em ,

Crítica | Mulheres Divinas – Libertação Política e Social

*Este filme foi visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

1971 foi um marco político e social para as mulheres suíças. Neste ano elas conseguiram, depois de muita luta e reivindicação, ganhar o direito ao voto. Até então, eram impedidas de votar e tinham que se dedicar exclusivamente às tarefas domésticas de passar, lavar e cuidar dos filhos e do marido. Isso mudou depois que uma votação foi feita para que pudessem gozar dos seus direitos. 

Esse é o tema principal de Divinas Mulheres, uma boa produção que busca discutir um tema bastante relevante para a sociedade. Ele não fica só no fato de contar a história das mulheres, tenta abordar a importância delas, a sua independência e como foi o caminho até essa conquista. 

A história se passa em um vilarejo na Suíça em que Nora (Marie Leuenberger) vive como se fosse uma funcionária do marido. Ela quer trabalhar e começa a desafiar os costumes da época e sua família para que consiga não apenas o direito ao trabalho, mas também ao voto. O que começou com algo pequeno cresceu e outras mulheres aderiram ao movimento até chegar a uma greve, a qual deixou os maridos em casa cuidando do lar, enquanto elas estavam reunidas em uma casa. 

A diretora Petra Biondina Volpe tem poucas produções em seu currículo, mas isso não quer dizer que seja inexperiente, já que trabalhou com curtas e um longa. Sua direção é competente na hora de apresentar os fatos e criar subtramas para demonstrar como a mulher era tratada naquela época. 

Ela faz uma mescla entre vários tipos de situações: a garota que é levada para a prisão por sair com outros rapazes, a esposa submissa que permite o marido fazer tudo o que deseja, a estrangeira independente que traz um novo discurso para a cidade provinciana. Todas essas relações são mostradas no seu próprio tempo e dão ênfase na importância da independência feminina. No entanto, não há muita profundidade nas questões das relações familiares. Em alguns momentos, a história soa superficial por focar demais na vida de Nora e deixar de lado as outras personagens.

A trilha sonora é um ponto a se destacar. Composta por artistas femininas como Peggy Scott, Aretha Franklin e Lesley Gore, ela dialoga com as cenas mostradas e complementa a fala das personagens. 

Outro acerto é mostrar como as mulheres nessa pequena cidade da Suíça estão completamente isolada do restante do mundo. Em outras grandes cidades suíças, como Zurique, havia manifestações rotineiras pela luta da libertação feminina, enquanto no vilarejo nem se pensava a respeito do assunto. O filme poderia ter ido mais além e até apresentar mais elementos da influência da cidade grande em relação à cidadezinha. Apenas alguns momentos são mostrados, como a hora em que Nora ganha livros falando sobre o voto feminino. 

As cores são belamente trabalhadas na produção. O figurino, a fotografia, os objetos de cena e o cenário vão mudando os tons e acompanhando a luta das personagens, indo do quente para o frio, demonstrando que as mulheres estão tomando consciência de que não é apenas o direito ao voto que está em jogo.

No terceiro ato é que acontecem as maiores falhas. A diretora parece não saber aonde quer chegar. Fica dando voltas e voltas, mostrando que os homens não são nada sem as mulheres, algo que ela já havia abordado antes e que retorna. Depois de um tempo fica vazio e repetitivo, além de não acrescentar nada de novo para a trama.

Há uma mensagem perto do fim que soa contraditória com tudo que ela havia nos dito até então: quando a cozinheira italiana diz para Nora que não consegue se separar porque não pode viver sozinha. Essa cena em especial pareceu bastante jogada, não foi trabalhada e trouxe um outro debate que não foi discutido. 

Se aproximando do final, a narrativa fica mais corrida. Tanta informação é jogada que parece que a diretora precisava finalizar o filme o mais rápido possível. Ao fim da votação, é mostrado rapidamente que tudo voltou ao normal facilmente. Todavia, é sabido que essa abertura para as mulheres não foi tão simples assim. 

Mulheres Divinas (Die Göttliche Ordnung, Suíça – 2017)

Direção: Petra Biondina Volpe
Roteiro: Petra Biondina Volpe
Elenco: Marie Leuenberger, Bettina Stucky, Marta Zoffoli, Maximillian Simonischek, Rachel Braunschweig, Sibylle Brunner
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 96 minutos

Avatar

Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Lista | Ranking dos filmes de David Fincher

Crítica com Spoilers | Thor: Ragnarok – Quando o Hulk salvou o Thor