Filmado e executado de forma simples e barata, o primeiro Sexta-Feira 13 foi um fenômeno. Rendeu muito lucro nas bilheterias e fez a cabeça dos jovens dos anos 80, com uma trama básica de assassino funcional, ainda que descaradamente copiada dos conceitos do clássico Psicose, de Alfred Hitchcock. Nada ingênua, a Paramount planejava não uma, mas uma verdadeira cinessérie de Sexta-Feira 13, onde um novo filme seria lançado anualmente, quase como se o público voltasse todo ano para “ver um novo episódio”. Qualquer semelhança com os universos cinematográficos de super-heróis da atualidade não é mera coincidência.
Dessa forma, Sexta-Feira 13: Parte 2 inicia-se imediatamente após o final do original; bem, na verdade, ele literalmente nos mostra os minutos finais do confronto entre Alice (Adrienne King) e a psicopata Sra. Voorhees (Betsy Palmer), com a adolescente conseguindo sobreviver e decaptar a assassina. Logo no início, a franquia se livra de Alice ao nos apresentar a Jason Voorhees, filho da assassina do original, e que parte em busca de vingança pela morte de sua mãe. Seu próximo alvo? A nova leva de adolescentes que estupidamente insiste em passar férias no acampamento Crystal Lake.
Pela premissa já percebemos que é o mesmíssimo filme que assistimos da primeira vez, mas trocando a mãe pelo filho. O roteiro de Ron Kurz não se arrisca a explorar novas áreas ou conceitos, atendo-se exatamente à estrutura do original, e enquanto isso é terrível pelo motivo de tornar a experiência um tanto maçante e previsível, é necessária para que a franquia lentamente vá encontrando seu mojo. Isso porque, antes de Parte 2 ser oficializado, os produtores até cogitaram que Sexta-Feira 13 fosse uma cinessérie de antologia, onde a cada novo filme seríamos introduzidos a uma história slasher diferente com personagens diferentes. De certa maneira, é mais ou menos por aí que a franquia acaba seguindo, já que o personagem de Jason Voorhees insiste em voltar dos mortos repetidas vezes, e os eventos de cada filme não parecem ter muita conexão entre si – afinal, Alice é morta logo na primeira cena, e esse evento não tem nenhuma repercussão no restante da narrativa.
Infelizmente, isso significa nos apresentar a novos personagens, e eu sinceramente não consigo me lembrar de nenhum. Não que esse tipo de filme seja conhecido por seu trabalho com seres humanos, mas o roteiro de Kurz é excepcional em não trazer absolutamente nada de novo para o grupo adolescente protagonista, que compõe mais uma equipe de acampamentos que prepara o Crystal Lake para a chegada de futuros membros. Final girl da vez, Amy Steel se sai bem na hora de gritar e até mesmo tentar confrontar o assassino Jason, mas é difícil simpatizar com qualquer uma das figuras (deliberadamente, talvez) descartáveis da projeção.
No que diz respeito à direção, Steve Miner replica com afinco todas as marcas estilísticas de Sean S. Cunningham no original. A movimentação de câmera que constantemente nos coloca no POV do assassino é obrigatória, e acaba por provocar um efeito similar ao do primeiro. Porém, como a reviravolta do original era sobre a Sra. Voorhees ser a responsável pelos assassinatos, o POV nunca deixava sua figura até a cena final. Aqui, com Jason já sendo estabelecido como o assassino, Miner pode brincar melhor com a silhueta e a presença ameaçadora do vilão, que ainda não tem sua máscara de hóquei, mas usa um saco de pano branco que consegue ser amedrontador dependendo do ângulo ou da iluminação de Peter Stein. Há muitas boas ideias no clímax também, com a protagonista fazendo uso de uma sinistra cabeça decepada da Sra. Voorhees para tentar confrontar Jason, e talvez só por esse momento o longa já valha a visita.
No fim, Sexta-Feira 13: Parte 2 surge quase como um remake do original, mas com alguns aprimoramentos em relação à sua forma e a mitologia de Jason Voorhees. Longe de ser um grande filme ou uma sequência memorável, mas faz jus ao trabalho de Cunningham. Mas é como dizem, alguns truques não funcionam mais de duas vezes…
Sexta-Feira 13: Parte 2 (Friday the 13th Part 2, EUA – 1981)
Direção: Steve Miner
Roteiro: Ron Kurz, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Amy Steel, John Furey, Adrienne King, Betsy Palmer, Kirsten Baker, Stuart Charno, Warrington Gillette, Walt Gorney, Jack Marks, Steve Dash
Gênero: Terror
Duração: 85 min