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Crítica | As Verdades – Todas as perspectivas de um mistério

Existem muitos lados para se apurar em uma investigação. Em As Verdades, novo filme de José Eduardo Belmonte presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a questão não é em quem acreditar, mas pra quem perguntar.

A trama acompanha Josué, o novo delegado da cidade que precisa solucionar o mistério de quem atropelou um candidato a prefeito. Na teia de investigações, ele precisa lidar com um assassino de aluguel, a esposa e a sogra do candidato.

O roteiro de Pedro Furtado é uma espécie de Rashomon, onde cada um dos investigados dá seu panorama sobre os dias que antecederam. Cada uma das versões traz o ângulo e a interpretação do personagem sobre os eventos, dificultando achar o encaixe das peças. Mas saiba que Furtado faz isso de maneira proposital.

Belmonte é um diretor de atores, sempre fazendo filmes pessoais, com ótimos desenvolvimentos e arcos completos para cada um dos seus personagens. Aqui não é diferente, focado em como o 

protagonista reage a todo o volume de informações. Mas há uma pegada diferente no visual, uma espécie de surrealismo, com muitos planos elevados e uma luz vindo de apenas a lâmpada mais próxima.

Lázaro Ramos encara o protagonista como um homem que deu um passo maior que a perna. Josué é focado em fazer coisas do jeito que elas vierem, e sempre de maneira espontânea. Há um momento que deixa claro sua perspicácia como policial, quando dá uma carona para duas garotas. Sempre de ouvidos abertos, pronto para recolher um novo ponto de vista. Ramos ainda trabalha com um lado inesperado, conforme a trama evolui, que consolida o personagem como representação de um produto de cidade pequena.

No papel da esposa, Francisca, a atriz Bianca Bin me pareceu pouco à vontade. Não que tenha uma relação com a personagem, mas para quem tem um envolvimento na trama de maneira intensa, senti falta em partes de algo que desse motivo para sua verdade do ocorrido. A dependência acabou caindo sobre os olhos azuis melancólicos.

Thomas Aquino entrega um matador de aluguel caricato, mas que tem as melhores adaptações dentre as versões da história. Ele sabe jogar com o ponto de vista, e se torna um verdadeiro ponto de interrogação para investigação. Para completar o time, Drica Moraes faz a mãe de Francisca excelentemente. A atriz consegue criar o mesmo sentimento que Josué, alguém que parece enraizado ao local.

Poderiam ter abraçado o gênero e ido em busca de pistas, novos desdobramentos, e até a reação da cidade com o ocorrido. Ao invés, Belmonte joga uma coisa aqui acolá para não desfocar dos personagens. Era fundamental em um filme investigativo ter investigação, e só o que temos são três versões dos mesmos dias.

Diferentes dos filmes policiais atuais, As Verdades achou um lugar sozinho ao sol e ousou em tentar algo novo.

As Verdades (Brasil – 2020)

Direção: Josué Eduardo Belmonte
Roteiro: Pedro Furtado
Elenco: Lázaro Ramos, Bianca Bin, Drica Moraes, Thomás Aquino, Zécarlos Machado, Edvana Carvalho
Gênero: Drama, Suspense
Duração: 99 min

Acompanhe mais da nossa cobertura da 45ª Mostra Internacional de São Paulo

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Publicado por Herbert Santos

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