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Crítica | Top Gun: Maverick é uma das melhores continuações da História do Cinema

Eu nunca fui um grande admirador de Top Gun: Ases Indomáveis. Sendo bem sincero, nem havia assistido ao filme de 1986 comandado pelo falecido Tony Scott até alguns atrás, mas eu certamente era um dos poucos: o longa estrelado por Tom Cruise foi o mais bem sucedido de seu ano de lançamento, e estabeleceu-se como um cult clássico da década de 1980 e gerou especulação sobre uma sequência por muitos anos. Após diferentes desenvolvimentos, a triste morte de Scott na década passada e a pandemia da COVID-19 sacudindo a indústria cinematográfica, finalmente Top Gun: Maverick pode voar pelas salas do mundo todo.

E o resultado? Melhor do que qualquer um poderia imaginar.

A trama volta a acompanhar o capitão Pete “Maverick” Mitchell (Cruise), que recusa-se a encarar a aposentadoria ou cargos burocráticos, permanecendo em uma linha tênue como piloto de teste de caças e aeronaves do governo americano. Após desobedecer uma ordem e causar um acidente, Maverick é rebaixado e forçado a se tornar instrutor em sua antiga academia de voo, batizada carinhosamente de Top Gun. Enquanto Maverick prepara os jovens cadetes para uma perigosa e arriscada missão, ele lida com o trauma da morte de seu amigo Goose (do filme anterior) e o reencontro com uma antiga paixão na forma da bartender Penny (Jennifer Connelly).

Desconstruindo Maverick

Temos em Top Gun: Maverick não apenas o raro exemplo de uma continuação eficiente, mas o caso simplesmente inexistente de uma sequência triunfar sobre o original em absolutamente todos os sentidos. Se o primeiro Top Gun era um pipoca escapista e sem pretensão alguma, Maverick se apresenta como um fascinante estudo de personagem e uma análise honesta sobre o luto e o ressentimento, ao mesmo tempo em que traça uma ótima narrativa sobre um homem cada vez mais velho (“O tempo é o maior inimigo”, diz o próprio Maverick) lutando para sobreviver em um mundo que constantemente afirma o quanto ele não é mais necessário.

É um milagre o que o roteiro assinado por Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie é capaz de atingir. O drama é real e muito bem construído, e eu até me peguei ficando comovido e emocionado por personagens que eu nem ligava no primeiro filme; seja pela jornada interna de Maverick se “reconciliar” com Goose ou pela participação breve, mas excepcional, de um delicado Val Kilmer reprisando seu icônico Iceman. Tornar como núcleo da história a tensão entre Maverick e o novato Rooster, o filho de seu falecido amigo vivido por Miles Teller, é uma decisão acertada e admirável – e que permitem que Tom Cruise flexibilize músculos de atuação dramática e melancólica que o astro não utilizava há anos, resultando em uma das mais comoventes performances de sua carreira.

À essa altura, pode até parecer que Top Gun: Maverick é um grande filme de drama, mas ele definitivamente não esquece de suas raízes oitentistas. O novo elenco de personagens que forma a classe que Maverick precisa treinar é cheio de energia e dinamismos diversos, oferecendo personagens que – mesmo com tempo de tela menor do que Maverick – são facilmente identificáveis e ajudam o espectador a torcer e se preocupar por eles durante as mais intensas sequências de treinamento. Além de um Miles Teller excelente, vale destacar os cadetes vividos por Monica Barbaro, Lewis Pullman e especialmente Glen Powell; que incorpora o típico valentão/narcisista do grupo, mas com reviravoltas sensacionais envolvendo seu “Hangman” no ato final.

Fechando os arcos humanos de Maverick, temos a narrativa que nitidamente é a mais deslocada: o romance envolvendo a bartender Penny. É o único aspecto que não parece se encaixar com os demais, especialmente por ser o remanescente do espírito jovem de Cruise – que até aposta no desnecessário clichê do namorado (agora um homem de quase 60 anos) tendo que escapar pela janela no meio da noite. O que salva esse arco é a química entre Cruise e a ótima Jennifer Connelly, que inclusive garante um arco amoroso vastamente superior àquele com Kelly McGillis no filme original.

Ares indomáveis

E, naturalmente, aquilo que todos esperam ver em um filme com a marca Top Gun: as sequências aéreas. Confiando o comando da missão a Joseph Kosinski (com quem Cruise trabalhou na ficção científica Oblivion), o longa é absolutamente deslumbrante e impressionante quando se dedica às sequências envolvendo voo de caças, jatos e literalmente qualquer aeronave bélica. Ainda mais do que no original, a abordagem de Kosinski é imersiva ao extremo, acoplando câmeras IMAX nas mais diferentes posições de um jato, o que resulta em imagens incríveis muito bem fotografadas pelo hábil Claudio Miranda. Desde que Christopher Nolan colocou câmeras em aviões da Segunda Guerra Mundial em Dunkirk, eu não experienciava algo tão emocionante e intenso em uma tela de cinema.

Vale apontar também que muito do sucesso de Top Gun: Maverick está na missão principal. McQuarrie, Kruger e Singer praticamente estendem toda a proposta do clímax de Star Wars: Uma Nova Esperança, exigindo que os pilotos atravessem um longo e estreito cânion (como uma trincheira) e atingiam um alvo pequeno para explodir uma base de material nuclear ilegal (Estrela da Morte) que é protegida por caças de quinta geração (Darth Vader!). É absolutamente simples, direto e capaz de destrinchar toda a tensão e excitação necessária, resultando em um espetáculo que é daqueles que simplesmente justifica a existência de uma tela de cinema.

Em um nível de progressão e aprimoramento do original para o segundo capítulo, não é exagero algum dizer que Top Gun: Maverick é uma das melhores continuações da História do Cinema. É melhor, mais maduro e ainda mais empolgante do que o primeiro filme em todos os sentidos, e comprova que Tom Cruise ainda tem muitos truques em suas mangas para manter os cinemas vivos. Um dos grandes filmes de 2022.

Top Gun: Maverick (EUA, 2022)

Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie
Elenco: Tom Cruise, Jennifer Connelly, Val Kilmer, Miles Teller, Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman, Jon Hamm, Ed Harris, Jay Ellis, Greg Tarzan Davis, Manny Jacinto, Bashir Salahuddin 
Gênero: Aventura
Duração: 131 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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