluírem um pouco, além do encanto visual provocado pela criatividade da arquitetura do lugar.

Outro bom destaque é o covil ridículo que Bratt mora no qual existem mais referências de traquitanas dos anos 1980 que você pode absorver em apenas uma visita ao filme.

Nada de Novo no Front

Enquanto, Meu Malvado Favorito 3 passa longe de ser um desastre perfeito, Meledandri conduz a produção novamente em um terreno seguro ignorando o fato que o público-alvo desses filmes tem envelhecido e, logo, aptos para histórias mais interessantes e ricas. Claro, sempre há uma nova audiência de criancinhas muito novas que apreciarão as palhaçadas de Gru e companhia, mas ainda assim trata-se da segunda sequência de uma franquia muito bem-sucedida.

Esperava-se, no mínimo, alguma evolução. Mas o que ocorre é justamente o contrário. A narrativa regride após lançar suas cartas de maior interesse optando por caminhos convencionalmente patéticos até mesmo para crianças de sete anos. Ao menos, Meu Malvado Favorito, o primeiro, importava-se em contar uma narrativa convencional, mas valorizando a alma dos personagens que iam se apaixonando e formando uma família gradativamente. Aqui, fica claro, pelo formato bastante quebradiço da historinha, que pouco disso importa enquanto a máquina estiver saudável.

Mas, sendo bastante sincero, como entretenimento inocente e descompromissado, mesmo diante de todos esses “problemas” que pontuei ao longo do texto, Meu Malvado Favorito 3 funciona e diverte. Apenas tenha em mente que encontrará doses cavalares da mesma coisa que já consumiu três vezes antes. Pode ser que, nessa aventura, o sabor da rápida e enlatada experiência seja mais insatisfatório.

Meu Malvado Favorito 3 (Despicable Me 3, EUA – 2017)

Direção: Kyle Balda, Pierre Coffin, Eric Guillon
Roteiro: Ken Daurio, Cinco Paul
Elenco (vozes no original): Steve Carrell, Kristen Wiig, Trey Parker, Miranda Cosgrove, Dana Gaier, Pierre Coffin, Julie Andrews, Nev Scharrel
Gênero: Animação Infantil, Aventura
Duração 90 min.


by Matheus Fragata

Crítica | Uma Família de Dois

Existe um preconceito com o cinema francês por boa parte do público. É bem comum as pessoas acharem que todos os filmes só por serem falados em francês são de difícil acesso. Pois bem, Família de Dois (Demain tout Commence) é mais uma prova que eles sabem fazer filme de gênero. Mesmo não sendo um filme incrível, é uma divertida e encantadora história de amor.

Remake do mexicano Não Aceitamos Devoluções, o protagonista da história é Samuel (Omar Sy), um bon vivant que trabalha no sul da França como monitor em passeios turísticos em um grande hotel. Sua vida se resume em: festas, moças e diversão. Um dia, após uma dessas festas aparece Kristin (Clémence Poesy), uma inglesa com quem teve um caso. Junto com a moça está um bebê, que Kristin diz ser a filha de Samuel, que nega. Após uma longa confusão, o rapaz vai até Londres para encontrar a moça e não a encontra. Ele não se vê com outra alternativa a não ser cuidar da menina. Oito anos depois, em que se torna um dublê de sucesso e Gloria (Gloria Coston) já cresceu sob os cuidados carinhosos e excêntricos do rapaz. Mas o amor entre os dois ficará em prova, quando Kristin volta para reencontrar Gloria, que não sabe o real motivo que fez com a sua mãe a abandonasse.

A história do longa é bem simples e tocante. Desde o primeiro minuto sabemos que é um feel good movie e ele se assume quanto a isso. Não há nada de grandioso na história em si, embora o roteiro tente dar uma grande reviravolta que soa mais como muleta de roteiro. Explico: um personagem do filme está morrendo e até o final não sabemos quem é. A própria doença é mal explicada e só serve para dar o drama em momentos pontuais, mas soa forçada e não funciona. Aliás, o roteiro do diretor Hugo Gélín e Jean-Andrés Yerles perde força no terceiro ato que se alonga mais do que deveria.

O que vinha sendo uma divertida comédia sobre amadurecimento e relação paternal se torna um drama sobre medos, parecendo que é outro filme. Esse problema do roteiro também prejudica muito o ritmo que fica muito mais lento e desinteressante. O que é triste porque os dois primeiros atos são muito competentes. São ágeis, com personagens bem escritos, situações engraçadas, mas essa mudança muito forte de tom, que não é feita com o devido cuidado prejudica um pouco.

Muito dessa quebra de ritmo se deve a direção de Hugo Gélin que muda a gramática visual em cena. Nos dois primeiros atos a câmera se movimenta bastante e com os cortes bem rápidos, já no terceiro percebemos que a mão do diretor fica mais pesada por conta do tom dado pela história. Mas não faz um trabalho ruim, pois o longa é bem filmado. Os planos são bonitos e dizem sobre a história além do diretor utilizar bem os locais aonde acontecem os acontecimentos. Galín se mostra um bom diretor de atores, pois todo o elenco de Uma Família de Dois se mostra muito bem em seu papel.

Omar Sy tem se mostrado um dos grandes astros do atual cinema francês e nesse filme continua mostrando porque merece esse destaque. É um ator muito carismático e expressivo, do tipo que uma câmera não desgruda. Tem uma presença magnética e consegue demonstrar com o olhar como o amor que sente por Gloria é genuíno e sincero. Muito dessa sinceridade se deve a ótima química que o ator tem com a jovem Gloria Coston, que se mostra uma jovem revelação que merece ser acompanhada. Ela faz com que sua personagem seja madura e forte ao mesmo que tem as ingenuidades de uma criança de sua idade. É um trabalho muito delicado.

O alívio cômico da história fica por conta do ótimo Antoine Bertrand que interpreta um dos personagens mais doces da história. É um produtor de cinema que revela Samuel para o mundo e dar um lugar para ele morar por um tempo. É um personagem assumidamente homossexual que joga charme em todos os homens que aparecem em sua frente. Por mais que ele seja o grande alívio cômico do filme, é um personagem que tem uma grande importância para a história e o trabalho de Bertrand merece destaque.

Bom, pra quem quer uma diversão bem leve que tem seus momentos emocionantes, Uma Família de Dois é uma boa pedida. É mais um exemplar para tirar um preconceito bobo que tem na cabeça e ver uma das principais figuras do atual cinema francês.

Uma Família de Dois (Demain tout Commence, França – 2016)

Direção: Hugo Gélin
Roteiro: Hugo Gélin e Jean-André Yerles adaptados do roteiro de Eugenio Derbez e Guillermo Ríos
Elenco: Omar Sy, Gloria Colston, Clemence Poésy, Antoine Bertrand e Ashley Walters
Gênero: Drama, Comédia
Duração: 119 min


by Redação Bastidores

Crítica | Meu Malvado Favorito 2

Em 2010, a DreamWorks lançava a primeira iteração de sua mais nova franquia animada, intitulada Meu Malvado Favorito, contando a história de Gru (Steve Carell), um supervilão que acabou sendo tocado pela doçura e pela inocência de três garotinhas órfãs e decidiu dar uma completa mudada em sua vida antagonista para se tornar um anti-herói. E apesar do grande sucesso de bilheteria, sua narrativa previsível foi um dos primeiros indicadores de que os estúdios haviam perdido a mão para criar universos satisfatórios o suficiente para conquistar o coração do público.

Com a compra dos direitos de imagem dos personagens pelos estúdios Universal Pictures, o cenário idealizado teria chances de proporcionar uma suave mudança na narrativa – e infelizmente, as coisas pareceram descarrilhar ainda mais. Meu Malvado Favorito 2, sequência do filme homônimo, não simplesmente se sustenta na improbabilidade de fatos, mas também se firma na comédia pastelão para disfarçar a falta de endossamento criativo e a discrepância tonal entre todos os seus atos.

Mais uma vez, o longa-metragem se inicia com um breve prólogo mostrando a premissa principal da arquitrama: um novo e desconhecido vilão roubou uma estação de pesquisa científica do golfo ártico, o qual era responsável pelo desenvolvimento de uma composição química capaz de transformar qualquer ser vivo em uma arma mortal e indestrutível. E para impedir que tal mal se espalhe pelo mundo, a Liga Anti-Vilões (conhecida como AVL) resolve recrutar Gru, um ex-vilão e agora pai das garotinhas supracitadas, para seguir os passos desta mente distorcida e salvar a tudo e a todos.

O primeiro ato talvez seja o mais agradável, em termos estéticos e narrativos. Diferentemente da iteração inicial, o segundo filme opta por transparecer o sentimento paternalista do personagem principal, deixando até mesmo sua caracterização um pouco menos cartunesca e mais realista. Na primeira sequência em que realmente aparece, ele está terminando os detalhes finais da festa de Agnes (Elsie Fisher) – e não posso negar que os eventos ocorridos a partir disso conseguem arrancar algumas risadas do público. Afinal, em que outro lugar armas mortíferas como foices, martelos e machados serviriam como decorações kitsch para o aniversário de uma garotinha?

Mas toda essa compreensão passível de engajamento logo desaparece quando os trejeitos inverossímeis dos personagens vêm à tona, seja na expressão de raiva/êxtase de Agnes, na ácida ironia de Gru ou nas breves aparições desajeitadas de Jillian (Nasim Pedrad), uma adição desnecessária para as subtramas dos protagonistas. Tudo parece seguir um ciclo sem fim e, sem qualquer explicação aparece, a “ordem natural das coisas” se desmantela em uma virada inesperada, porém cheia de furos.

O “herói” é raptado por uma das agentes da AVL, chamada Lucy (Kristen Wiig), a personagem cinematográfica animada mais irritante de todos os tempos. Seu arco é bem delineado desde o começo do filme, mas sua caracterização está inexoravelmente truncada com gestos bruscos, lentos e desarmônicos com o tom das cenas em que protagoniza. Nem mesmo em momentos de tensão ela consegue transpassar aquilo que precisávamos para criar laços com os superficiais arquétipos que emergem com as viradas – sua expressão quase única se restringe a meio-sorrisos de desconforto e a tiques no olho.

Após levar Gru para o quartel-general da organização, o roteiro assinado mais uma vez pela dupla Cinco Paul e Ken Daurio parece se esquecer de que tem uma história a ser contada, com um começo interessante, mas um meio e um final praticamente inexistentes. A estrutura narrativa migra de uma cronologia compreensível para ramificações iguais em termo de peso: não temos apenas Gru e Lucy lutando para encontrar o responsável pelo roubo do soro, mas também temos os minions, criaturas amarelas, asseclas de Gru, sendo raptados um a um – e afastando-se da linearidade de serem só um “escape cômico” distorcido para o longa -, a implausível descoberta de sentimentos amorosos de Margo (Miranda Cosgrove) por um jovem rapaz, e como essas múltiplas relações conversam entre si.

Se colocarmos tudo em uma balança, cada fatia do filme tem quinze minutos – e isso provavelmente premedita o grande deslize: a falta de desenvolvimento e de resolução para cada uma delas. É de se esperar que Gru e Lucy desenvolvam laços românticos, mas ambos têm alguns traumas passados que os impedem de firmar qualquer coisa. Entretanto, esse passado não é explorado de modo satisfatório para dar margem aos fillers cômicos dos minions, os quais estão sendo também raptados e transformados em criaturas assassinas pelo real antagonista da história – Eduardo (Benjamin Bratt), conhecido por sua alcunha vilanesca El Macho. Tudo se desenvolve em um ritmo frenético, ignorando alguns pontos-chave em detrimento do favoritismo cênico – e o resultado final pode ser descrito como uma mixórdia caótica.

El Macho é, sem sombra de dúvida, o personagem que “salva” o longa-metragem. Seu carisma em cena é notável desde a primeira aparição, e suas sequências conseguem trazer o montante necessário de drama e de comédia para torná-lo uma caricatura bem desenvolvida, própria das produções audiovisuais da década de 1970 que utilizavam lutadores como heróis ou anti-heróis. Sua caracterização é essencialmente vermelha, buscando uma significância na sede pelo poder e pela dominação, contrastando com seu corpo avantajado e seu jeito “despojado” de ser na vida real. Apesar disso, ele é ofuscado pelo pálido brilho do casal principal, cuja falta de química é o suprassumo da incompetência narrativa.

Meu Malvado Favorito 2 é uma entrada mais fraca para a franquia. O sucesso massivo é algo a ser ovacionado, principalmente se levarmos em consideração que o lucro do longa-metragem ultrapassou os novecentos milhões de dólares. Entretanto, a história cheia de furos e os personagens monótonos são o bastante para mostrar o desgaste das animações provenientes dos estúdios DreamWorks – e, bom, dizer com todas as palavras que já cansamos dos minions.

Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2, EUA – 2013)

Direção: Pierre Coffin, Chris Renaud
Roteiro: Cinco Paul, Ken Daurio
Elenco: Steve Carell, Miranda Cosgrove, Kristen Wiig, Benjamin Bratt, Dana Gaier, Elsie Fisher, Russell Brand, Nasim Pedrad, Ken Jeong, Steve Coogan
Gênero: Animação, Comédia
Duração: 98 min.


by Thiago Nolla

Crítica | Meu Malvado Favorito

Em 2010, a DreamWorks, em conjunto com a Illumination Entertainment, resolveu lançar uma nova franquia para seu catálogo de animações, buscando algumas inspirações em Shrek - cujas iterações se tornaram um sucesso de público e de crítica - para criar mais um microcosmos fundado na comédia, no sarcasmo e na tentativa de arquitetura de personagens engraçados o suficiente para nos divertir e nos emocionar. Infelizmente, não foi exatamente isso o que aconteceu.

A história começa com um prólogo relativamente bem estruturado e permeado por uma identidade criativa que dá nome às cartas do jogo. Temos uma família turista chegando às Pirâmides do Egito e descobrindo, da forma mais improvável possível, que uma delas foi roubada e substituída por uma réplica inflável. Logo depois da notícia se espalhar pelo mundo inteiro, somos transportados para uma cena cotidiana, durante a qual é-nos apresentado o protagonista da história, Gru (Steve Carell), um personagem extraído de histórias em quadrinhos dos anos 1970 e adornado com um figurino tão taciturno quanto seu porte. Durante o início do primeiro ato, não sabemos exatamente se ele será uma criação cartunesca - levando em consideração que suas ações e reações são exageradas e desprovidas de diálogo - ou uma multidimensional.

Entretanto, temos certeza de uma coisa: ele é mau. Um vilão andando livremente pelas ruas de sua cidade, buscando mostrar-se superior a todos. Desde o princípio, percebemos que sua presença chama a atenção, principalmente se levarmos em consideração sua paleta de cores extremamente neutra contrastando com a miscelânea de tons vivos dos personagens secundários, os quais formam uma massa amorfa até mesmo no tocante às suas residências. Gru, fugindo da normalidade, tem uma mansão imponente que se assemelha às construções de A Família Addams, por sua estética expressionista, curvilínea e suntuosa - ora, até mesmo seu gramado permanece o longa-metragem inteiro imerso em tons amarronzados.

O protagonista encontra seu primeiro obstáculo com a emergência vilanesca e quase estúpida do antagonista da narrativa, Vector (Jason Segel), um aspirante à “mente maligna” que foi o real responsável por roubar a Pirâmide do Egito, deixando Gru para trás na corrida pelo mal e colocando-o numa jornada para sequestrar a Lua - sim, exatamente isso. Ele deseja alcançar o astro e provar para todos que consegue ser a própria essência dos vilões contemporâneos. Para isso, ele precisa recuperar uma arma de encolhimento - cuja propriedade está nas mãos de seu adversário - e, para tal, encontra ajuda no último lugar em que pensaria encontrar: num orfanato.

Abrindo um breve parêntese aqui, devo dizer que as três meninas órfãs adotadas por um dos canastrões personagens encarnados por Gru talvez sejam as criações mais insuportáveis e sem qualquer arco complexo da história das animações. Margo (Miranda Cosgrove), Edith (Dana Gaier) e Agnes (Elsie Fisher) são irmãs, e basicamente saem de um determinado ponto para voltar à linha de partida: elas entram aqui como suportes e entremeios para que o protagonista encontre seu arco de redenção, mas a falta de personalidade e a linearidade de sua narrativa em nada contribui para o endossamento ou a negação da trama principal.

Gru percebe que consegue utilizar a inocência pueril para resgatar a arma, mas acaba deixando que seu lado paternal e acolhedor, escondido em meio a uma brusca feição e a constante procura pela solidão, emerja e as coloque em perigo, iniciando uma perseguição ao melhor estilo “gato e rato” - mas pobremente resolvida com viradas previsíveis e insatisfatórias.

Pierre Coffin e Chris Renaud, responsáveis pela direção do longa, não sabem por qual caminho seguir e optam por mesclar diversos estilos de montagem em um só lugar. Como já citado anteriormente, a premeditação cartunesca de Gru é construída a partir de duas vertentes básicas: a opção pelo plano sequência se iniciando em close e depois abrindo para o geral, pegando referências de filmes de Charles Chaplin; e a trilha sonora tonal idealizada por Pharrell Williams e Heitor Pereira, a qual nos relembra das primeiras animações dos estúdios Walt Disney, perscrutadas pelos famosos mickey-mousings.

Entretanto, conforme a história se desenrola, o roteiro também opta por uma perspectiva mais verborrágica e a própria montagem se transforma em uma justaposição de enquadramentos rápidos e dinâmicos que tentem harmonizar com aquilo que sucede em determinada sequência. Mas a concepção multi-identitária fica tão saturada na tela, que não podemos deixar de nos sentir desconfortáveis com tanta informação.

Outro ponto a ser analisado é a presença dos minions, criaturinhas amarelas que se parecem com feijões supercrescidos e que têm uma linguagem própria - e que, além disso, são apaixonados por banana. Apesar do semblante apaziguador e terna, eles são asseclas do mal que seguem cegamente Gru, tornando-se os principais ajudantes para que seus planos atinjam o sucesso. Podemos até traçar algumas comparações entre eles e os extraterrestres verde-limão da franquia Toy Story, mas garanto que os minions são insuportavelmente esdrúxulos. Apesar da comicidade e da leveza características de sua significação para a história, eles ocupam mais da metade do tempo de cena e entram em um looping eterno de ação e reação, permanecendo dentro de uma bolha individualista e desnecessária para o entendimento dos eventos principais.

Um dos grandes momentos de glória é a presença da eterna Julie Andrews como a Sra. Gru. Suas aparições são pontuais, mas trazem uma sutileza tragicômica que adiciona camadas de complexidade para a backstory do protagonista e mostra as relações conturbadas entre mãe e filho, além de possibilitar a existência de um arco de redenção mais sólido - tudo permeado com ironia, sarcasmo e acidez.

Meu Malvado Favorito não é um filme essencialmente satisfatório. Com sua história saturada e suas resoluções pobres, fica claro que a DreamWorks não sabe muito bem por qual caminho seguir. Mas não podemos negar seus escassos momentos de brilho - e o alívio quando os créditos finalmente começam a subir na tela.

Meu Malvado Favorito (Despicable Me, EUA – 2010)

Direção: Pierre Coffin, Chris Renaud
Roteiro: Sergio Pablos (argumento), Cinco Paul, Ken Daurio (roteiro)
Elenco: Steve Carell, Jason Segel, Miranda Cosgrove, Kristen Wiig, Julie Walters, Will Arnett, Dana Gaier, Elsie Fisher, Russell Brand
Gênero: Animação, Comédia
Duração: 96 min.


by Thiago Nolla

Crítica | Castelo de Areia

O cineasta paulista Fernando Coimbra fez a sua estreia três anos atrás com o ótimo suspense O Lobo Atrás da Porta, estrelado por Leandra Leal e Milhem Cortaz. Com o grande sucesso nacional e internacional do longa, Coimbra fez dois episódios da primeira temporada da série Narcos da Netflix. Agora, em plena ascensão o diretor lança o seu primeiro longa internacional: o drama de guerra Castelo de Areia (Sand Castle, 2016). Como o repertório de brasileiros que se aventuraram em terras estrangeiras não é dos melhores – vide 12 Horas de Heitor Dhalia, Água Negra de Walter Salles e Voando Alto de Bruno Barreto –, os fãs de Coimbra ficaram com um pouco de medo sobre o que seria esse seu novo projeto, que era mais um filme sobre a Guerra do Iraque. Apesar do resultado final ser positivo, muito do longa se deve a habilidosa direção de Coimbra, que é prejudicada por conta do roteiro raso.

O longa se passa em 2003 e o protagonista é o soldado Matt Ocre (Nicholas Hoult), um jovem que não tem dinheiro para se formar em um faculdade e por conta disso decidiu servir ao exército. Sua  missão é ir para o pequeno vilarejo de Baquba para conseguir reativar o serviço de água dos habitantes. Durante a missão, Ocre e o resto do pelotão descobrem que conseguir fazer com o povo confiem neles e vice e versa, será mais difícil do que aparenta. Enquanto isso, o jovem vai entendo a brutal realidade da guerra.

Curiosamente, o longa conversa com outro filme que tem esses mesmos temas, o ótimo Guerra Ao Terror de Kathryn Bigelow. Pena que o filme de Bigelow se aprofunde melhor nas questões debatidas. O roteiro de Chris Roessner tem uma sinceridade no jeito que mostra triste situação dos soldados e principalmente do povo iraquiano, já que é baseado em suas memórias do tempo em que serviu ao exército. Mas faltam talentos dramaturgos ao texto de Roessner, porque Castelo de Areia cai nos mesmos tipos de clichês de tantos outros filmes de guerra: os soldados que não sabem porque estão lutando; uma clara dificuldade em entender a geografia do local; o sargento (Logan Marshall-Green) que vai pegando a confiança do seu pelotão; etc... Até o próprio arco de Ocre se mostra a mesma coisa que já foi mostrada em outros filmes do gênero. Isso acaba deixando o longa previsível e dizendo mais do mesmo que outros filmes sobre o Iraque já falaram.

Além do excesso de clichês, o expectador sentirá uma dificuldade em criar algum tipo de empatia com os personagens. Os protagonistas não possuem arcos interessantes e os coadjuvantes são mal desenvolvidos. Quando algum deles morre em combate, há o choque pela cena, mas não envolvimento emocional com o que ocorreu. Por mais que haja a sinceridade do discurso de Chris Roessner, esses erros de roteiro acabam mostrando sua fragilidade e como alguns temas são desenvolvidos de formas rasteiras. É um texto muito problemático.

Mas se o roteiro se mostra problemático, a direção de Coimbra compensa. O primeiro ponto que se deve destacar é como o longa é bem filmado. O diretor junto com a fotografia de Ben Richardson e o design de produção de Mike Gunn criam um visual diferente do usual de filmes de guerra. Durante boa parte durante as cenas noturnas há diferentes temperaturas de cor durante o ambiente, tanto em externa quanto em externas, como se estivessem em colapso. Podem ser lidas como o psicológico dos personagens. Durante o dia, há o uso de paletó de cor mais seco que mostra o calor do deserto, mas evitando uma visão mais óbvia de outros filmes do gênero. Vale ressaltar que a câmera na mão usada no longa é muito elegante, que mesmo servindo para dar urgência não fica tremendo o tempo todo. Além de ter boas sequencias de ação.

Os atores estão bem e dão o seu melhor, apesar dos personagens. Nicholas Hoult consegue passar os vários sentimentos que ocorrem durante a projeção: medo, ansiedade, culpa, insegurança e raiva. Hoult sempre se mostrou um ator disciplinado e não faz diferente em Castelo de Areia. Logan Marshall-Green e Henry Cavill mostram boa presença e personalidades em seus papéis, principalmente Cavill que tem o personagem mais interessante do longa, mas é o mais mal explorado.

Há um bom cuidado no trabalho de som, que ajudam a criar a tensão das sequencias de ação. O trabalho da trilha sonora ajuda a criar a tensão psicológica dos personagens, o mesmo que as temperaturas de cores fazem.

Enfim, Castelo de Areia é uma boa entrada de Fernando Coimbra em terras estrangeiras. Apesar dos problemas de roteiro, ele ainda mostra que é um diretor muito interessante que merece ser acompanhado.

Castelo de Areia (Sand Castle, EUA – 2017)

Direção: Fernando Coimbra
Roteiro: Chris Roessner
Elenco: Nicholas Hoult, Henry Cavill, Logan Marshall-Green, Tommy Flanagan, Glen Powell e Beau Knapp
Gênero: Guerra
Duração: 113 min


by Redação Bastidores

Crítica | Meus 15 Anos

Se você tem mais de vinte anos e ainda não ouviu falar de Larissa Manoela, não se sinta excluído, você irá ouvir falar muito dela nos próximos anos. Larissa é o mais novo fenômeno teen do momento, muitos a chamam da nova Sandy e não é por menos. Para se ter uma ideia da sua popularidade é só ver o tanto de produtos já licenciados em seu nome. Ela tem um álbum de figurinha do seu novo filme Meus 15 Anos, virou balde de pipoca no Cinemark, tem dois livros lançados, sendo que o primeiro chamado de O Diário de Larissa Manoela vendeu mais de 400.00 cópias e o segundo está sendo lançado agora com o nome de O Mundo de Larissa Manoela. Esse segundo conta a história dela por trás das câmeras, enquanto O Diário mostrava o início de sua carreira e de sua vida antes da fama. E claro, está lançando o já citado novo longa Meus 15 Anos.

Com apenas 16 anos ela já conta com uma carreira vasta e sólida tanto na TV quanto no cinema. Um de seus primeiros trabalhos foi no longa O Palhaço com o experiente ator Selton Mello, daí viriam algumas outras produções até chegar ao papel que iria impulsionar sua vida de atriz. Foi no SBT, com o papel de Maria Joaquina na refilmagem da novela Carrossel que veio sua fama. Depois do remake da novela mexicana vieram outros filmes até chegar nesse que é o seu primeiro papel como protagonista. 

Como não poderia ser diferente, a trama é bastante clichê levando em conta que é um produto para o público adolescente. Em Meus 15 Anos, Larissa é uma garota prestes a completar obviamente 15 anos e como toda garota dessa faixa etária sofre com os dilemas tanto quanto a relacionamentos, popularidade e a aceitação de si própria. Bia (Larissa) consegue o que "toda" menina sonharia, em uma promoção de um shopping ganha o direito de ter uma festa de princesa para comemorar seus 15 anos. Claro que a noite não será como ela imagina, acontecem percalços que irão fazer ela quase desistir da missão de realizar sua festa, mas tudo como quase sempre acontece é feito com muito sucesso ao término. Só que tudo é tão pomposo o filme que chega a parecer exagerado e falso demais.  

Você deve estar se perguntando se é só isso que o filme conta. Sim, em tese isso é tudo que nos é apresentado. O resto é pura enrolação, além de uma festival de clichês um atrás do outro. A diretora e roteirista Caroline Okoshi Fioratti é uma das culpadas por isso acontecer. Ela trabalhou com um tema já muito saturado na televisão e no cinema, não apenas brasileira, mas pelo mundo todo. Há muitas produções que já trataram sobre adolescência e sobre quão confuso é esse período. Só restava a ela escolher seguir um caminho mais realista ou mais romântico/fantasioso. Escolheu a segunda opção e esse foi seu erro. 

Meus 15 Anos é tão romântico e fofinho que lembra os filmes da Disney ou uma novela mal feita, nada ali é um espelho do que realmente acontece na vida de um jovem. Produções recentes que que decidiram ir pelo caminho mais realista se tornaram sucessos de público e crítica, como a série inglesa Skins, ou as releituras brasileiras de Confissões de Adolescente ou a nova Malhação de Cao Hamburger.

Essas produções vão mais pela linha realista e tentam acrescentar algo a mais a esse tema e não apenas fazer mais uma historinha vazia. Fora que os personagens, tanto o de Larissa como a de todo o colégio é um espelho dos mais variados tipos que costumamos ver em filmes americanos. O bonitão que conquista a garota para lhe enganar, o loser que ama a amiga, mas é trocado pelo bonitão e por aí vai. Faltou originalidade ao criar o roteiro e mais ainda na elaboração dos personagens. Meus 15 Anos é uma Malhação bastante piorada. 

E claro que uma trama fraca reproduz em uma atuação apagada da estrela principal, ela se esforça até porque é boa atriz, mas sua atuação não vai além do simples. O filme todo parece ter sido escrito para Larissa Manoela, tentam a mostrar que ela não é mais aquela garotinha que todos conhecemos, que agora ela está crescendo e ficando adulta. Só poderiam ter mostrado esse processo de amadurecimento da personagem de forma menos clichê e não tão infantil como abordado. Podiam ter feito algo mais adulto, não precisava ser algo pesado, mas que retratasse melhor o que é a ser adolescente. Talvez a decisão de seguir por essa linha se deve pelo público dela ser composto na maioria por adolescentes e pré-adolescentes que ainda não tem uma reflexão montada sobre diversos temas.

O elenco é composto quase na totalidade por atores desconhecidos, talvez por isso tenham mesclado youtubers consagrados com atores mais rodados em papéis secundários como o do comediante do Porta dos Fundos Rafael Infante. E há uma surpresa próximo ao final, Anita aparece cantando e atuando - muito mal, por sinal, Anita é uma ótima cantora como atriz. Larissa não está mal em seu papel, o problema como já dito é a personagem que não ajuda, ela não parece ter 15 anos e sim nove. 

Parece que os filmes com temática adolescente voltaram com tudo ao cenário do cinema nacional. Impulsionados pelo surgimento de novas celebridades digitais como os YouTubers, esse tipo de produção está longe de extinguir a fórmula. Só no último ano tivemos produções como Eu Fico Loko! e É Fada e em Meus 15 Anos, todos com celebridades da internet para tentar impulsionar o público a vê-los no cinema. A questão é que esses longas não estão sendo bem recebidos nem pela crítica, nem pelo público. 

Escrito por Gabriel Danius.

Meus 15 Anos (Idem, Brasil - 2017)

Direção e roteiro: Caroline Okoshi Fioratti
Elenco: Larissa Manoela, Anitta, Lorena Queiroz, Heslaine Vieira, Rafael Infante, Clara Caldas
Gênero: "comédia"
Duração: 101 min.


by Gabriel Danius

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