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Crítica | Andor é uma releitura surpreendente e adulta do universo Star Wars

Tem sido difícil ser fã de Star Wars ultimamente. Apesar de as duas temporadas de The Mandalorian serem excelentes, o plano da Disney para expansão da saga de George Lucas no cinema estão nebulosos, ainda mais depois do resultado criativo do sofrível A Ascensão Skywalker, enquanto as séries recentes O Livro de Boba Fett e Obi-Wan Kenobi escancaram a saturação e o desleixo com a saga.

Quando olhamos para a lista de próximas produções, uma série derivada sobre um dos personagens mais desinteressantes de Rogue One: Uma História Star Wars, não é exatamente a forma mais empolgante de chamar atenção. Justamente por isso, e até pornão ser um grande fã de Rogue One, a nova Andor quase passa batida por meu radar. Ainda bem que não foi o caso.

A convite da Disney Brasil, assistimos aos três primeiros episódios da série desenvolvida por Tony Gilroy, que é ambientada cinco anos antes dos eventos de Rogue One, seguindo o rebelde Cassian Andor (Diego Luna) em uma jornada para encontrar sua irmã perdida enquanto é perseguido por forças do Império – e também possíveis aliados que desejam se aproveitar de seus talentos.

Provavelmente já foi dito uma abundância de vezes que “tal obra não parece em nada com dito universo”, especialmente para filmes e produções da Disney. Mas Andor é realmente digna dessa constatação, já que não remete em nada a nenhum filme ou série do universo de Star Wars, e tampouco de outros trabalhos lançados pela Disney – seja no cinema ou em seu catálogo de streaming contemporâneo. Andor não é Star Wars, e eu vejo isso como um elogio gigantesco.

O maior erro das mais diversas produções de Star Wars é tentar honrar demais o passado, recriar tudo como era nos bons tempos dos anos 1970. Andor não tem o menor interesse nisso, e o showrunner Tony Gilroy (que foi um dos roteiristas de Rogue One) teça uma história radicalmente ousada em tom e execução, literalmente criando uma narrativa pesada de guerra e espionagem que, não fosse a vinheta da saga na abertura dos episódios, você nem precisaria associar com o grande universo de Star Wars. Andor está muito mais próxima de Blade Runner do que a saga criada por George Lucas, ou até mesmo do clima de paranoia e intriga da franquia Jason Bourne, da qual Gilroy foi um dos principais idealizadores.

Isso certamente vai afastar alguns espectadores, visto que Andor tem um ritmo bem lento e está mais concentrado em construir o caráter de seus personagens e colocá-los em longos e complexos diálogos. Tal característica é bem presente no excelente arco antagonista da série, que acompanha um grupo de seguranças subordinados do Império que preza pela burocracia e a ordem – com grande destaque para o ator Kyle Sollerperfeitamente incorporando um nível fascismo corporativo que nunca fora mostrado no Império antes.

A própria realização da série já se destaca em relação a outras do padrão Disney. Por mais que The Mandalorian tenha feito maravilhas com a tecnologia dos telões de LED chamados de Volume, a tecnologia foi banalizada com fotografias dessaturadas e sem vida em O Livro de Boba Fett e Obi-Wan Kenobi. Andor claramente esbanja um valor de produção mais alto ao se passar em locações e sets reais, e mesmo que os episódios sejam predominantemente realizados com uma paleta cinza e suja, é uma fotografia com muito mais textura e personalidade – até mesmo mais do que o próprio Rogue One, que é uma referência absoluta para a série – e muito usada nas intensas cenas de ação, comandadas a pulso firme por Toby Haynes.

O único ponto mais fraco reside justamente em Cassian Andor. Por mais que Diego Luna esteja bem à vontade no papel, o personagem em si ainda não soa muito convincente e distrai a trama central com os sonolentos flashbacks de sua infância, funcionando bem mais como um avatar do público nesse universo perfeitamente bem construído e povoado com outras figuras mais interessantes; em especial, a mentora rebelde vivida por Fiona Shaw e o forasteiro idealista muito bem personificado por Stellan Skarsgard.

Contra todas as expectativas inexistentes, Andor tem o potencial de ser a obra mais complexa e caprichada que a Disney já ofereceu a Star Wars. Com uma ambientação muito mais política e lenta, os primeiros três episódios da nova série já servem para me deixar interessado na franquia novamente. Um verdadeiro milagre considerando tudo o que tivemos que aturar nos últimos anos.

Andor (EUA, 2022)

Showrunner: Tony Gilroy
Direção: Toby Haynes
Roteiro: Tony Gilroy
Elenco: Diego Luna, Adria Ajorna, Fiona Shaw, Stellan Skarsgard, Kyle Soller, Dave Chapman
Gênero: Ação
Streaming: Disney+
Duração: 35 min (cada episódio)

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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