Rebel Ridge é o novo lançamento da Netflix
Rebel Ridge, filme que estreou na Netflix nesta sexta-feira (06), é uma dessas obras que chega sem muito alarde, mas logo de cara te prende com uma narrativa que mistura ação eletrizante e uma crítica social afiada. O diretor e roteirista Jeremy Saulnier, conhecido por filmes como Green Room e Blue Ruin, não desaponta ao criar uma experiência visualmente impactante e repleta de tensão em seu novo trabalho. Aqui, ele não se intimida em abordar temas delicados, como a corrupção e o racismo, especialmente dentro do contexto de pequenas cidades americanas esquecidas pelo tempo.
O filme abre com uma cena que já define o tom da história: Terry Richmond, interpretado de forma brilhante por Aaron Pierre, está em sua moto, sendo perseguido por dois policiais racistas. O motivo? Ele carrega US$ 10 mil para tirar seu primo da cadeia, preso por posse de maconha. Esse momento inicial, que poderia ser retirado de qualquer manchete contemporânea, mostra como Saulnier utiliza a realidade para construir uma ficção que ressoa com o público de maneira visceral. E aqui, o espectador já entende que Terry não é apenas uma vítima das circunstâncias; ele é um homem em missão.
Uma vez que Terry chega ao tribunal local, fica claro que a cidade de Shelby Springs está em ruínas, tanto moral quanto economicamente. Ele busca ajuda legal, mas é rapidamente rejeitado, com exceção de uma escrivã empática, vivida por AnnaSophia Robb, que faz o possível para auxiliar. Esse detalhe já mostra o contraste entre os poucos indivíduos ainda preocupados com o bem-estar alheio e um sistema quebrado, que só existe para manter o status quo de poder. Aqui, Saulnier nos lembra de como a burocracia e a negligência podem ser armas tão destrutivas quanto qualquer pistola.
Grandes atuações
A cidade, claro, está sob o comando do xerife Sandy Burnne, interpretado de forma magnífica por Don Johnson. Sandy é o tipo de vilão que você adora odiar: egocêntrico, manipulador e absolutamente despreocupado com o sofrimento alheio. Ele está ocupado tentando limpar seu nome após um processo de morte acidental, e o departamento de polícia local está atolado em dívidas que ameaçam destruir o pouco que restou da reputação da cidade. Mas Terry não tem tempo para se importar com isso – ele só quer salvar o primo antes que seja tarde demais. No entanto, como qualquer bom thriller de ação nos ensina, o herói sempre acaba se metendo mais fundo do que gostaria.
Aaron Pierre, por sua vez, é uma revelação. Em Rebel Ridge, ele traz uma performance calculada e cheia de nuances. Terry é um ex-fuzileiro, e isso transparece em cada cena: sua postura, sua habilidade de combate e, principalmente, sua frieza sob pressão. Há uma sequência em particular que realmente destaca o quão implacável ele pode ser: após ser eletrocutado, ele simplesmente arranca os fios de seu corpo como se nada tivesse acontecido. Essa cena é um dos muitos momentos que fazem você perceber que está diante de um astro de ação em formação. Pierre canaliza aquela energia dos grandes heróis dos anos 80, mas com uma profundidade emocional que os diferencia.
Falando em profundidade, Rebel Ridge não se contenta em ser apenas um filme de ação. Saulnier se esforça para construir um enredo que vai além dos tiros e perseguições. A relação de Terry com a escrivã que ele conhece no tribunal é um exemplo claro disso. Ela está lutando com seus próprios demônios, tendo perdido a filha em uma batalha judicial após se envolver com drogas. Esse arco traz um peso emocional ao filme, mas também pode deixar a trama um pouco convoluta em alguns momentos. Ainda assim, essa escolha de roteiro é uma maneira de humanizar os personagens e torná-los mais do que simples peças em um jogo de vingança e sobrevivência.
Mensagem sob as camadas
Visualmente, o filme é um espetáculo. A cinematografia de David Gallego capta a atmosfera decadente de Shelby Springs de uma maneira quase poética, tornando a cidade um personagem por si só. Os enquadramentos são bem pensados, e cada cena de ação é coreografada com precisão. Ao contrário de muitos filmes do gênero, onde a ação é pura adrenalina sem propósito, em Rebel Ridge cada tiro, cada luta, parece contar uma parte da história. A edição, feita pelo próprio Saulnier, é afiada e mantém o ritmo sempre acelerado, sem perder o foco nos momentos mais calmos que servem para aprofundar a trama.
Mas o que realmente diferencia Rebel Ridge de outros filmes de ação é a sua mensagem. Sob as camadas de pancadaria e tiroteios, há uma crítica contundente à corrupção, à ganância e à maneira como as instituições falharam com as pessoas. É impossível assistir ao filme sem sentir uma pontada de indignação ao perceber que, mesmo em uma cidade pequena e fictícia como Shelby Springs, os problemas ali retratados são assustadoramente familiares. Saulnier nos mostra que, quando o poder e a ganância prevalecem, a justiça é deixada de lado, e quem paga o preço são sempre os mais vulneráveis.
Em termos de comparação, Rebel Ridge está a anos-luz à frente de outros lançamentos recentes da Netflix no gênero. Ao contrário de filmes como Red Notice, que se apoia em cenas de ação vazias e diálogos sem substância, este filme tem algo a dizer. Ele questiona o estado atual da sociedade americana e faz isso sem perder o entretenimento de vista. A ironia, claro, é que um filme como esse teria sido um sucesso garantido nos anos 90, com suas explosões e heróis indestrutíveis. No entanto, Rebel Ridge se recusa a ser apenas mais um blockbuster genérico e entrega uma experiência cinematográfica que, além de empolgante, é também instigante.
Por tudo isso, Rebel Ridge é um filme que entrega tudo o que promete: ação de alta qualidade, performances poderosas e uma crítica social que vai fazer você pensar muito depois que os créditos rolarem. Jeremy Saulnier se consolida como um mestre do gênero e Aaron Pierre mostra que seu futuro em Hollywood é brilhante. Se você está procurando um filme que combina adrenalina com inteligência, Rebel Ridge é a escolha perfeita.