Nunca me interessei muito por fórmula 1. Pra falar a verdade, nem mesmo outras modalidades esportivas são capazes de me despertar verdadeiro interesse ou a empolgação presente em grande parcela da população. Mas independente de meus gostos pessoais, é de se impressionar com o que o bom cinema é capaz de fazer: ao longo das 2 horas de Rush – No Limite da Emoção, fui um fanático pelo esporte e suas figuras.
A trama é centrada nos anos 70 (especialmente nas corridas do sexto ano da década), um dos apogeus da Fórmula 1 mundial. Nesse cenário perigoso e que “traz uma média de 2 a 3 mortos por competição”, encontramos a rivalidade entre dois tipos completamente de pilotos: o britânico James Hunt (Chris Hemsworth) e o austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl).
Ron Howard parece ter um dom natural para retratar com eficiência (ou ao menos criar bom entretenimento no material) acontecimentos envolvendo fatos/pessoas verídicas. Depois do matemático esquizofrênico John Nash em Uma Mente Brilhante e as lendárias entrevistas televisivas que movem Frost/Nixon (além de outras inúmeras produções), Howard surpreende ao optar por um tema que envolve cenas de ação grandiosas e um complexo trabalho de recriação de época. No último quesito, o design de produção de Mark Digby e o figurino de Julian Day acertam ao manter a fidelidade à época e ainda se beneficiam da fotografia granulada e quase documental de Anthony Dod Mantle – recurso que torna quase impossível diferenciar as diversas imagens de arquivo que o filme traz – e quanto à direção, Howard é hábil em criar sequências automobilísticas capazes de prender o espectador na cadeira.
Além da impecabilidade técnica, Rush conta também com excelentes performances. A começar pela antítese entre os corredores protagonistas: Chris Hemsworth se sai muito bem ao absorver a personalidade festeira e agitada de Hunt enquanto Daniel Brühl surge quase como uma réplica do Lauda real. O ator austríaco até faz uso de uma prótese a fim de tornar seus dentes similares ao do piloto, mas a força do personagem é admirável graças a seu ótimo trabalho e o sotaque bem aplicado. É interessante observar como o roteiro de Peter Morgan utiliza-se de pequenos detalhes para ilustrar o contraste entre essas duas figuras imperfeitas, como trazer uma grande festa para o casamento de Hunt enquanto o de Lauda contenta-se em uma breve união feita em cartório.
Vale apontar também que o texto de Morgan (que trabalhara com Howard em Frost/Nixon) se destaca por retratar ambos os pilotos como figuras humanas repletas de virtudes e defeitos próprios, optando sabiamente por não rotular Lauda ou Hunt como herói ou vilão – e quando vemos os dois competindo, é difícil escolher por quem torcer.
Temperado pela bela trilha sonora do sempre genial Hans Zimmer, Rush: No Limite da Emoção é uma excelente adição ao gênero esportivo. Envolvente como longa de ação e emocionante ao retratar os conflitos entre seus personagens, o filme agrada também por oferecer um significado interessante ao conceito de rivalidade – e a importância desta.
Obs: Que subtítulozinho mais infeliz e sessão da tarde esse “No Limite da Emoção”, hein?