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Crítica | Star Wars: A Ascensão Skywalker – Um desfecho desesperado

 

O final é sempre a parte mais difícil de uma trilogia. Especialmente quando estamos falando de uma história que não foi planejada desde o início. Mas não é algo impossível, afinal, George Lucas conquistou o mundo com os filmes clássicos de Star Wars; que tiveram sua trama sendo desenvolvendo ao longo dos anos, enquanto a trilogia prelúdio foi altamente criticada – mesmo com todos os três episódios já previamente antecipados. Eis que chegamos ao Episódio IX com A Ascensão Skywalker, filme que marca o fim da nova trilogia da Disney, e – consequentemente – é usado para amarrar todos os 9 filmes da chamada Saga Skywalker. 

Após O Despertar da Força oferecer um retorno perfeitamente seguro pelas mãos de J.J. Abrams, o cineasta Rian Johnson dividiu a legião de fãs com seu “controverso” Os Últimos Jedi, um filme desafiador e repleto de decisões arriscadas. Decisões que, por motivos que anos depois eu ainda não compreendo por completo, enfureceram os fãs que não tiveram aquilo que eles queriam ter. De volta às mãos de Abrams, o Episódio IX tem essa tarefa extra de não apenas resolver os 9 filmes da saga, mas de reconciliar essa porção dos admiradores. Tudo isso nas mãos de um diretor que não é conhecido por encerrar histórias, mas sim começá-las.

Não importa se você é J.J. Abrams ou George Lucas, não havia como essa equação dar certo.

A trama de A Ascensão Skywalker começa algum tempo depois do episódio anterior, com a Resistência ainda em guerra com a Primeira Ordem, liderada pelo complexo Kylo Ren (Adam Driver). Enquanto a jovem Rey (Daisy Ridley) segue com seu treinamento para se tornar uma Jedi, todos os olhos se viram para o inesperado ressurgimento do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), que retornou das trevas para trazer uma nova ordem à galáxia, aliando-se a Kylo Ren para tentar capturar e explorar o passado misterioso de Rey. 

É a batalha final, mais uma vez. Um dos grandes medos em torno da produção era justamente o de que Abrams e o roteirista Chris Terrio (além de Derek Connolly e Colin Trevorrow, que têm crédito de história graças ao envolvimento da dupla no passado) voltariam atrás em algumas decisões bem definitivas de Johnson em seu Episódio VIII. O conflito de Rey em torno de seus pais parecia resolvido, mas a dupla insiste em remexer nisso ao abandonar a forte ideia de uma pessoa comum que era jogada em uma trama maior. Se Kylo Ren parecia um líder nato e sem velhos decrépitos manipulando seus movimentos, agora temos novamente Palpatine como grande antagonista – e ainda trazendo de volta a máscara que havia sido literalmente despedaçada no anterior. Johnson tentou “matar o passado” para criar algo novo, mas Abrams parece desesperado em tentar resgatá-lo e, literalmente, esfregar na cara do público.

Só nos primeiros quinze minutos, Abrams e Terrio sacrificam qualquer senso de ritmo e pacing para introduzir novos vilões, conflitos, poderes da Força e macguffins que servem meramente para movimentar pontos da trama. A sensação de pressa e descontrole é notável, assim como o desejo de tentar agradar tanto aos fãs quanto detratores de Os Últimos Jedi, mantendo ideias opostas em um equilíbrio incongruente: o texto pode dar indiretas para quando uma personagem é repreendida por jogar um sabre de luz para longe, mas mantém a ideia de uma conexão pela Força entre Kylo e Rey.

No que diz respeito ao desfecho em si, e no que toda essa trilogia vinha construindo, o resultado é bem complicado. Visualmente, temos os elementos que os fãs poderiam esperar de um filme que se propõem a encerrar uma história sobre os Skywalker – ainda que, sinceramente, ela estivesse perfeitamente finalizada com O Retorno de Jedi. Dentro de sua própria lógica (e da trilogia como um todo), a dupla corre para trazer respostas apressadas, contraditórias dentro de seu próprio universo e repletas de suspensões de descrença, mesmo para os padrões de uma história fantasiosa. Não há riscos, e as soluções parecem fáceis demais, principalmente levando em conta o deus ex machina sem sentido (mas visualmente estimulante) durante a grande batalha espacial no clímax.

Na direção, o brilho e paixão que Abrams explodiu nas telas com O Despertar da Força (um filme feito com carinho notável) parece substituído pelo convencional. As cenas de ação são mais burocráticas, com cortes excessivos e uma dependência muito maior nos efeitos visuais do que havíamos visto antes. Há set pieces grandiosas, vide a batalha em cima dos destroços da Estrela da Morte em um oceano agitado, ou o elegante plano longo em que Finn, Poe e Chewbacca cruzam um corredor disparando contra legiões de stormtroopers. Mas quando Abrams depende inteiramente de CGI, como longas e genéricas batalhas de naves, o resultado tende a brilhar menos – e, infelizmente, o climax envolvendo o Imperador também se encaixa nessa categoria, dependendo do fan service e da sempre envolvente trilha sonora de John Williams para conquistar o espectador.

Se há algo que realmente dispensa elogios em A Ascensão Skywalker, e em toda a nova trilogia, é o talento de seu elenco. Agora bem mais entrosados e com mais cenas juntos, Daisy Ridley, John Boyega e Oscar Isaac garantem uma dinâmica agradável e divertida entre Rey, Finn e Poe, com diferentes conflitos e interações entre o trio – desde um romance enrustido até questionamentos sobre capacidades de liderança. O sempre expressivo Adam Driver também garante mais bons momentos a Kylo Ren, ainda que Abrams cometa o erro de esconder o rosto do ator por trás da máscara do vilão por tanto tempo de projeção.

O aproveitamento das imagens de arquivo de Carrie Fisher, que faleceu antes do lançamento do Episódio VIII, é natural e orgânico dentro da proposta – ainda que notavelmente deslocado dos demais eventos da trama. Vale destacar também os retornos de Ian McDiarmid, sempre diabolicamente inspirado como o vilão Palpatine, e também de Billy Dee Williams, que confere uma energia contagiante para seu Lando Calrissian. Fica a menção também para Keri Russell, capaz de oferecer uma presença marcante mesmo sem mostrar o rosto (sempre por trás do capacete de Zorii Bliss) e da novata Naomie Ackie, que traz força e melancolia para sua Jannah mesmo com pouco tempo de tela.

Star Wars: A Ascensão Skywalker é um filme atropelado, inchado e desesperado para agradar a todos, sacrificando sua própria identidade em função de tentar satisfazer a diferentes gerações de espectadores. Há bons elementos e um elenco entrosado, mas, no fim, a nova trilogia não traz um desfecho que realmente justifica três novos filmes – até mesmo porque aquele visto em O Retorno de Jedi é infinitamente mais satisfatório. Uma pena.

Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: The Rise of Skywalker, EUA – 2019)

Direção: J.J. Abrams
Roteiro: J.J. Abrams e Chris Terrio, baseado nos personagens de George Lucas
Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Adam Driver, Carrie Fisher, Mark Hamill, Billy Dee Williams, Anthony Daniels, Ian McDiarmid, Richard E. Grant, Kelly Marie Tran, Naomie Ackie, Dominic Monaghan, Keri Russell, Domhnall Gleeson, Joonas Suotamo, Greg Grunberg, Billie Lourd
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 141 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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