De Dr. No a Sem Tempo para Morrer: O ranking da franquia 007
Ao longo de 59 anos, 25 filmes e 6 atores diferentes, James Bond se estabeleceu como um dos ícones definitivos da História do Cinema. Cada era de sua passagem pela Sétima Arte representa um pouco da história da própria mídia, e o lançamento de Sem Tempo para Morrer traz um novo marco em sua trajetória formidável.
Portanto, nada mais justo do que elaborar um ranking com todos os 25 filmes oficiais produzidos pela família Broccoli na MGM (nada de Nunca Mais Outra Vez nessa lista), do pior ao melhor.
Confira abaixo.
25. Os Diamantes São Eternos
Sean Connery simplesmente não largava o osso. Após uma despedida interessante e grandiosa em Só Se Vive Duas Vezes (chegaremos lá), o astro retorna para uma aventura cansada e sem poucas novidades. Salva-se a ambientação em Las Vegas e a dupla de capangas gay que garante ótimos momentos.
24. Viva e Deixe Morrer
Se uma despedida foi abaixo da média, foi logo seguida por uma estreia morna. Roger Moore iniciou sua longa era com um longa que mistura de forma bizarra uma trama de traficantes em Nova York (que funciona) com uma macarronada com vudu e feiticeiros (que definitivamente não funciona). Mas certamente não podemos reclamar da excelente música tema de Paul McCartney.
23. Um Novo Dia para Morrer
Uma galhofa, sem sombra de dúvida. A saída de Pierce Brosnan garantiu a aventura mais exagerada e fantasiosa, com carros invisíveis e raios do sol como armas de um vilão capaz de trocar de etnia. É um filme inegavelmente divertido pelo absurdo, mas cuja trama e seus personagens cartunescos não passam do nível de distração.
22. Quantum of Solace
Após uma recepção sensacional com sua estreia, Daniel Craig tem uma segunda aventura prejudicada pela greve de roteiristas de 2008. Com um filme literalmente sem roteiro definido, Quantum of Solace é um filme desencontrado e genérico, prejudicado também por cenas de ação com uma montagem sofrível e confusa. Ainda bem que, mesmo com material fraco, Craig ainda segura o filme todo.
21. 007 Contra o Foguete da Morte
Mais bizarro do que ver James Bond indo para o espaço sideral, é ver o agente secreto de Sua Majestade na folia do Carnaval do Rio de Janeiro. Isso tudo no mesmo filme, que é definitivamente trash e sofre de um ritmo irregular, mas assim como a despedida de Pierce Brosnan, agrada pelo tom cartunesco e as cenas de ação elaboradas.
20. Marcado para a Morte
O grande e subestimado Timothy Dalton! Sem dúvida entregou um dos retratos mais interessantes e complexos de James Bond, e até uma pena que sua estreia tenha sido com Marcado para a Morte, um filme que definitivamente não é ruim, mas não está à altura do potencial do ator, entregando uma ação competente, mas uma trama esquecível.
19. 007 Contra a Chantagem Atômica
Com a quarta aventura de Sean Connery como 007, uma coisa fica bem evidente: os produtores e artesãos realmente estavam impressionados com cinematografia submarina. Isso fica expresso nas intermináveis cenas de lutas e até batalhas embaixo da água, que encantam num nível técnico, mas contribuem para que A Chantagem Atômica se alongue bem mais do que o necessário. A trama, porém, funciona com uma envolvente intriga de Guerra Fria.
18. Na Mira dos Assassinos
Uma pérola subestimada. A despedida tardia de Roger Moore, já com 57 anos enquanto rodava o filme, é um dos pontos mais massacrados pelos fãs. Uma injustiça, considerando que Na Mira dos Assassinos traz um dos vilões mais carismáticos de 007 na pele de Christopher Walken, além de excelentes cenas de ação envolvendo ícones de Paris e São Francisco com a Torre Eiffel e a Ponte Golden Gate.
17. Somente para seus Olhos
Há um ciclo curioso que costuma se repetir na franquia 007: após um filme mais espalhafatoso, o seguinte costuma ser uma baixada de bola para assumir um tom mais sóbrio. É o caso de Somente para Seus Olhos após O Foguete da Morte, onde temos um Roger Moore bem mais focado e obstinado em uma trama simples, mas eficiente e com boas cenas de ação - e uma ótima Bond Girl com Carole Bouquet.
16. 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro
Representando um bom salto de qualidade em relação à estreia de Roger Moore no papel, O Homem com a Pistola de Ouro introduz um dos antagonistas mais icônicos da franquia na figura de Christopher Lee como Scaramanga. A força do vilão carrega o filme, que também encontra bons momentos na primeira metade mais investigativa, ainda que o ápice seja mesmo o clímax quase psicodélico com o duelo final.
15. O Amanhã Nunca Morre
Os longas de Pierce Brosnan são produtos de uma era de transição interessante, e sua segunda aventura navega pelo zeitgest dos veículos de informação. A ideia de ter um grande magnata de jornais impresso como grande antagonista é formidável, assim como a memorável parceria entre Bond e a espiã vivida pela espetacular Michelle Yeoh. O Amanhã Nunca Morre só falha mesmo em garantir um espetáculo digno da franquia.
14. Sem Tempo para Morrer
E chegamos então ao novo filme, que marca um fim para a era Daniel Craig do personagem. Sendo também o mais longo de toda a franquia, Sem Tempo para Morrer faz o melhor para tentar amarrar as narrativas anteriores, apostando em uma história forte e que aproveita bem seus coadjuvantes, mesmo com um vilão fraquíssimo e um final extremamente questionável… Ainda assim, um bom filme.
13. O Mundo Não é o Bastante
Uma virada de chave interessante e pouco valorizada de Pierce Brosnan. Em sua terceira aventura, vemos um lado (um pouco) menos cínico e debochado de sua versão de James Bond, envolvido em uma trama interessante e com a excelente Elektra King de Sophie Marceau como uma das figuras mais enigmáticas da franquia. E, de quebra, ainda conta com a excepcional perseguição de barcos na cena de abertura.

12. 007 Contra Octopussy
Roger Moore já estava com os dias contados como James Bond, e novamente temos uma opinião impopular aqui. Octopussy traz uma das antagonistas mais interessantes na figura da personagem titular, e garante também as cenas de ação mais impressionantes da era Moore: o prólogo com o avião, a luta sob os vagões de trem e o clímax absurdamente bem filmado nos céus. Um filme subestimado.
11. Só Se Vive Duas Vezes
A primeira despedida de Sean Connery da franquia rendeu o filme que, até então, era o mais grandioso da saga. E os pontos altos realmente são impressionantes, desde a condução épica de Lewis Gilbert, as cenas de ação espetaculares e a introdução do icônico Ernst Stavro Blofeld de Donald Pleasence. Não fosse o segundo ato maçante com Bond adentrando na cultura japonesa, estaria mais alto na lista.
10. 007 Contra Spectre
Hora da defesa! Sim, a revelação acerca da conexão entre Bond e Blofeld é bem cafona, o roteiro tem lá seus buracos, mas a verdade é que Spectre compensa tudo isso em seus quesitos técnicos. A direção de Sam Mendes, aliado com o fotógrafo Hoyte van Hoytema, é elegante e impressionante: desde o plano sequência no Dia dos Mortos no México até o clímax em uma Londres dominada nas trevas. Um filme imperfeito, mas que entretém e envolve.
9. Permissão para Matar
Agora sim. Após uma estreia pouco memorável, Timothy Dalton tem um material muito melhor para brilhar como o James Bond mais vingativo de toda a franquia. Depois de perder sua licença para matar do MI6, Bond sai em uma missão totalmente pessoal contra um cartel de drogas, rendendo uma performance sensacional de Dalton e um grande embate com o maléfico vilão Sanchez. O precursor da era Craig!

8. 007 Contra GoldenEye
Trazendo James Bond à década de 90 com muito estilo, GoldenEye foi um ótimo reboot e uma introdução marcante para Pierce Brosnan no papel. É um filme que atualiza a Guerra Fria para questões de cyber terrorismo e que, pela primeira vez, questiona o papel de Bond em um mundo moderno. Um ótimo trabalho de Martin Campbell, que ainda terá mais uma menção nessa lista.
7. Moscou Contra 007
Após o sucesso do primeiro filme, Moscou contra 007 aumenta a escala e a grandiosidade de sua trama. Um clássico thriller de Guerra Fria que tem excelentes vilões e cenas de ação bem superiores ao original. Estaria até mais alto na lista não fosse a interminável (e absolutamente descartável) sequência das ciganas lutadoras.
6. 007 Contra o Satânico Dr. No
O filme que começou tudo. Desde que Sean Connery aparece entregando sua clássica introdução como James Bond, uma das maiores franquias da História do Cinema tem início. E o filme de Terence Young envelheceu como vinho: é uma trama de espionagem bem pé no chão, envolvente e cheia de surpresas fascinantes, sendo bem conduzida pela performance marcante de Connery.
5. O Espião que me Amava
Roger Moore definitivamente teve mais baixos do que altos em sua carreira como James Bond, mas seu ápice representa também um dos melhores exemplares da franquia toda. Equilibrando a leveza de sua introdução com uma trama mais sóbria e digna dos conflitos da Guerra Fria, O Espião que me Amava acerta na parceria de Bond com a agente russa vivida por Barbara Bach, rendendo uma excelente dinâmica, ótimas cenas de ação e a memorável introdução do capanga Jaws. Um Bond sem defeitos!
4. 007 Contra Goldfinger
Dr. No foi o filme que apresentou James Bond, mas foi só em sua terceira aventura que Sean Connery aperfeiçoou a fórmula ideal que seria sustentada por mais de 50 anos. Bem mais à vontade no papel, Connery protagoniza uma trama com um vilão megalomaníaco, ganha um supercarro, Bond Girls marcantes e apetrechos especiais para garantir uma aventura praticamente perfeita.
3. A Serviço Secreto de Sua Majestade
Justiça para George Lazenby! Apesar de ser o ator menos querido pelos fãs, e seu retrato realmente fica aquém dos demais, é inegável que ele seja o protagonista de um dos melhores filmes de toda a saga. Após a saída de Sean Connery, os produtores recorreram para um perfil bem diferente para James Bond, apresentando um homem imperfeito, mais romântico, mas completamente bom de briga. Um filme elegante, bem dirigido e com uma das melhores personagens da franquia com a eterna Diana Rigg.
2. Operação Skyfall
Uma promessa concretizada com sucesso. Daniel Craig equilibra o melhor de sua performance mais sisuda e sóbria de James Bond com o romantismo do passado em uma aventura que serve mais como estudo de personagem sobre a própria franquia. É um filme intenso, excepcionalmente bem dirigido e com um trabalho sobrenatural do fotógrafo Roger Deakins, além de contar com um divertidíssimo vilão com o exagerado Javier Bardem. É um presente em forma de filme.
1. Cassino Royale
Comentei em alguns pontos desta lista sobre como a franquia costuma se reinventar após um exemplar muito fantasioso. O impacto da mudança de Um Novo Dia para Morrer até Cassino Royale é inigualável. A estreia de Daniel Craig é a melhor modernização do personagem até hoje, perfeitamente posicionando James Bond na paranóia do pós-11 de Setembro em uma trama mais violenta, pé no chão e que consegue fazer até um jogo de pôquer parecer perigoso - não que o diretor Martin Campbell não acerte na ação, claro. Muito mais do que o melhor filme da franquia 007, Cassino Royale é um dos melhores filmes de ação de todos os tempos.
Crítica | Patrulha do Destino: 1ª Temporada - A DC comprovando seu valor na TV
É inegável que a Warner/DC assume mais riscos do que a concorrência oferecida pela Marvel que, desde 2014, quando fez a aposta certeira com Guardiões da Galáxia, não apresentou absolutamente nada fora do convencional desde então.
Tanto no cinema quanto na televisão, a DC tem essa abordagem vanguardista e isso é sintetizado pela época dos DC Originals como Titans, Monstro do Pântano e, por fim, Patrulha do Destino, um dos maiores acertos da marca em séries televisivas até agora.
Trazendo esses personagens marginalizados da editora, ninguém esperava que uma série de um supergrupo desconhecido originado em 1963 renderia uma excelente história com diversos métodos criativos para trazê-la à vida.
Zeros à esquerda
Essa interpretação de Patrulha do Destino conduzida à ferro e fogo pelo showrunner Jeremy Carver, se inspira fortemente em duas das melhores fases do supergrupo nos quadrinhos: a de origem, criada por Arnold Drake, Bob Haney e Bruno Premiani, com a mais elogiada até hoje, de Grant Morrison.
A premissa é original, misturando personagens das duas fases, mas mantendo a íntegra do suprassumo da equipe. Reunidos pelo Chefe (Timothy Dalton), um grupo de metahumanos desajustados vive na Mansão Dayton. Escondidos da sociedade por anos a fio, Rita Farr (April Bolwby), Crazy Jane (Diane Guerrero), Cliff Steele (Brendan Fraser) e Larry Trainor (Matt Bomer) acabam confrontados com seu pior pesadelo: o Chefe é sequestrado e não deixa qualquer rastro.
Perdidos e sem foco, a equipe acaba recebendo a ajuda do famoso Ciborgue (Joivan Wade) para tentar encontrarem o Chefe e salvarem suas peles, afinal o mundo é um lugar extremamente assustador para renegados bizarros como eles. Entretanto, ao longo da jornada, a equipe acaba também em busca de conhecerem a si mesmos e encararem a realidade.
É importante reforçar que, por mais que Patrulha do Destino seja uma série excepcional em todos os aspectos e não decepciona em absolutamente nada, o maior mérito vem mesmo do roteiro. Isso acontece pelo talento indiscutível de Jeremy Carver, showrunner, em manter a coesão e estilo único da série ao longo de quinze episódios escritos por, pasmem, onze roteiristas.
É um time gigantesco de pessoas escrevendo episódios diferentes e ainda assim conseguem a tarefa impressionante de manter a história coesa com seus personagens bastante ligados à sua essência e jornadas pessoais. Já no episódio piloto é possível perceber toda a irreverência e inventividade que o espectador testemunhará ao longo da série.
O grande vilão da trama, conhecido como Sr. Ninguém (Alan Tudyk absolutamente brilhante), serve também como o narrador e, por conta de sua natureza que é revelada episódios mais tarde, há diversos “metacomentários” sarcásticos em relação à indústria audiovisual dependente das adaptações de quadrinhos e de como essas histórias estão cada vez mais genéricas.
Toda essa ironia com críticas ácidas, felizmente não se aplica ao trabalho narrativo da série. Criativa, esquisita e bizarra do início ao fim, temos essas histórias com presepadas improváveis mescladas com o realismo do drama dos seus personagens. No decorrer de toda a temporada, todos passam por um arco significativo de aceitação, perdão e ressignificação.
Dentre todos, creio que o melhor escrito seja com Larry Trainor. Através dele, os roteiristas trabalham muitas temáticas LGBT pertinentes, trazendo momentos memoráveis com ápices narrativos bonitos em dois episódios diferentes - um deles também traz a apresentação de Danny, a rua Queer sapiente criada na fase de Morrison. Fora isso, há toda a relação complicada com a entidade do Homem Negativo que se encontra preso em Trainor por uma infelicidade do destino.
Logo, enquanto a equipe luta contra os fantasmas do passado através de flashbacks orgânicos muito bem inseridos, temos toda a busca pelo Chefe ao longo da temporada. Para completar quinze episódios completos, há também arcos menores que se conectam magistralmente com a trama principal e com os flashbacks.
Alguns episódios, inclusive, conseguem ser profundamente emocionantes pela dor de alguns personagens como Trainer e Crazy Jane, uma mulher que sofre de Transtorno Dissociativo alternando entre 64 personalidades diferentes - ponto alto da série é o episódio que explora a fundo a mente da personagem exigindo bastante da atuação de Guerrero.
Embora alguns tenham arcos mais interessantes que os outros, a qualidade narrativa é sempre bastante acima da média. A interação entre o grupo diverte bastante, com o texto acertando muito na comédia e nas reações de todos mediante as completas bizarrices que enfrentam como o Apocalipse mais inusitado possível e dos acontecimentos que se desdobram dentro de um burro, por exemplo.
O que se torna um vício narrativo cansativo em geral é a relação sempre inconstante entre Jane e Steele que sempre cai na repetição atingindo até mesmo o último episódio. Fora o fato da série duvidar da inteligência do espectador e deixar explícito qual é a metáfora e conflito entre os personagens na esfera psicológica em uma relação quase edipiana.
Também é uma pena que o final seja tão apressado depois de um acontecimento mudar completamente o paradigma de um dos personagens. Em apenas um episódio, fica impossível trabalhar todos com competência para jogá-los diretamente em um conflito decisivo contra o Sr. Ninguém. Pela história do episódio final, fica claro que ali eram necessários ao menos dois episódios, pois toda a proposta acerca do final é repleta de potencial. Ou simplesmente encarar o fato de encerrar a temporada no 14º episódio que amarra muito bem diversas características.
Aliás, o final evidencia o cuidado da produção em deixar diversos elementos soltos para serem retomados posteriormente, como é o caso da barata crente Ezekiel e o ratinho vingador Bigodes. Alguns outros personagens coadjuvantes também complementam bem o tom cômico, como é o caso das besteiras que o Homem Animal Vegetal Mineral faz.
Já outros trazem histórias tão interessantes que fazem o espectador torcer para que retornem posteriormente em outros episódios como acontece com Willoughby Kipling, Flex Mentallo e o Caçador de Barbas. São personagens únicos de poderes absurdos de tão surreais e aparentemente inúteis, além de contarem com o carisma dedicado dos seus atores - em geral, na série inteira, o trabalho de elenco é muito sólido e competente.
Review Patrol
É fato que os elementos bizarros da série são sua estrutura fundamental. Caso você não goste de narrativas esquisitas que apresentam conceitos surreais, Patrulha do Destino com certeza não é recomendada.
Isso reverbera muito também no visual da série. Apesar de contar com um bom orçamento, os elementos de computação gráfica em geral são bastante rudimentares, toscos, mas que encaixam organicamente com a natureza estética da série.
A estética da série tem ápices de brilhantismo com boas imagens para criar metáforas bonitas, como o último adeus entre Trainor e o amor de sua vida em um sonho, com o jogo de desfoques em plano/contraplano. Muito também recai na competência do departamento da arte trazendo elementos visuais americanos característicos de diversas décadas que vão dos anos 1910 até os 2010.
Ou seja, um verdadeiro pesadelo de produção onde tudo poderia dar errado, mas que felizmente não dá. Há muito cuidado e originalidade para a execução das ideias bizarras em contrastes com cenários bastante cuidadosos para capturar a iconografia da época. É só reparar em como cada flashback de cada personagem consegue ser extremamente único e reconhecível em questão de segundos. Isso é uma direção competente.
Logo, Patrulha do Destino em sua 1ª temporada cativa bastante por sua irreverência feita do modo correto. Há beleza na jornada de seus personagens extremamente trágicos e quebrados por dentro - toda a situação de Cliff Steele é uma das mais desesperadoras dentre os demais. Tragédia e comédia muito bem dosadas ao todo potencializadas pela liberdade proporcionada pelas brincadeiras com a metalinguagem - principalmente no penúltimo episódio.
Mostrando que ainda é possível contar ótimas histórias e encantar os espectadores através de um experimentalismo criativo responsável, a série é uma das produções originais mais cativantes da DC em anos e que com certeza merece uma chance de ser conferida com carinho por todo fã de quadrinhos e de super heróis.
Patrulha do Destino: 1ª Temporada (Doom Patrol, EUA - 2019)
Criado por: Jeremy Carver
Direção: Dermott Downs, Chris Manley, Carol Banker, Robert Hardy, Rebecca Rodriguez, Amanda Row, Kristin Widell
Roteiro: Tamara Beecher-Wilkinson, Jeremy Carver, Shoshana Sachi, Tom Farrell, Eric Dietel, Tanya Steele, Neil Reynolds, Chris Dingess
Elenco: Diane Guerrero, April Bowlby, Joivan Wade, Alan Tudyk, Matt Bomer, Brendan Fraser, Timothy Dalton, Riley Shanahan, Matthew Zuk, Phil Morris, Alimi Ballard, Anna Lore, Tommy Snider, Stephanie Czajkowski, Charmin Lee
Emissora: HBO Max
Gênero: Ficção Científica, Ação, Quadrinhos
Duração: 55 min.
Crítica | Chumbo Grosso - O filme policial mais hilário já feito
Com o sucesso arrasador de Todo Mundo Quase Morto no Reino Unido e por algumas fanbases nos EUA, a carreira de Edgar Wright preparava-se para decolar. Seu próximo projeto retomaria a parceria com Simon Pegg e Nick Frost, em mais uma sátira ácida de um gênero popular de Hollywood, preenchendo o segundo capítulo da Trilogia do Cornetto: Chumbo Grosso, provavelmente o mais hilário filme policial já feito.
Novamente roteirizado por Wright e Pegg, a trama nos apresenta a Nicholas Angel (Pegg), o melhor e mais inteligente policial que Londres já viu, cujas habilidades incríveis lhe garantem uma reputação sem precedentes no país. Na verdade, Angel é tão eficiente em seu trabalho que acaba envergonhando o restante do preguiçoso departamento, que acaba se vendo na necessidade de se livrar do sujeito para que suas próprias imagens não fiquem tão degradas. Angel é então transferido para a pacífica vila de Sandford, na cidadezinha do interior de Gloucestershire. De início parece um desperdício da grande habilidade de Angel, já que a cidade tem uma taxa de crime baixíssima, até o momento em que começa a desvendar uma sinistra conspiração que envolve todos os moradores.
O que separa os filmes da trilogia do Cornetto de outras paródias do gênero é o fato de Wright tratar seu filme como um do gênero específico: Todo Mundo Quase Morto era um filme de zumbi, e que hora e outra era até mesmo capaz de provocar tensão e pavor, da mesma forma com que Chumbo Grosso funciona muito bem como um filme de ação. A chave para o sucesso cômico está em encontrar os absurdos das diversas situações e a autorreferência, como o fato de o empolgado parceiro de Angel, Danny Butterman (Nick Frost), ser um aficionado pelo gênero e constantemente referenciar filmes como Caçadores de Emoção e Bad Boys 2, chegando ao ponto de simular cenas específicas de um destes durante um tiroteio.
A conspiração que envolve os moradores de Sandford é outro quesito genial, já que vira de ponta cabeça toda a minuciosa e detalhada investigação de Angel, que tece uma rede de acontecimentos muito lógica para explicar os acontecimentos e a onda de assassinatos que assola a vila… Até termos a revelação de que tudo aconteceu por outro motivo, muito idiota e hilário. Aliás, a presença de Timothy Dalton como um dos antagonistas aqui é divertidíssima.
De cara, já é impressionante observar a diferença brusca entre os personagens que Pegg interpreta. O banana desleixado Shaun dá espaço ao mega organizado e até robótico Nicholas Angel, com quem o ator fornece uma seriedade e disposição física notáveis, principalmente durante as cenas de ação, onde Wright revela-se um conhecedor nato. Das perseguições a pé até corridas de carro pelo campo, Wright é dono de uma câmera agitada e uma montagem frenética que é habil em unir dois planos e passar a impressão de continuidade ininterrupta (algo que ele faz muito bem no humor também, como a chegada de Angel que é demarcada por jump cuts inteligentes), ao mesmo tempo em que é capaz de impressionar com a eficiência, quase um Bourne mais humorado.
Chumbo Grosso talvez seja o melhor exemplar da trilogia, oferecendo um longa que funcione de forma eficiente como um filme policial e que atinge picos de brilhantismo no quesito paródia.
Chumbo Grosso (Hot Fuzz, Reino Unido - 2007)
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright e Simon Pegg
Elenco: Simon Pegg, Nick Frost, Timothy Dalton, Jim Broadbent, Rafe Spall, Paddy Considine, Olivia Colman
Gênero: Comédia
Duração: 121 min
https://www.youtube.com/watch?v=ayTnvVpj9t4
Crítica | O Turista (2010)
Os filmes baseiam-se em gêneros e temas. Alguns prevalecem e continuam fazendo sucesso nas bilheterias. Outros simplesmente morrem e nunca mais voltam. Um exemplo disto são os filmes noir que marcaram época nos anos 50 e muito raramente aparecem nos cinemas atualmente. Já o antigo thriller de espionagem é um molde ultrapassado de Hollywood e monopolizado pela franquia de James Bond, todavia alguns ainda persistem em aparecer e geralmente levam a pior.
Frank Tupelo é apenas um simples turista viajando a Veneza, mas tudo isto mudo quando conhece Elise Ward, uma fugitiva procurada pelo governo. Elise se aproxima de Frank com apenas um objetivo: tentar fazer os policiais acreditarem que ele é o seu companheiro, Alexander Pearce, um criminoso fiscal. O problema é que Elise não contava que acabaria se apaixonando pelo turista e, agora, Frank realmente corre risco de morrer graças a armadilha dela e também por um mafioso com pinta de russo nada contente com Pearce.
Roteiro de turista
O roteiro raso de Chistopher McQuarrie e de Florian Donnersmarck tem um problema de crise de identidade – começa como thriller de suspense e termina como comédia. Não reclamo dele terminar em comédia porque foi exatamente isso que salvou o filme.
Seu enredo não é surpreendente e conta com diversas passagens previsíveis, até mesmo seu clímax não deixa o espectador de boca aberta com sua resolução simplória. Também faz analogias quanto aos seus personagens nem um pouco carismáticos igualmente clichês comparando-os com personagens de livros de espionagem. Seus diálogos não empolgam e muitas vezes deixam o espectador quase dormindo. Em algumas horas, consegue ser original e envolver o público na trama graças a sensualidade de poucas conversas. Como sempre o antagonista da história é o vilão gangster cercado por russos super caricatos, também existem os policiais ineficientes e fanáticos pelo trabalho.
Existem furos no meio da história e personagens que desaparecem do nada e, de vez em quando, reaparecem para salvar a noite. Mesmo sendo chato e fraco,o filme tem seus acertos. A maior parte deles provém das idiotices que Frank faz no meio das perseguições, do cigarro LED, por trocar o italiano pelo espanhol diversas vezes e pela visão dos italianos a respeito dos turistas especialmente americanos (real, eu diria, pois vivenciei isso lá).
Sr. e Sra. Depp
Em toda a história da carreira destes dois, eles nunca tiveram a oportunidade de trabalhar juntos. Então, era esperado que o resultado fosse surpreendente e explodisse sua alma com tamanha qualidade, certo? Errado! Depp e Jolie não possuem química nenhuma entre seus personagens, sendo que o enredo se baseia no amor “proibido” deles. Não existe carisma em seus personagens assim como em suas atuações. Depp está se livrando aos poucos da maldição de Jack Sparrow que o persegue desde 2003, mas mesmo assim atuou no modo automático, simplesmente não fez esforço nenhum para inovar em nada. Jolie herdou os sorrisos e biquinhos de Salt e desfilou para as câmeras invejando várias figurantes no baile “Disney” que ocorre no fim do longa. Sua atuação resume em apenas ser sensual ao extremo, uma coisa realmente muito difícil para a mulher, não é? Ela nem tentou criar um sotaque inglês para sua personagem britânica.
O destaque fica por conta de Timothy Dalton, mesmo com seus poucos minutos em cena deixa o filme mais agradável e relembra seus anos incríveis como 007, onde tinha permissão para matar. Paul Bettany também está muito bem em seu papel de policial neurótico e garante o divertimento para o público com um belo timing entre seus chiliques e tiradas cômicas. Steven Berkoff faz um papel fácil e apostou na caricatura exacerbada do vilão.
Um tour a Veneza
O ponto mais alto do filme é a direção de arte e a bela fotografia. Nos interiores, tudo é filmado para mostrar o luxo e o glamour dos cenários que Depp e Jolie “atuam”. A fotografia aproveita o melhor da beleza de Veneza e de Paris a cada plano apresentado. Os planos abertos são os melhores, fora a grande beleza da paisagem, a câmera movimenta-se inteligentemente resultando em uma imagem única e original. Existem tomadas bem elaboradas, como o plano que Depp aparece andando no meio do negrume das pombas com seu smoking branco em plena Piazza San Marco.
O figurino também é relevante, as roupas que os atores usam são extremamente bonitas, principalmente as de Jolie que as tornam ainda mais bela do que já é. Ela também usa jóias estonteantes que as câmeras exibem com tanto orgulho em seus closes repetitivos.
A trilha que saiu pela culatra
As músicas são inspiradas e bem conduzidas – algumas até contam com uma batida eletrônica. Porém, quase nunca casam com as cenas, resultando em um efeito bem indigesto. Várias vezes, Jolie aparece desfilando calmamente com toda sua graça com uma música a la “Missão Impossível”. Outra cena que causa um estranhamento é a que se passa na varanda do hotel onde subitamente começa uma música digna de contos de fada.
O alemão alugado por Hollywood
Florian Henckel von Donnersmarck começou no cinema com o incrível “A Vida dos Outros” super elogiado pela crítica e premiado com o BAFTA e o Oscar, mas ao contrário de sua obra anterior, “O Turista” parece ser seu projeto escolar.
Ele praticamente obrigou as câmeras a filmarem Jolie 90% do filme, aparecendo mais do que a própria Veneza. Também não soube dirigir as poucas sequências de ação – a da lancha escapando a 10 km/h dos capangas russos vesgos é uma prova disso. Não desinchou o ego dos seus atores principais, talvez até por ter uma tara secreta por Angelina.
Como era a primeira vez que Depp e Jolie trabalhariam juntos, o resultado poderia ter sido bem melhor. E o pior de tudo: a edição catastrófica que este filme possui. Muitos dos diálogos são chatos graças a edição lenta e pouco precisa. Fora isso ainda insere slow motions completamente desnecessários em algumas cenas.
Mesmo sendo um filme de férias e descontraído, Donnersmarck poderia ter se esforçado mais. Agora eu penso que piada de mau gosto terá sido esta edição do Globo de Ouro deste ano, onde esta “obra de arte” recebeu três indicações.
Um postal seria uma idéia melhor
“O Turista” é o típico caso de filme pipoca despretensioso. Se você ainda quiser assisti-lo, recomendo que vá sem expectativa alguma de ver algo surpreendente. Apenas esqueça seu cérebro em casa e siga até o cinema, pronto para aceitar todas as soluções básicas do roteiro, os personagens insossos de Jolie e Depp e as perseguições maçantes. Você terá se divertido, ficado deslumbrado pela beleza visual da fotografia única de John Seale e se sentido como um turista em Veneza, afinal se o filme fez alguma coisa bem feita foi a bela propaganda turística da cidade flutuante.