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Crítica | A Roda do Tempo – 1ª Temporada – Um Universo Fantástico a ser Explorado

Há algum tempo os serviços de streaming estão apostando em obras literárias para ampliar os seus vastos catálogos de produções e também conseguirem mais assinantes e fãs que possam se conectar ao serviço. Aconteceu quando o Hulu produziu The Handmaid’s Tale ou quando a Netflix filmou as séries The Witcher e Anne with an E, que acabou sendo cancelada na terceira temporada, fato que fez os fãs se revoltarem. Chegou o momento de a Amazon Prime Video, enfim, tirar do papel a epopeia fantástica de A Roda do Tempo.

A primeira temporada da série só ocorreu finalmente depois de muito tempo após a compra dos direitos autorais da obra em 2000, tendo assim ocorrido um longo período, algo que fez com que muitos acreditassem que o seriado nem se quer iria algum dia sair do papel, não apenas pela demora em se iniciarem os trabalhos, mas também tamanha a dificuldade em se adaptar o universo fantástico criado pelo autor falecido Robert Jordan. Foi o showrunner Rafe Judkins que teve a missão de se comandar esta produção que tem tantos leitores pelo mundo e enfim decolar.

Bruxaria, Lendas e Mistérios

Em um breve resumo, é certo dizer que a trama gira em torno de um mundo que é quase todo matriarcal em sua concepção, sendo que há um grupo de mulheres que são conhecidas como Aes Sedai e que pratica um Poder no qual canalizam o saidar, que também é conhecido como magia no universo fantástico da história. Ao longo dos anos, os homens foram proibidos de canalizar por enlouquecer aquele portador, isso aconteceu várias vezes no passado e por isso sempre que um homem tenta canalizar é detido pelas Aes Sedai e também por isso a entidade se tornou feminina majoritariamente.

A Roda do Tempo, em seus oito episódios, precisou tomar muito cuidado, e também correr bastante, para desenvolver um vasto universo fantástico e ao mesmo tempo fazer com que um público – jovem e adulto – que não conhecia a obra literária, pudesse entender o que era todo aquele universo das Aes Sedai. Um trabalho delicado do grupo de roteiristas e que precisou ser muito bem pensado ao longo dos episódios, como iria ocorrer a jornada de cada personagem e o principal: quem realmente seria o vilão, já que não há claramente um vilão, como ocorreu na série Game of Thones, em que todos sabem quem é o vilão desde a primeira temporada. Na produção do Prime Video o antagonista não é uma presença marcante, há um grupo de religiosos, e uma sombra que caça os jovens e nada mais que isso.

O roteiro buscou, portanto, nesta primeira temporada, explorar mais a jornada de descoberta dos jovens que fugiram da vila por este mundo novo. A fuga da vila para a Torre Branca se deu para que o público pudesse explorar junto com os personagens todo esse universo inóspito e assim fosse conhecendo junto com o grupo locais inexplorados. Claro que há episódios com muitos diálogos, até demais, e estes diálogos estão ali justamente para desenvolver a trama, já que há muitos nomes de locais, de monstros e de personagens a serem jogados na trama e a serem desenvolvidos, ainda mais em uma terra fantástica de lendas e mitos.

Mesmo assim o roteiro acaba gerando uma grande confusão no público com tantos fatos sendo jogados em tão poucos episódios a serem explicados.  Essa bagunça não se dá pelo fato do roteiro ser bem ou mal desenvolvido, isso ocorre pelo fato da série ser curta e também porque seus episódios terem sido mal planejados, e aí os produtores em si erraram também, pois quiseram colocar muita informação em tão poucos episódios, sendo que para assimilar toda aquela informação que era explicada não acaba sendo uma tarefa fácil. Dava para ter feito algo mais bem desenvolvido, com uma narrativa mais suave, ao estilo de que Game of Thrones fez, que conseguiu de uma forma popular explicar para os expectadores assuntos nada complexos.

As Aes Sedais simbolizavam um grupo de mulheres que são caçadas por um outro grupo religioso, e queira ou não lembramos de um episódio real que ocorreu na história da humanidade, quando mulheres eram consideradas bruxas pela Santa Inquisição e eram queimadas vivas. Esse episódio que talvez é um dos pontos mais fortes do seriado e que chama mais a atenção poderia ser melhor explorado, mas acaba perdendo força com o passar dos episódios por não ser algo que é muito desenvolvido nem aprofundado, o que é uma pena, pois é uma mensagem bastante forte.

Universo Fantástico

Como é comum neste tipo de produção, em que há uma jornada do herói para realizar um grande feito, e aqui no caso ocorre quando Moiraine Damodred (Rosamund Pike) leva os quatro candidatos a serem a reencarnação do Dragão para o Portal, há muitos elementos que lembram outras produções culturais consagradas pelo público, como O Senhor dos Anéis ou Harry Potter. Apesar de A Roda do Tempo ser visualmente linda, ter belos efeitos visuais, cenários de dar inveja a muitos filmes, ainda assim falta algo na construção de seu universo fantástico.

A concepção do universo fantástico apesar de ter os seus bons momentos, derrapa ao ser bem desenvolvido, ao criar algo próprio. Falta uma imersão maior nesse novo mundo criado para série, até porque a única lembrança de cenário que se tem da primeira temporada é a da Torre Branca e só, muito pouco para algo que tinha como promessa de ser uma série grandiosa.

Algo a se criticar também são os personagens rasos desta temporada, e isso podemos citar os quatro “pupilos” que estão viajando com Moiraine para descobrir quem realmente é a reencarnação do Dragão. Há todo um trabalho inicial para apresentar os personagens, até aí ok, mas mesmo assim não é o suficiente para guardar na cabeça do público quem são. Ainda perto do último episódio há uma confusão em saber o nome de todos Muito disso se deu porque não foram bem trabalhados e muito disso se deu pelo fato de os personagens serem muito superficiais.

O elenco encabeçado por um nome forte como o de Rosamund Pike deixa bastante a desejar. Rosamund Pike está ótima em seu papel, é grandiosa em suas principais cenas e leva a série nas costas com a sua beleza e alto nível. O esforçado Daniel Henney também se sai bem como seu braço direito Lan Mandragoran. A grande questão mesmo são os escolhidos que não tem muito carisma quando estão juntos, casos de Madeleine Madden, Zoë Robins, Marcus Rutherford e Josha Stradowski – inexplicável sua escolha como protagonista.

A Roda do Tempo surge em um período em que os serviços de streaming estão cada vez mais melhorando suas produções, com narrativas mais atraentes para os espectadores e efeitos práticos de fazer inveja à Hollywood. O grande problema desta temporada é querer se equiparar com grandes séries já existentes e esquecer de construir o seu próprio universo. Faltou algo e esse algo talvez atrapalhe o andamento das próximas temporadas. Fiquemos atentos para o que virá pela frente nos próximos capítulos, mas para uma primeira temporada o resultado foi satisfatório.

A Roda do Tempo – 1ª Temporada (EUA, 2021)

Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Uta Briesewitz, Ciaran Donnelly, Salli Richardson-Whitfield, Wayne Yip, Sanaa Hamri
Elenco (EUA): Rosamund Pike, Daniel Henney, Madeleine Madden, Zoë Robins, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Barney Harris, Kate Fleetwood, Priyanka Bose, Hammed Animashaun, Álvaro Morte, Taylor Napier, Johann Myers, Clare Perkins
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Streaming: Amazon Prime Video
Episódios: 8
Duração: 1h

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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