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Primeiras Impressões | WandaVision é uma audaciosa e irreverente aventura da Marvel

Depois de meses de espera, WandaVision estreou na plataforma do Disney+ e entregou tudo o que os fãs mais queriam. Elizabeth Olsen e Paul Bettany, reprisando seus papéis como Wanda Maximoff/Feiticeira Escarlate e Visão, respectivamente, expandem o Universo Cinemático Marvel através de uma produção diferente de tudo o que imaginávamos e que foge às calcadas fórmulas dos filmes de super-heróis da companhia – que já vinham dando ares de cansaço há algum tempo, sendo revitalizadas com brevidade pelo grandioso evento de Vingadores: Ultimato.

A série carrega uma importância gigantesca para o futuro do panteão do entretenimento, por insurgir como o capítulo inicial da quarta fase do MCU e preparar o terreno para o aguardado Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. O show, carregado com maestria pela química dos dois protagonistas, não é apenas uma ode às clássicas sitcoms televisivas dos anos 1950 e 1960, mas uma proposital amálgama anacrônica que não vê diferença entre as épocas e constrói um cosmos único, guiado por mistérios que se escondem nas sombras e por quebras de expectativa dinâmicas e hilárias. Os dois primeiros capítulos definitivamente dão o tom do que pode vir a ser uma das melhores produções do ano, seja por sua irreverência, seja por sua nostalgia distorcida que condiz com a própria personalidade de seus personagens.

A verdade é que Wanda sempre foi uma construção diferente das meras incursões maniqueístas do gênero mencionado acima. Fazendo sua estreia em Vingadores: Era de Ultron através de aparições interessantes, ainda que superficiais demais, a poderosa heroína, dotada de capacidades destrutivas e remodeladoras inenarráveis, passou por profundos traumas que culminaram na perda do amor de sua vida, Visão, e em uma explosão de energia que viria a descarrilar a cronologia dos múltiplos universos como a conhecemos hoje. É por isso motivo que o show vem com grande surpresa: Visão nos deu adeus ainda em Ultimato e, ao que tudo indica, está de volta. Mas como? E por quanto tempo? Wanda tem noção de que aquilo que presencia não é a realidade? Ou será que precisará de uma forcinha para perceber que algumas coisas estão bem erradas?

A atmosfera híbrida de comédia e suspense é um dos grandes pontos altos dos dois primeiros episódios. A direção de Matt Shakman se afasta da epilepsia de ação de obras similares e aposta em uma simples e funcionou característica já vista em I Love Lucy ou A Feiticeira, que servem de principal inspiração para o decorrer dos capítulos. A caracterização multifacetada dos protagonistas e dos coadjuvantes é primorosa por suas bem-vindas desavenças: Olsen, Bettany e Kathryn Hahn (aqui interpretando a espalhafatosa vizinha Agnes), são as forças que guiam o funcionamento estranho e convidativo de Westview, uma cidade suburbana aportada em tradições sociais que estão prestes a mudar. Afinal, Wanda e Visão não são “mundanos”, por assim dizer, mas criaturas evoluídas que desejam, mais que tudo, se misturar àqueles que farão parte de seu convívio.

É interessante e engraçado ver de que forma dois personagens desse calibre se contentam com a normalidade de tarefas como cozinhar um jantar ou ir ao trabalho ou participar de um concurso de talentos para arrecadar fundos à escola local. As ideias por trás da mente de Jac Schaeffer, criador e showrunner, são traduzidas em um panorama nostálgico ao extremo, que faz ótimo uso das afetações cinquentistas da televisão hollywoodiana, como a redundante trilha sonora, os diálogos supervalorizados e as cândidas e simplistas sacadas cômicas que exigem o protagonismo de uma plateia invisível. O flerte com a quebra da quarta parede é um momentâneo sopro de originalidade que pavimenta o caminho trilhado pelos heróis e que prevê um gigantesco obstáculo antagônico surgindo no horizonte – e que começa a dar suas caras através de “falhas” da matriz (como um rádio dessintonizado, um helicóptero de brinquedo caindo no jardim do casal ou a presença de cores em um espaço preto e branco).

A elegância artística da série é reafirmada pelos exageros obrigatórios do gênero que resolve emular. Eventualmente, a progressão familiar e previsível é atenuada com certas sequências bizarras, que provavelmente dialogam com o desequilíbrio mental de Wanda, que rege os fundamentos básicos de algo que criou do princípio e que talhou como refúgio axiomático. Nos momentos finais do segundo episódio, por exemplo, em face a uma ameaça que a levaria de volta para a realidade, ela retoma controle e diz para si mesma que nada poderá tirar o que lhe pertence por direito: uma chance de ter o que lhe foi negado por muito tempo.

É certo dizer que as escolhas para WandaVision não devem agradar parte do público, ainda mais para aqueles que esperavam mais um produto simplório da Marvel Studios. Estamos lidando com uma exploração metafísica e relativamente reflexiva de uma psique em desordem, em um estado caótico que prenuncia o fim do universo como o conhecemos; a coesão e a coerência narrativas existem em certo âmbito, mas são pinceladas por uma loucura inexplicável – e intrínseca à personalidade de seus carismáticos personagens. Wanda é a rainha de sua própria verdade, seja para o bem ou para o mal – e não importando quais serão as consequências disso tudo.

WandaVision (Idem, Estados Unidos – 2021)

Criado por: Jay Schaeffer
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Jay Schaeffer, Gretchen Enders
Elenco: Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Kathryn Hahn, Teyonah Parris, Debra Jo Rupp, Fred Melamed, Emma Caulfield Ford
Emissora: Disney+
Episódios: 09
Gênero: Comédia, Suspense
Duração: 30 min.

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Publicado por Thiago Nolla

Thiago Nolla faz um pouco de tudo: é ator, escritor, dançarino e faz audiovisual por ter uma paixão indescritível pela arte. É um inveterado fã de contos de fadas e histórias de suspense e tem como maiores inspirações a estética expressionista de Fritz Lang e a narrativa dinâmica de Aaron Sorkin. Um de seus maiores sonhos é interpretar o Gênio da Lâmpada de Aladdin no musical da Broadway.

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