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Crítica | Parque do Inferno – O Décimo Círculo

É costumeiro dizer que a época do Halloween é uma das mais adoradas pelos realizadores do mundo do entretenimento – e não me refiro apenas ao lançamento de produções do gênero durante as últimas semanas de outubro, mas sim colocar o escopo sobrenatural e assustador como pano de fundo para a delineação de narrativas. Entretanto, à medida que tal nicho ganhou popularidade, principalmente durantes as décadas iniciais do século XX e numa revisitação com os slashers a partir de 1980, as investidas cinematográficas mergulharam nas tristes investidas clichês, saturando-o de modo insuportavelmente repetitivo. Mesmo com esses inúmeros avisos, com poucas exceções (e aqui faço menção à franquia Invocação do Mal, que veio para renová-lo de forma impecável) à regra, o diretor Gregory Plotkin jurou que conseguiria trazer algo novo às telonas – e o resultado não poderia ter sido pior.

Parque do Inferno já indica ao espectadores a premissa, os acontecimentos em geral e a provável resolução de uma história bastante conhecida. Ambientado – mas que surpresa! – na noite de 31 de outubro, a trama gira em torno de um grupo de amigos que resolve visitar o parque homônimo, cujas instalações foram adornadas especialmente para os fãs de terror, com vários funcionários à caráter, atrações de arrepiar a espinha – e um sedento serial killer que aproveita a atmosfera para continuar seu sangrento legado. Na verdade, o longa começa mostrando o assassino dentro de um mansão mal-assombrada/labirinto, fingindo ser um dos personagens e atacando brutalmente uma jovem, deixando-a apodrecer dentro do cenário até alguém encontrá-la.

E é claro que parte dos protagonistas sabe dessa infeliz tragédia e, contrariando o que o bom-sendo diz e preferindo mais uma vez pelos convencionalismos narrativos, ir ao parque e aproveitar a noite. De um lado, temos cética e ao mesmo tempo hesitante Natalie (Amy Forsyth), que aceita ir ao evento como forma de compensar o súbito sumiço da vida da melhor amiga, Brooke (Reign Edwards), por conta dos estudos, e por reatar um possível romance com Gavin (Roby Attal). Na outra extremidade, insurge as figuras rebeldes e sem qualquer senso de responsabilidade Taylor (Bex Taylor-Klaus) e Asher (Matt Mercurio), os quais fazem questão de pegar no pé de Natalie até que ela ceda aos joguinhos psicológicos e faça exatamente o que querem. Apesar do otimismo que esse núcleo carrega, suas aventuras pelo parque logo são ameaçadas pela sutil presença do Outro, o nosso querido assassino.

Os problemas – e não me refiro aos obstáculos enfrentados pelos personagens principais – se fixam profusamente ao longo dos três atos da obra. O primeiro move-se num ritmo lento, com atuações beirando a canastrice e uma falta de química gritante e odiosa. Nem mesmo Forsyth, provinda de uma belíssima rendição na série Channel Zero, consegue se afastar de sua persona estereotipada – afinal, não há muito o que se fazer com diálogos tão pífios quanto esses. Conforme nos aproximamos para o miolo da narrativa, Plotkin pecaminosamente erra o teor das construções cênicas: as falas sofrem uma leve melhora e a organicidade do elenco aumenta de forma considerável, mas a exponencial tensão atmosférica nunca encontra seu ápice. Ainda que o Outro (interpretado por Stephen Conroy) elimina uma outra visitante na frente deles, isso não é o suficiente para causar qualquer catarse, apenas uma leve dúvida que apenas se concretiza nos últimos minutos.

O terceiro ato talvez seja o mais problemático por não condizer com a suposta mensagem do longa. Além de acelerar as coisas, começando pelo massacre inacabável do serial killer que poderia ser tratado de outro modo, o roteiro assinado por Seth Sherwood e Blair Butler não sabe como proceder ou acabar a so-called jornada. Eventual e tardiamente, as últimas duas sobreviventes percebem que não há mais o que fazer e se trancam – de forma inexplicável – em um labirinto cheio de “armadilhas” acionadas por sensores de movimento, e resolvem se esconder e utilizar do espaço para enganarem o assassino. É uma jogada inteligente, mas que acaba do pior jeito possível e sem qualquer nexo. A última sequência, porém, consegue cavar mais fundo: o Outro volta para sua casa, guarda a máscara e dá boa-noite para sua filha.

O que isso realmente quer dizer? Que nas noites de Halloween ele se transforma em um psicopata e sai para a matança anual? Que ele não tem controle de si próprio e vê os crimes como um modo de se livrar de qualquer angústia? Sim, essas perguntas existem, e nenhuma delas encontra a resposta necessária que converse com o tom do longa, deixando as coisas ainda mais confusas do que já estavam. Nem mesmo a direção de arte, que em tese deveria ser irretocável, consegue varrer para debaixo do tapete os inúmeros deslizes da obra. Com raras exceções, a arquitetura fílmica deixa muito a desejar e mostra, mais uma vez, que mudanças drásticas precisam existir para que o gênero do terror retorne.

Parque do Inferno, ao menos, consegue passar duas mensagens interessante: a primeira é, seja lá o que estiver fazendo, não visite um lugar que já foi palco de um massacre não resolvido. E, além disso, não vá assistir esse filme. Existem coisas melhores a se fazer.

Parque do Inferno (Hell Fest – EUA, 2018)

Direção: Gregory Plotkin
Roteiro: Seth Sherwood, Blair Butler
Elenco: Amy Forsyth, Bex Taylor-Klaus, Reign Edwards, Christian James, Stephen Conroy, Matt Mercurio, Roby Attal
Gênero: Terror
Duração: 89 min.

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Publicado por Thiago Nolla

Thiago Nolla faz um pouco de tudo: é ator, escritor, dançarino e faz audiovisual por ter uma paixão indescritível pela arte. É um inveterado fã de contos de fadas e histórias de suspense e tem como maiores inspirações a estética expressionista de Fritz Lang e a narrativa dinâmica de Aaron Sorkin. Um de seus maiores sonhos é interpretar o Gênio da Lâmpada de Aladdin no musical da Broadway.

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