
Se você é um dos muitos admiradores da saga Invocação do Mal, temos em 2025 algumas boas (e uma má) notícias. Primeiro, vamos às boas.
A quarta parte da franquia que, virtualmente, encerra a história dos paranormais Ed e Lorraine Warren no cinema é um final digno para uma ideia cinematográfica altamente bem-sucedida. O filme tem sustos na medida certa, um enredo com meia dúzia de personagens dotados de alguma humanidade e, apesar do final meio apoteótico (e gratuito), dificilmente irá desapontar os fãs do gênero.
As boas notícias podem não parar por aí. O alegado “final” talvez deixe uma porta aberta para que as desventuras fantasmagóricas prossigam, no futuro, se os realizadores abandonarem de vez o princípio de partir de “histórias reais” e – quem sabe? – fizerem de dois novos e jovens personagens um casal substituto de pesquisadores da paranormalidade. O roteiro fornece essa pista numa das cenas finais. Produtores de Hollywood não podem perder tempo ou oportunidade e ninguém rasga dinheiro. Veremos.
Agora, vamos à má notícia (e talvez nem seja tão má assim). Embora isso possa partir o coração dos fãs do casal Warren, toda a sua trajetória é baseada muito mais numa alongada “contação de causos” que em evidências reais. Jornalistas, pesquisadores e mesmo autoridades religiosas encontraram poucas provas das alegações dos dois em praticamente todos os seus casos famosos. Suas “investigações” envolviam um conjunto de elementos que extrapolaram (quando não simplesmente negaram) qualquer método científico, compondo uma mistura de crendice, viés de confirmação, autossugestão e show business.
Em resumo, não vá assistir à O Último Ritual imaginando que tudo aquilo realmente aconteceu. Toda a saga funciona bem como o que ela realmente é: ficção cinematográfica do gênero horror. E é dessa forma que precisa ser analisada.
Roteiro equilibra drama e suspense em doses corretas
Na trama, Ed Warren (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) experimentam um final de carreira e declínio da fama como investigadores paranormais, enquanto assistem à sua filha considerar um casamento, ao mesmo tempo que parece apresentar os primeiros sinais de paranormalidade. Paralelamente, uma família de classe média baixa da Pensilvânia é atormentada por uma assombração depois de ganhar de presente um espelho antigo, que amarra o enredo de volta aos Warren décadas atrás. Mesmo sem desejar, eles acabam tendo de confrontar a perturbação demoníaca que de alguma forma envolve também a filha, até o desfecho catártico que inclui a habitual porradaria obrigatória de toda grande produção de Hollywood ultimamente.
O que se espera de um filme de horror? Se provocar medo é a principal expectativa, você tem aqui momentos bem construídos de suspense. A direção não apela a sustos falsos e, quando constrói a tensão, ela é plenamente justificada. Diferente de A Hora do Mal, por exemplo, que desconcerta a audiência por vender um “filme de investigação” e entregar uma crônica dos subúrbios (e isto está longe de ser uma qualidade), Invocação do Mal 4 promete um filme de assombração e é precisamente isso que ele entrega. Para o bem e para o mal.
Um desfecho correto para um sucesso que já deu o que tinha de dar
Não há aqui nenhuma grande invenção, mas seria pedir demais de um filme que fecha (e não inaugura) uma saga com personagens conhecidos e queridos pelo público. O roteiro corre na velocidade certa, oferece medo bem equilibrado aos dramas familiares, e mais uma vez se apoia no carisma de Wilson e Farmiga – de fato, eles são presenças bem mais “confiáveis” que os Warren originais (na dúvida, dê uma olhada neles e considere se compraria um Buick usado daquela dupla).
A eventual decepção em relação ao filme revela, na verdade, muito mais um esgotamento do modelo que um defeito do filme em si. Ao espremer ao máximo seus lançamentos de sucesso, Hollywood tira dos subgêneros um pouco além do que eles oferecem em condições naturais. Não dá para reinventar a roda a cada nova temporada de lançamentos. Que a roda esteja redondinha não parece ser de todo mau (ao menos neste caso).
Cineasta, roteirista e colaborador esporádico de publicações na área, diretor do documentário “O Diário de Lidwina” (disponível no Amazon Prime e ClaroTV), entre outros.