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Crítica | Westworld – 01×05: Contrapasso

Se eu já achava Westworld um mundo gigantesco, Contrapasso continuou a explorar fronteiras inimagináveis deste universo artificial. À medida em que nos traz alguns indícios de respostas, apresenta mais alguns mistérios e indica um futuro interessante para seus personagens, que vão ficando cada vez mais ricos e interessantes.

O grande foco do episódio ficou no núcleo de Dolores (Evan Rachel Wood), William (Jimmi Simpson) e Logan (Ben Barnes). Seguindo a dica de um fora-da-lei que implorou por sua vida, o grupo segue para a perigosa cidade de Pariah, e o próprio Logan alerta que “quanto mais longe de Sweetwater, mais intenso e realista fica o jogo”. A chegada ali acaba os levando para uma outra tarefa, designada pelo chefão Lazlo (Cliffton Collins Jr, exato, o mesmo intérprete de Lawrence, chegaremos aí em alguns instantes) que coloca o grupo na divertida missão de assaltar uma carruagem e roubar um carregamento de nitroglicerina.

Isso insere mais ação para o episódio, além de mergulhar no desenvolvimento de William e seu apego cada vez maior ao jogo: William matou Anfitriões e parece claramente apaixonado por Dolores, para total alegria de Logan. Aliás, a relação entre os dois ficou mais intensa e a bomba-relógio que vinha lentamente sendo ativada enfim estourou. Conhecemos alguns detalhes da vida fora do parque de William e Logan, e um atrito entre os dois força a separação de seus núcleos. E devo dizer, muito interessante que tal confronto ocorra em meio a uma das orgias mais explícitas e hipnotizantes desde o baile mascarado de Stanley Kubrick em De Olhos Bem Fechados.

Já Dolores está cada vez mais confusa e as alucinações que sua personagem sofre ao longo da narrativa ficam cada vez mais incisivas. Por exemplo, como Ford (Anthony Hopkins) foi capaz de realizar uma entrevista com Dolores sendo que ela no momento encontrava-se em Pariah com William e Logan? Seria tudo uma projeção em sua mente? Uma espécie de avatar de Dolores existe dentro da central de Westworld para que Ford ou os Programadores comuniquem-se com ela? Sabemos que Ford estaria em Pariah algumas cenas à frente, então ela fisicamente foi retirada do local? Is this the real life?

Independente da resposta, o que tiramos dessa excelente cena foi a revelação de que Dolores era próxima do falecido Arnold, e que teria prometido a ele ajudar a destruir o parque. E, o mais impressionante, ela foi capaz de ocultar seu contato com a voz misteriosa (que podemos assumir quase com certeza ser do próprio Arnold) de Ford, e parece agir de acordo com uma agenda misteriosa. Aliás, cada vez mais parece-me real a existência de duas Dolores – algo que o próprio Bernard (Jeffrey Wright) metaforicamente sugeriu em um episódio passado -, a Dolores “real” e a que parece “guiá-la” em seu caminho de libertação. A performance de Evan Rachel Wood é inteligente nesse quesito, principalmente durante a sequência em que a personagem vê ela mesmo em uma tenda de cartomantes. E por fim, ver Dolores enfim trocando de figurino e tendo a epifania de que “seu papel não precisa ser o de donzela” e eliminando um grupo de pistoleiros sozinha foi muito empolgante.

O outro grande núcleo do episódio foi dedicado ao Homem de Preto (Ed Harris) e sua busca pelo Labirinto. Lembram-se de quando mencionei Lazlo? Pois bem, a série foi sutil em nos revelar como fora possível que tivessemos o mesmo personagem em dois lugares, com o HDP matando Lawrence e, por consequência, reiniciando seu loop como o destemido criminoso Lazlo; e a câmera de Jonny Campbell foi esperta na revelação de Lazlo em sua “ressurreição” em Pariah. Agora usando Teddy Floods (James Marsden) como seu novo companheiro, a jornada do HDP não avançou muito em termos de ação, mas certamente rendeu uma das mais esclarecedoras cenas de toda a série até então.

HDP e Ford encontram-se em Westworld. Como se já não fosse incrível o suficiente ver Ed Harris e Anthony Hopkins contracenando juntos, o roteiro de Lisa Joy oferece um diálogo instigante que sugere muito sobre a relação entre os dois e o mundo exterior. O HDP está muito interessado no Labirinto, enquanto Ford parece não ver sentido nisso, e também que ele é “o vilão que o jogo merece” e que está à espera de uma adversário digno – questionando se o tal Wyatt cumpriria essa função. Foi uma ótima cena no quesito “ritmo passivo-agressivo”, mostrando o respeito que os dois homens nutrem um pelo outro, mas também uma certa ameaça e desconfiança – confesso que senti um leve toque de Fogo contra Fogo aqui.

Já nos corredores internos de Westworld, dois acontecimentos de extrema importância aconteceram. O primeiro deles ainda envolve o Anfitrião perdido do terceiro episódio, e a obsessão de Elsie (Shannon Woodward) em entender o motivo de sua falha e porque exatamente ele tentou matá-la. Secretamente dissecando o cadáver, Elsie encontra um dispositivo que indica uma conexão com o mundo de fora; ou seja, alguém utilizava deste Anfitrião para obter informações de dentro do parque. O HDP está envolvido demais no jogo para ser espião, mas não descartemos a possibilidade de Logan estar envolvido nisso, já que o revelador diálogo inicial com William revela sua posição como investidor em potencial no parque.

O segundo acontecimento ofereceu um final bombástico para Contrapasso. Algumas cenas antes, acompanhávamos um pouco do núcleo de dois “açougueiros”de Westworld, especificamente aqueles que testemunharam o despertar acidental de Maeve (Thandie Newton) no segundo episódio. Enquanto um deles, Felix secretamente tentava aprender códigos de programação, eis que o cadáver de Maeve acorda novamente; dessa vez consciente e aparentemente lúcida, clamando que ela e o “médico” precisariam conversar. Uma cena arrepiante e ao mesmo tempo empolgante, seja pela performance de Newton ou pelas possibilidades que essa ação possam trazer para futuros episódios.

Já estamos na metade de Westworld e sinto que teremos algumas respostas muito em breve. Contrapasso foi um episódio primoroso em virtualmente todos os aspectos, mas principalmente na forma eficiente em que desenvolveu seus personagens e revelou camadas humanas e inumanas de seus personagens, sejam eles Anfitriões ou Convidados.

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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