O filme é uma continuação direta da história escrita e desenhada pela dupla Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. O longa dirigido por Shinsuke Sato (famoso por adaptações cinematográficas de mangás como Gantz e I Am a Hero) e escrito por Katsunari Amano conta eventos dez anos após a trama do mangá, anime e, consequentemente, dos filmes live-action da franquia.
Na trama, seguidores de Kira acabam trazendo de volta o medo acerca dos cadernos da morte no mundo humano, capazes de matarem qualquer pessoa apenas escrevendo seu nome no caderno. Com essa nova ameaça, a polícia japonesa começa a perseguir todos os usuários do Death Note, que de acordo com as regras, só pode existir 6 cadernos ativos no mundo humano. Recebendo a ajuda do misterioso e excêntrico detetive Ryuzaki, a força tarefa comandada pelo investigador Tsukuru Mishima deve ir atrás dos assassinos e parar a nova sequência de assassinatos.
Às sombras de Kira
Apesar de não ser escrito pelo autor original da série, Tsugumi Ohba, a nova história criada para o filme tem todo o estilo e estrutura de um arco do mangá. E sim, é recomendável que você tenha familiaridade com a obra original, já que diversas regras e pormenores do roteiro são retirados dos eventos que ocorreram com Kira, L e os outros personagens principais da história original. A corrida estilo gato e rato entre os detetives e os novos assassinos segue a mesma fórmula da história original, sendo basicamente um terceiro arco da história de Death Note, onde as consequências geradas por Kira se mostram muito maiores do que o personagem em si.
Aqui, o mundo de Death Note se expande. O filme tem a oportunidade de explorar o que aconteceria caso pessoas com outras índoles possuíssem o caderno da morte. Um exemplo é a primeira cena do filme, onde vemos um doutor em um país europeu pegando o caderno e se utilizando para matar pacientes moribundos. Algo muito interessante no papel, e que é executado de forma bem interessante até certo ponto, mas que nunca chega a realmente empolgar.
O que falta aqui é a construção de tensão e o desenvolvimento de personagens em relação a história original. Ryuzaki, interpretado por Sosuke Ikematsu, tenta muito ser o novo L, com seus trejeitos, formas curiosas de tratar outros personagens e ao mesmo tempo ser extremamente calculista em seus atos. É assim, uma cópia do L que não ganha empatia o suficiente com o espectador para superar a sombra do personagem original. Outros personagens também são um Ctrl+C Ctrl+V de outros do original, formando assim uma repetição de temas e personagens, muito parecido com algo que ocorre até mesmo no próprio mangá original, com o segundo arco da história estrelando os detetives Mello e Near. Como em seu próprio universo, o novo mundo do filme ainda está às sombras de Kira e da história contada no mangá.
Porém, ainda há méritos a serem destacados. A direção do filme é muito bem executada, com um estilo visual realista e sombrio que aproxima o espectador da ideia de um mundo dominado pelo medo, com pessoas utilizando cadernos para eliminar pessoas a seu bel-prazer. Nas tomadas aéreas e da cidade, o filme ganha uma escala maior.
O roteiro sabe utilizar muito bem essa identidade visual aliada com uma história criada especificamente para um filme para criar cenas impressionantes na tela grande. Uma das primeiras é uma intensa cena de perseguição onde os policiais perseguem uma das assassinas usuárias do Death Note. Com um belo uso de edição e intensidade na trilha sonora, a assassina corre pela multidão e utiliza seu olho shinigami para ir matando pessoas no caminho e assim ganhar distância de seus perseguidores. É uma das melhores cenas do filme e que mostram bem a criatividade e a qualidade da direção do filme. Pena que isso dura pouco.
The Boring Note
Após alguns eventos que acabam delineando bem a ameaça que os investigadores japoneses deverão enfrentar, seguindo as pistas atrás dos 6 cadernos na Terra, o filme desacelera e inicia um jogo cerebral entre os assassinos e os investigadores. O filme aqui acaba perdendo o ritmo e se perde em diversas cenas de exposição, que acabam tirando a importância dos personagens a favor de um plot exageradamente complexo e que provavelmente funcionaria mais em um mangá ou livro.
A trilha sonora composta por Yutaka Yamada é também bem intensa e ajuda no clima. A parte visual do filme não deixa a desejar e entrega cenas com um estilo de fotografia forte e efeitos especiais dignos de uma produção hollywoodiana, com o destaque para os shinigamis, feitos em computação gráfica e inseridos nas cenas perfeitamente. Mas esse visual “Christopher Nolan” da produção acaba também a tornando um pouco genérica. Um visual que parece muitos outros filmes de ação e suspense americanos e que acaba não se destacando.
Além disso, sua narrativa é em algumas partes bem preguiçosa. O fato de constantemente vermos flashbacks não só dos acontecimentos dos filmes anteriores, mas também de eventos que acabaram de ocorrer, repetindo e se tornando redundantes. Uma muleta para a falha de síntese do roteiro.
Veredito
Death Note: Iluminando Um Novo Mundo é uma boa tentativa de sequência aos eventos da história original. Porém, passa a sensação de um filme procedural, sem exatamente um motivo para existir, tirando o que poderia ser uma ótima ideia e a transformando em um filme de ação genérico.
Há sim uma boa produção e direção, misturada com um roteiro que ao menos respeita o material original e entrega um filme agradável aos fãs e esquecível para o resto do público, com um terceiro ato arrastado e personagens que basicamente são cópias carbono dos originais. O mundo de Light Up The New World não parece tão novo quanto pretende ser.
Death Note: Iluminando Um Novo Mundo (Death Note: Light Up The New World, Japão, 2016)
Direção: Shinsuke Sato
Roteiro: Katsunari Amano
Elenco: Masahiro Higashide, Sosuke Ikematsu, Masaki Suda, Mina Fujii, Rina Kawaei, Sota Aoyama, Nakamura Shidō II, Erika Toda, Eiichiro Funakoshi
Gênero: Suspense
Duração: 135 min