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Crítica | Culpa – Um Suspense de Primeira

A fórmula de uma boa história de suspense tem como objetivo principal usar um roteiro que prenda a atenção do telespectador tendo como foco central da trama um vilão interessante, um drama envolvendo o protagonista e um policial que faça de tudo para descobrir o que está por trás do crime investigado. Tal fórmula é belamente utilizada no primoroso thriller dinamarquês Culpa

Culpa não é daquelas produções que encontramos facilmente por aí. Um primeiro fato que o torna maravilhoso é a simplicidade com que a história é contada. Asger Holm (Jakob Cedergren) é um policial que foi retirado das ruas e está à espera do julgamento por um crime que cometeu em serviço, nisso é colocado para trabalhar no centro de atendimento de emergência da polícia e durante o seu período de trabalho atende aos mais variados telefonemas. Hora ou outra aparece alguém pedindo socorro para questões sem relevância ou para questões que facilmente são solucionadas sem a presença da polícia. Asger acha seu trabalho monótono e chato, até que se depara com um caso de sequestro e desde então esse passa a ser o foco de atuação do personagem. 

Há um ótimo trabalho de roteiro pensado de todas as formas em como conseguir segurar o telespectador com uma ideia tão original e simples. Essa vítima de sequestro que ele passa a auxiliar pelo telefone é tratado no longa de um jeito que dificilmente se encontra em produções do gênero. A começar que toda a história se passa em apenas um ambiente que é o centro de atendimento, mostrando apenas Asger atendendo ao telefone e falando com a vítima sem, em nenhum momento, apresentar a pessoa do outro lado da linha. 

Outro fator bastante interessante é o suspense empregado na situação, não se sabe o que está acontecendo do outro lado da linha e isso vai criando pânico não apenas no protagonista, mas no telespectador também. O centro de atendimento é um ótimo lugar para trabalhar a atmosfera de suspense, o transformando em algo parecido a um bunker, um lugar claustrofóbico e escuro, dando a entender que não apenas aquela é uma situação sem saída, não apenas para a vítima, mas para o próprio atendente que estaria preso à aquele ambiente e à situação, que de alguma forma o toca e o faz pensar nos seus erros do passado.

O roteiro aponta para essa direção da culpa do protagonista, já que durante as ligações que faz para encontrar o paradeiro da vítima são dadas dicas de que há um julgamento envolvendo Asger e que ele teria sim culpa no cartório, portanto ele está lá não apenas para ajudar uma pessoa, mas também para pensar no crime que cometeu e se seria justo que esse crime terminasse impune. É uma bela história de redenção, pois a culpa é um sentimento que vem de algo que foi feito de errado e que só quem consegue refletir de suas atitudes consegue a sentir.

Toda essa carga dramática é transmitida pelo único personagem de toda a trama. Asger Holm é um homem sério, confronta seus superiores para fazer o que acha ser o certo, quebra regras institucionais e investiga todo o caso sozinho, usando apenas a comunicação para mandar e desmandar os policiais que estão em campo. É  um personagem muito bem estruturado e desenvolvido, mesmo sendo mostrado o tempo todo no centro de atendimento, pois não ficam apenas focando em seu trabalho e no caso do sequestro, entram em sua vida e a desvendam com pequenos diálogos que vão nos fazendo entender melhor o protagonista. 

Destaque para a atuação fantástica de Jakob Cedergren (Submarino), que com um trabalho convincente de interpretação segura o telespectador, sua atuação vai do tédio inicial ao medo de viver uma situação fora do comum e termina com um ar de alívio, algo fantástico que deu ainda mais segurança para um personagem que já era ótimo. O melhor é que não há vícios em sua interpretação, há calma em sua voz e essa calma ajuda a diminuir a tensão e a dar um ritmo mais interessante à trama. 

Pela história se passar dentro do centro de atendimento da polícia é de se imaginar que o longa fosse parado e chato, mas pelo contrário, não é repetitivo e em nenhum momento cansa, se mostra ágil justamente pela ação que ocorre do outro lado do telefone e prende a atenção pelo ótimo roteiro. A câmera estática focada apenas no protagonista faz parecer com que o longa seja aparentemente parado, mas o diretor toma uma ótima decisão ao fazer a câmera se movimentar em alguns momentos, dando um ritmo mais interessante às cenas. 

Culpa termina com um plot twist surpreendente, daqueles que finalizam a história de forma eficiente e ainda te deixam surpreso de que aquilo estivesse na sua cara o tempo todo e mesmo assim foi engado. É uma ótima surpresa o acontecimento final e isso se deve ao ótimo trabalho de direção de Gustav Möller, um diretor sem muitos trabalhos relevantes na carreira, mas que já desponta como um diretor de bastante futuro pela frente, isso levanto em conta seu ótimo trabalho de direção.

Esse filme foi assistido na 42ª Mostra Internacional de SP

Culpa (Den skyldige, Dinamarca – 2018)

Direção: Gustav Möller
Roteiro: Gustav Möller
Elenco: Jakob Cedergren, Jakob Ulrik Lohmann, Jessica Dinnage, Laura Bro, Omar Shargawi
Gênero: Thriller
Duração: 95 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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