Rivais - Warner Bros

Crítica | Rivais surpreende com performance conceitual e intensa

Rivais é a nova produção de Luca Guadagnino que conta com o protagonismo de Zendaya. A produção promete um drama romântico e entrega uma performance intensa e repleta de conceito. Depois de "Até Os Ossos" e "Me Chame Pelo Seu Nome", o cineasta consegue manter uma estética impactante e dessa vez surpreende com novos aspectos.

A história é centrada nos dilemas de Tashi (Zendaya) e o enredo mostra a dualidade de seu período como uma jovem promissora no Tênis, até sofrer um acidente e se tornar a treinadora de seu marido Art (Mike Faist). Um dos pontos mais importantes da trama, é que ele precisa encarar uma nova temporada com o ex-melhor amigo Patrick (Josh O'Connor), que no passado foi namorado de sua atual esposa.

Ao acompanhar os materiais promocionais, esperava-se que o longa proporcionasse uma dinâmica de trisal ao longo da história. Além disso, era possível ver certa superficialidade no contexto, que não aparentava uma promoção mais profunda ou empolgante. Era como se olhando o cartaz e os trailers o pensamento fosse: mais um filme sobre esporte e superação, com um romance hot. 

As primeiras cenas de "Rivais" já desconstroem completamente essa primeira impressão. A fotografia ganha o telespectador no primeiro momento, ele se encanta pela perspectiva diferenciada com um jogo de câmeras original e exclusivo para a intensidade que a produção quer passar. Há foco em detalhes como os equipamentos dos jogos, o suor dos jogadores, a forma que a câmera vira em torno do que precisa ser mais impactante na cena, que nunca é no modelo convencional.

Essa surpresa na fotografia que acompanha uma boa paleta de cores para o filme, é somada a uma trilha sonora que se encaixa muito bem com a proposta do filme. Ela traz suspense, ansiedade e prende o telespectador na tela de uma forma expressiva e emocionante. A intensidade do filme é clara, os caminhos são fáceis de entender, mas exigem de um mix de emoções do telespectador para aguentar essa pressão emocional.

A sensação que o filme passa em muitas das cenas é de ansiedade. Uma de suas falhas se dá na extensão de momentos que cobrem a tela com algo que poderia ser mais rápido e ao mesmo tempo manteria a alta qualidade que foi entregue. Mesmo com uma ótima performance, é nítido que ele poderia ser menor e isso não atrapalharia a experiência, pelo contrário, seria mais objetivo em momentos que de fato a trama fica massante.

A extensão em pequenos detalhes tem bons efeitos em algumas cenas que entregam a intensidade desejada. Em outras traz uma sensação de "enrolação". Sendo assim uma das grandes ressalvas do roteiro de Justin Kuritzkes.

"Rivais" vence no campo da atuação com destaque para Zendaya

A escolha do elenco e a preparação dos personagens mostra que o pré-produção foi de grande esforço. Isso porque a dinâmica entre os atores revela uma química propícia ao que era sugerido e natural ao ponto de não restar dúvidas que houve uma boa formação até chegar nessa perspectiva.

O'Connor e Faist conseguem apresentar uma forma tão convincente e ao mesmo tempo enigmática. O telespectador fica em dúvida quanto ao real sentimento entre os personagens e ao mesmo tempo consegue entender as nuances de seus comportamentos juntos e isolados. Tudo isso gera uma boa construção de cena em tela e traz uma originalidade para a produção.

O grande destaque da produção, com certeza é a atuação de Zendaya. Além de colaborar na produção executiva, ela oferece ao público novas expressões dentro de uma intrigante personagem. Suas falas não mostram metade do que a expressão corporal entrega, trazendo uma série de interpretações quanto as suas decisões.

Esse efeito na personagem principal, é um dos pontos mais positivos da trama. Porque desperta uma grande curiosidade e ao mesmo tempo, há uma facilidade de comprar suas intenções, trazendo uma performance intensa repleta de conceito.

Rivais (Challengers, EUA – 2024)

Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: Justin Kuritzkes
Elenco: Zendaya, Marie Faist, Josh O'Connor, Darnell Appling, Bryan Doo, Shane T Harris
Gênero: Drama, Romance, Esportes
Duração: 131 min

https://www.youtube.com/watch?v=uQOvYIdia9M

"Rivais" é um filme que desperta ansiedade e possui algumas cenas massantes e enroladas. Por outro lado, entrega uma performance original, com uma fotografia excelente e ótimas atuações. O longa se adequa bem à proposta sugerida e surpreende o telespectador ao se mostrar mais empolgante do que o esperado.


Crítica | Guerra Civil - O declínio do Império americano

"Todos os impérios caem". No trailer e no material de divulgação de Guerra Civil, longa dirigido e roteirizado por Alex Garland, é possível ver essa frase aparecendo. Historicamente isso é verdade, todo império tem o seu auge e depois um declínio, o que muda apenas é a duração que esses impérios se mantém ao longo do tempo.

Esse não é o principal debate que Guerra Civil quer se envolver, na realidade não se sabe bem onde Alex Garland quer chegar, pois não há uma mensagem clara nem em relação ao quesito armamentista e nem político. O longa de Garland parece representar mais um conflito armado civil do que propriamente uma guerra civil e no meio desse conflito se encontra um grupo de fotógrafos de guerra, que terão de atravessar territórios hostis para chegar até a Casablanca, local onde o Presidente americano está isolado e correndo risco de ser deposto por um grupo que pretende tomar o poder.  

O grupo de fotógrafos da Reuters, liderado pela experiente Lee (Kirsten Dunst), seu parceiro Joel (Wagner Moura), o veterano Sammy (Stephen McKinley) e a novata Jessie (Cailee Spaeny), sendo que Jessie tem muito em comum com Lee quando jovem, uma garota aguerrida e determinada. No primeiro ato, ela mostra-se temerosa com a violência que testemunha, mas depois cresce e ganha coragem para se envolver mais no conflito a fim de capturar a foto perfeita. O roteiro acerta ao demonstrar o amadurecimento de Jessie, especialmente no último ato, enquanto Lee começa a enfrentar seus próprios traumas em meio a um banho de sangue.

Quanto ao conflito em si, em que o Texas e a Califórnia teriam se separado do país e iniciado uma rebelião, ao contar essa história do ponto de vista dos fotógrafos não é criada uma conexão entre personagens, os fatos brutais que estão ocorrendo e o espectador. Fica um sentimento de que há um vazio na trama, com os fotógrafos ficando inertes frente a toda aquela crueldade.

Ao decorrer do filme, fica claro que sua narrativa se inspirou nos eventos de 6 de janeiro de 2021, quando um grupo de conservadores invadiu o Capitólio. No entanto, esses eventos são apresentados de forma mais ampla, evoluindo para um conflito civil. Guerra Civil tenta refletir honestamente os acontecimentos de 2021, mas não o faz de maneira sincera e nem consegue fazer uma previsão do futuro.

As cenas de ação são bem coreografadas e violentas, mas não transmitem um verdadeiro clima de medo. A única cena que realmente causou tensão foi quando Jesse Plemons surge armado, sendo possível ver vários corpos de pessoas que foram assassinadas e ali estavam sendo enterradas em uma espécie de vala. O homem usando uma roupa militar faz uma pergunta que parece ser simples de ser respondida: de onde eles são. A partir daí é possível observar o surgimento do ódio manifestando-se em atos brutais.

Esse sentimento de ódio retratado no filme é algo que reflete não apenas o momento atual nos Estados Unidos, mas também o que é observado em grande parte do mundo, com o ódio sendo cada vez mais disseminado. No entanto, o que Garland apresenta em sua narrativa não passa de uma matança generalizada que não reflete de forma alguma a realidade.

O personagem de Wagner Moura, ator brasileiro que ganhou destaque ao interpretar o Capitão Nascimento em Tropa de Elite, é secundário, mas ainda assim se destaca em várias situações com seu carisma e talento. O mesmo se aplica a Cailee Spaeny, que já havia se destacado em Priscilla (2023) e volta a ter relevância e protagonismo como fotógrafa novata.

Guerra Civil é um bom filme no que se propõe a apresentar, que é violência brutal, destruição e muitos tiros. É bem filmado e roteirizado por Alex Garland, mas falha quando tenta ir além do que o roteiro se propõe. É uma obra satisfatória, mas que não causa o impacto que se espera.

Guerra Civil (Civil War, EUA – 2024)

Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Nick Offerman, Jefferson White, Nelson Lee, Stephen McKinley, Jesse Plemons
Gênero: Ação, Suspense
Duração: 109 min

https://www.youtube.com/watch?v=WEmIRA4JQfo&ab_channel=DiamondFilmsBrasil


Crítica | Por Trás da Verdade - Nem Hilary Swank se salva

Desde que ganhou o Oscar de Melhor Atriz por seu papel em Menina de Ouro (2004), pode-se dizer que Hilary Swak fez escolhas questionáveis e levou sua carreira praticamente para o limbo, atuando em filmes sem apelo popular e que não estavam à altura de seu potencial, como A Inquilina (2011) e I Am Mother (2019).

Por Trás da Verdade (Miles Joris-Peyrafitte) é daquelas produções que tinham tudo, mas tudo mesmo, para ser uma obra de suspense criminal que pudesse surpreender e que contasse com um roteiro dramático eficiente, mas ocorre o contrário, sendo uma história  vazia e contando com um roteiro todo bagunçado.

Na trama, Marissa Bennings (Hilary Swank), jornalista que vive em Albany, Nova York, e passa por um trauma particular em que recebe a notícia de que o seu filho morreu e precisa passar por esse processo de luto. 

Com potencial para ir mais longe, o filme perde tal oportunidade. Os 15 minutos iniciais prendem a atenção com a descoberta da morte do filho de Marissa. O que podia vir a se tornar um bom suspense se transforma  em uma ineficaz história criminal. O processo de luto da protagonista carece de emoção e a investigação em si, em que Marissa tenta encontrar o culpado da morte do filho, frustra o espectador por ficar dando voltas e não sair do lugar.

O roteiro escrito por Joris-Peyrafitte e Madison Harrison é confuso e repleto de decisões equivocadas, levando à perda de importância da protagonista na trama. Não há clareza quanto ao foco que o roteiro quer dar, se é na investigação ou no drama dos personagens.

Além disso, a diretora desperdiça um tema extremamente relevante e atual, que é a epidemia de opioides que assola os Estados Unidos, causando inúmeras vítimas direta e indireta. Infelizmente, esse assunto é tratado de forma superficial e desequilibrada, equivocadamente ficando em segundo plano.

Com um elenco composto por nomes conhecidos do público, como Hilary Swank, Olivia Cooke e Jack Reynor, o filme apresenta uma dinâmica interessante entre os personagens. Destaca-se a relação entre Paige e Marissa, que se desenvolveu quando Paige passou a morar na casa de Marissa após a morte de Michael. Essa dinâmica entre as duas personagens se mostra mais interessante do que a própria trama da investigação.

Por Trás da Verdade é daqueles filmes que podem atrair sucesso em serviços de streaming, especialmente porque o público geralmente aprecia filmes com essa abordagem. No entanto, o final do filme é insatisfatório, com um plot twist mal elaborado, deixando a sensação de que poderia ter sido muito melhor.

Por Trás da Verdade (The Good Mother, EUA – 2023)

Direção: Miles Joris-Peyrafitte
Roteiro: Miles Joris-Peyrafitte, Madison Harrison
Elenco: Hilary Swank, Olivia Cooke,, Jack Reynor, Dilone, Norm Lewis
Gênero: Policial, Drama, Mistério
Duração: 90 min

https://www.youtube.com/watch?v=lF6YuVhTjQ0&ab_channel=A2Filmes


Crítica | Ghostbusters: Apocalipse de Gelo Carece de inspiração e originalidade

Quando Ghostbusters: Mais Além (2021) foi lançado, trouxe de volta toda a nostalgia que cercava a franquia dos anos 1980 para um público que cresceu assistindo aos Caça-Fantasmas originais em ação, além de permitir que um novo público pudesse vê-los trabalhando e caçando fantasmas. No entanto, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (Gil Kenan) é uma continuação que carece da força e do carisma necessários para transformá-lo em uma grande obra audiovisual.

O elenco é basicamente o mesmo de Mais Além, assim como os personagens, com a aparição de uma ou outra cara nova. Phoebe (Mckenna Grace), a gênio da ciência de 15 anos, seu irmão bobalhão Trevor (Finn Wolfhard), assim como sua mãe Callie (Carrie Coon) e Gary, o professor interpretado por Paul Rudd. Com esse grupo, o novo filme da franquia vai criando um elo com o público e desenvolvendo melhor cada personagem, algo que não houve tempo para explorar no longa de 2021.

Dirigido por Gil Kenan, que foi um dos roteiristas de Mais Além, o filme realiza uma mudança que, à primeira vista, pode ser considerada normal, mas que, no fundo, foi feita pensando em trazer os caça-fantasmas para um mundo mais próximo do nosso e trabalhar ainda mais a nostalgia que a franquia demanda.

Desta vez ocorre um retorno à Nova York, especificamente ao corpo de bombeiros que os Ghostbusters originais usavam como quartel general, onde todas as entidades paranormais são presas, e onde os novos Ghostbusters irão trabalhar.

A tentativa de reviver elementos clássicos que deram certo na franquia original, como o uso dos uniformes, os efeitos práticos e as armas poderosas de pegar fantasmas, faz com que o público se identifique com a história. Ao mesmo tempo, surge a sensação de que é apenas mais do mesmo, sem trazer algo de original para a franquia, deixando a a trama presa ao passado.

O roteiro escrito por Gil Kenan e Jason Reitman acerta ao dar um papel de maior destaque para Dan Aykroyd e ao inserir aparições bastante simbólicas de Bill Murray e Ernie Hudson, contribuindo para a nostalgia. Murray continua como o engraçadão de sempre, enquanto Hudson é retratado como o homem que faz as coisas acontecerem. Embora seja um acerto trazer esses veteranos de volta, o lado negativo é que tanto Murray quanto Hudson são relegados a personagens secundários, sem muita importância para a trama.

Um grande acerto de Apocalipse de Gelo foi a introdução de Kumail Nanjiani ao elenco, interpretando Nadeem, um homem que vende as coisas de sua falecida avó, incluindo um artefato misterioso antigo. Nadeem, junto com os bonecos de marshmallow, desempenha um papel fundamental na narrativa e traz o alívio cômico que a história demanda, lembrando dos bons momentos do humor da franquia original.

No entanto, o último ato de Apocalipse de Gelo é decepcionante. O vilão Garraka, uma mistura de personagem de RPG com demônio, é interessante, mas aparece por tão pouco tempo que frustra as expectativas do público. Todo o aspecto misterioso envolvendo Garraka, incluindo o artefato da Orbe de Garraka, é bem desenvolvido, mas se perde quando chega o momento crucial de soltar o fantasma aprisionado.

Em 2021, Jason Reitman revigorou a franquia que teve origem com seu pai, acertando ao fazer de Mais Além uma ficção nerd focada na ciência. Em Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, há bons momentos de ação, como o Leão de Estátua que ataca os caça-fantasmas, e o retorno do humor característico da franquia.

No entanto, a sensação que fica é que falta algo a mais em sua história. Embora seja um filme bem produzido, com um elenco capaz de comandar o show, ainda assim há uma lacuna em seu roteiro. A repetição da trama pode atrair novos espectadores para os cinemas, mas provavelmente não é suficiente para manter a audiência satisfeita com o que foi feito.

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (Ghostbusters: Frozen Empire, EUA – 2024)

Direção: Gil Kenan
Roteiro: Gil Kenan, Jason Reitman
Elenco: Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Mckenna Grace, Kumail Nanjiani, Patton Oswalt, Celeste O'Connor, Logan Kim, James Acaster, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson
Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia
Duração: 115 min

https://www.youtube.com/watch?v=pjzOZCXs0oo&ab_channel=SonyPicturesBrasil


Crítica | Todos menos você - O possível renascimento das comédias românticas

Os anos 1990 foram um período especial para as comédias românticas, com filmes como Uma Linda Mulher (1990) e 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999) sendo lançados com destaque e que deixaram sua marca na história do cinema. No entanto, mesmo com o grande apelo do público por histórias de amor, o gênero começou a entrar em decadência no início dos anos 2000.

Pode-se dizer que Todos Menos Você, dirigido por Will Gluck (Pedro Coelho 2: O Fugitivo), é um filme com potencial para revigorar as rom-coms e restaurar sua relevância no cenário audiovisual. O longa, estrelado por Sydney Sweeney (Euphoria) e Glen Powell (Top Gun: Maverick) como o casal de protagonistas, agradou ao público e a crítica por apresentar uma história leve e divertida.

A trama de Anyone But You (título original) gira em torno de Bea (Sydney Sweeney) e Ben (Glen Powell), que além de terem nomes combinando, também demonstram uma química evidente logo no primeiro encontro em uma cafeteria, que acontece de forma inesperada, com Ben resgatando Bea de uma situação inusitada. Após esse encontro inicial, ocorre um incidente desagradável que os afasta e, pior ainda, os leva a se odiarem, chegando ao ponto de se provocarem durante uma temporada em uma ilha onde estão presentes para o casamento da irmã de Bea e de uma amiga de Ben.

Para que histórias românticas vinguem nos cinemas é necessário que o roteiro trabalhe com competência na narrativa o amor e o erotismo, elementos esses que geralmente estão presentes em grande parte dessas produções,  e que são trabalhados de modo eficiente por Will Gluck, que assina o roteiro ao lado de Ilana Wolpert.

Apesar de parecer batido, o roteiro de Todos Menos Você é o principal fator que torna a história tão agradável e divertida como foi apresentada. Will Gluck trabalha de forma inteligente a conexão entre Glen Powell e Sydney Sweeney, e consegue extrair graça até das situações mais irrelevantes, arrancando gargalhadas do espectador.

O humor é empregado por Gluck de forma inteligente para tirar os personagens do lugar comum, e isso funciona muito bem. Apesar do drama aparente em suas vidas, decorrente do fato de ambos se odiarem - considerando-se que onde há ódio, há amor -, essa relação, que inicialmente tinha potencial para se tornar um grande drama, acaba se transformando em uma trama divertida e espontânea de amor à primeira vista.

Sydney Sweeney e Glen Powell têm uma química agradável e impressionante, o que torna a história muito mais divertida com as brigas constantes e idas e vindas do casal. Pode-se dizer que Sweeney é a queridinha de Hollywood no momento, e sua escolha como protagonista foi um grande acerto. Ter uma personagem interessante no elenco interpretada por uma atriz conhecida pelo público é o caminho certo para que uma produção tenha sucesso.

Todos Menos Você não vive só de acertos, contando com algumas piadas que não funcionam tão bem e situações que se mostram bastante forçadas. Porém, os acertos se destacam e lançam luz para um possível renascimento das comédias românticas, gênero esse que deveria ter permanecido popular junto a sua vasta audiência, ávida por grandes produções.

Todos Menos Você (Anyone But You, EUA – 2024)

Direção: Will Gluck
Roteiro: Ilana Wolpert, Will Gluck
Elenco: Sydney Sweeney, Glen Powell, Darren Barnet, Alexandra Shipp, Charlee Fraser, Dermot Mulroney, Haldley Robinson, Joe Davidson
Gênero: Comédia, Romance
Duração: 103 min

https://www.youtube.com/watch?v=o9f8c9w2iDg&ab_channel=SonyPicturesHEBR


Crítica | Donzela - Uma fantasiosa e vazia história de princesa

Desde que estreou em Stranger Things, série da Netflix, Millie Bobby Brown vem se destacando por suas atuações e ganhando espaço para estrelar novas produções, como seu papel na franquia Godzilla e em Enola Holmes. Em Donzela, dirigido por Juan Carlos Fresnadillo, a atriz se encontra em uma posição inédita em sua carreira: interpretando a personagem principal de um longa de ação em que está praticamente sozinha em cena em grande parte da história.

Donzela foi lançado em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, e não por acaso sua trama segue Elodie (Millie Bobby Brown), que é obrigada a se casar com o Príncipe Henry (Nick Robinson) por questões de tradição, arranjado por seu pai, Lord Bayford (Ray Winstone), e pela Rainha Isabelle (Robin Wright). A questão é que Elodie está sendo usada como uma espécie de peão em um jogo político, sem sequer estar ciente disso, pois é dada como uma espécie de oferenda para um Dragão, com quem o Reino tem um acordo de conceder às mulheres de sua linhagem real.

O roteiro de Dan Mazeau aborda a questão do tratamento dado às mulheres no passado, destacando como eram usadas como moeda de troca para selar acordos entre famílias e como não tinham a liberdade de escolher seus próprios pares amorosos. No entanto, onde o filme tinha potencial para se destacar, acaba falhando em seu principal propósito.

Ao abordar um tema tão relevante para a sociedade atual, o roteiro peca ao não aprofundar questões como feminicídio e machismo. Nenhum desses temas é verdadeiramente explorado na trama, tornando a narrativa vaga em relação a essas mensagens e, no fim das contas, não contribui significativamente em nada para o debate.

Em grande parte da trama, Elodie se encontra sozinha, lidando com os perigos que a cercam em uma caverna e tentando escapar da mãe Dragão que busca vingança. No entanto, essa interação solitária da protagonista é um grande problema, pois a personagem além de ser mal desenvolvida, não tem carisma suficiente a ponto de estabelecer uma conexão eficaz com o público e tornando a experiência de acompanhar sua jornada tediosa em muitos momentos da narrativa.

Se a intenção era criar uma produção de aventura ao estilo de Conan, o Bárbaro (1982), essa concepção foi por água abaixo, com o longa se resumindo a uma obra genérica de ação. Nele, Elodie foge praticamente o filme todo e, somente por alguns minutos, luta contra a Dragão em uma cena pessimamente coreografada. A cena não explica em nada como uma garota que nunca havia pegado em uma espada consegue vencer facilmente um Dragão secular.

Com cenários deslumbrantes e um visual impressionante, especialmente no que diz respeito ao CGI do Dragão e às paisagens, o filme falha na caracterização da personagem. Elodie é retratada como uma guerreira que luta vestindo apenas farrapos de um vestido, o que demonstra uma falta de criatividade na concepção do figurino da protagonista. 

Donzela tinha tudo para ser um grande filme de ação com uma mensagem inteligente por trás do roteiro, mas que é esvaziado pela falta de originalidade de seu diretor, que não sabe direito qual caminho seguir, ou o da luta de Elodie pela sobrevivência e sua consequente busca por vingança ou a luta entre o bem e o mal. Sem dúvida, havia muito mais que o roteiro poderia ter explorado, mas infelizmente deixou passar várias oportunidades.

Donzela (Damsel, EUA – 2024)

Direção: Juan Carlos Fresnadillo
Roteiro: Dan Mazeau
Elenco: Millie Bobby Brown, Ray Winstone, Angela Bassett, Brooke Carter, Nick Robinson, Robin Wright, Milo Twomey
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Duração: 110 min

https://www.youtube.com/watch?v=WvFHERDoBVg&ab_channel=NetflixBrasil


Crítica | Godzilla e Kong: O Novo Império não acrescenta nada de novo para a franquia

Crítica | Godzilla e Kong: O Novo Império não acrescenta nada de novo para a franquia

King Kong e Godzilla são dois ícones da cultura pop. Há algum tempo, era quase impossível vê-los dividindo a tela em um mesmo filme, algo que acabou ocorrendo no sucesso Godzilla vs. Kong (2021), que gerou um confronto de proporções épicas e não deixou pedra sobre pedra por onde os dois passaram.

Agora, em Godzilla e Kong: O Novo Império (Adam Wingard), a disputa entre os dois titãs é deixada de lado para dar espaço a dois novos e poderosos vilões introduzidos na trama. Tal fato acrescenta uma complexidade adicional a uma história que corria o risco de se tornar previsível e monótona. É exatamente por causa desses vilões que a narrativa ganha força, pois evita seguir pelo caminho já conhecido do embate entre os dois.

O MonsterVerse já havia dado dicas em Godzilla II: Rei dos Monstros (2019), de que havia outros Titãs na Terra além de Kong e Godzilla. Nesta sequência, o universo dos monstros recebe novos personagens, mas não vai além do óbvio, pois é certo que Godzilla e Kong irão lutar contra alguma força maligna e causarão grande destruição pelo mundo.

Duelo de Titãs

O roteiro, escrito pelo trio Terry Rossio, Simon Barrett e Jeremy Slater, não chega a ter um roteiro bagunçado como alguns filmes da franquia Transformers, mas comete algumas falhas, como o de conceder um protagonismo exagerado a Kong, relegando Godzilla a um papel secundário na maior parte da história e reduzindo-o a um mero monstro gigante sem alma, cuja única função é causar destruição por onde passa.

Para fortalecer Kong, que não teria chances contra Godzilla e os vilões em uma luta direta, é introduzida uma manopla pneumática, além da lança apresentada no último filme, que essencialmente transforma Kong praticamente em Rei dos Macacos.

Além disso, outros primatas surgem na trama, melhorando a interação de Kong com outros personagens e, consequentemente, reduzindo a relevância dos humanos na narrativa. Personagens como Ilene Andrews (Rebecca Hall), Bernie Hayes (Brian Tyree) e Trapper (Dan Stevens) têm momentos bobos com os titãs, restando-lhes apenas um alívio cômico ocasional e o drama envolvendo Ilene e sua filha Jia (Kaytlee Hottle).

Vilões são o auge de Godzilla e Kong

O destaque vai para Skar King, um Orangotango com cara de poucos amigos, e Shimo, gigantesco dragão de gelo que deixaria os fãs de Game of Thrones com inveja. Esses dois vilões surgem como rivais à altura de Kong e Godzilla. Com a qualidade gráfica dos personagens, elaborada por meio do CGI e que confere mais originalidade a esses titãs, fica evidente que há espaço para mais monstros nesse universo. No entanto, o grande problema é como inseri-los na trama e como fazê-los parar de destruir a Terra, pois em breve não restará mais nada a ser destruído.

Após Godzilla Minus One, de Takashi Yamazaki, receber o Oscar de Melhores Efeitos Visuais, os holofotes rapidamente se voltaram para a versão americana do Godzilla, que nem sequer chegou perto de tal consagração, mesmo com a Legendary e a Warner Bros. investindo enormes quantias de dinheiro em suas produções do gênero. A trama não foge do lugar comum, reproduzindo cenas de destruição sem limites e tentando desenvolver dramas pessoais de seus personagens humanos, que não funcionam e nem causam emoção.

O longa de Adam Wingard segue pelo caminho mais previsível possível, que é o da destruição generalizada, atingindo lugares históricos como Roma e Cairo. Até mesmo o Rio de Janeiro não escapou, tendo suas praias invadidas em uma cena divertida. Parece que os roteiristas se cansaram de causar estragos apenas nos EUA e decidiram levar a destruição para um nível global, como se isso acrescentasse algo de novo à narrativa, ao invés de limitar-se aos locais usualmente destruídos nos EUA.

Godzilla e Kong: O Novo Império não é um fracasso total, pois possui seus momentos de destaque, especialmente nas cenas de luta entre os titãs e na exploração da Terra Oca, que é bem desenvolvida e explorada. No entanto, em sua essência, é uma produção vazia e carente de uma identidade própria, acabando por se tornar esquecível ao oferecer ao público apenas entretenimento superficial e sem profundidade.

Godzilla e Kong: O Novo Império (Godzilla x Kong: The New Empire, EUA – 2024)

Direção: Adam Wingard
Roteiro: Terry Rossio, Simon Barrett, Jeremy Slater
Elenco: Rebecca Hall, Brian Tyree Henry, Dan Stevens, Kaylee Hottle, Alex Ferns, Fala Chen
Gênero: Animação, Ação, Aventura, Ficção Científica
Duração: 115 min

https://www.youtube.com/watch?v=va-7FEpUHVQ&ab_channel=WarnerBros.PicturesBrasil


Review | Horizon Forbidden West para PC traz mais uma pérola da Nixxes

Review | Horizon Forbidden West para PC traz mais uma pérola da Nixxes

A PlayStation definitivamente redefiniu o jogo no PC desde agosto de 2020, começando com o lançamento de Horizon Zero Dawn. Este título, antes exclusivo do PS4 e criado pela renomada Guerrilla Games, enfrentou um lançamento tumultuado, marcado por problemas técnicos que afetaram a experiência dos jogadores.

A Guerrilla, sem experiência prévia em PCs, foi responsável pelo port inicial, mas desde então, a Sony evoluiu. Com mais 13 títulos lançados, chegamos ao esperado Horizon Forbidden West, agora nas mãos habilidosas da Nixxes, um estúdio especializado adquirido pela Sony que já nos presenteou com outros ports espetaculares.

Focando no que realmente interessa, a análise do lançamento para PC, o estado atual do jogo é, em uma palavra, impecável.

https://twitter.com/Guerrilla/status/1770827718940332067

Dedicação e Maestria

A Nixxes compartilhou que cada port de jogo da PlayStation leva cerca de um ano de dedicação. O estúdio já nos brindou com maravilhas como os jogos do Homem-Aranha e Ratchet and Clank: Uma Fenda no Tempo.

A cada novo projeto, a Nixxes aperfeiçoa sua arte, aprendendo e evoluindo com cada nova experiência. O que salta aos olhos é a beleza do jogo, independentemente das configurações gráficas escolhidas pelo jogador.

Frequentemente, me peguei lutando para discernir as diferenças visuais entre as configurações médias e altas. E entre as altas e muito altas, as diferenças são praticamente indiscerníveis.

Como é de praxe, a Nixxes oferece um menu intuitivo que mostra as alterações gráficas em tempo real, ajudando os jogadores a encontrar o equilíbrio perfeito entre estética e desempenho. Confesso que não há necessidade de compromissos aqui.

O resultado é impressionante, com o jogo rodando suave e lindo até mesmo em PCs menos robustos, equipados com hardware mais acessível, como as GPUs RTX série 60 da NVIDIA. Para os detentores das placas série 40, a experiência é ainda mais sublime graças ao DLSS 3.

Apesar de alguns artefatos visíveis no hud da bússola, recomendo o uso. Horizon Forbidden West é possivelmente o jogo mais deslumbrante desta geração, e o port para PC eleva ainda mais a experiência com sua apresentação em 21:9 e 4K.

Os horizontes se expandem, revelando uma diversidade de paisagens, desde áridas até densamente florestadas, e até as fases aquáticas ganham uma nova dimensão de beleza. É, sem dúvida, espetacular.

É lamentável, no entanto, que o port não inclua ray tracing, o que teria adicionado ainda mais esplendor ao jogo. Há também uma queda misteriosa de desempenho durante as cinemáticas, um problema que esperamos seja resolvido em breve. Vale ressaltar que a Nixxes já implementou correções visuais que a Guerrilla levou semanas para aplicar no PlayStation 5, eliminando os efeitos de flicker causados pelo movimento da câmera.

Este é, sem dúvida, o melhor trabalho da Nixxes até o momento e, provavelmente, o melhor port para PC já feito. Em uma era de lançamentos problemáticos, é essencial reconhecer o respeito que o estúdio demonstra pelos consumidores. Já estou ansioso pelo port de Ghost of Tsushima, pois a Nixxes parece superar-se a cada novo projeto.

Review | Horizon Forbidden West para PC traz mais uma pérola da Nixxes
SIE

Entre Apatia e Empolgação

Minha relação com a franquia Horizon é complexa. Embora a narrativa dos jogos não me encante, é impossível ignorar um mundo pós-apocalíptico habitado por animais e dinossauros robóticos. É um conceito que captura a imaginação e merece atenção.

Para os fãs de Horizon Zero Dawn, Horizon Forbidden West é uma jornada imperdível, ampliando e aprimorando os aspectos mais fortes do antecessor. Apesar de alguns problemas de ritmo, o esforço dos roteiristas em tecer missões secundárias que se entrelaçam significativamente com a trama principal é louvável e único até o momento.

O ápice narrativo se encontra na expansão Burning Shores, que analisei separadamente. Esta expansão aprofunda a mecânica de voo, introduzida tardiamente no jogo base, e apresenta uma Aloy mais carismática, incluindo um romance bem desenvolvido e encantador com Seyka.

A jogabilidade é o que realmente define a experiência de Horizon. O combate é empolgante, recheado de mecânicas baseadas em efeitos de status, e a diversidade de mais de 40 criaturas meticulosamente desenhadas mantém o jogo variado. A recompensa por desmontar peças dos inimigos durante o combate continua sendo um ponto alto.

A Guerrilla expandiu as formas de enfrentar desafios, com seis árvores de habilidades que definem estilos de combate distintos, seja através de ataques diretos, furtividade, armadilhas ou especialização em arco e flecha. Há uma variedade de armas com diferentes graus de raridade que podem ser aprimoradas ao longo do jogo.

Horizon Forbidden West é um RPG completo, oferecendo escolhas de diálogo em momentos cruciais que influenciam o relacionamento de Aloy com seus aliados, que se juntam a ela em um hub após o primeiro ato. A aventura se divide entre encontrar IAs de terraformação para completar GAIA e lidar com os Zeniths, que ameaçam o planeta e escondem um inimigo que será central no último jogo da trilogia.

Com uma ampla gama de missões e um sistema de aprimoramento de itens robusto, o jogo incentiva o enfrentamento de criaturas poderosas em busca de itens raros, essenciais para maximizar o nível de bolsas, armas e armaduras. As atividades secundárias são abundantes, incluindo alguns dos melhores quebra-cabeças ambientais já vistos em jogos de mundo aberto, exigindo reflexão para superar os desafios.

Uma crítica que permanece desde a versão PS5 é a limitação do parkour de Aloy, que só pode se agarrar em locais pré-definidos, restringindo a exploração e impondo um caminho mais linear nas missões principais, o que afeta a liberdade de escolha de rotas. No entanto, é possível que mods não oficiais venham a melhorar a exploração, que, apesar dessa limitação, ainda é bastante prazerosa.

Review | Horizon Forbidden West para PC traz mais uma pérola da Nixxes
SIE

Horizontes Expandidos

A versão para PC de Horizon Forbidden West pode ser considerada a definitiva. Inclui a expansão Burning Shores, que adiciona algumas das melhores fases da série, além de um confronto épico com um chefão colossal que os fãs ansiavam enfrentar há anos. Com mínimos problemas técnicos e excelente desempenho em várias configurações de hardware, é inegável recomendar esta obra-prima da Nixxes. Espera-se que a PlayStation continue a investir no PC, trazendo seus exclusivos que, quer se goste ou não, estão frequentemente à frente da concorrência.