James Wan certamente tem um fascínio curioso por bonecos do mal. Depois de apresentar o boneco Billy na franquia Jogos Mortais e a tenebrosa Annabelle nos filmes da série Invocação do Mal, o mestre do horror contemporâneo apresenta mais uma criatura original em sua mais nova produção: a ficção científica sombria M3GAN, que une Wan novamente com Jason Blum após ambos iniciarem a franquia Sobrenatural em 2010.
A trama acompanha a engenheira Gemma (Allison Williams), que precisa cuidar de sua sobrinha Cad (Violet McGraw), após um terrivel acidente de carro a deixar órfã. Buscando formas de entretê-la, Gemma apresenta Cady à M3GAN, um projeto em desenvolvimento de uma boneca de inteligência artificial. Mas à medida em que Cady se afeiçoa da boneca, M3GAN começa a desenvolver sua própria personalidade mortal.
Marcando o início de uma nova parceria entre a Atomic Monster de Wan e a Blumhouse, M3GAN é uma tremenda surpresa. Provavelmente seja melhor controlar as expectativas e não esperar um filme de terror convencional, já que o roteiro escrito por Akela Cooper (do surtado Maligno) está bem mais interessado em explorar elementos de ficção científica do que pensar em novas formas de assustar ou fazer o espectador pular da cadeira. Na verdade, o resultado temático e narrativo de M3GAN é surpreendentemente maduro e bem escrito.
Partindo do argumento de Wan, a história de Cooper é um perfeito template para um bom filme pipoca. Levando em conta a gigantesca dependência da Humanidade em tecnologia (com uma ênfase incisiva para crianças viciadas em aparelhos eletrônicos), M3GAN garante um excelente conto cautelar sobre o distanciamento humano e a ascensão da inteligência artificial. É uma trama bem desenrolada e que garante evoluções e reviravoltas construídas de forma excepcional, garantindo o uso mais inspirado da “Arma de Tchekhov” (um dispositivo para introduzir elementos importantes em pontos distintos da história) desde Aliens: O Resgate.
O que nos leva à própria M3GAN do título. A protagonista robótica é criada através de um eficiente misto com uma atriz de corpo inteiro (a dançarina Amie Donald), um rosto com elementos animatrônicos e também um toque de computação gráfica na pós-produção. Isso garante uma personagem que é sempre fascinante durante cada frame de cena, e que é ao mesmo tempo acolhedora e atenciosa, mas muito ameaçadora e assustadora nos momentos certos. Há também um inspirado trabalho vocal de Jenna Davis, que se diverte ao assumir elementos mais pops para sua dicção automatizada; como o jeito de fala adolescente, canções inesperadas e a dança que já se tornou sensação no TikTok.
Por fim, o neozelandês Gerard Johnstone faz um trabalho sólido na direção. É uma condução segura e sem muitos floreios, privilegiando a história e as relações intimistas entre personagens; onde Johnstone é inteligente em criar diversos quadros que servem como boas alegorias para os conflitos. O único demérito, por mais que a tensão seja bem aplicada nos momentos certos, é que certamente M3GAN precisava de uma classificação indicativa maior para ser mais impactante; já que diversos atos de violência surgem estranhamente higienizados e artificiais.
No mais, M3GAN é pura diversão. Servindo quase como o equivalente a O Exterminador do Futuro da geração Z, a nova parceria de James Wan com a Blumhouse é um perfeito exemplar do gênero, sendo divertido e reflexivo na medida certa, e ainda presenteando o espectador com um carismático novo ícone.
M3GAN (EUA, 2023)
Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: Akela Cooper, James Wan
Elenco: Allison Williams, Violet McGraw, Amie Donald, Ronny Chieng, Brian Jordan Alvarez, Jen Brown, Lori Dungey, Amy Usherwood
Gênero: Ficção científica
Duração: 102 min