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Crítica | Grandes Astros: Superman – O Melhor do Melhor

Grant Morrison é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores nomes dos quadrinhos de todos os tempos, tendo conquistado uma legião de fãs desde o inicio da sua carreira nos anos 80. O que chamava a atenção do público era o quanto seus roteiros eram criativos, complexos, críticos sobre várias questões da sociedade e também com diversas referências a cultura pop. Em seu currículo constam quadrinhos muito elogiados, como seu run pela revista do Homem Animal, sua passagem pela revisa da Patrulha do Destino, e também pela revista da Liga da Justiça, fazendo o grupo voltar a lista de Best Sellers. Teve também suas criações próprias, a mais lembrada sendo a revista The Invisibles, da Vertigo. Em 2005 foi lhe dada a chance que há muito tempo esperava, escrever uma história sobre o Homem de Aço.

A história faria parte do selo All Star, que daria liberdade para os escritores fazerem histórias que não tivessem ligação com a linha cronológica, e teriam a sua disposição todos os elementos dos personagens que pretendiam escrever, para poder escrever histórias para pessoas que não tinham muito contato com o mundo dos quadrinhos. Morrison não tinha a intenção de fazer uma nova história de origem para o Superman, e nem trabalhar em outras histórias clássicas do Azulão, e sim criar uma história que fosse universal e atemporal, que mostrasse o que o Homem de Aço representava, e que sintetizasse o melhor de cada era do maior herói de todos os tempos. E assim nascia Grandes Astros: Superman. considerada por muitos o melhor quadrinho já escrito do último filho de Krypton

Na Trama, um grupo de cientistas do Projeto Cadmus estão fazendo pesquisas exploratórias próximas ao Sol, mas então são sabotados por Lex Luthor. Superman parte para o resgate do grupo, porém, ele não imaginava que tudo fazia parte do plano de Luthor, que pretendia sobrecarregar o Homem de Aço com altas quantidades de radiação, sabendo que isso o levaria a morte. O plano do vilão dá certo e o herói descobre que tem pouco tempo de vida, cerca de 1 ano,mas decide manter o seu destino em segredo para a humanidade. Lex é preso por crimes contra a humanidade, e sentenciado a morte na cadeira elétrica, devido a um artigo escrito por Clark Kent no Planeta Diário. Com pouco tempo na terra, Kent decide revelar sua identidade secreta para Lois, e usar os novos poderes que adquiriu para ajudar de maneira significativa os povos da terra, quanto também o povo de Kandor, miniaturizado por Brainiac.


A ideia de Morrison era trazer para essa HQ os principais elementos que fizeram parte de toda a trajetória, e como dito anteriormente, sintetizar o melhor de todas as eras do personagem. E ele faz isso, e com muita maestria. O roteiro de Grant traz aqui diversos elementos que fazem parte do universo do Superman, e todos são muito bem trabalhados e têm. Temos Jimmy Olsen, o corajoso repórter, que devido a sua coragem sempre acabava se metendo em confusão, e  no final é salvo pelo amigo. Temos Lois Lane, a intrépida jornalista, que está sempre em busca da verdade. Temos Luthor, que é mostrado como um ser corroído pela inveja, porque acreditava que o Superman tomou o seu lugar.  Temos a cidade engarrafada de Kandor, o único contato que o Superman tem com a sua cultura. A Fortaleza da Solidão, o abrigo herói, onde ele tirava um tempo para repousar, e guardar coisas incríveis.

Grant também trabalha com características do personagem principal. Vemos ele trabalhar aquela idéia de existir dois Clark Kent, o repórter atrapalhado, e o herói adorado, algo era bastante comum na Era de Prata e de Ouro. Enquanto Superman é imponente, corajoso, esbanja confiança, Kent é estabanado, tímido, e exala a inferioridade. O autor aqui nos mostra o quão bem trabalhada é a identidade secreta do Homem de Aço, que até mesmo Lois tem dificuldade para acreditar que são a mesma pessoa. Há também retornos a um conceito que foi comum na Era de Prata, período em que o herói teve um aumento gigantesco de poder, conseguindo ate tirar de órbita vários planetas ao mesmo tempo. Graças a exposição aos raios solares, o Homem de Aço mais uma vez chega a níveis de poderes inimagináveis, de tal forma que nem Kryptonita o afeta mais da mesma maneira.  Morrison brinca aqui com as diversas caracterizações que o personagem teve ao longo dos anos, e funciona bem com o plano que ele tem em sua obra.

As histórias do Superman sempre foram marcadas por seu teor aventureiro e por seu teor de ficção científica, e Morrison nos entrega isso. Vemos o herói enfrentando robôs gigantes, enfrentando uma entidade cósmica ee nfrentando invasões alienígenas. O ritmo é alucinante e diverte a todos aqueles que leem. Mas não apenas de ação é feita o quadrinhos, e também com partes bastante emocionantes e que nos tocam profundamente.Nós sabemos que a vida do Escoteiro está por um fio, então é tocante ver que ele tentar cumprir tudo aquilo que se propôs antes que o fim chegue. A que mais se destaca é quando Clark decide retornar a um dos momentos que mais marcou sua vida, que foi a morte de seu pai, Jonathan Kent, e fica difícil não se emocionar com todo o ocorrido, o que não pretendo dizer como se sucedeu, para não estragar para aqueles que ainda não tiveram o prazer de ler.

Porém, acredito que o principal dessa HQ é nos lembrar o porquê do Superman ser tão importante. Ele não é querido por causa dos seus poderes, ou porque ele foi o primeiro de todos. O Super conquistou uma legião de fãs devido ao fato de ser um bússola moral, uma figura que representava os mais altos valores. Um ser tão poderoso, que poderia ter subjugado a humanidade com tanta facilidade, mas que no entanto, decidiu que iria ser alguém leal, amigo e servir como um símbolo de esperança. Acho que é justo falar que o Azulão é quase uma personificação das virtudes da São Tomás de Aquino. Ele tem a prudência, pois sempre age pelos meios corretos. Ele representa a justiça. Ele tem a fortaleza, pois nunca se deixou corromper por momentos difíceis, e por último ele possui a temperança, pois nunca foi dominado pelas paixões, e sempre soube ser equilibrado. Não atoa muitos passaram a ver o herói como uma figura messiânica e divina.

Sobre essa visão religiosa, Morrison também acha espaço para falar sobre isso. Em uma das edições, vemos o Superman usar os poderes que criar uma imitação do Planeta Terra, e vemos que esses novos seres seguem a mesma linha cronológica que nós seguimos, passando por Idade da Pedra, Grécia, Roma, até chegar aos tempos modernos. Ao fazer isso, o roteirista tem a intenção de visitar dois momentos importantes da história do Superman. O momento em que Nietzsche escreve Assim Fala Zaratrusta, onde cunhou o termo Ubersmasch, que serviu como inspiração para Joe Shuster e Jerry Siegel quando começaram a planejar o primeiro protótipo do personagem. E também o momento em que Siegel reformulou o personagem pela terceira vez, e chegou a sua versão definitiva. Incrível como Grant sabe encaixar as coisas.

Frank Quitely, que já havia trabalhado com Morrison no Run do roteirista nos X-men, o acompanha mais uma vez nessa HQ, e mais uma vez faz um belo trabalho. Ele consegue fazer traços que são uma junção do atual e do antigo, o que casa bem com a finalidade da HQ. Ele é bastante detalhista nos desenhos dos personagens, e consegue evidenciar muito bem as suas emoções. Duas cenas que ele fez que mais chamam atenção é o Superman voando perto do Sol, e o beijo entre o herói e Lois Lane no solo da luna, que são belíssimas. O colorista Jamie Grant usa cores bastante vivas sobre os desenhos de Quitely, que funciona muito bem com a temática esperançosa da trama.

Grandes Astros Superman pode facilmente ser definida como a HQ definitiva do Homem de Aço. É uma homenagem a tudo que o herói viveu em sua história, e mostra tudo aquilo que ele representa. Ela nos faz lembrar a importância de sempre ter esperança, e em tempos como os que vivemos, este sentimento se faz muito importante.

Grandes Astros Superman (All Star Superman)  — EUA, 2005
Roteiro: Grant Morrison
Arte: Frank Quitely
Cores: Jamie Grant
Editora original: DC Comics
Editor: Brandon Montclare, Bob Schreck
Editor-chefe: Dan Didio

Redação Bastidores

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