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Críticas

Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido - O melhor dos dois mundos

Já se passaram 14 anos desde que Bryan Singer assumiu a arriscada tarefa de levar os X-Men ao cinema, em Julho de 2000. Nesse longo espaço de tempo, o gênero de super-heróis se transformaria em uma mania mundial, e o grande responsável por encher os cofres dos grandes estúdios de Hollywood. A franquia mutante da Fox se saía bem, entre erros e acertos, mas é com X-Men: Dias de um Futuro Esquecido que Singer encara seu maior desafio como cineasta ao transportá-las ao próximo nível.

A trama é inspirada livremente em uma das mais celebradas HQs dos X-Men, e envolve o grupo lutando contra as mortíferas Sentinelas, robôs gigantes especializados em destruir mutantes, em um futuro devastado. Na esperança de impedir que a guerra comece, o professor Charles Xavier (Patrick Stewart) envia Wolverine (Hugh Jackman) de volta para seu corpo dos anos 70 a fim de reajustar a situação ao reencontrar as versões jovens da equipe e evitar que um evento decisivo para a criação das Sentinelas ocorra.

Um filme dessa escala, com um elenco que mal cabe no pôster é um perigo por natureza. Pode ser muito inchado, incoerente ou desconcentrado, riscos típicos de produções assim. Felizmente, Bryan Singer e seu roteirista Simon Kinberg encontram um perfeito ponto de equilíbrio para contar a mais grandiosa história dos X-Men até agora. Ambientada tanto no passado quanto no futuro distópico, a montagem de John Ottman (que também assina a excelente trilha sonora) navega com fluidez entre as duas linhas temporais, ainda que se concentre mais naquela ambientada na década de 70 – considerando a aceitação popular de X-Men: Primeira Classe, é uma decisão sábia.

Já a ideia de viagem no tempo permanece até hoje como um dos elementos mais complexos não apenas do cinema, mas também de nossos conhecimentos científicos. O próprio Singer declarou que teve encontros com ninguém menos do que James Cameron para compreender melhor o conceito (e é divertido ver como Singer claramente se inspira em O Exterminador do Futuro ao retratar o futuro sempre à noite, sombrio e o fato de Wolverine despertar sem roupas quando acorda em seu corpo jovem) de realidades alternativas e paradoxos temporais. Aí reside o maior problema da produção, que opta por teorias um tanto confusas (aliás, qual teoria de tempo é usada aqui? Simultâneo? Imutável?) e que trazem certos problemas em sua linearidade, especialmente nos conceitos da Teoria do Caos. É uma confusão que se dá durante o terceiro ato, mas que não prejudica seu resultado; que pende mais para o positivo.

A começar pelo elenco dos sonhos de qualquer fã do gênero, que se sai bem com o habitual carisma de Hugh Jackman na liderança, mas também oferece muito espaço para os ótimos Michael Fassbender e James McAvoy, que continuam reinventando brilhantemente seus personagens, (Magneto nunca esteve tão radical, e Xavier surge inacreditavelmente desolado e selvagem) ao mesmo tempo em que aproveita na medida do possível a presença do elenco original. Temos lá a presença de ouro de Ian McKellen e Patrick Stewart, rápidas participações de Halle Berry, Anna Paquin (piscou, perdeu), Ellen Page, entre outros. O time ainda acrescenta alguns mutantes carismáticos – a Blink interpretada pela chinesa Fan Bingbing é minha preferida – que, ainda que não tenham tanto destaque ou desenvolvimento, rendem ótimas cenas de ação.

E como Singer entende disso. Sem embalar um sucesso de verdade desde sua última incursão na franquia, o diretor comanda com maestria as cenas de ação que envolvem múltiplos mutantes, distribuindo tarefas específicas e fazendo-os combinar seus poderes na luta contra as ameaçadoras Sentinelas. Vale também mencionar a espetacular cena envolvendo o mutante velocista Mercúrio (o carismático Evan Peters) em uma fuga de prisão, que, ao som de “Time in a Bottle”, é desde já uma das sequências mais bem feitas e impressionantes que o gênero já ofereceu. Também elogio a decisão do diretor em trazer diversas câmeras-dentro-da-história para cenas com multidões, algo que oferece um caráter de urgência e também ajuda com a ambientação de época (já que são câmeras super 8).

Mas ainda que seja preenchida por espetáculo e não perca tempo algum, a trama jamais esquece aquilo que sempre deu um diferencial a X-Men: suas questões sociais. Aqui essa temática ganha ainda mais força ao tornar a Mística de Jennifer Lawrence um elemento fundamental no desenrolar de ambas as linhas temporais, o que faz sentido considerando a posição que a personagem assumia no longa anterior (Primeira Classe). Não deixa de ser irônico como a grande ameaça física do longa – as Sentinelas – tenha sido criada por um sujeito com o porte físico de Peter Dinklage. Ainda na ala de poderio visual, o filme traz imagens altamente simbólicas, vide o momento em que corpos de mutantes são empilhados (remetendo diretamente ao Holocausto), ou a cena em que a Casa Branca é cercada por um estádio de beisebol; uma forma gritante de conciliar política e esporte, que curiosamente surge mais poderosa para os brasileiros neste ano de Copa do Mundo.

Dado o tamanho da aposta, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido era um filme que poderia ter dado perigosamente errado. Felizmente, isso foi em alguma realidade alternativa obscura, já que o retorno de Bryan Singer à franquia é eficiente, divertido e mesmo que não seja o melhor filme desta, certamente é o maior. E o melhor de tudo é perceber como sua conclusão oferece aos produtores novos rumos para essa franquia tão admirável.

Obs: Há uma cena após os créditos que vai deixar os fãs de X-Men malucos.

Obs II: Participações especiais e uma revelação mutante que você NUNCA imaginaria. Fiquem ligados.

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past, EUA - 2014)

Direção: Bryan Singer
Roteiro: Simon Kinberg, baseado nos quadrinhos da Marvel Comics
Elenco: Hugh Jackman, Jennifer Lawrence, James McAvoy, Michael Fassbender, Nicholas Hoult, Patrick Stewart, Ian McKellen, Halle Berry, Evan Peters, Ellen Page, Anna Paquin, Fan Bingbing, Peter Dinklage
Gênero: Aventura
Duração: 151 min

https://www.youtube.com/watch?v=pK2zYHWDZKo

Leia mais sobre X-Men


by Lucas Nascimento

Crítica | O Espelho - Milagres da montagem

Inteligente não é a denominação que normalmente se espera de um filme de terror, já que seu propósito é justamente fugir do racional e perturbar a plateia com sustos um atrás do outro, mas realmente não vejo como classificar O Espelho de outra forma. Vai certamente decepcionar quem esperava um terror mais tradicional ou óbvio, mas os interessados em uma história mais complexa vão se deliciar com a competente obra de Mike Flanagan.

A trama acompanha os irmãos Kaylie e Tim (Karen Gillan e Brenton Thwaites, competentes) que lidam com a tragédia da morte de seus pais, sendo o pai responsável pelo assassinato da esposa e o irmão mais novo pelo de seu pai, em uma medida desesperada para impedi-lo de matar sua irmã. Anos depois, Tim é libertado de um reformatório juvenil e sua irmã tenta convencê-lo a ajudá-la a destruir um misterioso espelho, onde ela acredita viver uma entidade sobrenatural que teria influenciado seu pai a cometer as atrocidades.

O gênero do terror é – ao lado da comédia – o mais difícil de se acertar. No ano passado, o sucesso surpreendente de Invocação do Mal, uma obra eficiente e bem sucedida ao explorar com maestria os elementos do terror, deu gás a o cada vez mais esgotado gênero. O Espelho não é um filme impactante quanto o de James Wan, mas surpreende justamente por colocar os sustos em segundo plano, dando força ao bom roteiro de Jeff Howard e do diretor Mike Flanagan (que já havia comandado um curta-metragem que serviu como base para o projeto) e servindo mais como um suspense psicológico; ainda que os elementos sobrenaturais cumpram seu papel de arrancar calafrios.

O aspecto mais forte aqui certamente é o brilhante trabalho de montagem de Flanagan, que oferece um jogo narrativo inteligente e que raramente encontraríamos em um longa do gênero. Tendo como plano de fundo duas histórias em espaços temporais distintos, a montagem brinca com as mais diversas elipses e transições, chegando até mesmo ao ponto de compartilharem o mesmo espaço: a versão adulta e jovem de Kaylie e Tim “interagem” diversas vezes, quase transformando o passado no verdadeiro antagonista – um fantasma, por assim dizer. E como o espelho é um objeto central, não deixa de fascinar como as duas tramas vão cada vez mais se assemelhando, quase como um reflexo uma da outra. A fotografia digital de Michael Fimognari contribui nesse quesito ao tornar o ambiente mais ameaçador nas cenas do passado, mas sem jamais alterar paleta de cores para algo muito irreal.

Contando também com um desfecho em aberto que provavelmente irritará grande parcela do público, O Espelho talvez seja um dos filmes de terror mais inteligentes dos últimos tempos, ainda que leve na categoria de realmente assustar. É mais uma obra que incomoda pela atmosfera pesada, que explora as expectativas e surpreende ao revelar-se algo mais complexo do que o prometido.

Bom ver que o mais gasto dos gêneros ainda é capaz de surpreender.

O Espelho (Oculus, EUA - 2013)

Direção: Mike Flanagan
Roteiro: Mike Flanagan e Jeff Howard
Elenco: Karen Gillan, Brenton Thwaites, Katee Sackhoff, Rory Cochrane, Annalise Basso, Garren Ryan, Kate Siegel
Gênero: Terror
Duração: 104 min

https://www.youtube.com/watch?v=1dchNZhN5p4


by Lucas Nascimento

Crítica | Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo - A banalidade humana

Bennett Miller é um nome que não deve ser esquecido. Mesmo tendo comandado apenas três longas, o diretor vem se mostrado um dos mais interessantes e habilidosos da nova leva, sempre adotando uma abordagem engajante com seus diferentes tema. O crime em Capote, o beisebol em O Homem que Mudou o Jogo e agora, a luta olímpica com Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo. Nenhum desses filmes é unicamente sobre os respectivos temas, claro, e é com seu novo trabalho que Miller mira mais alto do que nunca.

Roteirizada por E. Max Frye e Dan Futterman, trama é inspirada em eventos reais ocorridos na década de 80. O lutador Mark Schultz (Channing Tatum) treina duro para ser o melhor do mundo, mas não consegue sair da sombra de seu irmão Dave (Mark Ruffalo), não só melhor lutador, como também um chefe de família atencioso. A situação se transforma quando Mark é convocado pelo milionário John du Pont (Steve Carell) para liderar seu time, Foxcatcher, e ser campeão mundial na modalidade.

Ao contrário do que o subtítulo nacional sensacionalista possa sugerir, Foxcatcher é um filme quieto e que leva o tempo que julga necessário para engatar suas ações. O silêncio já virou quase que uma marca registrada de Miller, que opta por uma presença pontual de trilha sonora (mas quando surge, Mychael Danna e Rob Simonsen oferecem o tom sombrio apropriado) e muito destaque para ruídos e as próprias vozes de seu elenco. O primeiro ato do filme realmente demora a engatar, e de nem de longe é a tensão constante vendida pela campanha de marketing do longa, mas o silêncio é um fator decisivo para as performances principais.

Steve Carell, por exemplo, depende muito de pequenos suspiros e nuances em sua controlada performance como o complexo du Pont. Se eu temia que o ator fosse aparecer cartunesco aqui, fiquei tranquilo ao vê-lo adotando um tom de voz baixo e jamais pendendo para o overacting – ajuda também a decisão de Miller de jamais explorar a figura do sujeito (o nariz, ou a silhueta que este poderia projetar), sempre tratando-o como mais um personagem, como fica evidente logo em sua discreta primeira aparição; algo que um diretor mais escandaloso seria incapaz de alcançar.

Carell está bem e o papel realmente é um novo estágio de sua carreira, mas é realmente Channing Tatum quem rouba o show. O ator prova aqui todo o seu potencial dramático e, como Carell, se sai bem ao apostar na sutileza. Quase sempre com a cabeça baixa e uma expressão séria que sempre coloca Mark como um sujeito infeliz e até mesmo fracassado (mas ambicioso), o ator protagoniza intensos momentos físicos e psicológicos, impressionando também com sua química curiosa com Mark Ruffalo. Este, aliás, também está excelente como aquela que é a figura mais pura da projeção, convencendo quando aparece para auxiliar seu irmão. Uma cena em especial nos ilustra com perfeição a diferença entre os dois, quando Dave explica a técnica para um determinado golpe para a equipe, enquanto Mark surge no canto oposto malhando suas pernas, como se acreditasse que a capacidade física é o único fator relevante na modalidade.

Mas como falei lá atrás, o filme carrega muito mais do que uma mera história esportiva. Em Foxcatcher, encontramos temas que vão desde a manipulação da câmera até, principalmente, a fragilidade da filosofia americana do self made man. A cena final do filme é crucial para que a mensagem atinja em cheio, especialmente com os gritos eufóricos de “USA”, completamente irônicos no momento em questão.

A câmera também chama muito a atenção, especialmente na forma como ela se reflete nos personagens principais: Dave não assiste ao vídeo trazido por seu irmão (por estar ocupado com a família) e não sabe como se comportar durante a realização de um documentário idealista sobre du Pont; Mark é completamente hipnotizado e convencido da superioridade de du Pont ao assistir, colado na frente da televisão, um vídeo sobre a dinastia da família. E, finalmente, du Pont realiza sua decisão fatal após assistir ao dito documentário sobre sua figura, quase como se motivado por este.

Sutil e inquietante Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo impressiona por seu elenco poderoso e a execução cuidadosa adotada por Bennett Miller, que certamente vai afastar boa parcela do público. E novamente fica a prova de que se é possível abordar temas complexos a partir de uma premissa aparentemente fechada.

Mais um ponto para Miller.

Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher, EUA - 2014)

Direção: Bennett Miller
Roteiro: E. Max Frye e Dan Futterman
Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo, Sienna Miller, Vanessa Redgrave, Anthony Michael Hall
Gênero: Drama
Duração: 134 min


by Lucas Nascimento

Crítica | Cinquenta Tons de Cinza - Quem apanha é o bom gosto

Quando a adaptação do romance erótico Cinquenta Tons de Cinza foi confirmada pela Universal, não consegui me conformar de que uma literatura barata e de qualidade duvidosa realmente ganharia as telas. Quando os primeiros trailers foram lançados, fiquei genuinamente empolgado com o filme de Sam Taylor-Johnson: parecia estiloso, elegante e até sexy, mesmo considerando-se o material original. Bem, fica a lição: dá pra se vender qualquer porcaria com um bom trailer.

A trama segue de perto a obra de EL James, começando quando a jovem estudante de Literatura Inglesa Anastasia Steele (Dakota Johnson) é incubida de entrevistar o bilionário Christian Grey (Jamie Dornan) para seu jornal da faculdade. Não demora para que os dois comecem a se envolver, mas Anastasia precisará lidar com os “gostos peculiares” de Grey, que revela-se um dominador fascinado por sadomasoquismo e bondage.

Juro que não consigo ler a sinopse deste filme sem soltar uma risadinha. Não é segredo nenhum que EL James escreveu sua trilogia (isso aí, preparem-se que ainda teremos mais dois) inspirada no casal protagonista de Crepúsculo, uma referência que eu não classificaria exatamente como exemplar. Anastasia é tão frágil, sem sal e dependente de homens como é Bella Swan, e Grey é misterioso, enigmático e controlador como o vampiro Edward Cullen, e até alguns pontos da trama são assustadoramente similares: caminhadas num bosque, voos para impressionar a menina e uma cidade predominantemente nublada e cinzenta. O roteiro de Kelly Marcel nem disfarça, e ainda traz diálogos pavorosos do tipo “Eu tenho um GPS, e um QI alto” (risos) ou “Eu não faço amor. Eu fodo. Forte” (Risos histéricos) e subtramas que propositalmente vão sendo deixadas sem resolução para que as continuações as explorem.

Nem o casal principal salva, já que não demonstram uma química aceitável para um longa do gênero. Li boatos de que Dornan e Johnson não se suportavam no set, e pelo visto a dupla nem se preocupou em esconder isso aqui. O Grey de Dornan é um estereótipo de “Deus grego moderno” que nunca sorri e beira a psicopatia, quase como o Patrick Bateman de Christian Bale em Psicopata Americano - mas sem nunca ter aquele tipo de profundidade ou diversão. Johnson é bonita e consegue bons momentos aqui e ali, sendo corajosa em protagonizar cenas de sexo ousadas para o padrão hollywoodiano – mas nem de longe polêmicas quanto o boca-a-boca sugeriu.

O único aspecto louvável do filme certamente é o visual. A diretora Sam Taylor-Johnson (de O Garoto de Liverpool) revela-se uma autora elegante em seus enquadramentos e nas escolhas de luz e tons com o veterano diretor de fotografia Seamus McGarvey, usando bem do clima nublado de Seattle e os momentos quase surreais em que o cenário adota uma forte coloração vermelha (como a “reunião de negócios” entre Anastasia e Grey. E Johnson até consegue criar um bom ritmo com a ajuda de algumas canções pop (o açoitamento com “Crazy in Love” versão orgasmo de Beyoncé e a abertura com “I Put a Spell on You” são particularmente inspiradas), mas o material realmente não a ajuda…

Cinquenta Tons de Cinza é exatamente o que se poderia esperar de uma obra que assumidamente se inspira na Saga Crepúsculo: brega, estereotipado, machista e protagonizado por um casal sem graça, ainda que seja visualmente estimulante.

Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey, EUA - 2015)

Direção: Sam Taylor-Johnson
Roteiro: Kelly Marcel, baseado na obra de EL James
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Jennfer Ehle, Eloise Mumford, Victor Rasuk, Luke Grimes, Rita Ora, Max Martini, Marcia Gay Harden
Gênero: Romance
Duração: 125 min

https://www.youtube.com/watch?v=DEwIt4amgq4


by Lucas Nascimento

Crítica | Jogos Vorazes - Uma franquia teen pensante

Basta uma franquia literária bem-sucedida vender seus direitos para uma adaptação cinematográfica que instantaneamente começam as comparações com Harry Potter e, agora, A Saga Crepúsculo. Hollywood anseia por uma nova franquia que encha os cofres de produtoras com dinheiro, e a sorte parece estar a favor deste Jogos Vorazes, um filme inteligente que traz diversas questões sociais e políticas em suas entrelinhas.

A trama é um remanescente típico de George Orwell e seu 1984 (“Big Brother”, lembra dele?), o livro Battle Royale ou até mesmo o Metrópolis de Fritz Lang, onde conhecemos uma sociedade distópica onde o governo tem controle sobre seus cidadãos. No caso do universo criado por Suzanne Collins, temos Panem, um país formado por 12 distritos que sedia anualmente uma competição de sobrevivência onde 24 indivíduos são selecionados para lutar até a morte. Eis que a jovem Katniss (Jennifer Lawrence) é voluntária para os jogos vorazes, e o espectador acompanha sua jornada.

Primeiramente, é alentador ver que uma obra bem formulada – e repleta de alegorias – tenha conseguido encontrar caminho nas mentes adolescentes (isso considerando o que algo frívolo como A Saga Crepúsculo arrecadou nos últimos anos). A trama de Collins deve crédito a trabalhos anteriores, mas ainda assim cria algo novo e moderno e encontra espaço para uma série de críticas sociais (o bizarro design de figurino de Judianna Makovsky traça uma caricatura genial em torno da moda “colorida” que abrange parte de nossa atual sociedade) e no que diz respeito ao controle da mídia (não seriam os deploráveis reality shows de certas redes televisivas nacionais os “jogos vorazes” de nosso tempo? E se ninguém os assistisse mais, como sugere Katniss?).

Não li o livro original, mas o diretor Gary Ross consegue manter essas questões no ar ao longo de toda a projeção (de duração considerável, aliás) sempre com uma câmera incessante e na mão. Seu estilo traz mais urgência ao contexto da história e, mesmo que Stephen Mirrione e  Juliette Welfling exagerem na montagem abarrotada de cortes rápidos, torna a experiência um tanto mais “adulta” se levarmos em conta a exibição técnica da maioria dos filmes voltados para o público jovem. Tome como exemplo a tensa (e brilhante) sequência quando os jogos enfim começam, que impressiona por sua violência e captura o desespero do momento. Ross co-assina o roteiro com Billy Ray e a própria autora, rendendo bons diálogos e até uma muito bem-vinda fuga de clichês, especialmente no desenvolvimento da trama amorosa – que surge real e eficiente.

Merece créditos também a ótima Jennifer Lawrence, que segura o filme com seu carismático retrato da jovem Katniss. Armada com um arco-e-flecha, a garota é forte e durona; ainda que imperfeita e insegura, e certamente uma das heroínas mais memoráveis a surgir no cinema recente. O elenco de apoio é igualmente eficiente, especialmente pelas participações de luxo de Woody Harrelson e Stanley Tucci (divertidíssimo) e pelo competente Josh Hutcherson, que faz de Peeta um jovem frágil e fácil de se admirar. Interessante como os estereótipos de herói durão e mocinha em perigos são completamente ignorados aqui.

Jogos Vorazes tem tudo para ser o novo Harry Potter. Pensando bem, pode ser muito mais do que a ótima franquia de J.K. Rowling, já que apresenta personagens marcantes e temas adultos que podem gerar discussões intrigantes sobre a sociedade em que vivemos. Quem diria que um blockbuster adolescente teria essa capacidade?

Jogos Vorazes (The Hunger Games, EUA - 2012)

Direção: Gary Ross
Roteiro: Gary Ross, Billy Ray e Suzanne Collins, baseado na obra da última
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Liam Hemsworth, Wes Bentley, Stanley Tucci, Toby Jones, Lenny Kravitz, Amandla Stenberg
Gênero: Ação
Duração: 142 min

https://www.youtube.com/watch?v=mfmrPu43DF8


by Lucas Nascimento

Crítica | Jogos Vorazes: Em Chamas - O melhor da série

Ano passado, fiquei absolutamente surpreso com a qualidade de Jogos Vorazes, adaptação da obra distópica de Suzanne Collins. Lembro-me de ter apontado que uma de suas únicas falhas encontrava-se na conclusão da trama: em minha opinião teria sido perfeita a morte de seus protagonistas como desafio ao espetáculo midiático, invalidando a ideia de uma continuação. No entanto, novamente fui absolutamente surpreendido pela forma com que Collins e os realizadores conseguiram desenvolver a história com Jogos Vorazes: Em Chamas, aquela rara sequência tão boa quanto o original.

A trama se inicia um ano após os eventos do filme anterior, com a aproximação da 75ª edição dos Jogos Vorazes, que é celebrada através do chamado Massacre Quaternário – uma versão que envolve apenas os vencedores das edições passadas. Nesse cenário, encontramos Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) sofrendo violenta pressão do presidente Snow (Donald Sutherland), quando sua imagem começa a inspirar rebeliões e tumultos por toda a Capital. Além disso, ela encontra-se dividida entre suas relações forjadas com seu colega Peeta (Josh Hutcherson) e o amigo Gale (Liam Hemsworth).

“Ah não, triângulo amoroso na grande adaptação literária infato-juvenil, aí vem Crepúsculo novamente, salvem-se!” Não.

Felizmente, o roteiro de Simon Beaufoy e Michael Arndt (uma dupla de peso) toma a decisão de se concentrar nas intrigas políticas e em seu simples (mas efetivo) comentário social, deixando o triângulo amoroso entre os protagonistas no segundo plano. Não que a linha narrativa passe má desenvolvida (de certa forma, sim, já que o personagem de Hemsworth praticamente desaparece após o início dos Jogos), surge nos momentos apropriados com o tempo apropriado, resultando em uma relação estranha – algo benéfico para a trama, tornando irrelevante a necessidade de Katniss expressar sua confusão: o próprio espectador é capaz de perceber isso.

O grande mérito, no entanto, do texto da dupla oscarizada reside no eficiente tratamento fornecido às relações dos competidores, que aqui devem formar alianças durante o evento; mesmo que inevitavelmente tenham que matar uns aos outros no final. Por tal motivo, faz toda a diferença do mundo quando Haymitch (Woody Harrelson, sempre divertido) declara sua esperança de que uma das competidoras não sofra muito, pois “ela é uma mulher maravilhosa”. Afinal, são seres humanos.

Substituindo Gary Ross, o diretor Francis Lawrence (que será responsável pelos próximos dois filmes da saga) altera radicalmente a linguagem da franquia ao oferecer uma direção segura e firme. Literalmente, já que Lawrence descarta os excessos de câmera na mão de seu antecessor e opta por planos fixos e que valorizem o – agora grandioso – design de produção e as atuações de seu ótimo elenco, que conta aqui com valisosas adições.

Liderado pela talentosa Jennifer Lawrence, que continua comprovando seu carisma na trabalhada composição de Katniss (forte e até carrancuda normalmente, mas explosivamente desesperada em momentos dramáticos), Em Chamas se beneficia de interessantíssimos e multifacetados novos personagens: desde o carismático Finnick Odair de Sam Claffin, passando pela ousada Johanna de Jena Malone até o complexo Plutarch Heavensbee (da onde Collins tira esses nomes?) de Phillip Seymour Hoffman. Também fiquei surpreso em reencontrar Amanda Plummer, a Honeybunny de Pulp Fiction, em um papel relativamente grande.

Superior ao primeiro filme em praticamente todos os aspectos, Jogos Vorazes: Em Chamas é uma sequência que desenvolve de forma inteligente os conceitos do original. Peca ao oferecer uma conclusão abrupta, em um enorme gancho que promete deixar a resolução para os próximos capítulos. Mas ao contrário de minha reação em 2012, agora estou genuinamente interessado em mais material desse fascinante universo.

Obs: Assim como o trabalho de Christopher Nolan na trilogia do Cavaleiro das Trevas, Francis Lawrence rodou E converteu diversas cenas do filme para IMAX. Se possível, assista no formato.

Jogos Vorazes: Em Chamas (The Hunger Games: Catching Fire, EUA - 2013)

Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Simon Beaufoy e Michael Arndt, baseado na obra de Suzanne Collins
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Philip Seymour Hoffman, Jena Malone, Sam Claffin, Amanda Plummer, Jeffrey Wright, Lenny Kravitz, Stanley Tucci, Willow Shields
Gênero: Aventura
Duração: 146 min

https://www.youtube.com/watch?v=MkvUNfySGQU


by Lucas Nascimento

Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 - O bom filler

Quando anunciaram que o último livro da trilogia Jogos Vorazes renderia uma dupla adaptação para os cinemas (como é de praxe agora em toda grande franquia hollywodiana), temia que o longa sofresse com os mesmos deméritos de produções do tipo: falta de história, estrutura incompleta e “enchimento de linguiça” (ver Amanhecer e O Hobbit). Aparecem esses problemas em Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1? Sim. Mas o filme de Francis Lawrence é tão eficiente e poderoso em sua temática, que acaba utilizando tais erros a seu favor. Explico.

A trama começa imediatamente após Em Chamas, com Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) agora refugiada em uma instação secreta do Distrito 13, liderado pela Presidente Coin (Julianne Moore), revolucionária que planeja com Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman, em um de seus últimos trabalhos) a queda do governo autoritário do Presidente Snow (Donald Sutherland). Com o amado Peeta Mellark (Josh Hutcherson) capturado e sendo usado como arma midiática da Capital, o grupo rebelde planeja a grande rebelião.

Não acontece muita coisa em A Esperança – Parte 1. Certamente uma consequência da divisão do livro de Suzanne Collins (não li, mas muitos amigos me afirmaram que tal divisão era desnecessária), mas é curioso como essa decisão puramente mercadológica acabou contribuindo artisticamente para o longa. O roteiro de Peter Craig (Atração Perigosa) e Danny Strong (O Mordomo da Casa Branca) se concentra bastante nos personagens, mergulhando fundo em seus pensamentos e a situação em que se encontram, servindo mais como um thriller psicológico do que um blockbuster infanto-juvenil. Assim como nos anteriores, as questões políticas são o ponto alto, e neste terceiro filme, são ainda mais interessantes por lidarem com a propaganda e a criação de um ícone mobilizante das massas, na forma do Tordo de Katniss.

Aliás, é fascinante observar as sutilezas nessa situação, já que Katniss é de certa forma usada pelos rebeldes da mesma forma como é Peeta pela Capital: quando a jovem contempla o horror de uma destruição provocada pelos inimigos, a personagem de Natalie Dormer rapidamente ordena para que filmem sua reação, a fim de obter uma propaganda convincente e que gere seguidores. Independente de seus ideais, a Capital e o Distrito 13 jogam o mesmo jogo, e a franquia Jogos Vorazes revela-se bastante adulta ao retratar a maioria de suas “batalhas” por televisores, ao invés de grandes cenas de ação.

Não que o filme não forneça sua devida dose de espetáculo. O diretor Francis Lawrence se revela ainda mais à vontade aqui, controlando com segurança cenas de tiroteios e perseguições que jamais surgem inchadas ou longas demais. Aliás, Lawrence quebra completamente as expectativas de uma estrutura de roteiro genérica e previsível, trazendo um clímax excepcional que aposta em uma fotografia escuríssima de Jo Willems – evocando o trabalho de Greig Fraser em A Hora Mais Escura,em uma sequência que carinhosamente apelido de “Zero Dark Peeta” – para uma cena que acaba nos ocultando da ação, preferindo concentrar-se na ansiedade da protagonista.

E quando a trama caminhava perigosamente em direção a uma conclusão clichê e que já ia arrancando suspiros apaixonados das fãs, A Esperança literalmente nos agarra pelo pescoço e nos arremessa no chão para uma reviravolta impressionante.

Contando também com uma sequência musical inebriante, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 é um longa eficiente e que mantém a qualidade que a saga vinha trazendo até então, apostando cada vez em temas adultos e políticos. Mesmo que a divisão da história afete sua estrutura e linha de acontecimentos, surpreende pela maneira inteligente que usa para escapar dos clichês.

Obs: Após os créditos há um breve aperitivo para o próximo filme. Não é muita coisa, mas certamente o suficiente para deixar os fãs radicais loucos.

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1, EUA - 2014)

Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Peter Craig e Danny Strong, baseado na obra de Suzanne Collins}
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Julianne Moore, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Natalie Dormer, Mahershala Ali, Philip Seymour Hoffman, Jena Malone, Sam Claffin, Amanda Plummer, Jeffrey Wright, Stanley Tucci, Willow Shields
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 123 min

https://www.youtube.com/watch?v=C_Tsj_wTJkQ


by Lucas Nascimento

Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança - O Final - Uma conclusão morna

Desde sua inesperada e bem sucedida estreia em 2012, a franquia Jogos Vorazes se firmou como uma das mais interessantes e inteligentes da atualidade, especialmente se considerando seu público-alvo: adolescentes. Enquanto Crepúsculo fazia rios de dinheiro com uma história péssima e sem nenhuma moral, a saga de Katniss Everdeen se beneficiava de um cenário distópico elaborativo, figuras criativas e uma discussão política relevante. Agora, Jogos Vorazes: A Esperança – O Final chega para encerrar de maneira morna uma franquia que, literalmente, começou pegando fogo.

A trama inicia-se imediatamente após o final do anterior, com Katniss (Jennifer Lawrence) se recuperando do inesperado ataque de Peeta Mellark (Josh Hutcherson), que encontra-se com a mente bagunçada pela Capital. Enquanto isso, a Presidente Coin (Julianne Moore) continua reunindo Distritos para enfim atacar Snow (Donald Sutherland) e libertar Panem de sua ditadura cruel, precisando enviar Katniss e um esquadrão de elite para enfrentar um campo minado de armadilhas para chegar a seu objetivo.

Primeiramente, é importante ressaltar – mais uma vez – como a decisão de dividir livros em dois filmes vêm se provando danosa. A primeira parte de A Esperança já sofria pela ausência de eventos e o ritmo lento, e sua continuação agora curiosamente traz os mesmos deméritos. A trama direta abre espaço para mais cenas de ação, e Francis Lawrence merece aplausos por uma arrepiante sequência que envolve os protagonistas enfrentando nebulosas criaturas em um túnel subterrânea, mas o roteiro de Peter Craig e Danny Strong não oferece muito além. Nem mesmo os diálogos espertos que transformaram Em Chamas em uma experiência vibrante estão aqui, com apenas algumas metáforas e situações de choque (a reviravolta envolvendo Coin, principalmente).

Como todo capítulo final que se preze, algumas mortes são esperadas. Infelizmente, nenhuma delas aqui provoca o impacto desejado (a menos que você seja um fã da franquia), já que os personagens envolvidos são pouquíssimo aproveitados no filme – tendo mais destaque na Parte 1. Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Stanley Tucci, Jeffrey Wright e Gwendoline Cristie (reduzida a uns 40 segundos de participação) são todos mal aproveitados, e a repentina morte de Philip Seymour Hoffman infelizmente mostra-se danosa à produção: seu Plutarch Heavensbee é um jogador muito importante durante a trama, e é simplesmente apagado da história após certo ponto.

Jennifer Lawrence continua segurando o show, ainda que pese a mão nos momentos mais dramáticos (leia-se, caretas exageradas), sendo sempre fascinante ver uma mulher forte com um arco-e-flecha em meio a um grupo de marmanjos com metralhadoras e armas de fogo. A subtrama com o triângulo amoroso entre Peeta e Gale (Liam Hemsworth) atrapalha, rendendo momentos que remetem diretamente à Saga Crepúsculo.

Nunca um bom sinal.

É uma produção eficiente do ponto de vista técnico. O design de produção agora explora com mais detalhes o vasto mundo de Panem, e as áreas mais ricas, como a luxuosa estação de trem e a propriedade de Snow, onde uma colorida estufa verde é palco de um dos mais interessantes confrontos. O figurino deixa de lado as vestimentas mais extravagante (já que os personagens usam trajes de infiltração preto durante a maior parte do longa), mas uma bizarra personagem certamente vale por todo o que já vimos nesse quesito na franquia até agora. Já os efeitos visuais são um tanto artificiais, especialmente durante planos abertos em que temos um cenário nitidamente digital ou a composição das criaturas que atacam os heróis no túnel. Há também uma breve recriação do rosto de Hoffman, e não deverá ser difícil de perceber.

Jogos Vorazes: A Esperança – O Final não é a conclusão que uma saga que começou tão bem merecia, limitando-se a uma estrutura lenta e sem muita ousadia. Tem bons momentos, mas pelo menos para mim, a saga de Katniss Everdeen vai ficar mais memorável por suas ideias do que execução.

O 3D convertido é absolutamente descartável.

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 2 (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1, EUA - 2015)

Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Peter Craig e Danny Strong, baseado na obra de Suzanne Collins}
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Julianne Moore, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Natalie Dormer, Mahershala Ali, Philip Seymour Hoffman, Jena Malone, Sam Claffin, Amanda Plummer, Jeffrey Wright, Stanley Tucci, Willow Shields, Gwendoline Christie
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 137 min

https://www.youtube.com/watch?v=n-7K_OjsDCQ&t=


by Lucas Nascimento

Crítica | Enrolados

Em 1937, a Disney lançou “Branca de Neve e os Sete Anões” inspirado no conto dos irmãos Grimm. Este foi o primeiro filme animado norte-americano, totalmente colorido, sonoro e falado – um marco histórico para a época. Isso causou o boom criativo na Disney que massacrava qualquer outra empresa concorrente. Com isso surgiram inúmeras animações que conquistaram o público do mundo todo graças à grande qualidade técnica, as histórias simples e, claro, as infinitas canções. Em 2011, a Disney exibe orgulhosamente seu 50º filme animado.

Agora a princesa da vez é Rapunzel que, logo recém-nascida, foi raptada pela malvada Mother Gothel por causa dos poderes mágicos de seus cabelos – estes com capacidade de rejuvenescer a velha vaidosa. Para impedir que todos chegassem até Rapunzel, Gothel trancafiou-a em uma alta torre, privando os poderes mágicos dos cabelos da garota só para si. Após 18 anos presa na torre, Rapunzel recebe a visita de um convidado incomum – o ladrão mais esperto do reino, Flynn Rider. Este firma um trato com a princesa que sempre sonhou: descobrir de onde vem as luzes flutuantes que sempre acontecem na noite de seu aniversário em troca da coroa que ele havia roubado, agora escondida na torre. Esta aventura transformará o mundo de Rapunzel de cabeça para baixo e sua “mãe” não gostou nem um pouco e está determinada a sequestra-la novamente.

Nem um pouco enrolado

O roteiro ousado de Dan Fogelman adapta de forma muito interessante o conto pesado dos Irmãos Grimm. O maior mérito de seu trabalho foram os personagens, um mais original que o outro. Rapunzel é a ovelha negra das princesas da Disney: ela é estabanada, é carismática, tem conflitos, não é elegante, não tem postura, tem um réptil como animal de estimação e certamente não é tonta como Aurora de “A Bela Adormecida” ou indefesa como Branca de Neve. Muitas vezes, ela salva o “príncipe” da morte certa com manobras de seu cabelo que dariam inveja ao chicote de Indiana Jones.

Já o príncipe da história deixa de ser super afeminado como vários outros anteriores e vira o ladrão malandro Flynn Rider. E a vilã do momento, Mother Gothel é uma mulher de coração mais frio e cruel que o da Madastra de Cinderela. O mais interessante desta personagem é sua relação mórbida de amor e terror psicológico com Rapunzel e, quando esta a pergunta o que existe no mundo de fora, ela sempre responde com hipocrisia e se faz de coitada. Porém, nem de longe Gothel chega perto da maldade da vilã de “A Bela Adormecida”, Malévola – a personificação da maldade feminina, essa mulher é tão ruim que até sua pele é verde.

A história é bem arquitetada e explica o porquê dos cabelos de Rapunzel nunca poderem ser cortados ao contrário do conto dos Grimm, onde ela tem aquela cabeleira sem motivo aparente a não ser servir de elevador para a bruxa. O roteiro não esquece o conto e homenageia com a clássica frase “Rapunzel! Jogue seus cabelos!”, adaptada do original “Jogue suas tranças!”. Ele também possui passagens que lembram até demais outros filmes da Disney, como a cena que se passa no barco quase igual a da “Pequena Sereia”.

Nem tudo, entrentando, é um mar de rosas, o roteiro pode ser bom demais, mas mesmo assim não escapa da vilania de alguns críticos. Uma de suas falhas é a falta do desenvolvimento do cavalo com espírito de cachorro Maximus, sempre emburrado e caçando Flynn, muito diferente de Pascal, o camaleão boa praça que diverte o público a todo instante. Fora isso o desfecho de cada ato é bem previsível.

Os opostos não se atraem

Tive a oportunidade de assistir a versão com a dublagem original e a dublada do Brasil. Antes as dublagens brasileiras dos filmes da Disney eram simplesmente incríveis, agora parece que o encanto acabou. A diferença das duas versões são gritantes, afinal comparar Luciano Huck com Zachary Levi (famoso pelo seriado “Chuck”) é “loucura, loucura” como diria o caldeiroso.

Em algumas partes da versão brasileira, Luciano parecia que estava lendo uma pauta do quadro “Lar Doce Lar” de seu programa e além do mais, sua voz esganiçada e nasal não combina com a cara de Rider. Já Sylvia Salustti e Mandy Moore não diferem tanto, a voz das duas é igualmente agradável fora que Moore também não é tão boa atriz assim e Salustti já trabalhou bastante com dublagens. Gottsha faz a voz de Gothel na versão brasileira e tem uma mania irritante de terminar as frases cantarolando, coisa que Donna Murphy faz raramente. Aliás, quem realmente rouba a cena é Murphy, sua voz afinada deu as músicas no original outra cara, fora a dublagem magnífica. Ron Perlman também empresta sua voz cavernosa aos Irmãos Sttabington na versão original.

A nova aposta da Disney

A computação gráfica ou CG está ganhando força na empresa do Mickey. Antes a Disney tinha um comportamento relutante a respeito de filme em CG e deixava o trabalho nas mãos dos estúdios da Pixar, mas parece que agora tudo mudou e a maior prova disto é este filme. A animação inteiramente feita por computadores não poderia sair melhor: os níveis de detalhamento do longa são incríveis e fazem jus ao seu orçamento milionário.

O maior destaque ficar por conta do cabelo louro de Rapunze – repare que ele fica mais ralo enquanto ela o fica penteando e torna-se mais espesso enquanto parado ou molhado –, tudo feito com um cuidado incrível, fora a movimentação dele enquanto a princesa anda, pula ou o joga para o alto. É interessante citar que não foi somente o cabelo dela que é bem cuidado, o de Rider e Gothel também são muito bem animados e reagem a vento e aos gestos a todo instante. Fora a cabeleira dos personagens, as sobrancelhas, cílios e barbas – quando aparecem são detalhadas de pêlo a pêlo.

A física da água também é apresentada de maneira esmagadora, se a de “Megamente” era soberba, essa é simplesmente dez vezes melhor. Na cena em que a represa desaba, toda aquela quantidade de água reage com os elementos do cenário, transformando-se em espetáculo para os olhos. Falando em olhos, esses são um dos melhores que já vi, com direito até a contração de pupilas e de ficarem vermelhos quando os personagens choram.

Pegando as paletas

Outra vez a direção de arte da Disney dá o brilho de sua existência. Todos os cenários do filme têm um design inspirado assim como os personagens. Em cada cenário predomina uma cor. No início do filme, assim que Rapunzel sai da torre, tudo fica verde vivo; nas suas crises de existência, as cores ficam num tom verde musgo para contrastar a infelicidade da garota; já no covil dos bandidos predomina um tom avermelhado. Logo depois tudo torna-se bege claro misturado com o azul vivo da água.

Destaque para as entradas e saídas dramáticas de Gothel, com direito a nevoeiros e escuridão e as sempre ótimas cenas coreografadas. A cena mais bonita do filme é a do barco onde a criatividade dos artistas surpreendem até o espectador mais exigente: as lanternas e seus reflexos na água misturadas com o efeito 3D e uma fotografia inteligente resultam na melhor utilização da “nova” tecnologia até agora.

A caminho do 9º Oscar

Que Alan Menken é um gênio não é novidade. Afinal o cara compôs trilhas clássicas como as de “A Bela e a Fera”, “A Pequena Sereia”, “Aladdin” e vários outros. Durante o filme existe uma música de fundo que é incessante, ou seja, o tempo todo o filme tem alguma música. Para não perder o costume, suas músicas possuem todas alegorias possíveis: cheias de sininhos ou ritmos animados de piano dignas de Broadway.

Mas o melhor fica por conta das canções, todas são boas e tiveram uma adaptação interessante para o português, mas novamente a versão original é melhor que a dublada. As melhores músicas são “Mother Knows Best” e sua reprise, “I See The Light” e “Kingdom Dance” – esta última têm um toque irlandês muito legal.

Os efeitos sonoros também são competentes, sendo o melhor deles os barulhos que o cabelo de Rapunzel faz enquanto esfregam no chão ou se enroscam em alguma coisa.

Duas cabeças pensam melhor do que uma

O diferencial dos filmes da Disney era a dupla direção – dois diretores  trabalhavam juntos, o que resultava em uma explosão de criatividade se ambos entrassem em um consenso. Fora a participação, neste caso, do produtor executivo John Lasseter proprietário do toque de Midas (tudo em que ele está envolvido transforma-se em obra de arte). Para ter uma idéia de sua competência, foi ele que desafogou a Disney durante sua época nem um pouco criativa: “Tarzan 2”, “Pocahontas 2” e vários outros filmes “2”.

Desta vez a direção ficou por conta de Nathan Greno e Byron Howard, cada um com seus méritos e toques especiais. Por exemplo, desconstruir a princesa modelo da Disney, humanizar os bandidos com seus respectivos sonhos, as crises de culpa de Rapunzel, etc.

Os dois fizeram um trabalho exímio deixando o filme com uma narrativa simples de fácil entendimento para as crianças e tirando o tabu de “filmes para meninas” com as inúmeras sequencias de ação que agradam todos meninos também.


by Matheus Fragata

Crítica | Os Pinguins do Papai

Há tempos que Hollywood usa animais em filmes “família” de comédia para encantar os espectadores apostando na fofura e no carisma dos bichinhos. Espetacularmente, o truque simples provou uma eficiência jamais vista alavancando os lucros medianos dos filmes de comédia. Este movimento de “animalização” dos elencos estelares foi muito expressivo nos anos 90, mas existia desde os anos 50 com o seriado jumbo “Lassie”. Eu vivenciei esse evento e a Sessão da Tarde encontrou uma nova mina de ouro. “Free Willy”, “Um Ratinho Encrenqueiro”, “Dr. Dolittle”, “Babe”, “Ace Ventura”, “Stuart Little”, “Jumanji” e o arrasa quarteirão “Beethoven” e suas infinitas sequencias são os melhores exemplos dos filmes que participaram deste movimento. Fracasso nas críticas, sucesso nas bilheterias. Nunca os opostos estiveram tão atraídos como naquela época. Contudo, o tempo falou mais alto e esse subgênero trilhou para a extinção. Outros filmes surgiram nos anos 2000 como “Scooby-Doo” e “Garfield”, mas o resultado não era o mesmo. E agora, em outra década, o tema ressurge com o amigável “Os Pinguins do Papai”.

Mr. Popper é um empreendedor da agitada cidade de Nova Iorque. Divorciado e sem tempo para os filhos, Popper dedica tudo de si para garantir o almejado sucesso na profissão. Os donos da companhia em que trabalha lançam um desafio para promovê-lo a sócio. Popper terá que convencer Mrs. Van Gundy a vender o único estabelecimento privado anexado ao Central Park. Extasiado, Popper aceita a fim de provar sua competência profissional exemplar. Porém, não contava com a inusitada herança que seu pai havia deixado. Chegando a seu apartamento, recebe seu presente com absoluta perplexidade – seis pinguins vivos. O que ele não espera é que essas elegantes aves deixem sua vida de cabeça para baixo mudando radicalmente sua rotina.

Saindo da geladeira

O roteiro de Sean Anders, John Morris e Jared Stern é baseado no livro homônimo de 1938 escrito por Richard e Florence Atwater. O espectador que espera uma retratação fiel do livro sairá desapontado. Os roteiristas praticamente esqueceram a obra original para encaixar a história ao séc. XXI. Com isso, conseguem entregar uma história relativamente interessante que prende a atenção do espectador.

A história certamente é inspirada nos filmes de Frank Capra, principalmente por “A Felicidade não se Compra”. Com tantas comédias inspiradas pelas obras do cineasta, o filme cai logo em clichês nos primeiros minutos (isso, claro, não aconteceu com os filmes do Capra). A mensagem que o roteiro transmite é a mesma de vários outros filmes: dê valor aos momentos realmente importantes da vida. Os conflitos também são clichês — o homem que não se relaciona com a família por causa do excesso de trabalho, a adolescente devota ao amor platônico não correspondido e a mulher que se arrisca em um relacionamento incerto.

O roteiro também peca pela previsibilidade do arco narrativo. Em filmes como este é óbvio que tudo vai acabar muito bem para os protagonistas, afinal ninguém quer traumatizar as crianças com histórias extremamente depressivas sobre pinguins. Também prevalece o antigo padrão de reviravoltas herdados do gênero. A criatividade somente aparece com alguns personagens e com os pinguins.

A assistente de Mr. Popper, Pippi, garante algumas piadas inteligentes graças à aliteração em P de suas falas. O porteiro do prédio em que o protagonista mora também garante boas risadas. Às vezes, os roteiristas arriscam algumas piadas carregadas de ironia, porém são raras na escrita. Eles proporcionam piadas para todos os gostos. Existem as piadas pastelões, sutis, escatológicas e as inteligentes. Cada um dos seis pinguins garante um estilo humorístico diferente. Capitã, Fedô, Lesado, Dengo, Bicão e Matraca são os pinguins de Mr. Popper.

Obviamente, as piadas escatológicas começam a cansar depois de certo tempo assim como as pastelões. Felizmente, o roteiro consegue cumprir dois conflitos interessantes. O único pinguim que possui um conflito é Capitã. Pelo menos, este se revela ser o único original e melhor arquitetado do filme inteiro. Já Mr. Popper tem uma narrativa secundária paralela. Mesmo que caia no clichê, o conflito parental entre o protagonista e seu pai desperta a curiosidade do espectador.

Apesar de ser clichê, previsível e obsoleto, o roteiro cumpre sua função. Existem poucas falhas e alguns empecilhos desnecessários na narrativa, mas isto não tira a diversão do filme. Os roteiristas apostam no carisma dos pinguins e acertamem cheio. Elesdivertem a plateia a todo instante tornando a sessão rápida, fácil e divertida para os pequenos e também para os adultos. Eles até fazem uma analogia inevitável entre os pinguins e Charles Chaplin e uma inteligente relação entre eles com os filmes do ator.

Jim Carrey e os seis pinguins

É incrível notar como Jim Carrey melhorou em seu desempenho nos papéis, ultimamente. O ator evolui com seus filmes, apesar de ter regredido depois de “O Show de Truman” em “Eu, Eu Mesmo e Irene” e “O Grinch”. Depois de uma atuação imperdível em “I Love You, Phillip Morris”, Carrey retorna às telonas com um desempenho que segura o filme inteiro.

Sua atuação está mais contida e muito menos exagerada. As caretas típicas do ator raramente aparecem. Sua expressão facial está mais bem trabalhada e natural removendo aquela artificialidade cômica dos excessos do ator. A experiência com dramas faz com que Carrey consiga construir expressões de tristeza exemplares. Isso também é reforçado pela idade do ator. A velhice caiu muito bem para Jim Carrey. Graças às expressões faciais exageradas, o ator modelou linhas de expressão únicas e, com isso, proporciona uma dramaticidade interessante para a cena. Os gestos bruscos e rápidos do ator também aparecem em carga menor.

Ele também encontra oportunidade de improvisar em diversas cenas. Além disso, faz sua famosa imitação de James Stewart em determinada cena. A expressão corporal do ator não é tão trabalhada quanto a facial passando praticamente despercebida. Ela apenas ganha relevância no momento em que Carrey coreografa uma dancinha com seus pinguins ou quando imita os passos tortuosos das elegantes aves. Os gestos bruscos e rápidos característicos do ator continuam presentes.

Carla Gugino pouco desenvolve sua personagem. Não há a mínima relevância dissertar sobre sua atuação. Clark Gregg, o famoso agente Coulson da S.H.I.E.L.D. em filmes da Marvel, também não surpreende durante suas cenas. Ele encarna o fraco antagonista do filme. Gregg praticamente mantém a mesma expressão durante o longa inteiro e falha ao não conseguir proporcionar a importância da ameaça que seu personagem propõe para o protagonista.

Quem rouba a cena é a veterana Angela Lansbury. Sua atuação elegante e serena conquista em poucos instantes. Ophelia Lovibond também se destaca pelo atrativo do sotaque inglês refinado. Jeffrey Tambor, Philip Baker Hall, Madeline Caroll, James Tupper, Maxwell Cotton e William Mitchell completam o elenco. Todavia, a verdade nua e crua sobre este filme é que Jim Carrey o carrega nas costas.

As cores gélidas do inverno

Se todos os filmes de comédia tivessem o cuidado fotográfico de “Se Beber, Não Case”, seria mais interessante comentar este aspecto nesse gênero. Por mais incrível que pareça, “Os Pinguins do Papai” possui uma fotografia bem feita. Quem assina essa área importantíssima do filme é Florian Ballhaus que já está habituado a modelar a iluminação de filmes de comédia.

A iluminação bucólica de Ballhaus tende aos tons acinzentados, brancos, frios e pálidos. Essa palheta de cores combinada com a modelagem sutil e delicada de luz quase teatral combinam com o tema do filme. A história se passa no inverno de New York e os pinguins estão diretamente ligados ao frio. No início do filme, prevalecem os tons gélidos já citados, contextualizando a situação triste do impasse familiar que o protagonista vive. O resultado é bonito e clássico conversando com a imagem dos pinguins.

O único problema da fotografia é a insistência em não saturar nenhuma cor. Tudo é polido e higiênico o filme inteiro. Nem mesmo quando o protagonista está resolvendo o conflito familiar, as cores mudam prevalecendo o estilo monocromático da fotografia. Raras vezes pude observar Ballhaus usar algum recurso estilístico técnico. Desfoques são escassos e os reflexos, inexistentes. Às vezes, o cinegrafista joga neve na imagem. Isso acontece muito no segundo ato do filme para resolver a questão da escolha duvidosa de não saturar as cores. O branco da neve flutuante e a do solo indicam para o espectador, sucintamente, que Mr. Popper está encontrando um momento de paz na sua vida instável.

Os tons somente mudam durante o clímax e no epílogo sendo que este possui uma modelagem de luz absolutamente fantástica. A direção de arte também tende para as cores brancas, pretas e cinza metálico na composição dos cenários. Novamente, as escolhas das cores arremetem a figura do pinguim. O destaque fica por conta da transformação extremamente criativa que a equipe realiza na sala de estar de Mr. Popper.

O figurino também é um aspecto relevante que merece a atenção do espectador. Repare que todas as vestimentas, muito bonitas e elegantes em sua maioria, do protagonista também inferem ao pinguim com seus tons brancos, pretos e cinzas. A melhor coisa que o filme tem a oferecer ao público, além de Jim Carrey, são os pinguins. Em algumas cenas, são utilizadas aves reais enquanto em outras, a equipe de computação gráfica recria os bichinhos com competência. Graças a essa modelagem em CG dos pinguins, os animadores tiveram a oportunidade de criar expressões únicas para aves roubando vários gemidos açucarados da plateia – “ownnnnn!” é o melhor exemplo. Cada um dos pinguins tem seu charme e carisma. Não é exagero dizer que todos são fofinhos, bonitinhos e levam a imaginação das crianças para as alturas.

Conquistando pela ousadia

É extremamente comum assistir vários filmes de comédia e quase nunca notar a existência de uma trilha sonora original, salvo “O Amor Não Tira Férias”. Na maioria de filmes deste gênero quem prevalece é a trilha licenciada. Caminhando para a evolução, muito provavelmente por causa do diretor Mark Waters, o filme possui somente trilha original.

Como todo filme que se passa em Nova Iorque, o compositor Rolfe Kent se inspira em “Rhapsody in Blue” de Gershwin – música tema de “Manhattan”, dirigido por Woody Allen. Então não é incomum escutar composições que lembram ligeiramente a clássica composição de Gershwin, principalmente pelo belo som do piano. A maioria das músicas não é expressiva o suficiente a ponto de chamar a atenção do espectador. As que funcionam perfeitamente na cena são as melodramáticas.

Entretanto, as composições de Rolfe Kent tem um apelo infantil que também recordam algumas composições de filmes da Disney – sem as cantorias inesquecíveis dos filmes da companhia. Elas também não são muito complexas – basicamente são compostas por uma variação satisfatória de escalas e tons musicais enquanto outro instrumento, muitas vezes o trombone ou o trompete, repete a mesma nota ou escala.

O legal da trilha de Kent é que ele utiliza flautas em diversas de suas composições – o instrumento raramente aparece em trilhas sonoras atuais. A flauta é um atrativo a mais em sua música. Felizmente, a música também não esquece dos pinguins. O ritmo musical de algumas composições lembram os passos errôneos e irregulares da criatura. O compositor cumpre sua função e consegue entregar uma trilha agradável que encaixa nas cenas sem problemas.

Promessa criativa 

Mark Water é um diretor inteligente. Sua direção em “As Crônicas de Spiderwick” e “E Se Fosse Verdade” é exemplar, divertida e lembrada pela grande criatividade do diretor. Aqui a história se repete. O diretor tem pulso o suficiente para controlar os excessos de Jim Carrey, mas falha em não conseguir extrair o melhor dos bons atores coadjuvantes.

A criatividade do diretor aparece logo no início do filme quando Mr. Popper conta uma história apaixonada sobre desbravar os sete mares para um empresário. Na cena, o diretor pede para que seus atores interajam com elementos do cenário a fim de criar uma atmosfera divertida para a cena. Ao remendar com os toques finais da pós-produção, o resultado torna-se único.

Entretanto, Water eleva sua criatividade com a entrada dos pinguins na história. Algumas das características de sua direção são muito sutis. Por exemplo, em determinada cena, Mr. Popper acorda com os pinguins dormindo em sua cama. Lá é possível observar que um deles está babando na fronha do travesseiro, outro está parcialmente coberto pelo cobertor e assim por diante. Outras vezes o diretor opta pelo exagero cômico. Isso acontece quando o diretor insere um close-up exagerado na face de um pinguim enquanto este canta – acredite, este é o termo adequado ao barulho infernal que esta ave emite.  O exagero aparece logo no plano seguinte que enquadra Carrey e o pinguim. No plano, é possível observar os cabelos esvoaçarem por causa do canto do animal. O exagero é acompanhado do ridículo e este causa as risadas incessantes do espectador.

A criatividade do diretor também aparece em outras cenas. A interação dos pinguins com instrumentos cotidianos garante boas risadas. Até mesmo a construção de algumas cenas é inspirada. A que se passa no museu Guggenheim é o melhor exemplo disto. O segmento possui muita informação visual e várias piadas acontecendo ao mesmo tempo, mas isto não é um problema para o espectador no caso. Waters deixa os planos abertos com uma duração consideravelmente maior para que os espectadores possam perceber tudo que ocorre na tela.

A edição do diretor também prova sua eficiência pelo manejo muito bom do ritmo do filme. Os enquadramentos são interessantes, principalmente os que capturam a imagem de Jim Carrey. Repare que no início do filme, raramente Mr. Popper aparece junto de outro personagem na imagem. O cineasta isola Carrey a fim de reforçar a vida solitária do homem. Isso vai mudando progressivamente a partir que os pinguins entram na história do filme.

Aquecendo seu inverno congelado

“Os Pinguins do Papai” é um filme agradável, divertido, doce, rápido e bonitinho. Ele não é insuportável mesmo com a ambientação narrativa excessivamente clichê e previsível. A maioria das piadas funciona e tenho certeza que devem divertir seu público alvo. Se estiver cansado de tantas animações 3D cheias de explosões, leve seu filho para conferir este novo longa com Jim Carrey. Ou se tiver tempo sobrando e nada para fazer, dê uma chance ao filme e vá sozinho. Os fãs do comediante também devem dar uma olhada no retorno de Carrey para o gênero que alavancou sua carreira. O filme não é um completo desastre, mas certamente poderia ter saído bem melhor. Só tenha cuidado para não ter um ataque de hiperglicemia no meio da sessão por causa do extremo ataque de fofura dos pinguins.


by Matheus Fragata

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