Os Estúdios Walt Disney (The Walt Disney Studios) lançaram, nos últimos anos, diversas adaptações live-action de suas clássicas animações — algumas de bom gosto, como Aladdin (2019) e Cruella (2021), e outras verdadeiras decepções, como Mulan (2020).
Já a DreamWorks Animation ainda não havia se aventurado nesse cenário, sem nenhuma produção adaptada, até que a Universal Pictures decidiu levar Como Treinar o Seu Dragão para as telonas em versão live-action.
Adaptada da obra da escritora britânica Cressida Cowell, cujo primeiro volume foi lançado em 2003, a série é composta por 12 livros e recebeu três adaptações em formato de animação.
A nova versão em live-action, dirigida por Dean DeBlois — o mesmo que comandou a franquia animada —, é uma bela releitura do megassucesso lançado em 2010. É possível afirmar que se trata de um dos melhores live-actions já produzidos, por manter o carisma dos personagens e preservar muitos dos elementos que funcionaram no original, como as cenas de ação e os embates entre Soluço (Mason Thames) e seu pai, Stoico (Gerard Butler).
Uma adaptação de primeira
Mais do que uma simples adaptação da animação para o live-action, o filme acerta ao manter a força da história original. O elo de amizade entre Soluço e Banguela continua sendo o centro da narrativa, assim como os conflitos internos do protagonista, que ainda luta pelo reconhecimento do pai como um verdadeiro guerreiro. O núcleo cômico, formado pelos amigos de Soluço, também está presente e garante momentos leves e divertidos, equilibrando bem o tom da aventura
Há de se elogiar a escolha de Dean DeBlois para a direção e o roteiro do longa — e isso não apenas por já estar familiarizado com a franquia animada, mas também por ter construído uma sólida carreira no universo das animações, especialmente como roteirista, sendo responsável por sucessos como Mulan (1998) e o live-action de Lilo & Stitch (2025).
Outro acerto da animação está na forma como explora os conflitos pessoais de Soluço — especialmente sua relação conturbada com o pai e a conexão que se forma com o lendário dragão Fúria da Noite. Esses dramas internos do protagonista são preservados com inteligência e que contribuem para a força narrativa da produção.
DeBlois, além de explorar com sensibilidade as relações entre os personagens, demonstra competência na direção das cenas de ação, especialmente no último ato, quando os Vikings enfrentam o Dragão Rei na Ilha do Dragão.
Mesmo com essas sequências de ação sendo bem executadas, elas são poucas — uma escolha feita para privilegiar o desenvolvimento da história em vez de focar exclusivamente na ação, seguindo a mesma linha da versão animada de 2010.
Muito além da Nostalgia
O fator mais importante e provavelmente o que dá mais força para a trama é a questão da nostalgia. Já faz seis anos desde que o último longa animado da franquia estreou, com Como Treinar o Seu Dragão 3 (2019) não tendo a mesma repercussão que as duas versões anteriores tiveram. Mesmo que algumas cenas sejam praticamente idênticas às da animação — sem trazer grandes novidades —, o longa ainda funciona e deve conquistar o espectador mais saudosista.
Quando assisti, esperava que fosse mais emocionante do que realmente foi. Faltou algo para trazer a carga emocional que a animação consegue explorar tão bem. A relação entre Soluço e Banguela, por exemplo, não tem o mesmo impacto — talvez pela escolha do ator, que não transmite o carisma necessário para um personagem tão marcante quanto Hiccup, ou até pela própria versão digital de Banguela, que carece de expressividade para sustentar a conexão emocional com o público.
O design, a edição de som e a caracterização dos personagens estão impecáveis — praticamente do jeito que fãs imaginavam que deveria ser uma adaptação cinematográfica. Os cenários apresentam uma qualidade visual rara em filmes do gênero, reforçando o quanto esta versão se destaca das demais do gênero.
Como Treinar o Seu Dragão é uma história de amizade, autoconhecimento e crescimento pessoal, que consegue preservar a magia e o encantamento da animação original. Trata-se de um acerto que, sim, merece futuras continuações — e que elas estejam à altura da qualidade apresentada nesta bela adaptação.
Como Treinar o Seu Dragão (How to Train Your Dragon, EUA – 2025)
Direção: Dean DeBlois
Roteiro: Dean DeBlois, adaptado da obra de Cressida Cowell
Elenco: Mason Thames, Nico Parker, Gerard Butler, Nick Frost, Gabriel Howell, Julian Dennison, Bronwyn James
Gênero: Fantasia, Ação
Duração: 125 min.
Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.