O primeiro ponto que deve ser dito sobre O Solista é que é uma história que já foi feita várias vezes em inúmeros filmes: da pessoa comum que quer ajudar um mendigo, por esse ter um dom. Mas o que chama a atenção no filme de Joe Wright? As atuações e a condução do inglês.
Baseado em uma história real, o longa conta a história do cronista Steve Lopez (Robert Downey Jr) que após um dia comum de trabalho acaba encontrando na frente do prédio aonde trabalha um mendigo chamado Nathaniel Ayers (Jamie Foxx) que mesmo sendo esquizofrênico se mostra um musico brilhantes, chamando a atenção de Steve por tocar maravilhosamente um violino com apenas duas cordas. O cronista fica fascinado por Ayers e decide ajudá-lo de qualquer maneira, mas para o mendigo a única coisa que lhe interessa é a música.
Disse no primeiro parágrafo que a história do longa é comum, mas se percebe que o roteiro assinado por Susannah Grant se contenta em ir para os caminhos mais fáceis e comuns. Antes que alguém fale que aconteceu como está no filme, entenda que quando se romantiza uma história levando para o cinema se deve estruturar de uma maneira que funcione no filme. Em O Solista é tudo muito previsível e clichê: Steve é um solitário que tem problemas com o filho; a família de Nathaniel desistiu dele por conta da doença; ele não quer assumir que é doente; há uma ONG que fará com que Steve mude a sua impressão sobre os doentes mentais, etc… Ou seja, segue a receita da Sessão da Tarde.
Mas se o roteiro se mostra satisfeito com esses caminhos, a direção de Joe Wright se mostra mais ambiciosa. Desde o primeiro plano, vemos que Wright quer mostrar algo diferente, deixando claro o cotidiano de Los Angeles, focando no urbanismo. Sua decupagem evita planos óbvios, focando mais na reação dos atores e de como funciona esse universo. Isso se deve a fotografia de Seamus McGarvey – parceiro habitual de Wright- que filma a cidade de maneira naturalista, mas sempre que possível evidencia a sujeira de Los Angeles, dando um caráter coerente para a cidade. Mais um belo trabalho da dupla.
Outro parceiro recorrente de Wright que faz mais um belo trabalho é o musico Dario Marianelli. É uma trilha que era fácil ir para o brega e choroso, mas o compositor evita isso refazendo temas de Mozart e Beethoven, já que Nathaniel adora musica clássica. Esse trabalho acaba deixando a musica como um personagem do filme, já que vira a voz de Nathaniel. Mais um belo trabalho desse musico que já provou que é acima da média.
Já as atuações são o ponto forte do longa, com destaque para a dupla protagonista. Robert Downey Jr (Em uma época remota que ao menos compunha personagens) se mostra muito contido e mostrando o poder do seu olhar, que se mostra todo o momento encantado como o amor que Nathaniel. Apesar de ter o senso de humor sarcástico de Tony Stark, é um trabalho que mostra o quão talentoso Downey Jr é. Mas o destaque fica para o ótimo Jamie Foxx. Ator que tem uma das carreiras mais instáveis -não apenas nas qualidades dos seus filmes, mas também em suas atuações – em O Solista temos um dos melhores trabalhos de sua carreira. Em uma composição rica, que evita caricaturas, Foxx consegue não só passar amor e medo através do olhar, como a sua maneira rápida de falar se mostra coerente, mostrando toda a confusão que se passa na mente do sujeito. Um trabalho rico que mostra que quando está afim, Jamie Foxx ainda é capaz de entregar muito decente que justifica o seu Oscar.
Enfim, mesmo O Solista não sendo dos melhores filmes de Joe Wright, é um filme competente e bem feito. Tecnicamente é feito com capricho e contém boas atuações, mas está infelizmente preso a um roteiro covarde e pouco ambicioso. Uma pena, mas ainda mais um bom trabalho de Joe Wright na direção.
O Solista (The Soloist, EUA – 2009)
Direção: Joe Wright
Roteiro: Sussanah Grant, baseado no livro de Steve Lopez
Elenco: Robert Downey Jr, Jaime Foxx, Catherine Keener, Jena Malone e Tom Hollander
Gênero: Drama
Duração: 117 minutos