Crítica | A Freira 2 por pouco é melhor do que o primeiro

No mais, A Freira 2 traz uma esquisita combinação de caçada ao tesouro, assombração em colégio e até mesmo um grande clímax de ação.

Marcando dez anos desde o lançamento de seu filme original, a franquia Invocação do Mal se transformou em uma das marcas mais valiosas e empolgantes da Hollywood contemporânea. Com um primeiro filme dirigido por James Wan para a New Line Cinema e Warner Bros, a saga sobrenatural sobre o casal Ed e Lorraine Warren também gerou uma série de derivados sobre o infinito leque de criaturas e espíritos – fictícios ou não.

Um dos mais icônicos nasceu no segundo filme de 2016, quando a freira demoníaca de Bonnie Aarons rapidamente roubou a cena. Um derivado sobre a criatura foi anunciado, e Corin Hardy dirigiu o prelúdio de 2018, que apesar de ser um dos piores exemplares da franquia, garantiu um sucesso comercial estrondoso – o que garantiu o tardio, mas inevitável, A Freira 2.

A trama do filme se passa alguns anos após os eventos do original, voltando a seguir a Irmã Irene (Taissa Farmiga), que é novamente convocada pela Igreja quando uma série de assassinatos envolvendo freiras e padres começa a assolar a Europa. Em sua investigação, Irene descobre que o espírito demoníaco Valak (Bonnie Aarons) está de volta, agora usando o corpo de seu amigo Maurice (Jonas Bloquet) em um internato na França.

Com um primeiro filme que desperdiça o grande potencial iconográfico de sua antagonista, A Freira 2 aposta em uma narrativa radicalmente diferente. Escrito por Akela Cooper, Richard Naing e Ian Goldberg, o roteiro do novo filme coloca a Irene de Farmiga em uma trama muito mais derivativa dos suspenses de Robert Langdon do que um exemplar da franquia Invocação do Mal, inventando até mesmo um artefato de grande poder que despertaria o interesse do próprio Indiana Jones. É uma narrativa divertida, mas que exige muito da capacidade de suspensão de descrença do espectador, especialmente de uma franquia que por anos se vendeu no “baseado em uma história real”.

Mas o real problema consiste na sobrecarga de personagens e núcleos narrativos da trama, que equilibra sua caçada ao tesouro sagrado com uma inchada subtrama com Maurice e as garotas do colégio interno francês. Há todo um microcosmo dramático ali, que infelizmente o texto e o elenco são incapazes de tornar interessante – definitivamente não há o mesmo envolvimento emocional poderoso que circula o casal Warren de Patrick Wilson e Vera Farmiga nos filmes originais.

Não bastasse a composição dramática enfadonha, A Freira 2 ainda decepciona no principal elemento de um filme de terror: a direção. Michael Chaves nunca chega a ser desastroso, mas sua condução carece de boa atmosfera e construção, apelando para sustos baratos e jump scares previsíveis. O próprio clímax deixa a figura de Bonnie Aarons de lado para apostar em novas (e ridículas) invenções monstruosas para a mitologia da franquia.

A única grande ideia de Chaves como diretor vem em uma sequência totalmente explorada pelo material promocional. Absolutamente inspirado, o momento mostra Irene vendo a silhueta da Freira se formando através de revistas e papéis em uma banca de jornal francesa, resultando em uma das concepções visuais mais originais e inventivas que o gênero de terror hollywoodiano viu em anos.

No mais, A Freira 2 traz uma esquisita combinação de caçada ao tesouro, assombração em colégio e até mesmo um grande clímax de ação. Apesar de ambiciosa, a trama se torna enfadonha, e sobram poucas ideias realmente inspiradas para Michael Chaves explorar. Mas ao menos… é melhor do que o primeiro.

A Freira 2 (The Nun II, EUA – 2023)

Direção: Michael Chaves
Roteiro: Akela Cooper, Richard Naing e Ian Goldberg
Elenco: Taissa Farmiga, Storm Reid, Jonas Bloquet, Bonnie Aarons, Anna Popplewell, Katelyn Rose Dawson, Suzanne Bertish, Léontine d’Oncieu, Peter Hudson
Gênero: Terror
Duração: 111 min

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Sobre o autor

Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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