logo
  • Início
  • Notícias
    • Viral
    • Cinema
    • Séries
    • Games
    • Quadrinhos
    • Famosos
    • Livros
    • Tecnologia
  • Críticas
    • Cinema
    • Games
    • TV
    • Quadrinhos
    • Livros
  • Artigos
  • Listas
  • Colunas
  • Search

Críticas

Crítica | Cada Um na Sua Casa

Cada Um na Sua Casa é a nova animação infantil da Dreamworks, um estúdio que ganhou muito respeito nesse gênero graças aos excelentes Shrek, Como Treinar Seu Dragão, Megamente e Kung Fu Panda, porém há um tempo o estúdio tem perdido força. Esse filme é a maior prova disso.

Oh é um alienígena da raça Boov, muito conhecida por fugir de seus inimigos mortais, os górgons. Em mais uma fuga desesperada, eles descobrem o planeta Terra, um lugar ideal para fixar residência. Em sua invasão, realocam todos os humanos juntos em um canto da Terra, enquanto se hospedam em todas as cidades do planeta. Porém, por causa de mais equívoco do atrapalhado Oh, a nova mudança dos boovs é ameaçada já que seus inimigos têm conhecimento de sua nova localização, retomando a caçada.

Com a sociedade boov em perigo, o líder dos alienígenas, Smek, ordena que Oh seja capturado. Em fuga, Oh encontra uma garota humana que não foi abduzida, Tipolina, e juntos partem em uma aventura, cada um com seus propósitos para firmar a inusitada aliança.

O roteiro de Tom Astle e Martin Ember, baseado no livro homônimo de Adam Rex, tem diversos problemas, mas o principal deles é a impressão de que você já viu esse filme antes – muitas e muitas vezes. A velha e boa história de um patinho feio que não consegue se enturmar entre seus iguais. Adicionando esse elemento, está o fator do alienígena que descobre o que é amor e amizade com o contato humano. Para citar alguns exemplos, lembre-se do clássico E.T. O Extraterrestre ou Lilo & Stitch. Se deixarmos de lado o fato de Oh ser um alienígena, mas mantendo sua principal essência – a busca pela amizade, reconhecimento ou família, temos mais outra gama de filmes: Ratatouille, Paddington, Wall-E, Como Treinar seu Dragão, Megamente, Meu Malvado Favorito, Uma Aventura Lego, Aviões, Universidade Monstros, Detona Ralph, Kung Fu Panda, Rango, etc.

Enfim, o problema não está em sua origem completamente clichê, mas não fazer bom uso deles. Diversos filmes que listei acima bebem da mesma fonte, mas se sobressaem e introduzem algo novo. Aqui, nada acontece. Tudo é previsível.

Os personagens são extremamente superficiais com conflitos básicos e resoluções mais simplórias ainda. A maior força dele está no fato que tanto Oh quanto Tipolina são dois renegados. Um porque é estabanado e só faz burradas e outra porque é imigrante. Isso é apresentado em uma cena e nunca mais retomado. Desistem de explorar e conferir maior profundidade aos dois. Outro fato que incomoda é a ambiguidade sobre o que Oh entende de amizade – se diz o maior amigo do mundo, mas não entende preceitos básicos sobre a aliança. Além disso, o texto não faz sentido em pontos-chave – principalmente no motivo dos górgons perseguirem os boovs, antes da reunião de paz com Smek e o líder górgon.

Muitos podem dizer que se trata apenas de um filme bobo de criança, porém esse pensamento não cabe mais quando outros estúdios como a Disney, Ghibli e a Pixar elaboram personagens complexos e carismáticos como Woody e Buzz de Toy Story, Remy de Ratatouille, Marlin de Procurando Dory, até mesmo o mudo Wall-E, entre outros.

A comédia do filme também não supera o básico. Nada de humor inteligente ou algumas piadas para os adultos. São piadas de cunho escatológico, slapstick ou com o uso inusitado de utensílios humanos. Aliás, o personagem dublado por Steve Martin, Capitão Smek, é extremamente parecido com o Rei Julien de Madagascar, também da Dreamworks.

A direção de Tim Johnson também não foge da mediocridade do roteiro. As sequências de ação são maçantes e pouco imaginativas – algumas inspiradas em Esqueceram de Mim. A “justificativa” do uso do 3D consegue ser mais boba. O veículo antropomorfizado de Tip solta bolhas de sabão enquanto flutua pelo ares. Entretanto, o efeito é interessante durante a sequência que se passa em Paris e em uma cena noturna que se passa no oceano atlântico. Ele também sugere uma crítica interessante ao efeito da tecnologia que afasta o contato físico entre os boovs, indicando um presságio para os humanos e seus smartphones – isso já foi melhor explorado em Wall-E.

Outro ponto que incomoda bastante é a repetição de músicas durante o filme. Seja na composição da trilha original que deve tocar umas quatro vezes e a canção original “Feel the Light” cantada por Jennifer Lopez – melodia e arranjo muito bonitos que perdem seu impacto devido a repetição. As outras canções que compõe o repertório do filme são, em sua maioria, hits musicais da Rihanna que dubla Tipolina na versão original. Muitas vezes, essas músicas destoam completamente das cenas conferindo a forte impressão que se trata apenas de merchandising barato para a cantora. Aliás, o departamento de som para grandes efeitos deixa muito a desejar. Além dos diálogos e alguns efeitos de foley, a mixagem do som parece estar abaixo do normal. Os efeitos soam baixos, impotentes, mesmo com explosões e destruição em massa.

Em suma, Cada Um na Sua Casa decepciona muito e expõe que o departamento de animação da Dreamworks está perdendo força ante a concorrência – uma lástima, visto que o estúdio é um dos mais imaginativos de Hollywood. Utiliza recursos baratos para forçar o riso, como a fala errada de Oh. A animação continua soberba e o design de produção é bom. Os alienígenas são fofinhos, mas muito derivados – claramente inspirados nos minions de Meu Malvado Favorito. Incluindo os cenários das naves que os seres viajam – completamente vazias e sem vida. Porém, um acerto é a mudança de cor que acomete os boovs quando expressam sentimento, ainda que o efeito seja muito literal.

Enfim, a animação diverte durante o tempo de projeção, mas não justifica o preço do ingresso. Talvez, crianças bem pequenas apreciem o filme, mas para as mais velhas, que já viram filmes mais interessantes, a experiência pode ser completamente enfadonha.

Assim como os boovs exclamam “Ohhh” quando veem o hiperativo protagonista, o espectador exclamará “meh” quando o filme acabar.

Cada um na sua casa (Home, EUA – 2015)
Direção: Tim Johnson
Roteiro: Tom J. Astle, Matt Ember (com base em obra de Adam Rex)
Elenco: Jim Parsons, Rihanna, Steve Martin, Jennifer Lopez, Matt Jones, Brian Stepanek, April Lawrence, Stephen Kearin, Lisa Stewart, April Winchell
Duração: 94 min


by Matheus Fragata

Crítica | Chappie

A premissa do novo filme do cineasta sensação Neill Bloomkamp tange uma promessa de futuro que se encontra próxima da nossa realidade. Trata-se de mais um filme sobe a criação de inteligência artificial. Porém, praticamente nada funciona nesse desastre que aparenta ser apenas uma desculpa de 120 minutos para venderem os rappers da banda Die Antwoord.

Deon Wilson é um engenheiro mecatrônico na maior indústria bélica da África do Sul que revolucionou toda a segurança pública de Johannesburgo graças à invenção de seus Guardas – unidades robóticas de patrulhamento policial. Os robôs praticamente substituem a força policial da cidade por conta da segurança da tecnologia de ponta. Entretanto, mesmo alcançando o sucesso de uma vida, Deon conclui um projeto paralelo. Cria, enfim, a primeira unidade de inteligência artificial semelhante à uma consciência humana da história.

Conseguindo pedaços de sucata de um robô Guarda condenado, Deon tem sua chance testar a funcionalidade de seu invento. Porém, tudo começa a dar errado quando dois criminosos o sequestram e obrigam a usar seu invento para cometer delitos, afim de salvar-lhes de uma dívida milionária.

O roteiro de Bloomkamp e Terri Tatchell simplesmente não consegue se ater a nada. Atira para todos os lados visando tecer alguma crítica deformada sobre a sociedade e ao status quo, mas na prática, simplesmente não funciona porque o texto é ruim – o pior do ano até agora.

Para quem não conhece, Bloomkamp, desde seu excelente Distrito 9, constrói sua marca de autor no gênero da ficção cientifica. Ele sempre trabalha com a marginalidade, com personagens “injustiçados”, transformações corporais definitivas, mudanças morais, tecnológicas, além de reformas sociais que abalam todas as estruturas da sociedade. De novo, assim como em Distrito 9 e Elysium, isso acontece em Chappie.

O principal problema é como a narrativa se comporta. O espectador é forçado a acompanhar Chappie convivendo com os personagens mais insuportáveis e histéricos que tive o desgosto de conhecer. Não há exceção, tanto o mocinho Deon, interpretado por Dev Patel, quanto o casal criminoso Ninja e Yolandi ou o antagonista megalomaníaco Vincent Moore encarnado por Hugh Jackman.

Os roteiristas tentam explorar esse viés da inteligência artificial de um modo fora do convencional. Chappie, quando ativado, é igual a um bebê. Desconhece praticamente tudo, não sabe falar, não entende leis, códigos, éticas e a moral da sociedade ocidental humana. Uma folha em branco pronta para ser preenchida pelos valores de quem for escrever nela. No caso, os criminosos, que, após enxotarem Deon de seu esconderijo, tentam ensinar Chappie a se comportar como um gangster, um super bandido para assaltar um carro-forte. Logo, os valores que o robô recebe são completamente deturpados.

O filme tenderia a ganhar muito caso os criminosos agissem como anti-heróis, tivessem algum carisma ou maior complexidade. Praticamente todos os personagens são mal desenvolvidos e o mais prejudicado é Chappie.

Deon consegue, algumas vezes, passar alguma lição para Chappie discernir entre o certo e o errado. Entre a violência/crime e a paz/diplomacia.

Porém, ao contrário do que seu criador fala – que é a máquina mais inteligente que já existiu, Chappie sempre age erroneamente mesmo quando aprende a distinguir os valores humanos – até mesmo depois de acessar todo o repertório de nossa História quando acessa a internet. Não há nenhuma base que sustente os valores do robô. Ele, como indivíduo, é irrelevante já que nunca deixa de ser um instrumento para as finalidades inidôneas de Ninja e Yolandi. Chappie nunca pensa por si próprio. É uma inteligência artificial que é capaz de sentir e criar, mas raciocinar de forma verossímil é algo impossível para este protagonista.

Um exemplo claro disto ocorre ao fim do longa quando Chappie praticamente destrói um lugar enquanto grita que nada se resolve com violência. A cena não se comporta ironicamente, pois seu tom é sombrio e importante para a narrativa.

Entretanto, em meio a esses problemas, Chappie é o maior trunfo do filme, já que o robô tem carisma e isso se deve muito ao trabalho excelente de dublagem de Sharlto Copley. A respeito dos outros personagens, nada se salva.

Ninja e Yolandi são praticamente a mesma coisa entre os personagens e quem são na realidade. Os dois, fora das telas, são rappers da banda sul-africana Die Antwoord que valorizam o estilo ostentação gangster com o freak colorido cheio de simbologias. No filme, é basicamente a mesma coisa. O figurino, design de produção, maquiagem, cortes de cabelo, linguagem, os gestos, enfim, tudo é igual ao estilo que os dois apresentam publicamente em seus shows, entrevistas e videoclipes. Obviamente, graças a isso, o filme parece mais um vídeo promocional para a banda do que algo realmente relevante para o audiovisual. Isso é reforçado quando das onze canções que tocam durante a projeção, oito são da Die Antwoord – para piorar, quase nunca casam com a cena destoando completamente o espectador com a atmosfera diegética. Isso porque nem entrei no mérito se o conteúdo musical dos dois é de fato de qualidade. 

O texto tenta conseguir alguma profundidade para os dois personagens, mas falha. De novo. Primeiro porque Yolandi é controversa. De bad girl violenta e independente vira uma figura materna para Chappie, além de submissa a Ninja. Tudo isso acontece de uma cena para outra. Nada é justificado, não há catarse, nada. Ninja é mais raso ainda. Apenas um trombadinha, mentiroso e imediatista.

Já Deon é mais surreal. Chega a ser risível. Logo na introdução vemos uma das maiores incoerências do filme – mesmo depois dele ter revolucionado a indústria com a criação dos Guardas, ainda trabalha em um cubículo de escritório. Diversas passagens pedem muito da suspensão de crença do espectador. O personagem simplesmente não pede ajuda para a polícia (principal cliente de sua empresa) quando os criminosos o assediam ou roubam Chappie – mesmo que isso traga problemas menores para ele. Aliás, a própria escolha do corpo para Chappie é controversa, afinal, Deon, tem diversos robozinhos com inteligências artificiais mais primitivas que poderiam servir de testes piloto sem que ele infringisse regras da empresa.

Enfim, se eu listar todos os problemas que este roteiro possui, o texto não teria fim. O problema é que Bloomkamp não erra somente na história, substância e diálogos do roteiro, mas também na direção do filme. Ele teima em glamourizar os bandidos em detrimento aos “mocinhos” – isso se dá muito pelo departamento de arte, supostas redenções “heroicas” durante o clímax e a enquadramentos onipotentes. Outros vícios como o péssimo uso do slow motion visto em Elysium se repete aqui.

Além disso, o teor de violência desse filme é completamente inconstante. Em sua maioria é um filme ameno e sem sangue, porém no clímax tudo muda de tom rapidamente. Algo completamente bipolar. Fora que o clímax é outro fato inverossímil que o filme carrega por causa do modo que Vincent age para provar que seu invento é melhor que o de Deon.

Enfim, Chappie é praticamente o pior filme do ano e talvez um dos piores filmes que já na minha vida. Escrevo isso com tristeza, pois vi a estreia de Bloomkamp com o maravilhoso Distrito 9 e apostava muito que ele seria um dos melhores diretores do cinema contemporâneo. Mas não é isso que vem acontecendo. Seu segundo filme, Elysium, já é péssimo, mas este consegue ser pior. Nunca vi um caso tão grave de um diretor conseguir piorar a forma e conteúdo significativamente a cada novo filme.

Ele simplesmente não se recicla. Seus três filmes parecem iguais em diversos pontos e Chappie propõe uma discussão sobre consciência que outros dois longas, também deploráveis e preguiçosos, já exploraram no ano passado – Lucy e Transcendence.

Está na hora de Neill Bloomkamp parar de bancar o espertinho ao propor temas e discussões importantes que nunca tem a chance de serem desenvolvidos, pois, coincidentemente, sempre surgem no minuto final de seus filmes.

Somente assim veremos o quão relevante é este cineasta para o cenário cinematográfico contemporâneo. Quando ele realmente der, de fato, a cara a tapa.


by Matheus Fragata

Crítica | Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres - A versão superior

O diretor David Fincher ganhou prestígio reconhecimento quando embarcou no gênero dos serial killers em 1995, com Se7en – Os Sete Crimes Capitais. Cerca de dez anos depois, a trilogia Millennium – publicada postumamente pelo sueco Stieg Larsson – conquista milhões de leitores pelo mundo. Mesmo já tendo sido adaptada em uma minissérie europeia para a televisão, a união de Fincher com Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres mostra que os dois foram feitos um para o outro, rendendo um dos melhores filmes da carreira do diretor.

A pesada trama comporta em seu núcleo o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) que, após ser processado por difamação e ser afastado de seu cargo na revista “Millennium”, é contratado por um industrialista aposentado (Christopher Plummer) que lhe encarrega de investigar o misterioso desaparecimento de sua sobrinha, Harriet. Isolado em um chalé castigado por um inverno congelante, ele recebe auxílio da hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara).

Como fã da obra de Larsson – e também de Fincher – minha expectativa em torno do longa era imensa e, felizmente, o resultado é nada menos do que satisfatório. As quase 500 páginas do primeiro livro da trilogia são comprensadas em um excelente roteiro assinado por Steven Zaillian (que este ano também co-assina O Homem que Mudou o Jogo, com Aaron Sorkin), que equilibra com maestria as duas linhas narrativas (de forma intrincada, acompanhamos a missão de Blomkvist e a vida abusiva de Salander) e apresenta diálogos verdadeiramente memoráveis, tal como aquele em que um dos personagens divaga sobre como conseguiu, com grande facilidade, induzir um outro a sua residência (“O medo de ofender é maior do que o da dor”). Zaillian respeita o livro e, apesar de algumas mudanças em sua conclusão, demonstra fidelidade ao material.

Isso porque, entenda, esse novo Millennium não é um remake do longa de 2009. Fincher e Zaillian entregam a sua versão, a sua própria narrativa, que difere selvagemente do filme de Niels Arden Oplen. Por esse motivo, dispenso comparações com o mediano filme sueco e me concentro apenas no magistral trabalho que Fincher designa. Detalhista como sempre, ele aposta no raciocínio do público e impressiona com sua execução nas cenas de investigação; dispensando diálogos, recorre a pequenas observações em manchetes de jornais e fotos antigas que ganham animações (esta última, sensacional), em um exercício de estilo.

E que estilo. Fincher nunca usou tantos recursos visuais (principalmente a mise en scène) para retratar um acontecimento em cena. Por exemplo, Blomkvist é apresentado em sua primeira cena descendo uma escada, simbolizando de forma sutil sua queda da alta da posição no jornalismo de sua revista; enquanto em um outro momento crucial da trama, observamos Salander e – em uma ação que raramente é usada – a câmera vira de cabeça para baixo, retratando não só a diferente perspectiva do mundo da hacker tatuada, como também uma mudança brusca no rumo na historia; onde ela literalmente vira de ponta-cabeça.

Todavia, mais do que uma direção magistral e minuciosa, o elenco aqui é excelente. Claro que precisamos dar atenção especial à garota com a tatuagem de dragão, interpretada excepcionalmente por Rooney Mara, em uma das performances mais desafiadoras dos ultimos tempos. Magricela, cheia de pierciengs e protagonista de perturbadoras cenas de abuso sexual, a atriz pouco conhecida encarna todas as complexidades de Lisbeth, com intensa concentração e imersão total na personagem. Visualmente hipnotizante (merecem destaque os reponsáveis por seus distintos penteados ao longo da projeção), Mara está perfeita  e rouba cada segundo de cena em que aparece.

Além da protagonista, o sempre ótimo Daniel Craig oferece um Blomkvist expressivo e inteligente, sendo fascinante observar – já que este é mundialmente conhecido como James Bond – seu pânico ao enfrentar situações perigosas, como uma bala perdida em uma floresta ou uma tenebrosa cena de tortura (prestem atenção na escolha musical em tal momento). Christopher Plummer e Robin Wright brilham como, respectivamente, o industrialista Henrik Vanger e a co-editora Erika, enquanto Stellan Skarsgard oferece um retrato assustadoramente genial de Martin Vanger, irmão da jovem desaparecida.

Eficaz nas categorias técnicas, a pasteurizante fotografia de Jeff Cronenweth auxilia na composição de um ambiente sombrio e a engenhosa montagem de Kirk Baxter e Angus Wall fornece velocidade nas cenas mais complexas e à passagem de tempo (vide a ótima transição dada a partir de um cigarro sendo acendido), dando pulso à trama quando necessário. De forma similar, a obscura trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross (vencedores do Oscar por A Rede Social), guarnece acordes arrepiantes e que fogem completamente da música “padrão” dos longas contemporâneos, pontuando friamente a atmosfera, já sombria por natureza, da Suécia de Larsson.

Apresentando também com uma extasiante cena de créditos de abertura (que merecia até uma crítica a parte) Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres oferece tudo que a franquia literária merece, provindo um longa adulto e envolvente, catapultando a talentosa Rooney Mara ao estrelato e oferecendo, em uma rara ocasião, uma franquia blockbuster adulta.

Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, EUA - 2011)

Direção: David Fincher
Roteiro: Steven Zaillian
Elenco: Rooney Mara, Daniel Craig, Christopher Plummer, Stellan Skarsgard, Robin Wright, Yorick van Wageningen, Geraldine James, Goran Visnjic, Steven Berkoff, Joely Richardson, Ulf Friberg
Gênero: Suspense, Policial
Duração: 158 min

https://www.youtube.com/watch?v=DqQe3OrsMKI

Leia mais sobre David Fincher


by Lucas Nascimento

Crítica | Onde os Fracos não têm Vez

Estranhamente, por mais incrível que pareça, os irmãos Coen não são os únicos artistas em destaque nessa magnífica obra. Tudo se desdobra de um homem só, um mestre da literatura contemporânea: Cormac McCarthy. Ele já é considerado um gênio em vida ao lado de Thomas Pynchon e Philip Roth. Com obras muito sólidas e distintas, McCarthy emplacou sucessos de crítica com O Filho de Deus, A Estrada, Nas Trevas Exteriores e A Travessia. Muito por acaso, uma de suas maiores obras, Onde os Velhos não Têm Vez, chegou nas mãos dos Coen, então já considerados diretores de alto escalão em Hollywood.

Ao contrário de outras obras nas quais os irmãos adaptaram um texto original para o cinema como Bravura Indômita, Invencível ou Ponte dos Espiões, optaram por seguir muito à risca o que Cormac havia escrito no livro. Algo a se louvar, pois a estrutura da história é simples e magnética. Um texto tão impecável, único como o qual o autor já havia escrito só contribuiu para os irmãos capricharem na forma do filme, em sua plena perfeição plástica.

A narrativa acompanha três personagens em uma perseguição “desconstruída”. Llewelyn Moss fracassa em sua caçada rotineira, porém tem um enorme sucesso ao se deparar com os resultados de clássico impasse de uma negociação de tráfico de drogas que deu errado no ermo selvagem texano. Após descobrir que um dos homens sobreviveu à matança e negar a ela seu último pedido em vida, Moss nota que as drogas ainda permanecem no local. Então passa a procurar a maleta cheia de dinheiro que possivelmente estaria nessa negociação. Com pouco esforço, ele encontra os seus dois milhões de dólares junto à um cadáver mais afastado.

Ao chegar em simples trailer, com a consciência pesada por ter negado o último desejo a um moribundo, Moss larga sua mulher e volta ao local do impasse. Porém, ao chegar lá, descobre que o mexicano foi executado e que está em maus lençóis pois mais alguns traficantes chegaram ao local. Fugindo desesperadamente, Moss consegue se livrar dos homens, porém o terror de sua vida havia apenas começado. Moss não terá que fugir somente dos assassinos do cartel, mas também do obstinado psicopata contratado, Anton Chigurh – um cara com pouco senso de humor.

O que mais gosto dentre todas as qualidades do roteiro dos Coen e do texto de McCarthy é a subversão e transcendência dos gêneros cinematográficos e da literatura. Inicia-se na velha máxima que permeia tantos filmes, o clássico jargão “na hora e no lugar errado”. Porém a ironia da narrativa é a subversão desta mesmo na primeira cena com Moss. Naquele momento, ele está na hora e no lugar certo, afinal ele já teria uma enorme vantagem em relação aos seus prováveis perseguidores caso não tivesse voltado ao local da tragédia. Aí, já temos outra grande ironia dada inclusive pelo impecável título nacional: Onde os Fracos não Têm Vez.

Para entender isso, temos que analisar Moss e a atuação exemplar de Josh Brolin. O protagonista é um bronco, um cara independente, veterano de guerra e, logo, um sobrevivente. Brolin mantém sempre uma figura cisuda, de uma personalidade que tem prazeres simples e amargores complexos vindos de seu passado nebuloso. McCarthy pouco traz do passado do personagem e os Coen também não arriscam em inventar – algo ideal que tange, na verdade, todo o rol de figuras que movem o filme. Sabendo então que o cidadão é um personagem forte fisicamente e intelectualmente – diversas vezes há um embate da estratégia de sobrevivência de Moss com os planos de Chigurh para encontra-lo e matá-lo, seu pior erro reside em ser fraco, talvez pela primeira vez na vida.

Retornar ao local para dar água ao mexicano moribundo é o pior erro de sua vida, afinal a partir dessa decisão que o inferno de sua vida começa de fato. Para este mundo duro, seco e implacável de McCarthy, a compaixão é uma sentença de morte. Dito e feito, a fraqueza de Moss é o que causa sua morte, mesmo que sua jornada tenha sido tão árdua, exaustiva e perigosa. Entretanto, não é somente a fraqueza de Moss que o acaba levando ao caixão, afinal o filme constrói muito bem como ele sempre supera os obstáculos inerentes à caçada.

Na verdade, a fraqueza que assina a sentença de morte do protagonista é vinda da sogra, mãe de Carla Jean, que revela o paradeiro de Moss para um mexicano que a ajuda carregar as malas quando ambas se dirigem à rodoviária – ela mesma diz que é velha e cansada quando o integrante do cartel oferece ajuda e começa a fazer as perguntas certas. Novamente, pouco é mostrado ou explorado no que tange o relacionamento de Moss e sua esposa. É um filme de poucas palavras.

O que atrai bastante ainda no roteiro tão bem adaptado é a figura do herói. Nitidamente aqui não temos uma história de herói vs vilão como moldada na narrativa clássica de outros filmes western, noir ou de perseguição policial. Moss, apesar de ser o “protagonista” desta história, é somente um homem comum dentro da perseguição maior. Afinal temos um jogo onde o xerife, Ed Tom Bell, persegue Chigurh que por sua vez caça Moss.

Porém apesar de serem personagens tão ligados dentro da narrativa por conta da perseguição, raríssimas vezes que há um contato direto entre eles. Moss e Chigurh se enfrentam somente duas vezes enquanto Tom Bell só “encontra” o psicopata uma vez na jornada. Esse jogo de conexões ganha aspectos visuais muito relevantes através do cenário do trailer onde Moss vive, pois, todos os três se sentam no mesmo lugar no sofá que preenche a apertada saleta com um intervalo muito pequeno entre cada visita. Eles veem os seus reflexos na mesma televisão. Algo de essência simples, mas de forte simbologia que os Coen inferem tão bem nos enquadramentos certeiros.

O trunfo desta grande história é a natureza de seus personagens. Moss como já dito é um belo exercício de desconstrução da figura do herói, mas seu algoz, Chigurh é um espetáculo à parte. Em contraponto ao protagonista, a construção é o foco dos roteiristas para tratar sobre o antagonista. A cada nova cena, novos detalhes são revelados. Descobrimos como o psicopata é orgulhoso e ciumento no que tange ao seu trabalho assassino. Ele tem aversão a pessoas covardes, enxeridas ou fracas – isso é muito bem apontado quando ele recua ao ser confrontado pela mulher dona do estacionamento dos trailers, possivelmente a única que sobrevive ao encontro com ele, além de Moss.

Porém sua característica que define completamente o personagem é a forte crença que ele tem com o destino, ainda que isso seja explorado em apenas duas cenas. No jogo psicótico de definir as pessoas através da sorte da moeda, no cara ou coroa. O estranho é que isso não vale para todos, pois a maioria das pessoas que cruzam seu caminho acabam mortas sem qualquer chance. Aliás, seu desprezo pleno para com a vida humana é explicitado pela sua pistola de pressão – arma de abate visada à gados, que o auxilia a executar tantos coadjuvantes.

Para trazer tudo isso às telas, há o trabalho que rendeu o primeiro Oscar a Javier Bardem, impecável. Sempre impassível, com pouquíssimas cenas onde esboça um sorriso doentio, Bardem faz seu personagem virar um dos maiores assassinos da História do Cinema. Sua atuação é realmente algo que eleva toda a ameaça que ronda o personagem, o transformando na pura encarnação do mal. Se o Diabo tivesse nome, certamente seria Chigurh. O ator torna o ato de matar algo tão natural ao personagem que assusta, pois ele sempre caminha com calma, não altera a respiração, não esboça o menor nervosismo. Há apenas a carnificina e sua estranha serenidade, pois o personagem não gosta de masoquismo e sadismo. O serviço é sempre feito rapidamente, mas não da maneira mais limpa. Ele já é introduzido ao filme em uma das cenas mais chocantes ao estrangular um guarda na delegacia. Nasce diretamente da morte.

Com o último personagem de destaque, o casting é perfeito com Tommy Lee Jones, porém o consagrado ator consegue fugir do clichê de suas atuações carrancudas. A jornada de Ed Tom Bell talvez seja a mais sofrida psicologicamente, pois desmonta toda a fé que ele tem dentro de sua capacidade como xerife e representante da lei já que ele falha em salvar Moss e capturar Chigurh. Aliás, isso é outro ponto interessante da narrativa. Os três personagens falham com seus objetivos: Moss morre e o dinheiro tem o destino incerto e Chigurh não mata seu alvo. Com esse grande sentimento de impotência, Tom Bell acaba completamente derrotado.

Entretanto, outra jogada astuta que os Coen têm é deixar em evidência algumas características que os personagens compartilham entre si sendo o principal deles, o niilismo. Porém duas cenas conectam a personalidade de Chigurh com Moss, além da metodologia de ambos sobre sobrevivência e caça. Quando ambos necessitam de uma peça de roupa de um desconhecido, já ofertam com dinheiro, nunca apostando na gentileza de outrem. Isso evoca muito da natureza humana retratada no filme quando os personagens estão enfraquecidos fisicamente. A vulnerabilidade é compensada pela persuasão do dinheiro. Ao contrário do que ocorre com Chigurh em diversas passagens do filme quando ele está saudável. Diversas pessoas são prestativas voluntariamente e acabam mortas. Como disse, o discurso é claro: a compaixão é vista como fraqueza e punida com morte e desgraça.

Em deixar o texto praticamente intacto em sua adaptação, os Coen brilham na direção do filme, talvez a melhor de suas carreiras. A presença autoral se dá logo no contraste no começo. Eles exploram as belíssimas paisagens naturais do oeste texano que evocam paz e tranquilidade. Poucos minutos depois já há o primeiro dos diversos assassinatos sendo este o mais brutal. O estrangulamento que corta a jugular do policial jorrando sangue na tela. O teor então já é apresentado. O festim de violência irrestrita é algo que pertence ao universo extremamente crível que eles criaram para representar a história de McCarthy.

A técnica dos Coen, acredito, estava em seu auge. Assumiram a câmera e os enquadramentos de forma tão clássica que chega a emocionar quem aprecia a arte da forma fílmica. Chegaram até mesmo a desprezar as famigeradas objetivas zoom. Tudo é feito meticulosamente e o resultado não foge do espetacular. Plasticamente, Onde os Fracos não Têm Vez é um filme perfeito. Antes das filmagens, os Coen e o designer de produção, Jess Gonchor, passaram meses desenhando os enquadramentos do longa inteiro. Tudo foi planejado para não dar margem a qualquer imprevisto ou perda de tempo com discussões em set.

De alguma forma isso é passado para nós, pois a decupagem segue uma lógica de sequenciamento visual muito própria. Ao mesmo tempo que é simples, é genial. Vejamos a antológica cena onde Chigurh confronta um homem na loja de conveniência, apostando a vida dele na moeda. A cena tem um poder enorme, gera a tensão do suspense tão desconfortável presente na obra inteira. Ela toda possui apenas cinco enquadramentos difundidos em sessenta e cinco planos contando apenas com um travelling in no momento decisivo da escolha da face da moeda. Todo o dispotivo é, de fato, clássico, simples, já explorado, mas ganha essa força exemplar na mão dos dois diretores, do diálogo inteligente, da atuação e da ambiência sonora.

Logo, a direção deles na câmera é quase matemática a partir do momento que paramos para pensar no planejamento de decupagem que eles fizeram de modo tão apropriado. Ainda assim, seus grandes trunfos residem nas ótimas simbologias que eles costumam trabalhar. Antes de encontrar o local do impasse do tráfico, Moss caça alguns antílopes. Em um grandioso plano geral, nota-se uma enorme nuvem que projeta sua sombra a poucos metros do local iluminado que os antílopes se encontram. Após acertar o tiro, todos os bichos correm para a parte sombria do terreno. No caso, trata-se de um belo foreshadowing de representação de símbolos clássicos. Refletindo Moss nos antílopes, se depreende que sua jornada seguirá para territórios mais sombrios, além de ter uma inversão no papel de caça e caçador.

Já em outra cena, Chigurh está dirigindo e repara em um corvo descansando no corrimão de uma ponte. Enquanto faz a travessia, ele tenta matar a ave, um dos símbolos mais clássicos da morte. Depois, com Moss ferido fugindo para o México, ele é encontrado e salvo por um grupo de mariachis, também representação clássica da alegria e calor do povo mexicano. Porém, levando em conta o contexto histórico do tempo diegético dos anos 1980, quando havia uma imigração em massa e o auge dos grupos mariachi nos EUA, nada mais irônico do que a inversão dos papeis entre migrantes, além de tocar uma fina ironia sobre hospitalidade entre os dois países que é evocada quando Moss retorna ao Texas e passa pela guarda da fronteira.

A presença autoral mais marcante ainda é vinda através da iluminação de Roger Deakins, um dos maiores diretores de fotografia da atualidade. Trabalhando com os Coen desde Barton Fink, Deakins já sabia do grande amor dos diretores pelos filmes noir. Com as mentes sintonizadas, ele conseguiu criar o visual do noir contemporâneo que ainda possui muitas características da cinematografia original dos filmes de 1950, porém com toques difusos, sombras mais delicadas e tratamento barroco expressivo para a iluminação principal. As altas luzes da contraluz permanecem intocadas.

Além desse tratamento noir para a iluminação geral, Deakins já insere suas marcas autorais na cinematografia com diversos trabalhos de silhuetas e contraluzes mais delineadas. Isso tudo aliado a uma experimentação com projeções de sombras tornam a atmosfera verdadeiramente única. É algo belíssimo, sem a menor dúvida. A cor também é pensada para evocar o calor daquele deserto. Médio contraste, saturação intensa e tons pastéis bem vivos retratam à época dos anos 1980. Muitas vezes os personagens refletem com clareza os pontos de iluminação para transmitir as altas temperaturas texanas. Muito do trabalho que ele realizou aqui pode ser conferido em Sicario, outro longa de tema similar onde a forma supera o conteúdo.

Outro ponto crucial e muito inusitado da direção de Ethan e Joel é o uso da trilha musical. Ela é praticamente ausente o filme inteiro. Em pouquíssimas cenas há alguma melodia. Em outras, para criar tensão, o compositor Carter Burwell aposta somente em sons de uma nota frequência específica e desconfortável. Com isso, a sugestão do suspense não vem da música ou é potencializada por ela como acontece em tantos outros filmes. Os Coen priorizam a encenação, a edição e a mixagem de som para conferir o efeito desejado. Nos dá a liberdade para apreciar o ótimo trabalho que o departamento sonoro realizou para o filme sem muitas distrações. Nisso, há cenas memoráveis que funcionam somente pela ambiência. Como a que acompanhamos Chigurh procurando Moss através do rastreador de proximidade ou então com a intuitiva montagem interpolada que explora os dois quartos geminados que Moss se esconde do hitman.

Meu único porém se encontra na pressa em amarrar o filme após a morte de Moss – aliás é interessante como os diretores deixam esse episódio marcante restrito ao ponto de vista de Ed Tom Bell. Entretanto, isso é compensado com mais uma sequência excelente para encerrar o núcleo de Chigurh, além deles arranharem novamente o surrealismo com o monólogo dos sonhos impotentes do ex-policial e finalizarem o filme de modo tão pessimista.

Onde Os Fracos não Têm Vez é uma daquelas obras que acontecem uma vez em milhares de filmes medíocres. Em 2008, a justiça foi feita na premiação do Oscar com o longa vencendo quatro categorias sendo elas Melhor Filme e Melhor Direção, algo totalmente apropriado para uma obra tão meticulosamente construída aqui. Além de ser uma realização audiovisual extremamente relevante para o estudo cinematográfico, os Coen conseguem apresentar também uma peça que traz, indiretamente ou não, os terrores e consequências da já fracassada guerra contra as drogas inauguradas por Nixon nos anos 1970. Um filme que se sustenta como arte, entretenimento e peça histórica apenas com uma história simples e forma clássica. Da simplicidade e coesão dos irmãos Coen, podemos ter o prazer de provar mais uma vez uma obra genial na sétima arte.

Onde Os Fracos Não Tem Vez (No Country For Old Men – EUA, 2007)
Direção: Joel Coen e Ethan Coen
Roteiro: Cormac McCarthy, Joel Coen e Ethan Coen
Elenco: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Woody Harrelson, Kelly Macdonald, Garret Dillahunt, Tess Harper, Barry Corbin
Duração: 122 minutos


by Matheus Fragata

Crítica | Universidade Monstros

A Pixar teve um período espetacular nos cinemas. De 2005 até 2010, o estúdio filiado pela Walt Disney foi responsável por alguns dos melhores filmes de animação de todos os tempos: Os Incríveis, Ratatouille, Wall-E,Up – Altas Aventuras e Toy Story 3 conquistaram não só o público infantil, mas também fez muitos adultos chorarem (eu ainda apanho dos 10 minutos iniciais de Up) e refletirem sobre os temas contidos nesses trabalhos – quase todos indicados ao Oscar, dois deles ao de Melhor Filme. A Era de Ouro da Pixar acabou com Carros 2 e Valente, filmes que- mesmo tendo sido bem recebidos – careciam do valor sentimental/maduro encontrado em seus trabalhos anteriores.Universidade Monstros chega para tentar reafirmar o posto absoluto do estúdio, mas não é nada além de um filme divertido.

A trama serve como prelúdio para o genial Monstros S.A., mostrando Mike Wazowski (voz de Billy Cristal na versão original) e James P. Sullivan (voz de John Goodman) se conhecendo na Universidade Monstros, uma faculdade especializada no ensino dos sustos e formadora de funcionários para a famosa empresa do filme anterior. Aqui, a dupla se alia a um grupo ridicularizado a fim de ganhar um torneio essencial para o curso de Assustadores.

Comandado pelo estreante Dan Scanlon (que também assina o roteiro ao lado de Robert L. Baird e Daniel Gerson), Universidade Monstros é eficiente ao trabalhar alguns elementos de sua empolgante proposta: como funcionaria uma instituição de ensino de monstros? Daí entra a esperteza do texto ao transportar todos os estereótipos de universidades norte-americanas (os esportistas, os nerds, os hippies e toda aquela divisão de fraternidades) ao universo de monstros nada assustadores, mas que continuam surpreendendo por suas composições inventivas (a personagem dublada por Helen Mirren, uma mistura de inseto com dragão, é particularmente interesssante). As melhores piadas funcionam pelos pequenos detalhes.

O que nos leva ao grande problema do filme. A história aqui é pautada em uma estrutura formulaica, prevísivel e que não parece ter nada muito significativo a dizer (além de uma óbvia valorização do trabalho em equipe). Claro, o público-alvo nesse tipo de produção é a faixa etária dos 10 anos, mas a Pixar sempre conseguia trazer algo além. Não temos aqui uma história emocionante como a do velhinho Carl, um amadurecimento profundo como o de Andy ou um antagonista complexo como o crítico gastronômico Ego. O prelúdio se sai bem como uma animação divertida e que entretém, mas não parece demonstrar a ambição por temas mais elaborados. Como fã de Monstros S.A., fico decepcionado por não ter sido bem explorada a relação entre Mike e a salamandra Randy Boggs (voz de Steve Buscemi); é revelado aqui que os dois eram amigos, mas o desmantelamento dessa amizade se dá por motivos rasos, jamais ganhando o foco necessário para justificar a vilania do personagem no primeiro filme.

Ainda estou esperando que a Pixar volte a me estapear com suas incríveis doses de sentimento e humor. Universidade Monstros é um bom filme, mas o estúdio pode (e está devendo) fazer muito melhor.

Obs: Há uma engraçadíssima cena pós-créditos.


by Lucas Nascimento

Crítica | Caça aos Gângsteres

A Hollywood de hoje transborda nostalgia. É evidente o desejo dos estúdios de repetir o sucesso dos filmes da Era de Ouro, que consistiam – entre outros – no popular gênero de gângster das décadas de 30-50, em alta graças aos atos de criminosos como John Dillinger e Al Capone. Eu pessoalmente me interesso muito por longas do tipo, e é por isso que me entristece ver o resultado medíocre alcançado por Caça aos Gângsteres, produção requintada e com ótimo elenco; mas nada além disso.

O roteiro de Will Beall adapta o livro de Paul Lieberman sobre o reinado criminoso de Mickey Cohen (Sean Penn) na Los Angeles de 1949. Visando driblar as relações corruptas que o mafioso mantinha com o governo, a polícia de LA organiza um grupo secreto liderado por John O’Mara (Josh Brolin) para agir fora da lei e capturar Cohen.

É de se entender o motivo pelo qual o projeto foi calorosamente disputado até chegar nas mãos do diretor Ruben Fleischer (do ótimo Zumbilândia). Sua premissa é a perfeita oportunidade para se realizar um filme de ação despretensioso no glorioso período de chapéus, sobretudos e metralhadoras, e o design de produção de Maher Amada é impecável ao recriar cenários e ambientes da época, enquanto a figurinista Mary Zophres é eficaz ao vestir apropriadamente os diferentes integrantes do elenco – desde a sensualidade da pseudo-femme fatale de Emma Stone até a simplicidade da esposa de O’Mara.

Mas infelizmente toda a competente plasticidade do filme é desperdiçada em um roteiro que se debruça sobre clichês e estereótipos, tornando-se uma experiência previsível demais. Basta olhar para a equipe de O’Hara, que é composta meramente por arquétipos (em determinado momento, uma das personagens até declara que “agora precisará de alguém com cérebro”) e têm como ligação emocional com o público fiapos como “amigo que foi morto” ou, acredite se quiser, a velha história da “esposa grávida em perigo”. Tudo bem que são elementos “clássicos” de produções do tipo, mas não funcionam com  a roupagem moderna adotada por Fleischer, que disfarça sua incompetência em comandar cenas de ação ao utilizar a câmera lenta simplesmente por “parecer legal” – da mesma forma como Ryan Gosling constantemente elabora uma expressão de “malvado”, como se o ator estivesse apenas se divertindo em seu traje; o que prejudica seu bom desempenho.

Trazendo uma performance curiosa de Sean Penn (que ora soa ameaçador, ora parece um vilão de desenho animado), Caça aos Gângsteres é uma falha tentativa de reviver os bons tempos do cinema gângster. Talvez as técnicas – que cada vez mais optam pela filmagem em digital, ao invés da película – estejam modernas, coloridas demais para um filme daquele período. É melhor ficar com os clássicos.

Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, EUA, 2012)
Direção: Ruben Fleischer
Roteiro: Will Beall
Elenco: Sean Penn, Ryan Gosling, Emma Stone, Josh Brolin, Nick Nolte, Giovanni Ribisi, Josh Pence, Frank Grillo, Anthony Mackie, Robert Patrick, Michael Peña
Duração: 113 min


by Lucas Nascimento

Crítica | Rush: No Limite da Emoção

Nunca me interessei muito por fórmula 1. Pra falar a verdade, nem mesmo outras modalidades esportivas são capazes de me despertar verdadeiro interesse ou a empolgação presente em grande parcela da população. Mas independente de meus gostos pessoais, é de se impressionar com o que o bom cinema é capaz de fazer: ao longo das 2 horas de Rush – No Limite da Emoção, fui um fanático pelo esporte e suas figuras.

A trama é centrada nos anos 70 (especialmente nas corridas do sexto ano da década), um dos apogeus da Fórmula 1 mundial. Nesse cenário perigoso e que “traz uma média de 2 a 3 mortos por competição”, encontramos a rivalidade entre dois tipos completamente de pilotos: o britânico James Hunt (Chris Hemsworth) e o austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl).

Ron Howard parece ter um dom natural para retratar com eficiência (ou ao menos criar bom entretenimento no material) acontecimentos envolvendo fatos/pessoas verídicas. Depois do matemático esquizofrênico John Nash em Uma Mente Brilhante e as lendárias entrevistas televisivas que movem Frost/Nixon (além de outras inúmeras produções), Howard surpreende ao optar por um tema que envolve cenas de ação grandiosas e um complexo trabalho de recriação de época. No último quesito, o design de produção de Mark Digby e o figurino de Julian Day acertam ao manter a fidelidade à época e ainda se beneficiam da fotografia granulada e quase documental de Anthony Dod Mantle – recurso que torna quase impossível diferenciar as diversas imagens de arquivo que o filme traz – e quanto à direção, Howard é hábil em criar sequências automobilísticas capazes de prender o espectador na cadeira.

Além da impecabilidade técnica, Rush conta também com excelentes performances. A começar pela antítese entre os corredores protagonistas: Chris Hemsworth se sai muito bem ao absorver a personalidade festeira e agitada de Hunt enquanto Daniel Brühl surge quase como uma réplica do Lauda real. O ator austríaco até faz uso de uma prótese a fim de tornar seus dentes similares ao do piloto, mas a força do personagem é admirável graças a seu ótimo trabalho e o sotaque bem aplicado. É interessante observar como o roteiro de Peter Morgan utiliza-se de pequenos detalhes para ilustrar o contraste entre essas duas figuras imperfeitas, como trazer uma grande festa para o casamento de Hunt enquanto o de Lauda contenta-se em uma breve união feita em cartório.

Vale apontar também que o texto de Morgan (que trabalhara com Howard em Frost/Nixon) se destaca por retratar ambos os pilotos como figuras humanas repletas de virtudes e defeitos próprios, optando sabiamente por não rotular Lauda ou Hunt como herói ou vilão – e quando vemos os dois competindo, é difícil escolher por quem torcer.

Temperado pela bela trilha sonora do sempre genial Hans Zimmer, Rush: No Limite da Emoção é uma excelente adição ao gênero esportivo. Envolvente como longa de ação e emocionante ao retratar os conflitos entre seus personagens, o filme agrada também por oferecer um significado interessante ao conceito de rivalidade – e a importância desta.

Obs: Que subtítulozinho mais infeliz e sessão da tarde esse “No Limite da Emoção”, hein?


by Lucas Nascimento

Crítica | Blue Jasmine

Eu ainda não vi nem metade dos filmes de Woody Allen (afinal, o cineasta tem quase 50 produções cinematográficas com seu nome creditado como diretor e roteirista), o que torna chocante para mim, especialmente vindo na sequência de Para Roma, com Amor e Meia-Noite em Paris, contemplar o resultado final de Blue Jasmine. Depois dessas divertidas excursões pela Europa, seu novo filme soa muito mais trágico, com levíssimos toques de humor, e maduro.

A trama é centrada em Jasmine (Cate Blanchett), uma mulher rica e poderosa que acaba por perder tudo quando seu marido (Alec Baldwin) é preso por estar envolvido em atividades ilegais que mantinham sua fortuna. À beira de um colapso, Jasmine vai morar com sua irmã Ginger (Sally Hawkins) em São Franciso, onde espera poder tocar a vida novamente.

É basicamente mais uma variação da fórmula “pessoa rica perde tudo, pessoa rica busca lições de humildade” com pitadas humorísticas à lá “peixe fora d’água”. O que diferencia este filme dentre tantos outros é a fascinante personagem-título concebida por Woody Allen, que se mostra uma das criaturas mais complexas e multifacetadas do cinema em 2013. Mérito da performance sensacional de Cate Blanchett, que traça uma figura orgulhosa, egoísta e completamente reprovável. É muito fácil odiar Jasmine, mas você também vai se pegar sentindo pena e vontade de entrar na tela e lhe abraçar apertado e dar uns tapinhas na costas, pois Blanchett destrói como atriz quando retrata a destruição de Jasmine na forma de gritos, colapsos e principalmente quando começa a falar sozinha – algo que a atriz facilmente poderia utilizar para gerar humor, mas que aqui chega a ser deprimente de se observar. Merece Oscar.

Outro ponto que se destaca aqui é a estrutura escolhida pelo roteiro de Allen, que fragmenta a história com flashbacks recorrentes que nos revelam os elementos que levarão à destruição da vida de Jasmine. É muito interessante (quase que de uma forma sádica) observar essa bomba-relógio prestes a explodir, sendo ainda mais interessante quando a montagem de Alisa Lepselter regressa, no último ato, para nos revelar o evento que a fez explodir – surpreendendo não só pela reviravolta reveladora a trama, mas também sobre a natureza destrutiva de sua protagonista. Allen mantém o mesmo raciocínio ao colidir o universo glamouroso de Jasmine com a vida simples e harmoniosa de sua irmã e o namorado desta, ambos vividos com carisma por Sally Hawkins e Bobby Cannavale (que custei pra me tocar de que não era o Andy Garcia).

Ainda que seja um trabalho imperfeito (por melhor que esteja, Louis CK soa simplesmente como um intruso na trama), Blue Jasmine me revelou uma faceta que eu até então desconhecia de Woody Allen. Sua habilidade para analisar a destruição de um indivíduo, assim como as fúteis tentativas de remediá-lo, é tão eficáz quanto a de divertir platéias e proporcionar risadas. Claro, mas isso é apenas alguém que ainda não assistiu a todos os seus filmes.


by Lucas Nascimento

Crítica | O Hobbit: A Desolação de Smaug

É impressionante como algumas coisas podem ficar muito mais interessantes quando se coloca um dragão no meio. Hater confesso da primeira parte da adaptação cinematográfica de O Hobbit, a presença da lendária criatura cuspidora de fogo o fator determinante para me levar a este A Desolação de Smaug, filme que – ainda prejudicado por uma série de problemas de fácil solução – se revela absurdamente superior ao antecessor em todos os aspectos.

A trama começa pouco depois de onde Uma Jornada Inesperada terminara, com a companhia dos anões liderada por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) fugindo de um grupo de orcs enquanto seguem para a Montanha Solitária, onde o poderoso dragão Smaug (dublado por Benedict Cumberbatch) se encontra. Enquanto o hobbit Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) vai se afeiçoando cada vez mais ao Um Anel, o mago Gandalf (Ian McKellen) parte em uma missão secreta para descobrir a identidade de um misterioso Necromante – feiticeiro capaz de conjurar os mortos.

Depois de uma experiência maçante no filme de 2012, finalmente Peter Jackson e sua trupe de roteiristas (Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo Del Toro) conseguiram reunir material o suficiente para suportar um longa-metragem com uma duração extensa como a que saga exibe. Mesmo que as opções escolhidas, que envolvem a criação de personagens e eventos ausentes na obra original de J.R.R. Tolkien, sejam completamente descartáveis dentro da narrativa central (triângulo amoroso até na Terra Média?), já é mais do que suficiente para ao menos “parecer dar” a impressão de uma história grandiosa ou pelo menos garantir cenas de ação envolventes (quando acompanhamos mortes inventivas como aquelas vistas na sequência dos barris, impossível se entediar). Funcionam de verdade as sequências que envolvem a investigação de Gandalf, graças à sempre carismática performance do ator e por trazer empolgantes conexões com os eventos de O Senhor dos Anéis.

Infelizmente, aquele mesmo problema do primeiro filme se repete aqui: enrolação, por falta de substantivo melhor. A começar por um prólogo completamente descartável que nos apresenta ao primeiro encontro entre Gandalf e Thorin: qual o sentido de vermos uma cena de introduções a essa altura da narrativa? Pior ainda é quando o clímax insiste em nos fazer acompanhar as 3 tramas diferentes de A Desolação de Smaug, quando tudo o que realmente importava era o conflito com o dragão. Quero dizer, eu pelo menos não comprei aquele triângulo amoroso descartável e… estranho, entre Legolas (Orlando Bloom, cujo único propósito no filme é nos relembrar o quão foda é seu personagem durante variadas batalhas), um dos anões e Tauriel (Evangeline Lily, que empresta suas feições angelicais para uma elfa criada especialmente para o filme). Está ali meramente para preencher espaços, e nos fazer desejar que o montador Jabez Olssen retorne logo para a situação do dragão.

Aliás, que dragão. Sou fã absoluto de praticamente todas as versões da criatura em suas diferentes mídias, mas tenho quase certeza de que o Cinema nunca viu um dragão tão absurdo e carismático quanto Smaug. A começar pelo excepcional trabalho de efeitos visuais da Weta, que garante uma criação digital realista, e o da equipe artística responsável pelo visual detalhista e assustador da criatura, garantindo-lhe uma personalidade que se sobressai diante de todas as criaturas da produção. Ajuda também o fato de que Benedict Cumberbatch seja o responsável pela voz e motion capture do vilão (ele repete a dose também nas aparições do Necromante), cuja gravidade é delicadamente exacerbada a fim de garantir a Smaug a mais imponente voz possível. Posso estar enganado e falando precipitadamente, mas é provavelmente o melhor dragão já criado até hoje no cinema.

Enriquecido por um design de produção estupendo (reparem nas inteligentes influências absolutistas na Cidade do Lago), O Hobbit: A Desolação de Smaug funciona melhor como experiência do que o primeiro filme. Palmas pelas excelentes cenas de ação, uma história mais sustentada e um dragão simplesmente apaixonante. Agora, é sacanagem demais encerrar o filme com um cliff hanger abrupto como esse…

Veja só, Peter Jackson agora vai me fazer assistir O Hobbit: Lá e De Volta Outra Vez no ano que vem. Então, tá.

Obs: Fiquem durante os créditos para ouvir “I See Fire”, de Ed Sheeran. Lindíssima canção.


by Lucas Nascimento

Crítica | Capitão Phillips

Eu nunca tinha parado pra pensar sobre pirataria nos dias atuais. Ao pensar nos bandidos do mar aberto, imediatamente nos vem à mente a imagem do pirata “tradicional” do século XVIII, com grandes navios à vela, baús de tesouro e a popular figura de Jack Sparrow. Usando o conceito como ponto de partida, Paul Greengrass faz de Capitão Phillipsum intenso filme de sobrevivência

A trama dramatiza os eventos de Abril de 2009, quando um capitão da Marinha (Tom Hanks) teve seu cargueiro invadido e sequestrado por um grupo de piratas da Somália. À medida que a situação vai se desenrolando, acompanhamos as tentativas de resgate do governo e a relação entre Phillips e seus raptores.

Juro que não me lembro desse incidente ocorrido há 4 anos atrás, mas não é preciso ser um expert para adivinhar como a situação acabará (o Phillips real escreveu um livro sobre, logo…). O segredo para o sucesso do longa (e qualquer dramatização de eventos reais, na verdade) reside na capacidade do diretor em manter o interesse e, no caso de Capitão Phillips, certificar-se de que a tensão nunca termine – e que tenhamos real preocupação com seus personagens, mesmo já conhecendo o desfecho da trama. Paul Greengrass é um mestre nisso. Com sua característica câmera inquieta e apuro perfeccionista com os detalhes (lembrem-se de que Greengrass fez questão de reproduzir até mesmo ocardápio do avião sequestrado em Voo 93), o diretor jamais perde o espectador em suas 2 horas de projeção – começa devagar, mas o suspense vai crescendo apropriadamente até alcançar o pânico.

É curioso também enxergar a história pelos dois lados. Claro que os piratas somali são inevitavelmente os antagonistas da história, mas o roteiro de Billy Ray (responsável pelos textos de Jogos Vorazes, Intrigas de Estado, entre outros) é inteligente ao não retratá-los como figuras maléficas e unidimensionais. Sem aprofundar-se a níveis sociológicos, Ray oferece justificativas para as ações de seus personagens, seja em uma introdução na Somália ou pequenas – mas poderosas – frases (“Deve ter algo a mais do que fazer além de pescar e sequestrar pessoas”, alerta Phillips. “Talvez nos EUA”, retruca o líder somali Muse).

E, é claro, temos o soberbo elenco encabeçado por um impressionante Tom Hanks. Em sua melhor performance dos últimos 10 anos, Hanks nos faz lembrar de que o ator excepcional que foi no passado (Filadélfia, Forrest Gump e o incrível Naufrágo, por exemplo) ainda está lá, mesmo que tenha ficado ocupado com papéis serenos, trabalhos de dublagem ou de direção. Na pele do capitão Phillips, Hanks surpreende pela paciência do sujeito nas situações extremas e, principalmente, quando o desespero começa a tomar conta – a sutil reação ao ver os invasores embarcando pela primeira vez, até sua assustadora cena final é uma transformação que deve garantir-lhe sua sexta indicação ao Oscar.

Vale destacar também o elenco somali que faz sua estreia aqui: escolhidos por Greengrass sem nenhuma experiência em longas-metragens, o grupo liderado pelo incrível Barkhad Abdi convence como uma ameaça real, especialmente por suas respectivas posturas (o olhar baixo inquietante e os dentes grandes de Abdi falam por si só) e agressividade. No mais, parecem bandidos de verdade.

Capitão Phillips é intenso do início ao fim, você sabendo ou não o desfecho da história. Tecnicamente impecável e com atuações verossímeis a ponto de nos esquecermos de que isto são apenas imagens fictícias projetadas em tela, Paul Greengrass fez aqui um dos trabalhos mais memoráveis de 2013. Filmaço.

Obs: Não faz sentido a Sony Pictures traduzir o filme como “Capitão Phillips” pra depois alternar entre os termos “capitão” e “comandante” para a mesma função nas legendas. Só uma pequena observação.


by Lucas Nascimento

  • 1
  • …
  • 232
  • 233
  • 234
  • 235
  • 236
  • …
  • 246
© 2025 Bastidores. All rights reserved
Bastidores
Política de cookies
Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. O consentimento para essas tecnologias nos permitirá processar dados como comportamento de navegação ou IDs exclusivos neste site. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções.
Funcional Sempre ativo
O armazenamento ou acesso técnico é estritamente necessário para a finalidade legítima de permitir a utilização de um serviço específico explicitamente solicitado pelo assinante ou utilizador, ou com a finalidade exclusiva de efetuar a transmissão de uma comunicação através de uma rede de comunicações eletrónicas.
Preferências
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para o propósito legítimo de armazenar preferências que não são solicitadas pelo assinante ou usuário.
Estatísticas
O armazenamento ou acesso técnico que é usado exclusivamente para fins estatísticos. O armazenamento técnico ou acesso que é usado exclusivamente para fins estatísticos anônimos. Sem uma intimação, conformidade voluntária por parte de seu provedor de serviços de Internet ou registros adicionais de terceiros, as informações armazenadas ou recuperadas apenas para esse fim geralmente não podem ser usadas para identificá-lo.
Marketing
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para criar perfis de usuário para enviar publicidade ou para rastrear o usuário em um site ou em vários sites para fins de marketing semelhantes.
Gerenciar opções Gerenciar serviços Manage {vendor_count} vendors Leia mais sobre esses propósitos
Ver preferências
{title} {title} {title}