Em 1992 mais um diretor entraria para a história do cinema. Quentin Tarantino era revelado ao mundo com seu primeiro longa-metragem Cães de Aluguel no festival de Sundance. Trabalhando na melhor forma do worst case scenario em seu filme, Tarantino foi aclamado pelos críticos e pelo público tornando-se um dos diretores mais interessantes da atualidade.
Tarantino já revelava seu método peculiar de direção e de escrita. Os diálogos extensos, complexos, polêmicos que trazem a opinião do autor a tona de diversos assuntos e a violência gráfica banhada a litros sangue impressionaram o público perplexo. O diretor mistura comédia, horror e suspense com extrema competência na história de Cães de Aluguel que acompanha os eventos posteriores de um assalto mal realizado.
Marcado pelo estilo visual impactante, Tarantino constrói cenas que os espectadores não esquecem assim como a introdução genial de seu longa – a interpretação icônica da letra de “Like a Virgin”, música de Madonna que polemizou o ano de 1984 que, além de ser original, diverte o espectador. Sem economizar diálogo, o roteirista lança duras críticas em relação às gorjetas destinadas às garçonetes, ao salário mínimo, a hipocrisia e ao governo americano. Com isso, Tarantino revela que seus personagens são politizados, inteligentes e nem um pouco descartáveis. Porém a construção do perfil dos protagonistas é interrompida graças ao formato não-linear do roteiro recheado de flashbacks.
Logo na cena seguinte, Tarantino joga seus personagens em situações críticas e desesperadoras. Obviamente, as emoções que o espectador passa não são nada agradáveis. A agonia gerada pela violência e suspense vem à tona quando Michael Madsen – absolutamente brilhante, formula uma dança macabra diante de sua vítima ao som de Stuck in the Middle With You. Já sabendo manufaturar cenas bem dirigidas, Tarantino aumenta o suspense da ação nefasta que Mr. Blonde fará com um plano sequência simples. Nele, acompanhamos Madsen dançar, torturar a vítima, dançar mais um pouco, seguir para fora do armazém, abrir o porta-malas do carro, pegar uma lata de gasolina, voltar ao armazém, dançar mais um pouco para então despejar litros de gasolina no homem aterrorizado. Aliás, o modo como Tarantino trabalha com seu elenco já se faz presente aqui. Ele deve ser abençoado, pois já aqui temos performances fantásticas da maioria do elenco.
Todavia, apesar dos atores esbanjarem carisma, o espectador não cria uma empatia forte com os personagens o suficiente para que o impacto do desfecho seja avassalador como deveria ser. Simplesmente há o choque pela tragédia em si. Com o tempo, Tarantino soube desenvolver melhor seus personagens – a Noiva, por exemplo.
Ele comete muitos acertos e poucos erros logo em sua estreia. Sacadas inteligentes como a sensação claustrofóbica gerada pela fotografia sombria que peneira a luz com extremo cuidado dentro do armazém, a opção em nos enclausurar junto de seus personagens em apenas um cenário durante quase o filme inteiro, o feeling teatral, as reviravoltas pontuais, a enorme farsa, além do final aberto impactante.
Já em seu primeiro filme, Tarantino fez algo que diretores passam a vida para fazer: tornar seu filme histórico.