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Crítica | Spencer é um retrato melancólico da “Princesa do Povo”

É certo que se hoje estivesse viva Lady Diana Spencer, ou Princesa Diana, ainda não teria recebido o título real de Rainha, já que Elizabeth II (95 anos) mantém o título atualmente e goza de boa saúde. Em Spencer, dirigido pelo chileno Pablo Larraín (Ema), a “Princesa do Povo”, como era popularmente chamada, era um grande atrativo na realeza, tanto que por onde andava atraía as lentes dos fotógrafos e causava enorme repercussão, e isso é algo apresentado com grande destaque no longa.

O foco principal da trama dirigida por Larraín é o tradicional encontro de final de semana no natal que aconteceu em 1991, em uma das propriedades reais da Rainha localizada em Sandringham. Porém, o que era para ser um reconfortante e alegre encontro natalino com a presença de Lady Diana e seus filhos acaba por se mostrar uma torturante e trágica passagem da Princesa pela propriedade, que mais parece uma prisioneira, isso devido aos rigores impostos pelas tradições inglesas e que Diana deve seguir no dia a dia que estiver ali, como ter que se pesar, ou para se submeter a refeições pontuais, entre outras regras severas.

Fábula

O roteiro escrito por Steven Knight (Peaky Blinders) para Spencer é inspirado na realidade, ou seja, o filme nos traz uma abordagem real da vida da Princesa Diana, mas não é um espelho da realidade do que ocorreu naqueles três dias do Natal em Sandringham, e sim imagina o que poderia ter acontecido naqueles fatídicos dias em que Lady Diana esteve hospedada junto à realeza e teve que se proporcionar as regras rígidas reais. Larraín coloca Diana como se estivesse em um filme de terror, com a propriedade de Sandringham sendo uma versão parecida do Overlook Hotel de O Iluminado, de Stanley Kubrick.

Mesmo com muitos episódios envolvendo Diana sendo exageradamente imaginados pelo roteiro, como a ida de Diana a sua antiga casa, ou até mesmo a cena em que a Princesa diz que vai se masturbar – e que recebeu muitas críticas por não ter comprovação histórica de ter realmente ocorrido – mesmo assim o longa não perde seu charme, muito pelo contrário, é bem dirigido e é bem montado. Esse toque de exagero inserido por Larraín é um acerto, pois a ideia é a de justamente a de mostrar a rotina severa da propriedade Real, a partir do ponto de vista do militarismo, desde a alimentação que chega em caminhões do exército e em caixotes como se houvessem armas dentro destas caixas, até mesmo a já mencionada rotina rígida e a caçada que é mostrada no ato final. São questões que estão presentes no roteiro para mostrar como Diana estava presa naquele ambiente e como sua vida não era nada fácil, claro, lembrando que há muita imaginação na trama.

O diretor coloca Diana em momentos dramáticos em que se automutila e também manifesta para o público que a Princesa sofria de bulimia, na qual foi pouco mencionada em cinebiografias sobre Lady Diana, e que é algo interessante de se mostrar, pois o que nos é apresentado é que Lady Diana era uma mulher que sofria como todos nós, é isso que o filme nos evidencia a cada passagem.

Logo em seu primeiro ato o diretor nos deixa claro que a história é uma fábula, fábula essa que soa mais como um pesadelo em que Diana está presa e tenta se libertar das amarras da realeza. É assim que Larraín fantasia que era a rotina de Lady Diana junto à Rainha e ao Príncipe Charles, com muita melancolia e doses de exagero.

A respeito da traição do Príncipe Charles, algo que poderia ser relevante para a trama, mas que Larraín resolve não dar muita força para esse acontecimento, até porque o foco da narrativa está em Diana, poderia fazer com que a história caminhasse para outro rumo. Já os personagens secundários são todos pouco aproveitados e não tem força nenhuma, estão ali apenas para dar mais força para a personagem de Kristen Stewart.

Vale Oscar?

Justamente por o filme ser focado quase que inteiramente na Princesa Diana e não dar oportunidade para que personagens secundários possam aparecer e assim se destacarem é que Kristen Stewart surge e esbanja todo o seu talento. A atriz que está muito bem caracterizada desenvolve todo o seu lado dramático e interpreta uma Diana reprimida, fazendo com seja uma das favoritas ao Oscar de Melhor Atriz.

Kristen Stewart só precisou dissociar sua imagem à de Emma Corrin, que ficou parecida com a própria Diana e também interpretou de forma magnífica a Princesa na 4ª temporada de The Crown, série da Netflix que estreou em 2020. Surpreende mesmo que a caracterização de Stewart esteja, em alguns momentos, muito parecida com a própria Diana, com os movimentos, trejeitos e até mesmo o jeito de falar de Lady Diana.

Usando figurinos originais – ou parecidos dos utilizados no período retratado – a produção acerta ao dar um tom mais original a trama e assim fazendo com que o espectador reviva aquele cenário dos acontecimentos que ocorreram no período. A ambientação de época também é bem retratada, mesmo que seja uma época não tão distante assim.

Spencer não é uma cinebiografia convencional que conta a vida da Princesa Diana como realmente ocorreu, e como o próprio nome do filme já diz tenta mostrar uma Diana de carne e osso. Há um certo vazio narrativo na trama, não acontecendo nada de muito relevante na história a não ser as demonstrações de melancolia apresentados pela protagonista e que refletiam o dia a dia de uma princesa presa pela solidão e que só queria se libertar das amarras da família real. A grande questão é se os dias de Diana eram assim mesmo junto com a família real: angustiantes e tristes.

Spencer (idem, Reino Unido, Alemanha, EUA, Chile – 2021)

Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Steven Knight
Elenco: Kristen Stewart, Timothy Spall, Jack Nielen, Freddie Spry, Jack Farthing, Sean Harris, Stella Gonet, Richard Sammel, Elizabeth Berrington, Sally Hawkins
Gênero: Biografia, Drama
Duração: 117 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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