
Estreia na direção da carismática atriz Anna Kendrick, A Garota da Vez é o tipo de filme que promete pouco (até por ser um primeiro trabalho e uma produção relativamente modesta) mas acaba entregando um produto acima da media: e isso se dá precisamente pelo trabalho da nova diretora.
Baseado em fatos reais, o roteiro segue os passos de um serial killer norte-americano dos anos 1970, Rodney Alcala (Daniel Zovatto), que acaba por se cruzar com a participante de um reality-show ultrajante (Kendrick) na própria gravação no estúdio de TV.
Enquanto a gravação do programa se desenvolve, o roteiro alterna momentos do passado e do futuro em que o assassino encontra outras de suas vítimas. E este é o ponto de maior fraqueza do filme, especialmente na primeira metade, que acaba sendo um pouco confusa e truncada por causa dessa escolha e das alterações na linha do tempo e no ponto de vista – de resto, um clichê típico do cinema “pós-moderno” e que, hoje, acaba sendo menos “surpreendente” do que um roteiro tradicional rigorosamente linear.
Da metade para o final, quando o enredo define mais claramente quem são os personagens e qual deve ser nosso grau de interesse em cada um deles, o filme cresce porque tem uma diretora visualmente interessada em seu material.
Cenas brilhantes e uma atuação intensa de uma jovem atriz
Desde o início, a inspiração de Kendrick parece clara, até pela ambientação e por se tratar de uma história real: o Zodíaco de David Fincher. Se no início ela não faz jus ao outro filme – um verdadeiro clássico no gênero – a maneira como duas sequências são, mais tarde, conduzidas, não devem nada aos melhores momentos da produção que lhe serviu provavelmente de inspiração: aquela entre a protagonista e o assassino que se inicia num bar e termina num grande momento cinematográfico, no estacionamento, e a que se dá no deserto entre Rodney e Amy, uma de suas vítimas ( a novata Autumn Best, brilhante). São dois momentos de grande cinema e que devem crédito possivelmente também ao diretor de fotografia, Zach Kuperstein (do excelente Noites Brutais).
Saber filmar é meio caminho andado para ser uma boa diretora, e Kendrick demonstra que sabe. Os maiores problemas de sua estreia na direção são resultado das escolhas que o roteiro faz. Se houvesse se concentrado num menor número de vítimas e explorado mais os climas e o suspense (como acontece nas duas sequências acima), A Garota da Vez seria excepcional. Não é. Mas é ótimo, e isso não é pouco no cinema de Hollywood de 2024.