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Crítica | A Justiceira – Quando Jennifer Garner Revive Elektra

Jennifer Garner ficou popular ao protagonizar a série de ação e ficção Alias: Codinome Perigo, fato que proporcionou a ela participar como Elektra no filme do Demolidor e algum tempo depois protagonizar o próprio longa da personagem dos quadrinhos Elektra. Foram muitas críticas negativas não apenas para este longa, mas também para sua interpretação nada convincente da fictícia heroína e parece que ela não aprendeu nada com essa experiência e praticamente revive Elektra em A Justiceira

E o problema de A Justiceira não foi só com a interpretação da atriz, mas também com a direção desajustada e desastrosa de Pierre Morel que foi o diretor do primeiro e ótimo Busca Implacável. Claramente Pierre quis reviver uma fórmula já muito usada no cinema de ação que é a vingança como gatilho para fazer a protagonista sair do lugar, isso sem trabalhar a trama da forma necessária e sem trazer algo de original nem que acrescentasse algo ao gênero, além de contar com uma mensagem superficial e com uma história ruim e mal roteirizada. 

Na trama, Jennifer Garner interpreta uma mãe de família que passa por um episódio traumático envolvendo sua filha e marido e então decide realizar uma vingança não apenas contra os homens que praticaram tal ato, mas também contra a justiça que se mostrou ineficiente e cega frente ao crime. No papel é uma personagem ótima – e batida – da mulher que busca vingança a qualquer custo para trazer conforto para si. Na prática se mostrou algo desastroso e ridículo.

Uma personagem que tinha tudo para ser atraente se perde tão logo o incidente ocorre, pois o diretor abandona o luto pessoal dela rapidamente, pulando um período de tempo que seria importante não apenas para a protagonista e  para o público, mas também para o andamento da produção, pois acompanhar o momento pós-fatalidade iria trazer uma aproximação maior do público com a trama e faria com que prendesse mais a atenção do telespectador no drama pessoal da protagonista. O diretor dá um pulo de anos em que o fato e o julgamento ocorreram e esse salto no tempo faz com que seu drama particular fique totalmente esquecido e ela passe a matar seus adversários apenas por matar, se tornando uma espécie de Desejo de Matar, mas totalmente vazio. 

Pegue a produção Em Pedaços (Fatih Akin) em que a protagonista vivida por Diane Kruger passa por uma situação parecida. O diretor aqui trabalha todo o trauma da personagem com a perda de familiares, mostrando o dia a dia da protagonista pós-atentado a sua família e nos inserindo cada vez mais em seu luto pessoal, além de construir muito bem os vilões e a vingança da personagem. A Justiceira lembra bastante Em Pedaços, a diferença é que a personagem de Jennifer Garner perde toda a força tão logo se torna uma assassina sem escrúpulos. 

A motivação da protagonista é usada como pontapé inicial para toda a quebradeira que viria a seguir, ou seja, é usado esse argumento apenas para que pudesse desencadear uma violência gratuita que tem um propósito, mas o motivo pela violência depois de algum tempo se esvai, se esquece que ela está matando todo mundo por vingança. A mensagem, que seria a injustiça praticada pela própria justiça e pelo sistema que a comporta fica totalmente em segundo plano, aqui o que Pierre Morel quer é apenas que ela mate todo mundo.

As cenas de ação que poderiam salvar em algo o longa acabaram sendo um tiro na culatra. Cenas mal coreografadas de luta e desenvolvidas, falta de oponentes decentes para enfrentar a fúria da justiceira e cenas de tiroteio tão óbvias e banais que em alguns momentos chegavam a ser risíveis. Com maestria a justiceira mata todos seus adversários e de um jeito que lembra demais duas produções atuais que usaram desse artifício da matança generalizada que são John Wick e Atômica. Claramente esses filmes foram usados como referência para montar não apenas a personagem de Jennifer Garner, mas também na hora de construir o roteiro do longa, a questão é que nestes dois longas citados a violência acrescenta algo para a trama e nada em relação a violência é jogado sem motivo na história. 

Há muitos furos de roteiro que só deixam a trama mais pobre. Um deles é o já citado corte temporal que é dado após a justiça inocentar os criminosos, ao pular muitos anos e não mostrar o que ela fez nesse período o diretor esquece de nos mostrar como a personagem de Garner aprendeu a lutar tão bem com tanta rapidez nem como aprendeu a atirar com tanta eficiência, é algo que além de ser importante também ajudaria a dar maior ênfase para a protagonista, fazendo com que criasse um vínculo entre ela e o telespectador. Mas não, Pierre Morel resolve cortar tudo isso e levar ela direto para a ação. Parece que houve uma ansiedade em querer partir para a pancadaria logo. Em Busca Implacável, por exemplo, Pierre nos mostra desde o início que o personagem de Liam Neeson é um ex-agente da CIA e portanto já sabemos de antemão que ele sabe lutar, já aqui não temos informação nenhuma a respeito da protagonista saber lutar e por isso que essa falta de informação quanto a personagem salta aos olhos.

Jennifer Garner tem uma interpretação fraca e que nada lembra seus tempos de Alias. Não que ela não esteja pronta para o papel de justiceira, a verdade é que ela não convence em nada. A expressão facial dela brava está mais para uma mulher séria que para uma mulher com ódio e revolta no coração e na alma. Jennifer Garner é esforçada, mas sua atuação se perde junto com toda a história. As cenas dramáticas também estão aquém do que se espera e com sua atuação faz com que uma cena que seja triste se torne mais fraca e perca a potência do que realmente queria transmitir. 

Pierre Morel tinha tudo para se tornar um dos grandes diretores de filme de ação de Hollywood, mas desde Busca Implacável que não emplaca uma produção decente. A Justiceira não deve ser seu último longa do gênero, mas que sirva para que ele faça uma reflexão dos rumos que sua carreira vem tomando, algo parecido fez M. Night Shyamalan depois de uma sequência desastrosa de filmes ruins. Pierre usa em suas histórias artifícios que funcionam se bem trabalhados, mas que aqui não deram certo pelos motivos listados acima. O mais interessante de tudo é a tentativa de trazer Jennifer Garner novamente para uma personagem que muitos considerariam uma escolha errada e que no fim das contas foi isso mesmo que aconteceu. 

A Justiceira (Peppermint, EUA – 2018)

Direção: Pierre Morel
Roteiro: Chad St. John
Elenco: Jennifer Garner, John Gallagher Jr. John Ortiz, Annie LLonzeh
Gênero: Ação, Drama, Thriller
Duração: 102 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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