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Crítica | Mare of Easttown – A nova obra-prima da HBO

Poucas apostas são tão seguras quanto a combinação de HBO e histórias de mistério. Basta lembrar do recente reboot dark do advogado Perry Mason, a instigante minissérie The Night Of ou a excepcional antologia policial de True Detective; pra citar apenas algumas das obras dos últimos anos. Nos primeiros meses de 2021, a emissora segue essa cartada de sucessos de alta qualidade com mais uma história envolvente no gênero com Mare of Easttown, que pode não ser a obra mais revolucionária da televisão – mas certamente é uma das mais bem construídas de 2021.

A trama começa como todo bom mistério: somos apresentados a uma cidadezinha cheia de segredos e figurinhas peculiares em cada canto de sua infraestrutura: Easttown, na Pensilvânia. No centro da narrativa, temos a investigadora Mare Sheehan (Kate Winslet), que na tradição das melhores histórias de detetives, tem mais problemas para manter a vida pessoal em pé do que encontrar assassinos. A história começa quando o assassinato de uma jovem choca a cidade, colocando Mare ao lado de um jovem agente do FBI (Evan Peters) para tentar encontrar o culpado.

O bom e velho whodunit

O famoso whodunit, por assim dizer. Uma clássica variante do gênero policial que se dedica a tentar encontrar quem foi o responsável por um crime ou assassinato. É uma fórmula sem erro, e que vem entregando grandes obras desde os primórdios da literatura mundial. O roteirista e showrunner Brad Ingelsby sabe bem das regras do gênero, e faz com que os 7 episódios de Mare of Easttown sejam repletos de reviravoltas surpreendentes, pistas instigantes e uma narrativa que, a cada hora avançada, parece ser capaz de trilhar qualquer caminho, e atinge uma conclusão simplesmente inimaginável; e esse é o melhor tipo das histórias whodunit.

Mas o que separa essas histórias umas das outras é mesmo seu trabalho com os personagens. Ainda que Ingeslby seja muito eficiente na condução do mistério e da investigação central, o drama envolvendo os traumas de Mare, a complicada relação com sua mãe (uma Jean Smart excepcional), a filha (Angourie Rice) e praticamente todos aqueles com quem compartilha a mesa de jantar são o ápice dramático da série. Ingeslby aposta em intrigas de família espinhosas e difíceis de se abordar, desde suicídio, gravidez precoce, depressão e outros temas complexos.

A própria Mare de Kate Winslet é uma protagonista extremamente difícil de se acompanhar, dada sua amargura, pessimismo e às vezes uma grosseria indesculpável. Mas é graças à brilhante performance de Winslet, que é capaz de apresentar diferentes facetas de Mare, e também do texto de Ingelsby, que a cada episódio vai se aprofundando no trauma da protagonista e esboçando um belo caminho para desenvolvê-la e deixá-la em um ponto mais digno – seja pela relação com suas familiares, a presença do charmoso personagem de Guy Pearce ou a divertidíssima dinâmica buddy cop com o simpático investigador vivido por Evan Peters. É uma metamorfose realmente belíssima de se ver desabrochando, que termina em uma imagem absolutamente maravilhosa no fim das 7 horas; tão maravilhosa que eu espero que a HBO resista à tentação de transformar esta minissérie perfeitinha em uma série com múltiplas temporadas.

Maravilha de Easttown

E com tantos elogios para o roteiro Brad Ingeslby, não posso deixar de falar da direção de Craig Zobel. Responsável pelo mediano A Caça no último ano, Zobel dirige todos os 7 episódios da minissérie com domínio técnico e narrativo invejáveis: ao mesmo tempo em que é capaz de abraçar a sensibilidade necessária para lidar com o drama, especialmente nas cenas envolvendo Mare e sua melhor amiga Lorraine (Julianne Nicholson, no papel coadjuvante mais difícil da série), Zobel também é hábil no suspense. O quinto episódio da série traz uma das cenas de perseguição mais assustadoras no gênero desde que Jodie Foster caçou o Bufalo Bill em O Silêncio dos Inocentes, começando com uma ação devastadora para mergulhar o espectador em uma atmosfera de suspense inquieta – que também acompanha alguns dos cliffhangers mais

Mare of Easttown representa o melhor da televisão contemporânea. Através de personagens fortes, uma trama imprevisível e a brilhante performance central de Kate Winslet, a HBO alcança uma de suas obras mais notáveis nos últimos anos, com diversos elementos cinematográficos para atingir uma verdadeira obra de arte. Seja no cinema ou na TV, 2021 tem um de seus ápices aqui.

Mare of Easttown (EUA, 2021)

Showrunner: Brad Ingelsby
Direção: Craig Zobel
Roteiro: Brad Ingelsby
Elenco: Kate Winslet, Jean Smart, Evan Peters, Angourie Rice, Julianne Nicholson, David Denman, Neal Huff, Guy Pearce, Cailee Speaney, John Douglas Thompson, Joe Tippett, Sosie Bacon
Gênero: Drama, Suspense
Emissora: HBO
Episódios: 7
Duração: 1h

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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