O CONCEITO
Dia vs Noite, TWD vs GOT, DC vs Marvel, BvS vs Guerra Civil, Xbox vs Playstation, Flamengo vs Fluminense, Android vs iOS, McDonalds vs Burger King, Nerd vs Nerd, Fanboy vs Fanboy.
O multiverso nerd é pautado por discussões intermináveis e, geralmente, extremamente redundantes. Mas com toda a certeza a gente adora aquela treta cósmica para provar que um lado é melhor que o outro – mesmo que o único convencido na discussão seja você mesmo. Analisando essa treta tão peculiar, decidimos trazer um pouco desse espírito “saudável” de discussão para o nosso site.
Sejam bem-vindos ao Cine Vinil! Calma, antes de soltar os cães nos comentários, entenda nossa proposta. Os discos de vinil foram um dos itens mais amados para reprodução de arquivos sonoros. Sua grande peculiaridade eram os lados A e B. O lado A era utilizado para gravar os hits comerciais das bandas, músicas mais populares. Enquanto o Lado B era mais voltado para canções experimentais ou mais autorais.
No caso, nos inspiramos pelos lados opostos do mesmo “disco” – de uma mesma obra. Serão dois artigos: o Lado A, que contém a opinião positiva, e o Lado B, com a versão negativa. Os autores, obviamente, serão distintos, e escolherão 5 pontos específicos da obra para justificar seus argumentos.
Explicado o conceito, nós lhes desejamos aquela ótima discussão para defender o seu lado favorito! Quem ganhou? Lado A ou Lado B? Que a treta perfeita comece!
Atenção aos spoilers.
LADO A
Por Raphael Klopper
EYE CANDY DE PURO TESÃO
É trapacear e até clichê começar a elogiar um filme de Ridley Scott indo logo para o visual, mas é só a mais pura verdade. Se tem uma coisa que ninguém pode reclamar em seus filmes é o INCRÍVEL visual que ele sempre consegue e se preocupa em compor com a ajuda dos talentosos cinegrafistas que sempre o acompanham, e sim Covenant não é exceção a isso. E simplesmente não tem como ignorar e não admirar o deleite visual que é proporcionado aqui! O trabalho com a direção de arte e set design aqui parece algo tirado de algum set de filmagem dos anos 80 e recebido aqui um update modernizado. E Nota-se como Scott pouco recorre ao uso de Green screen e os efeitos em CGI, os guardando para as FANTÁSTICAS cenas de pequena contemplação espacial e quando a criatura do Xenomorfo toma presença em cena. Que faz sim certa falta vermos a criatura em seus gloriosos e aterrorizantes efeitos práticos, mas o novo visual do bichão nada deve e finalmente mostra seu dinamismo e selvageria em cena exatamente como se deve! E ainda usa e abusa mais uma vez da SUBLIME fotografia de Dariusz Wolski em construir o clima acinzentado nas cenas abertas e a sensação claustrofóbica nos ambientes fechados, capaz de tornar uma paisagem viva e natural quase morta e sombria anunciando o massacre, físico e psicológico que está por vir quando a ingênua tripulação pisa naquele planeta!
Os Ecos de Prometheus
Nas últimas semanas que começaram a sair as primeiras críticas de Covenant, muito li sobre como Ridley Scott aparentemente não liga a mínima para os mitos da franquia Alien que os fãs talvez buscassem ver, e soam isso como algo completamente negativo e indulgente ao criticar o próprio ego do diretor. Agora me pergunto por que exatamente isso é algo negativo?! Será um diretor completamente obrigado em ter que entregar tudo que os fãs e público querem e anseiam desesperadamente ver? Claro que este nunca vai querer decepcioná-los e quer criar suficiente empatia com seu público e manter a atenção dele no seu filme. Mas Scott não é um J.J Abrams da vida! Aqui ele mostra que quer sim entregar o filme de Alien que os fãs tanto ansiavam, voltando às origens clássicas, ao mesmo tempo em que é uma história que ELE quer contar! Sendo corajoso, e ousado, o suficiente em querer implementar essa filosofia da criação humana, temática introduzida por ele em Prometheus, seu outro divisor de águas e realiza aqui uma descancarada continuação do mesmo, sem medo algum de mergulhar em profundos questionamentos da temática, com direito a uma SOBERBA intro que parece algo tirado de 2001 – Uma Odisséia no Espaço com um Q de seu Blade Runner, ao mesmo tempo que tenta sim ser um sangrento filme de Alien. E o quão raro é poder ver isso hoje no cinema blockbuster?!
O Ouro das Pequenas Nuances
É inegável como Scott possui o raro talento de conseguir puxar verdadeiras ótimas e convincentes performances de seus elencos, uma marca sua registrada até em seus filmes mais fracos e derrapantes, e aqui não é exceção! Desde Billy Crudup ao próprio Danny McBride, Scott consegue fazer todos entregarem o seu melhor e mais natural ao longo do filme, mesmo defronte a um roteiro por vezes preso no genérico. E sim, com exceção de Walter/David de Michael Fassbender, são personagens que estão LONGE de serem profundos e complexos. Mas Scott consegue mostrar em sua direção, em momentos ser bem minuciosa, que ele se importa em capturar a todo o momento as pequenas expressões e nuances dos personagens, e construir assim o relacionamento entre os casais que vão vir formar a colônia de Covenant, e assim conseguir costurar as personalidades de cada um (na maioria). Como é o caso da fé inabalada de Oram de um ÓTIMO Billy Crudup frente ao inferno encarnado da ambição pela criação; como a pureza e o carinho de Daniels, de uma também ótima Katherine Waterston, para com cada membro da tripulação; o relacionamento homo-afetivo aberto e sem o mínimo de exaltação de atenção para si entre o suposto durão sargento Lope de um breve Demián Bichir e seu marido. Algo ousado, interessante e super bem vindo!
O Melhor andróide do cinema desde o T-800
Elogiar o grande ator que Michael Fassbender é a essa altura já pode ter se tornado desgastante, mas o homem não para de entregar EXCELENTES exemplos para comprovar a exaltação que podemos ter por ele. Se ele já tinha demonstrado um personagem tão complexo e cheio de camadas com o andróide David em Prometheus, ele o continua fazendo aqui ao desenvolver em ainda mais profundas e sombrias camadas esse personagem, mas também cria uma nova e completamente diferente personalidade com o novo andróide Walter, o inocente andróide que se confronta com a tendência de ter sentimentos humanos quando enfrenta a dualidade que David o impõe. Pode ser discutido que os argumentos e temas que ambos os personagens trazem aqui serviriam perfeitamente para um filme de Blade Runner e não propriamente um filme de Alien, mas esse é o melhor dos dois mundos! Ao questionar o extremo poder mortal da criação nas mãos de uma criação do ser humano, o filme busca fazer a conexão com o “perfeito espécime”, que um outro certo andróide no filme original exaltava como o Xenomorfo conseguia ser esse ser perfeito, movido pelo seu puro instinto de sua natureza. Então por essa ótica, o perfeito ser é aquele que funciona nos limites no qual ele é concebido, Walter nesse caso seria o andróide perfeito pois segue os padrões em que é designado e David uma perfeita anomalia já que se rebela contra seus desígnios?! Sendo assim ele próprio talvez o personagem mais humano que todos os personagens do filme.
Um Verdadeiro Filme de Alien
Está longe de mim dizer aqui que a franquia pós Aliens de Cameron foi um completo escambau (a não ser que você conte só com Ressurreição e os filmes AvP, o que nesse caso foi sim!). Pois se a Assembly Cut de Alien 3 nos mostrou algo foi o grande material de qualidade que David Fincher conseguiu capturar e trazer para a franquia mesmo enfrentando uma produção atrapalhada e estressante, que resultou em uma versão de cinema fraca e rasa. E o famigerado Prometheus está longe de ser o poço de ruindade e estupidez que muitos o colocaram, mas ainda não era um filme de Alien que os fãs conhecem e tanto ansiavam ter novamente. E Scott parece ter ouvido esse clamor, e traz novamente a tona a criatura Xenomorfo de volta em toda sua glória para assustar e trucidar um bando de tripulantes burros e chorões! Assumindo para si esse inédito tom quase de humor cínico em um filme de Alien, digno de um filme de Wes Craven, que as mortes do filme tomam aqui. Com direito à vermos toneladas de doses de sangue sendo derramadas de forma grotesca e absolutamente gratificante. Então pra quem ta reclamando que o filme não parece nada um filme Alien, há aqui um pouco de tudo que os fãs de cada filme podem gostar e ainda um pouco mais para se apreciar!
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