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Crítica | No Táxi do Jack – Uma corrida inesquecível

O procedimento padrão é dar bom dia, entrar no taxi e começar o papo com o motorista por um assunto aleatório, na esperança que o mesmo de continuidade. No Taxi do Jack, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é justamente isso que a diretora Susana Nobre faz.

É interessante conhecer uma história sobre o ponto de vista de quem viveu. Sempre há aquela emoção na desconfiança se tudo dito é verdade, servindo de passa tempo a análise de cada exagero. Mas quando a própria pessoa é o exagero, a regra é acreditar. Joaquim é um português que foi tentar a vida nos EUA quando jovem, traduzindo assim seu nome para Jack. Hoje, já velho, coleta carimbo de empresas em entrevistas fajutas, para justificar o auxílio desemprego.

Não estranhe em achar a estética desse filme parecida com um documentário, pois Nobre veio dessa vertente e aqui realiza seu segundo longa-metragem de ficção. Ela sabe muito bem mesclar o uso de narração com sequências do dia do personagem. Os diversos momentos em que Jack pilota sua Mercedes, ajusta sua peruca exagerada e tem aulas de inglês, sempre bem embalados de uma trilha e um trecho de narração sobre o passado. Até suas escolhas estéticas, é como um daqueles filmes dos anos 60, com cores que saltam aos olhos e toda direção de arte fica visível. Tudo isso muito bem receptível aos olhos graças ao personagem principal.

Joaquim Veríssimo interpreta com maestria esse personagem, tão abstrato que chega a ser real. Aquele tipo de pessoa que você já deve ter visto em uma churrascaria ou aquelas paradas de estrada. Ele mesmo, antes de conhecer a diretora, praticava a coleta de carimbos para ganhar auxílio desemprego. E a todo momento, Veríssimo entrega uma nova qualidade ou defeito do personagem. Não sei até que ponto ele estudou os taxistas, mas também se destaca o seu tom e pausa durante a narração, como quem se concentra na estrada e dá uns picos na história quando olha pelo retrovisor ou para no farol. 

Agora a maior qualidade desse filme fica com sua inesperada trama. Vai de 0 à 100 em um piscar de olhos, sem se preocupar com o ridículo. Os personagens secundários, as locações e até as músicas de fundo, contribuem para um show de imprevisibilidade. Só não chegou a perfeição devido à algumas questões técnicas, que parecem feitas de qualquer jeito, como as externas onde as pessoas – não figurantes – constantemente olham para a câmera, e isso consegue incomodar em certos momentos.

Para quem curte um filme sem os pés no chão, vale pegar carona no táxi do Joaquim, ou melhor dizendo: Jack!

No Táxi do Jack (Portugal – 2021)

Direção: Susana Nobre
Roteiro: Susana Nobre
Elenco: Armindo Martins Rato, Maria Carvalho, Joaquim Veríssimo
Gênero: Drama
Duração: 71 min

Acompanhe mais da nossa cobertura da 45ª Mostra Internacional de São Paulo

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Publicado por Herbert Santos

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