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Crítica | Westworld – 01×09: The Well-Tempered Clavier

Spoilers!

A cada semana que se passa, eu acho que Westworld não pode ser capaz de me surpreender mais. E como é bom estar enganado, já que The Well-Tempered Clavier mostrou-se um episódio ainda mais empolgante e revelador do que o seu antecessor, onde a confirmação de teorias e a revelação de mistérios que vinham desde o início da temporada são mais excitantes do que a própria ideia de teorizá-los. Não pela infantil constatação do “ah, eu sabia!”, mas pela forma maravilhosa com que foram executados.

Vi que o episódio seria no mínimo excelente ao notar no nome de Michelle MacLaren na função de direção, e já vemos o toque da veterana que já passou por Breaking Bad e Game of Thrones logo na primeira cena, que nos leva novamente à Maeve (Thandie Newton) tendo um despertar de consciência no laboratório do parque. Porém, dessa vez ela o tem com Bernard (Jeffrey Wright), e a extensão de seu poder é revelado quando ela facilmente controla seu colega Anfitrião e o faz novamente descobrir sua natureza. Maeve sai do interrogatório e retorna ao parque, onde continua o plano de reunir seu exército e escapar.

É então que ela se reencontra com Hector Escaton (Rodrigo Santoro), e o convence da natureza artificial de Westworld através de um bom jogo de “prever o futuro” e o conteúdo do cofre que move a narrativa do criminoso. Foi uma cena belíssima que ainda contou com um momento de puro brilhantismo cinematográfico ao trazer Hector e Maeve se beijando loucamente enquanto são engolidos pela chama do incêndio provocado por ela, prometendo levá-lo “ao Inferno” para que confrontem aqueles que os controlam. Nada mais simbólico e apropriado do que um beijo apaixonado em meio a um incêndio para simbolizar essa jornada.

Já o Homem de Preto (Ed Harris) permanece preso com Teddy (James Marsden) e os misteriosos mascarados de Wyatt. Teddy acaba com a revelação de que fora ele mesmo quem cometera o massacre a qual ele culpava Wyatt, mas  sendo uma subtrama ainda não muito clara, acredito que isso seja apenas o personagem lembrando-se de uma programação anterior. São os assuntos do MiB que mais interessam, e após uma cena verdadeiramente angustiante onde o sujeito quase é enforcado pelo próprio cavalo (mais uma amostra da direção impecável de MacLaren), temos a revelação de que ele de fato é um dos membros do Conselho da Delos quando ninguém menos do que Charlotte (Tessa Thompson) aparece ali para conversar. Descobrimos ainda que ele está envolvido na espionagem que matou Teresa Cullen, além de ter sido um investidor que salvou o parque anos atrás. Vocês sabem aonde quero chegar, certo?

William! Isso aí, esse episódio praticamente falou com todas as letras que Jimmi Simpson e Ed Harris estão, SIM, vivendo o mesmo personagem em linhas temporais distintas. Não só a informação de que o MiB salvou o parque batem com a informação que Logan (Ben Barnes) entrega no segundo episódio – de que o parque estaria sangrando dinheiro – como também temos outra pista importantíssima para confirmar a teoria. Logan entrega a William a foto de sua irmã, e é a mesma foto que Peter Abernathy (Louis Herthum) encontrou no primeiro episódio, e que causou toda a anomalia de autoconsciência nos Anfitriões. Se William recebeu aquela mesmíssima foto, é um fato incontestável de que sua narrativa acontece num período passado.

E como se isso já não fosse o bastante, o que dizer das mudanças enfrentadas pelo personagem neste episódio? Reencontrado por um Logan um tanto homicida (mais do que o comum, digo), o sujeito vê Dolores (Evan Rachel Wood) sendo aberta em sua frente, revelando seu esqueleto de metal e fazendo-o “retornar à realidade” de que tudo à sua volta é apenas um… Jogo. O surto é tão grande que William acaba destroçando dezenas de Anfitriões do acampamento, o que também cria uma conexão com o fato de o MiB ter dito em um dos primeiros episódios que “havia aberto um anfitrião” quando chegou no parque. William também parece bem mais agressivo e violento, chegando até a ameaçar Logan com uma faca (muito familiar, por sinal), em uma ótima amostra do talento de Simpson. E ele ainda fala que finalmente entendeu como “se joga o jogo” de Westworld. Não devem sobrar dúvidas, certo?

Outra popular teoria que acabou concretizada tem a ver com o próprio Bernard. Após retomar sua autoconsciência com Maeve, o Anfitrião vai até o escritório de Ford (Anthony Hopkins) atrás de respostas, e também para enfim descobrir quem diabos é o tal Arnold. E, como muitos fãs já haviam apontado nos fóruns, Arnold é Bernard. Digo, Bernard é um Anfitrião criado à imagem de Arnold, algo que descobrimos através de uma série de flashbacks e insights da memória base de Bernard, em uma cena poderosa entre Wright – ele descobre ser o assassino de Elsie – e a frieza implacável de Hopkins. Foi um ótimo texto de Dan Dietz e Kath Lingenfelter, que ainda subvertem as expectativas ao dar a Bernard a ilusão de controle da situação ao trazer de volta a Clementine lobotomizada (Angela Sarafyan) para ameaçar a vida de Ford. Mas descobrimos que o próprio criador permitiu isso, nos mostrando que a manipulação de Ford realmente não tem limites, até mesmo quando ele ordena que Bernard atire na própria cabeça. Será o fim?

Por fim, a história de Arnold ficou muito clara também graças a Dolores. Separada de William após o ataque de Logan, a Anfitriã retorna para a igreja onde a voz misteriosa continuava a guiá-la, onde temos uma montagem habilidosa que mistura dois períodos temporais – distinguiveis graças à troca de figurino da personagem – e nos para os anos iniciais do parque, onde vemos até o Ford rejuvenescido novamente. Dolores desce até o subsolo para revelar uma sala que já havíamos visto diversas vezes, um local escuro com uma cela de vidro onde a Anfitriã sempre era interrogada por Bernard… Mas a natureza da cena nos faz reavaliar tudo o que já havíamos visto, e agora temos a realização de que todas aquelas cenas de entrevistas eram de Dolores com o próprio Arnold, no passado. Ou seja, Westworld tem três linhas temporais agora.

Mas então, como isso é possível já que o próprio Ed Harris apareceu para Dolores no final dessa cena? Simples. Da mesma forma como Dolores foi capaz de ser esfaqueada por Logan e sair dali literalmente ilesa: todo esse arco com William é uma memória, uma memória que a voz de Arnold constantemente lhe sussurra para “lembrar-se”, assim como as próprias interações entre os dois. Temos também a revelação de que foi a própria Dolores quem matou Arnold no passado. Mas o que move Dolores a “se lembrar” então? Por que ela foi até ali se Arnold realmente está morto? O quê está provocando tudo isso?

Esse é o único mistério que Westworld ainda não revelou. E com apenas um episódio restante, eu não poderia estar mais empolgado para testemunhar os desdobramentos desses eventos. Esses eventos que certamente terão fins violentos.

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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