Ficando em seu canto, mantendo distância dos colegas de trabalho e falando o mínimo possível, essa é a vida da solitária Fran (Daisy Ridley), que passa os dias trancada em casa, deitada e praticamente sem fazer nada de muito relevante nos seus fins de semana.
O longa da diretora Rachel Lambert reflete de forma inteligente e melancólica como a depressão age na vida de uma pessoa. Fran é apresentada como uma mulher introvertida que faz de tudo para evitar a interação social, tanto com seus colegas de trabalho, em festas, ou até mesmo com alguém com quem possa se relacionar de forma mais íntima.
Essa barreira criada por Fran é apenas um mecanismo de defesa que ela acredita ser uma maneira de viver em seu mundo de solidão. Ela pensa em morrer em vários momentos, em cenas onde aparece deitada ou imersa em galhos de árvore, em cenas belamente filmadas pela diretora, que dimensionam como Fran está profundamente presa nesse mundo.
O roteiro em momento algum apresenta a protagonista como uma suicida; pelo contrário, ela sente uma atração pela morte, mas seu pensamento está mais voltado para a questão do isolamento do que pelo ato em si. O fato de Fran se isolar tanto física quanto mentalmente, e sempre em lugares inóspitos, demonstra o que mais atrai na personagem: o silêncio. Tal elemento é mostrado com muita delicadeza por Lambert e se faz presente em grande parte da história, nos primeiros vinte minutos não se ouve a voz de Fran.
Fran tem um sentimento de autoisolamento, mas também percebe-se que há um desejo de conexão, tanto que os momentos em que interage com outras pessoas acontecem após muito esforço. Quando parece estar no caminho de se relacionar com Robert, um novo funcionário que vive puxando papo com ela, Fran se sabota e cria mais barreiras para evitar o contato.
Filmado durante a pandemia da COVID-19, fica bem claro que o filme captou a essência do isolamento social causado pelo coronavírus. Houve a necessidade de se isolar da sociedade, e assim, a narrativa reflete uma sociedade que está cada vez mais isolada em seu próprio mundo.
Às Vezes Quero Sumir traz uma bela performance de Daisy Ridley, possivelmente a melhor de sua carreira. Interpretando uma personagem complexa e cheia de dramas, Daisy demonstra ser uma atriz capaz de brilhar em produções desse gênero, mostrando que pode se afastar de seu papel na franquia Star Wars e explorar de vez novos caminhos no cinema.
Às Vezes Quero Sumir (Sometimes I Think About Dying, EUA – 2023)
Direção: Rachel Lambert
Roteiro: Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento, Katy Wright-Mead
Elenco: Marisa Daisy Ridley, Dave Merheje, Parvesh Cheena, Marcia Deboniste
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Duração: 94 min