Penelope Cruz e a figura da mãe já se tornaram sinônimos das obras de Pedro Almodóvar. Mães Paralelas marca a sétima parceria desse trio inseparável.
Lançado na Netflix, o filme foca em duas futuras mães solos prestes a dar a luz que dividem um quarto de hospital. Enquanto Janis (Cruz), uma fotografa de meia-idade, mostra-se segura com a maternidade, a outra, uma adolescente chamada Ana (Milena Smit), está a beira de uma ataque de nervos (entenderam o trocadilho?).
As personagens se identificam logo de cara pelo fato de serem solteiras e passarem por uma gravidez não planejada, mas mal sabem elas que a partir desse momento, seus caminhos se tornariam entrelaçados por toda a vida, graças as reviravoltas e segredos que vêm a tona.
Cruz, mesmo que tenha recebida uma indicação para Melhor Atriz no Oscar 2022, por sua atuação, não traz tanta emoção para certos momentos que pedem algo a mais. E Smit se mostra fraca em comparação a sua companheira de cena, mas é difícil dizer se isso é um traço da ingenuidade da personagem, ou uma característica da atriz. Mas, sem dúvida, a parceria entre as duas funcionou.
Pátria amada
Em paralelo, outra trama é desenvolvida através de Janis, que luta há anos para tentar realizar uma escavação em seu povoado para recuperar os restos mortais de seu bisavô, morto pela Falange Espanhola – uma organização política inspirada no fascismo, que se juntou ao movimento nacionalista de General Franco – durante a Guerra Civil na Espanha (1936 a 1939). É possível tentar traçar uma conexão entre o drama materno e as questões políticas com a fala de Janis para Ana, procurando a incentivar a conhecer mais sobre a história da nação, principalmente os acontecimentos do século XX, dizendo que seja uma pessoa ou um país, para seguir em frente é preciso conhecer e acertar as contas com o passado.
Infelizmente, esse segundo arco narrativo, apesar de bem interessante, fica um pouco deslocado, aparecendo no começo e no final do longa, e perdendo sua potência. Mas é com ele e com a predominância das cores da bandeira espanhola – vermelho e amarelo – na fotografia, que percebe-se que existe uma terceira mãe nessa história: a pátria de Almodóvar.
As mães de Pedro
A ideia de filmar Mães paralelas não é de hoje. Almodóvar, que além de dirigir assina o roteiro, revelou que tinha o intuito de realizar o filme há mais de uma década. “Com Mães Paralelas eu retorno ao universo feminino, à maternidade, à família. Falo sobre a importância dos ancestrais e dos descendentes. Da inevitável presença da memória. Há muitas mães em minha filmografia, e as que estarão nessa história são bem diferentes “, disse Pedro para a Variety e ele complementa, “Como roteirista, mães imperfeitas me inspiram mais nesse momento”.
O tema da maternidade não é novo para o diretor, que é conhecido por realizar diversas obras sobre a mesma temática, mas sempre trazendo variações. Inclusive, entre seus trabalhos mais celebrados está o longa Tudo sobre Minha Mãe, que venceu o Oscar de 2000, como melhor filme internacional.
Entre outros trabalhos do espanhol, Volver (2006), também tem uma mãe que volta à vida para se acertar com a filha e rendeu à Penélope uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Já Julieta (2016) e Dor e Glória (2019), discorrem sobre a relação do próprio diretor com sua mãe.
Mães Paralelas está em exibição cinemas brasileiros e chegou à Netflix junto com uma coletânea de obras de Almodóvar.