A pessoa que assistiu ao longa de 1979 possivelmente achou tudo muito monótono e parado, ainda mais se comparado ao terror produzido nos tempos atuais de muita correria e sustos. Óbvio que com o sucesso do primeiro filme da franquia Amityville uma continuação seria feita, isso se levarmos em conta que esse gênero adora criar franquias sem pensar na estrutura da narrativa. Amityville II – A Possessão é um oásis se comparado com todos os filmes da franquia Amityville, difícil encontrar um que fuja a receita criada pelo primeiro longa que foi um sucesso.
Se no anterior se contava a história da família Lutz que se mudava para a residência e presenciaram diversos acontecimentos sobrenaturais, tendo que sair dali rapidamente, nessa sequência é apresentada a história da família DeFeo, moradores que viveram ali antes dos Lutz.
Os DeFeo se mudaram para Amityville no ano de 1974, e a família era composta por Robert DeFeo, sua esposa e mais cinco filhos. Desses filhos um seria o responsável pelo massacre na residência estabelecida no endereço 112 Ocean Avenue. Ronald ‘Butch’ Junior matou a sangue frio com uma carabina seu pai, mãe e quatro irmãos. Todos morreram de bruços, nenhum com uma posição diferente e nem com traços de reação.
Ronald chamou a polícia e depois de muitas histórias contraditórias acabou assumindo que ele havia sido o responsável pela morte de todos da família. Disse que ouvia vozes e que ela o obrigava a praticar esses atos. Claro que ninguém acreditou de início, só iriam levar a história em conta depois dos relatos dos Lutz no livro que daria origem a todas essas produções cinematográficas. ‘Butch’ foi condenado ainda em 1974 a 6 prisões perpétuas em sequência e está preso até hoje.
Amityville II começa quase do mesmo jeito que a versão de 79: com uma família (os DeFeo) se mudando para a residência. Daí em diante vai mostrando todo o processo de possessão que Ronald passa a sofrer do possível demônio que habita a casa. Aqui o mal é liberado quando é descoberta uma passagem secreta no sótão. Esse ser maligno – o filme não cita em nenhum momento um espírito – sai instantaneamente de lá e passa a atormentar Ronald, dizendo para ele matar seu pai, para matar todos da família.
O diretor Damiano Damiani emprega bem na produção os acontecimentos, que realmente existiram e foram relatados por Ronald. Um deles foi o das vozes que ele dizia ouvir, outro foi o possível caso de incesto entre ele e sua irmã, isso com ele já em processo de possessão. Fora outros relatos que o diretor deu uma forçada, como a presença intensa do padre na vida de Ronald. Ele tem papel importante no filme, tanto que vai até o final tentando curar o rapaz do demônio que teria tomado seu corpo.
Provavelmente é um dos melhores filmes de toda a franquia Amityville, pois a maioria das produções tem histórias péssimas, são mal dirigidas e os roteiros são praticamente iguais uns aos outros. Esse se sobressai por ser original no sentido de contar a história dos DeFeo, de mostrar o processo de possessão sem forçar a barra, e trabalha bem toda a tensão gerada até o desfecho cruel de tudo.
Outra grande sacada de Damiano para enriquecer a história e tentar ser original foi a inclusão do padre na vida deles. Obviamente a referência é o Exorcista que havia estreado muitos anos antes. Na realidade, tudo lembra e muito o longa de 1973, os closes dado no padre dentro da residência, o enquadramento feito quando ele está do lado de fora com uma roupa preta, chapéu preto. Até os diálogos finais profanando o padre são claramente inspirados na obra de William Friedkin.
Só que o padre de tanto aparecer fica chato, ele não está na versão original da história e sua inclusão foi apenas para mostrar a batalha entre bem e mal de que nenhum ser maligno tem força suficiente para vencer Deus. Poderiam ter colocado um policial na história, padre já não era algo original, o pior é que em nos próximos filmes de Amityville terão muitos outros padres. Não seria nenhum erro ter um policial, mas há de se entender o porque do padre já que ele é o único capaz de vencer o diabo.
O melhor desse longa é que as coisas vão ocorrendo com muita rapidez, sem enrolação. Já descobrem o lugar no porão de início, sem dramatizar que lá devia ter algo ruim. Os sustos e a tensão já começam sem dar tempo de pensar no que seria tudo aquilo. Trabalham o fato de algo de errado ter na casa com o simples movimento de objetos, espelhos caindo, pincéis voando e pintando paredes.
A ideia é aterrorizar desde o início o espectador, não dando tempo para imaginar o que vai ocorrer. Outro fato interessante é que não desenvolvem a casa no sentido de mostrar que ela é macabra simplesmente por ser. O público já sabe o que é Amityville, querer mostrar o que é ela novamente seria “chover no molhado”, além de ser bastante desnecessário. O filme anterior já havia desenvolvido bem a casa, pra que perder tempo fazendo a mesma coisa?
Há horas que a narrativa parece parada, mas isso é proposital para trabalhar a possessão do rapaz, como se ele estivesse em estado de hipnose. Até a hora que ele está no tribunal é lenta de forma proposital, para apresentar o caso como ele ocorreu de fato e para dar mais suspense.
Tanto essa versão como a anterior desenvolveram bem a história, só que aqui tudo é bem mais aprofundado e bem desenvolvido. Os personagens não estão aqui à toa, apenas para compor cenário. A irmã de Ronald, por exemplo, tem um papel quase de protagonista e causa um choque o que irá ocorrer com a personagem, pois se fosse nos dias atuais o tratamento seria mais heroico e seu fim seria mais enérgico. Damiano decide de forma cruel seu futuro e de forma muito rápida.
Ponto negativo é o final quando aparece o monstro. O processo de possessão foi bem apresentado, até chegar ao final, no momento que ele estava com uma maquiagem que lembra ‘Thriller’ de Michael Jackson (seria essa a inspiração do rei do pop?). Depois do confronto com o padre lá pelos últimos 15 minutos fica tudo estranho, para não dizer ridículo e forçado demais. O monstro que ele se torna só não ficou ruim porque em Amityville III terá um muito mais grotesco.
Uma falha também é não ter reproduzido as mortes do jeito que elas ocorreram. No filme houve resistência por parte de todos integrantes da família. Só que isso não ocorreu na realidade, todos foram mortos enquanto dormiam e estavam de bruços.
Aos amantes de filme de terror, que curtem uma boa história com boas doses de sustos essa é uma boa pedida. Aqui sim encontramos muitos elementos do gênero de filmes de terror e tudo muito mais aprofundado, diferente do anterior que era superficial e chato.
Escrito por Gabriel Danius.
Amityville II – A Possessão (Amityville II: The Possession, Estados Unidos, Itália, México – 1982)
Direção: Damiano Damiani
Roteiro: Dardano Sacchetti, Hans Holzer, Tommy Lee Wallace
Elenco: Burt Young, Diane Franklin, Jack Magner, Rutanya Alda, James Olson, Meg Ryan
Gênero: drama, suspense, terror
Duração: 104 min