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Crítica | Resident Evil: a Série é um fiasco sem precedentes

Poucas franquias da história dos games receberam tantas adaptações cinematográficas de baixa qualidade quanto Resident Evil. A escolha em levar para as telas esse jogo em especial se deve a sua trama envolvendo zumbis e seu ambiente de terror que proporciona muita tensão aos gamers. O que realmente não se justifica é o porquê de se fazer tantas adaptações da obra em tão pouco tempo, sendo que em 2021 foi lançado o fraquíssimo Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City, e não sendo o suficiente a Netflix decidiu entrar na parada com Resident Evil: a Série.

A versão live-action da Netflix é uma grande bomba de mau gosto e praticamente lança o nome Resident Evil no esgoto, o que é péssimo, já que o jogo além de ser um clássico dos consoles é também amado pela sua narrativa e pelo seu estilo survivor, com a necessidade de ter que sobreviver ao terror de estar em um local ocupado por zumbis. A série transmite um sentimento contrário ao do game, pois em nenhum momento passa essa sensação de pânico ao público nem o sentimento de pavor em se viver em um mundo cheio de mortos-vivos.

Nessa primeira temporada, entende-se que a trama não tem relação com os filmes em que Milla Jovovich reina como protagonista. No live-action, as irmãs Jade (Ella Balinska) e Billie Wesker,  junto com seu pai Albert Wesker (Lance Reddick), se mudam para uma cidade chamada de Nova Raccoon City, mas com o tempo elas vão descobrindo os reais segredos de seu pai e da Corporação Umbrella. Apesar de aparentemente não ter relação com os longas anteriores, em certo momento da história é mencionado acontecimentos que ocorreram em Raccon City, só que não se aprofundam nisso, fica muito vago para compreender a trama de forma aprofundada.

Medíocre do início ao fim

Impressiona como os vários roteiristas conseguiram a façanha de mais uma vez conceber outra versão fraca de Resident Evil, com a diferença de que a série se supera em ruindade, até porque teve muito mais tempo para desenvolver a narrativa, e seu resultado final é pífio no quesito de qualidade e de eficiência, não acrescentando nada para o futuro da franquia no audiovisual, pelo contrário, só atrapalha.

Quando produções são adaptadas de livros e hqs é normal que os fãs assistam esperando o mínimo de fidelidade à obra original, e com os games não é diferente. Porém, a principal falha do live-action da Netflix é o de querer reestruturar um universo que teve sete filmes já (sem contar as diversas animações), e a maioria de qualidade bastante duvidosa.

O que se vê em Resident Evil: a Série é uma total falta de fidelidade aos jogos, mesmo com os roteiristas inserindo easter eggs dos games na produção, como a aparição do chefe Grave Digger (Resident Evil 3) logo no primeiro episódio, assim como a menção ao grupo que pratica culto religioso, como ocorre em Resident Evil 4 com o grupo Los Iluminados, entre outras pequenas alusões ao game que ou passaram despercebidas pelos fãs ou simplesmente foram mal planejadas e executadas pela direção e roteiristas.

É muito pouco para uma produção desse tamanho ficar se prendendo em easter eggs em vez de realmente tentar criar um universo mais fiel sobre a franquia, diferente do que a Netflix fez com Sandman, pois pegaram vários elementos das Hqs e não tentaram reinventar sua narrativa.

Drama em excesso

Há uma decisão equivocada por parte do roteiro ao criar duas linhas temporais e querer focar com igual importância nas duas, sendo que a principal delas, na qual Jade transpira força de vontade para tentar sobreviver a todo tipo de ameaça, termina por não ter um mínimo trabalho decente em se conceber uma história que prenda o espectador. Já a outra linha temporal, em que as duas irmãs vivem brigando e fazendo bobagens, tem muito mais destaque, sendo que o drama juvenil das duas é um tremendo saco de acompanhar, ajudando ainda mais a enfraquecer a trama principal em que Jade tentar escapar dos perigos impostos.

Havia a possibilidade de se mostrar a origem do apocalipse zumbi de outro ponto de vista e com outro formato, sem precisar apresentar todo essa trama e essa bobagem de clones que a série mostra. Fora que o drama exagerado faz com que uma narrativa que não demandava um tom dramático torne a execução da história em um grande fardo de se acompanhar. Parece que nunca assistiram The Walking Dead e perceberam as falhas estruturais do roteiro que fizeram a conhecida saga dos zumbis perder força com o tempo.

Em contrapartida ao drama, que foi a principal linha de desenvolvimento da série, há uma tentativa praticamente nula de se fazer um terror convincente, já que as principais cenas em que os Zeros (como são chamados os zumbis na série) aparecem e que deveriam causar algum suspense e tensão ao público acabam por não causar esse efeito.

Puro amadorismo

Para piorar ainda há situações que demonstram o total amadorismo da obra. Isso fica claro quando Jade Wesker pega um notebook sem conexão com a internet para fazer uma vídeo chamada e o programa usado para a ligação é o Paint. Há ainda a cena – podemos dizer constrangedora – em que Evelyn Marcus (Paola Núñez), a vilã, dança e canta de forma patética ao som da música Don’t Start Now, da cantora Dua Lipa, com isso inovaram em transformar Resident Evil em uma série de terror na pegada do Tik Tok.

Outro fator desanimador da série são as atuações, que não convencem em nada, e isso não é culpa propriamente do elenco, já que o roteiro e a direção não ajudam muito a fazer com que o elenco mostrasse o seu potencial. Há ainda personagens fracos e que não ajudam a dar força para a história, ainda que alguns inseridos na trama tivessem força para ir mais longe, mas são pessimamente utilizados, casos de Wesker, que aparece alguns minutos em ação como vilão e Evelyn, que é uma caricata antagonista e faz exatamente o que a maioria dos personagens nessa posição costumam fazer: no caso de Evelyn, desenvolve e pretender comercializar uma medicação que pode disseminar um vírus mortal pela humanidade.

Resident Evil: a Série é outra oportunidade perdida de retratar o apocalipse zumbi da consagrada franquia de games no audiovisual, o que é bem triste, já que haviam muitos caminhos para onde a produção poderia seguir com sua narrativa. É um fato que a obra não tem quase nada a ver com os jogos, parece qualquer outra coisa, menos Resident Evil. O futuro da franquia no cinema e na TV precisa ser repensado urgentemente e que as futuras produções sejam mais eficientes e levem mais a sério o que está sendo adaptado.

Resident Evil: a Série – 1ª Temporada (Resident Evil, EUA – 2022)

Showrunner: Andrew Dabb
Direção: Rachel Goldberg, Bronwen Hughes, Rob Seidenglanz, Batan Silva
Roteiro: Andrew Dabb, Jeff Howard, Tara Knight, Garett Pereda, Mary Leah Sutton, Shane Tortolani, Lindsey Villarreal, Kerry Williamson
Elenco: Ella Balinska, Siena Agudong, Paola Núñez, Lance Reddick, Connor Gosatti, Anthony Oseyemi, Turlough Convery, Emily Child
Streaming: Netflix
Episódios: 8

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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