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Crítica | Quando Explode a Vingança - O Último Western de Sergio Leone

Guilherme Coral Guilherme Coral
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•6 de fevereiro de 2018•7 Minutes

A revolução é um ato de violência. As palavras de Mao Tsé-Tung abrem a projeção deste conto passado na revolução mexicana, já denotando um pouco do que poderíamos esperar em seus 157 minutos. Seguindo o exemplo de seus westerns anteriores, Sergio Leone novamente choca a audiência com a violência nele expressa. Lembrar desta obra somente por este fator, contudo, seria, no mínimo, uma injustiça. Estamos diante de um longa-metragem sobre a amizade e as diferentes faces de uma guerra civil.

Após a citação inicial, nos deparamos com um close na urina de um homem sobre as areias do deserto. A câmera se movimenta, então, com fluidez, nos descrevendo este primeiro personagem, Juan Miranda (Rod Steiger), um camponês descalço à beira de uma estrada no meio do nada. Uma diligência se aproxima e o humilde sujeito prontamente pede uma carona. Os condutores aproveitam esta chance para chocar os passageiros ali dentro, permitindo a entrada de Juan com uma certa dose de zombaria. Dentro do veículo nos deparamos com cidadãos de classe alta e um padre que não perdem tempo para discriminar a ralé, aos seus olhos, que acaba de entrar. Os closes já presentes desde os primeiros segundos aqui chamam ainda mais atenção, focando nas bocas cheias de comida e olhos julgadores daquela pequena elite. Aqui já temos um vislumbre do que veríamos ao longo da obra, a desigualdade social e, mais importante, o comportamento de cada um dentro de uma revolução, onde o protagonista já reconhece que são os pobres que dão o sangue enquanto os ricos permanecem na ostentação.

Juan, contudo, não é tão frágil quanto aparenta e logo se revela o líder de um bando de criminosos. O roteiro, a partir deste ponto, trabalha na construção e desconstrução, nos trazendo uma visão que, ora nos aproxima, ora nos distancia de Miranda. Quando conhecemos o segundo elemento chave da trama, o irlandês John Mallory (James Coburn), passamos a duvidar das ações do outrora humilde camponês. Por alguns minutos ficamos em um vai e vem, oscilando no foco entre o mexicano e o irlandês, ao passo que, lentamente, os caminhos de ambos se tornam um só. As diferenças trabalhadas na diligência novamente se fazem presentes, ao passo que somos colocados diante de um homem simples, um bandido comum e mal alfabetizado, ao lado de um cidadão europeu, ex-membro do IRA, de terras onde a industrialização já tomou conta. Ambos, contudo, tem uma distinta similaridade: as cicatrizes da revolução.

Por meio deste ponto em comum, Leone trabalha em cima de seus dois protagonistas, construindo uma amizade discreta e naturalmente. Quando paramos para notar, estamos assistindo dois velhos amigos. O cenário por trás deles, porém, não facilita seu caminho, forçando-os a participar do conflito que assola o país. São turbilhoes de acontecimentos encadeados e praticamente fora do controle de qualquer um deles. De sequência em sequência somos conduzidos organicamente por esse roteiro extremamente coeso, que, através de sua fluidez, acaba tornando suas quase três horas de duração em meros segundos para o espectador. Ao mesmo tempo é deixada aquela nítida sensação de termos presenciado uma longa aventura, distanciando o seu encerramento das palavras de Mao, ao mesmo tempo que delas se aproximam pela ideologia presente na obra.

A rapidez com que o longa progride deve muito à montagem de Nino Baragli, que opta por diversos cortes bruscos seguidos de elipses. Tais saltos temporais, a princípio, confundem o espectador, passando uma sensação de termos perdido algo na narrativa. Entretanto, conforme os minutos se passam, vamos encaixando lentamente as peças e, com elas, vem o entendimento do filme como um todo. Aqui não posso deixar de traçar a semelhança com a leitura de um livro e sua estrutura capitular, que se traduz na tela da mesma forma. Essa espécie de quebra da imersão nos força a pensar, a analisar a projeção diante de nós, assumindo, talvez, uma visão mais crítica em relação à sua trama e, em segundo momento, à revolução em si. Os questionamentos, presentes nos closes das bocas cheias de comida, voltam ao primeiro plano e, por mais que os protagonistas estejam de um lado do conflito, passamos a nos perguntar qual a diferença entre ambos os lados. A importância de Juan e John é, aqui, ressaltada, ao passo que ambos foram tragados a contragosto para a revolução, não pertencendo, efetivamente, a nenhuma facção.

Mesmo com essa visão política presente na projeção, o que fica, porém, incrustado em nossa mente, é a amizade entre o mexicano e o irlandês, reiterando a forte visão humanista de toda a violência apresentada na obra. Quando Explode a Vingança, no fim, fica como uma grande aventura desses dois homens, caráter constantemente lembrado pela inesquecível trilha de Ennio Morricone, que rompe o som ambiente nos momentos-chave, seja para empolgar o espectador, seja para fazê-lo rir através da palpável química entre Rod Steiger e James Coburn. É um filme que merece ser assistido inúmeras vezes e que, em nenhuma delas, irá cansar, fisgando nossa atenção do início ao fim.

Quando Explode a Vingança (Giù la testa, Itália – 1971)
Diretor: Sergio Leone
Roteiro: Sergio Leone, Sergio Donati, Luciano Vincenzoni
Elenco: Rod Steiger, James Coburn, Romolo Valli, Maria Monti, Rik Battaglia, Franco Graziosi, Antoine Saint-John, Giulio Battiferri, Poldo Bendandi, Omar Bonaro
Duração: 157 min.

Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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