Emilia Pérez é, sem dúvida, o filme mais comentado e questionado do Oscar 2025. Indicado em 13 categorias, incluindo as principais, como Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado, o longa ganhou ainda mais destaque, mas também se tornou alvo de críticas nas redes sociais.
Na América Latina, especialmente no México, o longa vem sendo acusado de representar o país de forma preconceituosa, de romantizar a violência dos cartéis mexicanos e de levantar questionamentos pelo fato de ser uma produção francesa com elenco majoritariamente americano concorrer ao Oscar na categoria de Filme Internacional.
Outra polêmica envolve as canções interpretadas pela protagonista, Karla Sofía Gascón, que foram aprimoradas com o uso da IA Respeecher, mesclando sua voz com a de Camille, coautora das músicas.
Dirigido por Jacques Audiard (Ferrugem e Osso) e com roteiro do próprio Audiard em colaboração com Thomas Bidegain e Léa Mysius, o filme aborda temas atuais e relevantes, como identidade de gênero e a violência dos cartéis mexicanos. Porém, ambos os assuntos acabam sendo tratados de forma superficial, deixando de explorar seu potencial.
O longa é dividido em duas narrativas diferentes, algo que compromete seu andamento. Ainda no primeiro ato, a trama se concentra na transição de gênero do líder de um cartel no México, uma premissa bastante interessante, mas que infelizmente perde força à medida que a história se desenvolve.
A partir do segundo ato, o longa muda de tom e se transforma em um drama familiar, acompanhando Rita e Emilia enquanto retomam o contato, além de Emilia reencontrar seus filhos e sua ex-esposa.
Falta de bom gosto
As escolhas de Audiard são bastante questionáveis, como fazer Selena Gomez falar espanhol com um sotaque extremamente carregado. Para piorar há os números musicais, em que as personagens aparecem cantando e realizando coreografias desajeitadas e cafonas.
É constrangedor acompanhar essas cenas, que interrompem a dramaticidade da história para inserir músicas sem graça. Sempre que o filme começa a se desenvolver bem, Jacques Audiard quebra o ritmo com canções aleatórias que pouco ou nada acrescentam à narrativa.
Os números musicais geram uma ruptura nos conflitos e destoam completamente do tom dramático da produção. Emilia Pérez seria mais levado a sério se fosse no mesmo estilo de Dia de Treinamento (2001) — ótimo exemplo de filme sobre o cotidiano violento das cidades.
Além disso, colocar performances musicais em uma história que aborda o tráfico de drogas pode ser interpretado como uma romantização das ações violentas desses grupos.
Apesar de estar cercado por polêmicas e ser uma obra de qualidade abaixo da média, Emilia Pérez surpreende pela quantidade de premiações que vem acumulando, incluindo as já mencionadas treze indicações ao Oscar.
Mesmo assim, trata-se de uma produção superficial, que dificilmente será lembrada nos próximos anos, pois não provoca um impacto emocional profundo no espectador e não apresenta uma história marcante.
Emilia Pérez (idem, França – 2024)
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Jacques Audiard, Léa Mysius, Thomas Bidegain
Elenco: Zoe Saldana, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Edgar Ramirez, Mark Ivanir, Eduardo Aladro
Gênero: Comédia, Crime
Duração: 132 min.