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Crítica | Superman & Lois: 1ª Temporada – O melhor do Homem de Aço

A CW realmente merece mais carinho dos fãs da DC. Desde que iniciou o chamado Arrowverso em 2012 com a série de origem do Arqueiro Verde, a emissora de TV aberta criou um universo bem coeso e diversificado com heróis da Detective Comics, gerando séries como The Flash, Supergirl, Legends of Tomorrow e uma infinidade de outras propriedades que acabam se misturando eventualmente – vide as mais audaciosas Patrulha do Destino e Titãs, estas duas últimas no streaming.

Claro, a CW não pode evitar de deixar escapar uma breguice de efeitos visuais aqui e um tom de novela adolescente ali, mas é inegável que diversos eventos e personagens dos quadrinhos ganharam um retrato digno na TV aberta. Encabeçado por Greg Berlanti, os roteiristas entendem a humanidade de seus heróis, assim como os elementos dramáticos que os tornam envolventes. E é justamente através dessas características que surge a melhor e mais sofisticada produção da CW com Superman & Lois, que pode se orgulhar também de ser a melhor representação do Homem de Aço em anos.

A história da primeira temporada segue o casal formado por Clark Kent (Tyler Hoechlin) e Lois Lane (Elizabeth Tulloch) em uma desafiadora nova fase: a de se tornarem pais. Cuidando dos gêmeos Jordan (Alex Garfin) e Jonathan (Jordan Elsass), a família opta por trocar a agitação de Metropolis pela pacata Smallville, cuidando da fazenda deixada pela falecida Martha Kent. Enquanto todos tentam se ajustar às suas novas realidades, o trabalho do Superman também se mostra mais desafiador quando uma misteriosa conspiração parece envolver os habitantes da cidadezinha no Kansas com sua origem alienígena.

Por mais que seja considerado o super-herói mais icônico da história dos quadrinhos, há uma estranha dificuldade em entender o que faz o Superman funcionar como personagem. Nos cinemas, sua última adaptação pautou-se em uma abordagem humanista e mais cínica, com o Homem de Aço de Zack Snyder e Henry Cavill constantemente colocando sua personalidade em choque com os interesses da Humanidade. É uma leitura divertida e estimulante, mas que não se provou tão profunda quanto o desejado, e acabou gerando o clichê de que “o Superman só é legal se for do mal”. Não é o caso da série capitaneada por Berlanti e o produtor Todd Helbing.

O melhor de todas as Terras

Logo em seus minutos iniciais no primeiro episódio, que recapitulam com perfeição toda a origem do herói em sua chegada na Terra, Superman & Lois parece ser literalmente a versão definitiva do personagem. Vemos a homenagem aos quadrinhos, a adoção do estilo mais otimista e brincalhão de Christopher Reeve e também os toques sombrios de Zack Snyder, principalmente na fotografia extremamente mais elaborada e caprichada da série. Esse prólogo é uma prévia excepcional do que seguirá pelos próximos 14 episódios, encapsulando toda a beleza visual (sério, que série mais bem fotografada!) e o enfoque dramático nos conflitos familiares, que nunca são eclipsados pela necessidade constante de salvar o mundo.

Diferentemente de outras produções da CW, Superman & Lois aposta em uma narrativa única por todos os seus episódios. No caso, é a investigação de Lois Lane em torno do empresário Morgan Edge (Adam Rayner), que visa tirar Smallville de uma pesada crise financeira ao fornecer novos empregos para a população. É um fio narrativo que não só valoriza Lane e a subestimada capacidade jornalística de Clark, mas que também oferece o pano de fundo perfeito para os dramas individuais da população (especialmente o da família de Lana Lang) e também uma conexão surpreendente com o conflito principal envolvendo a persona de Superman – que de início exige uma suspensão de descrença do espectador e muitas doses de ficção científica, mas rende um bom trabalho de desenvolvimento.

Núcleo Familiar

Ainda assim, por mais que a ameaça geral da temporada seja satisfatória e até renda cenas de ação acima da média (ainda que claramente limitadas em termos de efeitos), o maior triunfo da série está no trabalho com os personagens. A proposta de ver Clark Kent como pai de dois adolescentes é algo que poderia muito bem dar errado e render algo aos moldes de The O.C., mas que felizmente encontra um balanço agradável e surpreendentemente dramático: o fato de que apenas o introvertido Jordan tem poderes por si só é uma escolha que garante situações interessantes com o carismático Jonathan; e tanto Elsass quanto Garfin são eficientes em driblar os clichês e oferecerem performances genuínas e que se sustentam por si só. Elsass, em especial, divide com Elizabeth Tulloch um dos diálogos mais emocionantes e fortes que eu já vi em qualquer produção do gênero – onde ambos discutem sobre serem os membros “sem poderes” da família.

O que nos leva a Tyler Hoechlin. Antigo astro de Teen Wolf, o ator já havia feito um trabalho bacana em suas participações em Supergirl e nos eventos crossover do Arrowverso, mas aqui ele tem a chance de brilhar. Apesar de não ser habilidoso quanto Christopher Reeve na hora de diferenciar suas duas personas, sua interpretação do herói é sincera e bondosa, criando uma figura que consegue ser amorosa e imponente, e também brincar com o lado mais sombrio quando o complexo arco do personagem do John Henry Irons de  Wolé Parks (uma revelação!) ganha mais espaço. Vê-lo questionar suas habilidades paternais, que garantem ótimos e pontuais flashbacks sobre seu crescimento, é de uma maturidade impressionante, e que só me faz remeter ao trabalho fenomenal de Sam Raimi em Homem-Aranha 2.

É minha versão contemporânea preferida do herói, facilmente.

Superman & Lois é um grande presente para os fãs de quadrinhos. Representa não apenas um salto gigantesco de qualidade e produção para a CW, mas também resgata um coração e sentimentalidade que estavam ausentes não só nas aventuras atuais do Homem de Aço, mas também no gênero de super-heróis em geral. Mal posso esperar pelo que vem aí.

Superman & Lois – 1ª Temporada (EUA, 2021)

Showrunner: Greg Berlanti e Todd Helbing
Roteiro: Greg Berlanti, Todd Helbing, Katie Aldrin, Jai Jamison, Andrew N. Wong, Brent Fletcher, Kristi Korzec, Michael Narducci, Max Cunningham, Adam Mallinger, Nadria Tucker
Direção: Lee Toland Krieger, Alexandra La Roche, Gregory Smith, Norma Bailey, James Bamford, Tom Cavanagh, Harry Jierjian, David Ramsey, Ian Samoil, Eric Dean Stanton, Rachel Talalay, Keesha Sharp, Sudz Sutherland
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Erik Valdez, Inde Navarrette, Adam Rayner, Wolé Parks, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Stacey Farber

Gênero: Drama, Aventura
Emissora: CW (disponível na HBO Max)
Duração: 45 min
Episódios: 15

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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