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Crítica | Pokémon: Detetive Pikachu – Um mundo para se viver e admirar

Até que demorou, mas os monstros colecionáveis de Pokémon, um dos anime mais populares de todos os tempos, enfim ganharam uma versão live-action. Com a Warner Bros e a Legendary por trás, Pokémon: Detetive Pikachu aposta em uma fase muito específica da franquia para servir como porta de entrada para uma potencial franquia cinematográfica, mas é mesmo uma passagem para que possamos ver icônicos personagens ganhando vida. O resultado certamente não é um grande estouro, mas é divertido o bastante para fazer desejar mais visitas a esse universo.

O filme apresenta um mundo onde humanos e Pokémon vivem em harmonia, destacando a metrópole de Ryme City como o grande centro dessa interação. Nesse cenário, o jovem Tim (Justice Smith) precisa descobrir o que aconteceu com seu pai, que é dado como desaparecido após uma investigação misteriosa. Ao seu lado, ele conta com a ajuda de um Pikachu sem memória (Ryan Reynolds) que se apresenta como um impecável detetive.

(Not so) True Detective

É curioso que seja justamente como um filme de detetive que Pokémon abra seus braços para o mundo do cinema. O material original sempre girou ao redor de torneios e histórias de caçada, com Detetive Pikachu sendo um game derivado para um nicho de fãs muito específico. Por mais que o longa não seja bem sucedido nesse quesito, já que o mistério é completamente desinteressante traz uma resolução absolutamente banal e vergonhosa de tão ruim (impossível de comentar sem spoilers), o roteiro de Dan Hernandez, Benji Samit, Derek Connolly e do diretor Rob Letterman acerta em como introduz o universo de Ryme City e seus habitantes de forma natural e nada confusa.

Tudo bem que o mérito está mais no trabalho de Letterman e sua gigantesca equipe de designers, artistas e equipes de efeitos visuais, que criaram um mundo palpável e que até mesmo exala de tão verossímil, mas o texto do quarteto ao menos traz algumas cenas divertidas e personagens Pokémon com características sólidas – com a sequência em que Tim e Pikachu interrogam o Mr. Mime usando o melhor dessas duas facetas, ao reproduzir uma situação característica do cinema policial com um personagem extremamente particular do universo de Pokémon.

Pikachu 2049

Agora, o grande trunfo do filme está em seu visual, e não necessariamente onde a maioria espera. Sim, todos os Pokémon e os efeitos visuais para lhes darem vida são ótimos, mas o grande mérito fica com a espetacular direção de fotografia de John Mathieson. Para começar que a peculiar decisão de Letterman em rodar o filme em película – digo peculiar porque filmes com grande presença de efeitos visuais tendem a ser rodados no formato digital, mas esta é uma feliz exceção.

Tal decisão garantiu mais textura e realismo para as diversas criações digitais, e o trabalho de Mathieson com jogo de luzes e composições é fenomenal. As referências de Mathieson vão do óbvio cinema noir (com sombras expressionistas e muita névoa em interiores) até o neo noir de obras como Blade Runner; a forma como o primeiro encontro entre Tim e Pikachu é iluminado pelo neon que varia de azul e vermelho no exterior do ambiente é memorável, e torna a cena ainda mais instigante.

Dublagem empurrada goela abaixo

Certamente muitas pessoas acabaram se interessando pelo projeto por seu astro: Ryan Reynolds, que surpreendeu ao ser escalado para fazer a voz (e motion capture) de Pikachu. Infelizmente, não tenho como avaliar seu trabalho, já que não o vi. A esmagadora maioria das cópias brasileiras do filme está trazendo a versão dublada, e inexplicavelmente até mesmo a cabine de imprensa onde assistimos ao longa trouxe a cópia não-original, tornando impossível trazer uma análise dos trabalhos de Reynolds, Smith, Ken Watanabe e outros membros do elenco consistente. Só posso dizer que Pikachu está realmente fofo, mas sinto que perdi muito ao não assistir com a voz original de todo o elenco – sem falar que a mixagem de som claramente se prejudica nesse processo.

Mas devo acrescentar que, mesmo dublado, nenhum dos personagens humanos soa minimamente cativante ou interessante. Desde o perfil histérico de Smith até a construção forçada das figuras de Bill Nighy, Chris Gere e principalmente da pseudojornalista vivida por Kathryn Newton, é um alento ver que o filme está repleto de Pokémon para nos distrair dos personagens de carne e osso.

Pokémon: Detetive Pikachu é um filme com diversos problemas narrativos, e também na forma como tenta brincar com o gênero policial, mas que vale a diversão pelo mundo imersivo que constrói. Os Pokémon estão carismáticos e divertidos, e o longa surpreende pelo cuidado estético incomum de sua direção de fotografia para um longa do tipo. Eu só queria mesmo ter ouvido o Ryan Reynolds, pois suspeito que a experiência teria sido ainda mais proveitosa.

Pokémon: Detetive Pikachu (Pokémon: Detective Pikachu, EUA – 2019)

Direção: Rob Letterman
Roteiro: Dan Hernandez, Benji Samit, Derek Connolly e Rob Letterman, baseado na franquia Pokémon
Elenco: Ryan Reynolds, Justice Smith, Kathryn Newton, Bill Nighy, Ken Watanabe, Chris Gere, Suki Waterhouse
Gênero: Aventura
Duração: 105 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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