Crítica | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros - A Magia do Cinema
Desde seus primórdios, o Cinema sempre nos trouxe representações visuais de dinossauros, com suas primeiras aparições marcadas por Brute Force (ou The Primitive Man), de D.W. Griffith, e Gertie the Dinosaur, um dos primeiros curtas animados. De 1914 a 1993, no entanto, tais criaturas jamais haviam dado as caras de maneira tão realista e espetacular - no sentido pleno da palavra - quanto em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros, no qual Steven Spielberg demonstrou, de uma vez por todas, ser possível fazer magia com o Cinema.
Para isso ser possível, Spielberg precisava recriar os dinossauros de uma maneira que realmente pudéssemos acreditar neles e, para tal, utilizou o que de mais moderno havia na tecnologia da época, aliando o revolucionário uso de computação gráfica com efeitos práticos, sem falar de um design de produção que levava em conta não meramente a fidelidade com descobertas paleontológicas, como tomava as devidas liberdades a fim de criar o maior impacto visual. O resultado, claro, fala por si só e foi responsável pela reestruturação do imaginário popular acerca de tais criaturas, a tal ponto que, ao imaginarmos um T-Rex, visualizamos justamente aquele visto no filme, chegando a estranhar quando vemos alguma representação que se distancie do que conhecemos em Jurassic Park.
Mas vamos por partes, afinal, é uma confluência de fatores que torna esse filme o que ele é.
A Teoria do Caos
Antes mesmo de publicar seu romance homônimo, Michael Crichton vendeu os direitos da adaptação para a Universal, que adquiriu tais direitos especificamente para que Spielberg dirigisse a adaptação cinematográfica, após uma acirrada disputa com outros estúdios, também interessados no material base. De fato, já tendo lido o romance original, posso dizer sem sombras de dúvidas que Crichton, o que vale para a maior parte de seus livros, o escreveu já pensando em uma versão cinematográfica. Toda sua narrativa é extremamente visual e consideravelmente mais visceral que o filme em si, diga-se de passagem.
Dito isso, por mais que tenha assinado o roteiro, foi a revisão do também creditado David Koepp, que definiu o caminho a ser trilhado pelo longa-metragem. Com passagens mais violentas, que descrevem as mortes em bem mais detalhes, o texto original foi amenizado, passando a combinar mais com a linguagem utilizada por Spielberg em Tubarão, que lida muito mais com o ‘não-visto’ do que com a superexposição propriamente dita. Evidente que, em termos visuais, Jurassic Park explora muito mais as criaturas que perseguem os personagens do que o filme sobre o tubarão assassino, mas em ambos enxergamos claramente mais similaridades que disparidades.
Assim sendo, temos obras essencialmente diferentes quando comparamos o romance ao longa-metragem, com personagens de mesmo nome propositadamente alterados a fim de se encaixarem com a narrativa mais concisa do Cinema. Personagens como Grant (Sam Neill) e Malcolm (Jeff Goldblum) foram, em partes, ‘fundidos’, permitindo uma estrutura mais linear, que foca quase que exclusivamente em Grant e nas crianças, com breves focos paralelos em Ellie (Laura Dern) e Hammond (vivido pelo saudoso Richard Attenborough).
Essa mudança acaba acarretando no fato que certos personagens são jogados para o escanteio em certos pontos - o próprio Malcolm é um deles, o que pode levantar sobrancelhas daqueles que esperavam maior construção de personagem, mas que, no fim, não gera grandes consequências para o filme como um todo.
Claro que certos pontos ainda soam como detalhes mal planejados, como as mortes de Arnold (Samuel L. Jackson) e Muldoon (Bob Peck), completamente ignoradas pelos outros indivíduos que acompanhamos em tela. Novamente, são pontos menores quando comparados ao restante do filme, mas que ainda podem ser encarados como deslizes.
Torna-se claro que esses, assim como alguns outros personagens, são utilizados para desempenharem funções bastantes específicas dentro da narrativa e nenhum desses secundários conta com papel mais importante que Malcolm, cujo discurso sobre a Teoria do Caos basicamente funciona como um foreshadowing de absolutamente tudo que irá acontecer ao longo da projeção. Vejam: Malcolm fala sobre a possibilidade de pequenas imprevisibilidades surgirem ao longo do caminho, de grandes eventos serem catalisados por minúsculas e aparentemente inconsequentes ações. Em dado momento ele chega a dizer “eu odeio estar certo o tempo todo” e, realmente, ele está certo do início ao fim do filme.
E por que isso? Porque toda a narrativa de Jurassic Park é pautada na imprevisibilidade, em pequenas coincidências acarretando em grandes tragédias - para dar alguns exemplos, podemos pegar o fato dos carros pararem justamente em frente à área do Tiranossauro, ou os raptors aprenderem a abrir portas, ou, claro, o simples fato de Nedry (Wayne Knight) decidir desligar parte dos sistemas, para roubar os genes dos dinossauros, justamente no dia que o parque recebe suas seus primeiros visitantes. Trata-se de um acúmulo de coincidências, que diretamente dialogam, propositalmente, claro, com a linha de raciocínio de Malcolm, culminando na quase nula probabilidade do T-Rex aparecer na hora certa, sem ninguém perceber, para salvar os personagens centrais dos raptors. Assim sendo, é seguro dizer que o roteiro do filme é uma grande brincadeira, que inverte a probabilidade dos eventos, fazendo tudo dar errado na hora errada (para os personagens, naturalmente).
Seu louco filho da p****, você conseguiu
Para transformar esse texto em realidade, Spielberg claramente tirou algumas páginas de Tubarão, chegando a, inclusive, afirmar que Jurassic Park é uma continuação na terra do seu filme de 1975. Como já dito antes, porém, o longa aqui em questão é muito mais expositivo e funciona mais como um thriller de ação do que um suspense propriamente dito. Assim sendo, o diretor desviou dos planos ponto de vista das criaturas e optou por algo que convocasse toda a grandiosidade dessa representação visual das criaturas extintas. Mantendo, no entanto, focos constantes nas reações dos personagens ao verem esses seres, escolha muito bem exemplificada pela cena na qual vêem pela primeira vez o braquiossauro.
Spielberg desejava retratar os dinossauros como animais e não monstros, mais um distanciamento do que vemos em Tubarão e mais de uma vez utiliza closes que mostram os olhos das criaturas, beirando a humanização de tais criaturas, através da ideia de que eles, em algum nível específico, estão raciocinando dentro de determinadas situações.É importante notar, porém, como a abordagem de cada dinossauro é diferente, algo que se estende para o design de som (mas chegaremos nesse quesito em específico mais tarde).
Em termos de direção, Spielberg retrata o T-Rex - claro que vamos começar por ele - da maneira mais ameaçadora possível, filmando sempre de baixo para cima e, quando ele se apresenta no mesmo nível de olhar, vemos apenas um recorte, como o olhar feroz ou as mandíbulas gigantescas. Desde a primeira vez que vemos a criatura temos a total certeza de que será impossível acabar com ela de qualquer forma. Aliás, a própria introdução do bichano já é realizada de maneira grandiosa, com o impacto de seus movimentos fazendo o chão tremer, nos premiando com o emblemático plano da água tremendo, seja dentro do copo ou nas pegadas deixadas no chão.
Assim sendo, notavelmente não há nada ali que possa ir de encontro a ele e sabemos que a única opção dos personagens é fugir. Entra a questão da visão por movimento (que não corresponde à mais recentes descobertas), que dá ao menos uma chance dos visitantes sobreviverem e, claro, sua velocidade aumentada, via licença poética, para possibilitar perseguições mais angustiantes, vide a emblemática sequência do carro com o T-Rex atrás.
Pulamos, então, para os braquiossauros, que são apresentados como criaturas mais dóceis e, não por acaso, são uns dos poucos animais nos quais os personagens de fato encostam. A sequência da árvore, após o amanhecer, demonstra esse tom mais ‘pacífico’ com clareza, colocando o gigantesco animal no mesmo nível de olhar de Grant e as crianças e, claro, os próprios olhos de tais criaturas tiram qualquer sensação de perigo que elas poderiam transmitir, funcionando como uma pausa para respirar após momentos verdadeiramente tensos do filme.
Chegamos, enfim, aos velociraptors, que não por acaso abrem o filme com a cena na qual um dos funcionários do parque é devorado por um desses animais. Spielberg demonstra bem a perspicácia dessas criaturas através de frequentes plenos enquadrando suas cabeças, como se estivessem pensando. Mais de uma vez vemos seus olhares se fechando, como se percebessem algo, por fim, eles praticamente dialogam entre si quando mostrados em conjunto, uma jogada muito bem realizada pelo diretor, que faz deles uma ameaça não através da força bruta, como é o caso do T-Rex e sim através de sua inteligência. São seres implacáveis, caçadores natos, que sabiamente são deixados para os momentos finais do filme, renovando a narrativa através de um perigo diferenciado, que impede que a obra caia na mesmice.
A Vida encontra um Meio
Toda essa exposição seria um grande tiro no pé se Spielberg não tivesse completa ciência da qualidade dos efeitos especiais (práticos e digitais) à sua disposição. Jurassic Park não é apenas fruto da mente de seu diretor, é fruto de seu tempo, uma obra que se tornou realidade através dos avanços tecnológicos em diversas áreas. E duas companhias em específico foram essenciais para que a visão do diretor viesse à tona: a ILM (Industrial Light & Magic) e a DTS, na qual o próprio Spielberg investiu para que fosse fundada.
Originalmente, a ideia era utilizar animatrônicos, como foi o (desastroso) caso em Tubarão, para criar os dinossauros. O CGI, no entanto, acabou ganhando espaço no filme, após Spielberg ser apresentado (e convencido) de que a ILM seria capaz de realizar algo verossímil o suficiente. Foi realizado, então, todo um trabalho cuidadoso para definir a movimentação de cada criatura, para que nada soasse artificial. De fato, o resultado não poderia ser melhor e traz o que muitos longas de hoje em dia não conseguem fazer: dar a sensação de que os animais têm peso, que realmente ocupam aqueles lugares.
Evidente que, o uso do CGI é limitado a certas ocasiões, Spielberg ainda optou por efeitos práticos, sejam pessoas vestidas de raptors ou alguns animatrônicos para criar muitos planos, especialmente os mais próximos, demonstrando, assim, grande preocupação com a textura desses animais, especialmente considerando que boa parte das tomadas são diurnas, dificultando ainda mais esconder ocasionais defeitos dos efeitos especiais. Podemos ver, assim, como o diretor não se deixou levar, como é o caso de inúmeras produções atuais - ele confiou em sua equipe, mas não cegamente e todos ali tinham perfeita ciência do que poderiam e do que não poderiam fazer - evidente que os trechos “impossíveis” de serem realizados do livro foram deixados de fora ainda na sala de roteiristas, portanto não podemos resumir tudo aos esforços da equipe de efeitos ou do diretor.
A verossimilhança da imagem, no entanto, caminha de mãos dadas com o design de som - de nada adianta criar uma criatura que pareça viva, mas não soe viva. Para isso, a DTS fez uso de sons de diversos animais, desde baleias até elefantes, para criar os diferentes sons emitidos por cada uma das criaturas. É importante notar como cada um dos dinossauros emite um som diferente - os graves tons do tiranossauro, por exemplo, dialogam com sua imponência, o poder de sua representação; já os mais agudos e desconcertantes ruídos dos raptors são menos ‘relacionáveis’ com sons de criaturas que conhecemos, flertando com o medo do desconhecido, firmando de vez o temor acerca dessas criaturas que vinha sendo construído desde os minutos iniciais do longa. Há uma certa distinguível malícia nesses sons dos velociraptors que, de imediato, nos atinge.
A cereja no topo do bolo vem na forma da trilha de John Williams, que captura perfeitamente todo o encantamento dos personagens, e do próprio espectador, quando vêem os dinossauros pela primeira vez. Através de variações de dois temas principais (bastante similares entre si), as melodias de Williams oscilam entre esse fascínio, o espetáculo, a beleza de toda essa construção imagética e, claro, a tensão proporcionada pelos carnívoros no longa. Há um ar de fantasia em suas notas, definidas perfeitamente pela rítmica composição do tema principal, que culmina em uma das trilhas mais emblemáticas do Cinema, cujas melodias podem ser reconhecidas em meros segundos.
Quando os dinossauros dominavam a Terra
São todos esses elementos que fazem de Jurassic Park não apenas um filme, mas verdadeira magia, e o que é Cinema se não magia? Afinal, qual outra expressão artística nos faria acreditar tão piamente que estamos vendo e ouvindo dinossauros à nossa frente? É justamente esse espetáculo que nos permite ignorar solenemente aqueles defeitos que levantei lá atrás, permitindo que encaremos esse filme de Steven Spielberg como o marco cinematográfico que ele é.
Claramente uma obra de seu tempo, mas realizada da melhor maneira possível, o longa abriu caminho para centenas de outras produções, incluindo a trilogia prelúdio de Star Wars, a trilogia O Senhor dos Anéis, dentre muitas outras. Jamais, porém, veríamos os dinossauros reinando sobre a Terra como vimos aqui, trata-se de algo único e, felizmente, atemporal.
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park - EUA, 1993)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Michael Crichton, David Koepp (baseado no livro homônimo de Michael Crichton)
Elenco: Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum, Richard Attenborough, Bob Peck, Martin Ferrero, BD Wong, Joseph Mazzello, Ariana Richards, Samuel L. Jackson, Wayne Knight
Gênero: Aventura, Ficção Científica, Thriller
Duração: 127 min.
Leia mais sobre Jurassic Park
Crítica | A Morte de Stalin - Desconstruindo Figuras Históricas
Armando Iannucci consegue fazer comédia através da política como poucos. Tendo escrito e dirigido inúmeros episódios de The Thick of It, além de ter comandado o filme baseado na série, Conversa Truncada, e roteirizado alguns dos capítulos de Veep, Iannucci consegue acertar as doses necessárias de drama e humor, de verossímil e surreal ao ponto de criar distorcidos retratos do poder em nossa sociedade capazes de sugar plenamente o espectador para suas tramas, ao mesmo tempo que tece, na base da ironia e do sarcasmo, as mais deliciosas críticas.
A Morte de Stalin, seu mais novo filme, não é diferente, por incrível que possa parecer, já que esse é, sem dúvidas, seu projeto mais ousado, visto o peso dos eventos e da própria atmosfera do período que ele busca parodiar. Estamos falando dos instantes finais do governo de Stalin na falecida União Soviética, um período de terror para alguns e cegueira para muitos, com milhares enviados para campos na Sibéria, ou simplesmente assassinados por irem de encontro com alguma política do soberano da nação. Logo, é fácil entender a dificuldade em transformar justamente isso em comédia - Iannucci, juntamente de David Schneider, Ian Martin e Peter Fellows, também veteranos de The Thick of It, não poderiam mostrar muito, ou criará imagens e clima pesados demais. Também não poderiam mostrar pouco, ou parte da força de seu filme será dissolvida. Felizmente, o realizador consegue encontrar o equilíbrio, algo que testemunhamos já nas sequências iniciais.
O longa abre já mostrando o clima de instabilidade do regime, com uma espécie de prólogo ambientado majoritariamente em um teatro, no qual uma orquestra se apresenta. Próximo ao término da apresentação, Stalin liga para a direção do local e ordena que liguem de volta em alguns minutos. Quando o tempo se passa (e o espetáculo acaba de terminar), ele pede que gravem a orquestra para que ele possa escutar. Temendo sua própria vida, o responsável manda a orquestra se apresentar de novo.
Desde já vemos como uma situação, que poderia ser o auge da tensão nas mãos de outro diretor, com outra intenção, é transformada em pura comédia. Não se trata de algo pastelão ou similar, simplesmente uma mera extrapolação, um ‘o que aconteceria se’, que faz uso da própria personalidade humana para desenvolver esse delicado humor, que nos faz rir, enquanto entendemos o que está em jogo ali. O roteiro, para tal, faz uso de pequenos detalhes, que poderiam ocorrer no dia a dia de cada um, colocando-os em um momento no qual certamente não esperaríamos vê-los. Como o simples fato do responsável pelo teatro perguntar se era para ligar determinados minutos após desligar o telefone ou a partir do momento que Stalin fez o seu ‘pedido’.
Com essa premissa, Iannucci constrói todo o restante de seu filme, que mostra os outros integrantes do partido (todas figuras históricas) tendo de lidar com a morte de Stalin e o que isso significaria para a URSS - mais importante, porém: o que isso significaria para cada um deles individualmente. Desde cedo fica a questão aberta, quem irá ser o sucessor? Que funciona como o fio condutor de todo o enredo, permitindo não somente alto teor de competição entre eles, especialmente entre Beria (Simon Russell Beale) e Khrushchev (Steve Buscemi), como a velha necessidade de manter as aparências em tempos de puro desespero e correria.
Por falar em correria, aqui vemos uma das mais notáveis marcas do diretor, que define tão bem o tempo de Conversa Truncada: tudo parece estar ocorrendo ao mesmo tempo, sem pausas, de forma extremamente ágil. Dito isso, o que poderia se tornar altamente confuso para o espectador (especialmente para quem faltou as aulas de História contemporânea do ensino médio), é mantido dentro de nossa zona de conforto, através de um texto que jamais procura ser mais do que ele é: um bom divertimento, repleto de sarcasmo. Claro que as críticas à extrema burocracia, às mentiras, à corrupção da União Soviética (que acaba se estendendo para qualquer outro governo) estão presentes, mas elas jamais são colocadas no palco central, sempre sendo desenvolvidas através das ações que poderíamos esperar dos personagens apresentados.
Voltamos, pois, à questão do tempo, mas aqui, mais especificamente, em relação ao timing de cada cena, a duração de cada ação que vemos se desenrolar. Iannucci entende que não basta apenas desconstruir figuras históricas através de atitudes ‘mundanas’, é preciso algo mais, algo que impeça o filme de ficar pesado demais, ou até mesmo irreal ao extremo. A solução está na própria decupagem, que não tem o direito de criar planos muito extensos ou até curtos demais.
Vejam, absolutamente cada ação no Cinema pode ser transformada pela duração de um plano ou da sequência da qual faz parte. Um simples beijo pode se tornar algo extremamente desconfortante para a audiência caso se estenda demais. Um duelo mortal de espadas, com coreografia elaborada, pode se tornar uma espécie de balé. Isso, claro, se aplica ao que vemos em A Morte de Stalin, que estende certas ações, até aceitáveis, ao ponto de torná-las simplesmente ridículas (no bom sentido). A comédia se forma e somos capazes de rir de um velhinho correndo de oficiais do governo simplesmente porque a cena mostrou eles vindo de longe (enquanto o senhor tentava apressar o passo) e o prendendo, ao invés de simplesmente mostrá-lo ele já preso, o que cortaria a dose de sarcasmo presente nesse trecho, que muito bem exemplifica o que vemos no restante do filme.
Evidente que outros aspectos cinematográficos entram em questão na construção desses pontos. O movimento de câmera e seu próprio posicionamento nos coloca sempre no papel de espectador externo, jamais permitindo que mergulhemos como um dos personagens na trama, o que cria o necessário distanciamento do peso daqueles eventos. Aliás, Iannucci muito bem se esquiva de um tom mais sombrio ao mostrar o mínimo possível de sangue ou de morte, deixando, na maior parte dos casos, que o som fora da tela dê conta do recado e nos passe a ideia sem criar um impacto indevido.
Por outro lado, existem muitos pontos, em geral detalhes de um ou outro personagem, que poderiam ter ficado de fora, pontos que, no fim, acabam não influenciando em muita coisa, gerando aquela dilatação desnecessária da trama, o que faz o filme perder um pouco de sua força. Mesmo que os esforços de todo o elenco (especialmente Buscemi, Beale e Jason Isaacs) sejam mais do que capazes de nos cativar, eles não conseguem ocultar o fato que o filme acaba sendo um pouco mais longo do que deveria - pouca coisa, mas capaz de gerar um certo cansaço em determinados pontos.
Assim sendo, A Morte de Stalin pode não alcançar a perfeição e tampouco tinha o diretor e roteiristas tamanha pretensiosa intenção. O que Iannucci e sua equipe queriam - e conseguiram - foi nos trazer uma boa comédia, repleta de ácido humor que desconstrói as figuras desse período da História da União Soviética. Sabendo se esquivar de uma atmosfera mais pesada, o realizador nos entrega uma grande ironia, que extrapola a realidade, criando um retrato no qual podemos acreditar e, com isso, critica duramente e deliciosamente os bastidores desse governo, que tão bem dialoga com o nosso.
A Morte de Stalin (The Death of Stalin - Reino Unido, França, Bélgica, Canadá, 2017)
Direção: Armando Iannucci
Roteiro: Armando Iannucci, David Schneider, Ian Martin, Peter Fellows
Elenco: Steve Buscemi, Simon Russell Beale, Jeffrey Tambor, Olga Kurylenko, Tom Brooke, Paddy Considine, Michael Palin, Paul Ready, Jason Isaacs
Gênero: Comédia
Duração: 107 min.
https://www.youtube.com/watch?v=kPpXFnHoC-0
Crítica | Canibais (2013) - O Inferno de Eli Roth
Eli Roth já tem seu nome ligado a filmes com violência explícita há algum tempo. Diretor de O Albergue e sua primeira sequência, Cabana do Inferno e Bata Antes de Entrar seus filmes procuram abordar os desejos mais sombrios do ser humano, geralmente com bastante gore a fim de garantir um maior impacto no espectador. Em Canibais, Roth volta seu olhar para os filmes italianos do gênero, produzidos no final dos anos 1970/ início dos 1980, como Holocausto Canibal, o qual fora banido por mostrar a morte de animais de verdade, mais especificamente uma tartaruga e que conta com um filme fictício sendo filmado dentro dele, cujo nome é justamente The Green Inferno, nome original da obra aqui criticada. Acima de tudo, a obra aqui criticada é uma homenagem a esses longa-metragens, não somente pelo teor violento de suas cenas, como pela atmosfera criada.
Justine (Lorenza Izzo) é uma jovem estudante americana que acaba se envolvendo com um grupo de ativistas da faculdade que planeja viajar para o Peru, especificamente para uma porção da floresta Amazônica que está prestes a ser desmatada por uma corporação visando a exploração do gás natural no local. Na volta da viagem, porém, o pequeno avião no qual se encontram sofre uma pane e acaba caindo no meio da mata. Lá o grupo inteiro é capturado por uma tribo indígena, a mesma que eles procuravam salvar do desmatamento. Pouco sabiam eles, contudo, dos hábitos canibais desse povo.
Como de costume na grande maioria dos filmes de terror, o roteiro de Guillermo Amoedo e Eli Roth gasta um tempo considerável nos momentos antes da crise estourar. O problema é que grande parte das sequências que nos são trazidas não acrescentam em absolutamente nada na progressão narrativa. Mesmo a mensagem que o diretor procura passar através de sua obra em nada é influenciada através desse trecho inicial, nos passando a nítida impressão de que não se passa de uma pura enrolação. É evidente que Roth e Amoedo pretendiam explicitar o despreparo e a ingenuidade desses ativistas, mas já conseguimos enxergar tudo isso conforme avançamos na trama.
Passando por esse penoso início, que evidencia as péssimas atuações presentes no filme, chegamos ao que realmente importa: a captura do grupo pelos canibais. Aqui a homenagem aos cults italianos se mostra de forma mais evidente. A violência é explícita e não discrimina qualquer um, independente de gênero ou etnia. Tudo é mostrado de forma visceral e chega a provocar risos de nervosismo no espectador. Através da direção de Roth, que sabiamente foca nos sobreviventes, ocultando o que se passa fora da gaiola na qual se encontram, uma expectativa rapidamente é formada no espectador, o que é salientado pelo nosso não entendimento do que os indígenas falam. Dessa forma, não sabemos exatamente o que irá acontecer a seguir e a tensão formada nos prende às imagens exibidas.
Existe, porém, uma inconstância nesses momentos mais tensos, o ritmo estabelecido por Roth não consegue se manter, por já causar o maior choque nos primeiros momentos da captura. A sensação que nos é passada é que o longa não sabe encontrar sua linguagem de fato, visto que oscila entre o gore e cenas que buscam esconder esse fator. Faltou uma decisão mais firme do diretor em nos chocar e, graças a isso, a sensação de adrenalina no espectador logo vai passando.
A direção de arte segue o caminho óbvio com um foco considerável nas cores quentes, que ocupam o espaço visual na aldeia no qual os ativistas estão sendo presos. O verde da floresta que os rodeia passa a representar, portanto, uma espécie de libertação, ao ser contraposta com o amarelo e o vermelho presente nos indígenas, o que é algo irônico se considerarmos o título original do filme. A verdade é que, apesar dos deslizes cometidos ao longo da narrativa, sentimos um grande alívio quando vemos, enfim, somente a paisagem natural.
Há quem diga que Roth defende o imperialismo e o colonialismo em virtude da forma como retrata a população indígena local, mas isso é uma constatação rasa e ingênua. Quem conhece a filmografia do diretor sabe que essa não é sua intenção e é muita ingenuidade acreditar que as grandes corporações precisam de uma justificativa, além do lucro, para desmatarem as florestas ao redor do mundo. Temos aqui um filme cujo maior intuito é chocar o espectador através de uma temática que retoma filmes dos anos 1970/80. A intenção de Roth não é defender a prática dessas grandes empresas e sim mostrar como as pessoas podem ser controladas, enganadas e, em virtude disso, defenderem uma causa sem o menor preparo, tanto em termos de conhecimento de mundo, como psicológico. Dois exemplos claros disso é a cena exagerada do menino que precisa de um banheiro para urinar, quase não conseguindo fazer isso na mata e, é claro, o plot twist que ocorre na metade da história. Além disso, o realizador procura evidenciar essa questão nos momentos finais e acaba seguindo por um rumo mais politicamente correto ainda que totalmente irreal.
Canibais é um filme que diverte o apreciador de filmes gore e que traz imediatas lembranças de obras como Holocausto Canibal. Eli Roth, contudo, tenta encontrar uma linguagem para sua obra sem, de fato, conseguir e nos traz um amontoado de cenas que parecem ter sido filmadas cada uma com um diferente intuito pelo diretor. Com uma violência explícita, na maioria das sequências, esse definitivamente não é um longa-metragem para ser visto por todos, mas, quem já conhece e gosta da filmografia do diretor, certamente deve assistir esse daqui, apesar de seus muitos deslizes.
Canibais (The Green Inferno — EUA, 2013)
Direção: Eli Roth
Roteiro: Guillermo Amoedo, Eli Roth
Elenco: Lorenza Izzo, Ariel Levy, Aaron Burns, Daryl Sabara, Kirby Bliss Blanton, Magda Apanowicz, Sky Ferreira, Nicolás Martínez
Gênero: Terror
Duração: 100 min.
https://www.youtube.com/watch?v=FcpYPu9M3bw
Review | Star Wars: Knights of the Old Republic II – The Sith Lords
Knights of the Old Republic foi um marco dentro do Universo Expandido de Star Wars, criando uma linha narrativa que acabou influenciando dezenas de outras obras e que continua até hoje sendo reverenciado como um dos, se não o melhor game da franquia. Sua sequência, The Sith Lords, contudo, acaba muitas vezes sendo esquecida, fruto sem dúvidas do deadline imposto pela Lucasarts para que a Obsidian Entertainment finalizasse o jogo em um curto período de tempo, o que resultou em uma obra inacabada e que, desde então, passara pelas mãos de inúmeros fãs que criaram mods para aproximar o jogo à visão original dos desenvolvedores. Mesmo sem essas modificações, contudo, KOTOR II é um jogo tão bom quanto o primeiro e, em muitos aspectos, chega a ser superior ao original.
Evidente que se você procura uma história de Star Wars ao pé da letra, uma aventura nos moldes de Uma Nova Esperança ou qualquer um dos outros seis filmes da franquia, o primeiro game irá ser mais atraente. The Sith Lords foge dessa fórmula ao nos entregar um enredo que abandona o maniqueísmo vigente na franquia, colocando tudo em uma área cinza. O Lado Negro e o Lado da Luz nunca tiveram uma linha divisória tão tênue quanto aqui e muitas vezes não sabemos exatamente se nossas ações são boas ou ruins de fato. O maior exemplo disso é a fascinante personagem Kreia, que atua como a mestre de seu personagem ao longo do jogo. Em um ponto chegamos a perguntar se ela é Jedi ou Sith e sua resposta é: isso realmente importa? Em outro momento ela questiona uma de nossas ações, indicando que um ato de bondade pode levar para um inevitável trágico resultado, ao mesmo tempo que a maldade somente gera mais sofrimento a todos ao redor. São diálogos como esse que fazem de KOTOR II uma experiência muito mais profunda, filosófica e intimista que o game original – é uma proposta diferente, arrebatadora e perturbadora que nos aproxima mais do que nunca do perigoso caminho da Força.
Aqui controlamos o Exilado, um Jedi que seguira Revan durante as Guerras Mandalorianas, antes dos eventos de Knights of the Old Republic, e que fora julgado pelo Conselho Jedi e fora expulso pela sua rebeldia. Anos se passam e esses cavaleiros que zelavam pela ordem na galáxia foram praticamente extintos, fruto da guerra civil iniciada por Revan e seu aprendiz, Malak e de uma silenciosa caçada de outros lordes Sith que começaram a atacar após os eventos do jogo original. Ao que tudo indica, resta somente o Exilado, o último jedi e cabe a ele decidir se irá salvar a galáxia dessa ameaça ou apenas afundá-la mais nas sombras.
Não estamos falando, porém, de uma missão para salvar esse universo. Não, KOTOR II é muito mais intimista, o foco aqui está no protagonista, em suas constantes mudanças, na forma como encara o mundo ao seu redor e seus companheiros. Para isso, a Obsidian criara centenas de diálogos que nos fazem questionar tudo o que sabemos de Star Wars e sobre sua mitologia. Esse é o grande trunfo do jogo e o que destaca até hoje dentre RPGs em geral, ao passo que dificilmente encontraremos um melhor trabalho com as falas de qualquer personagem. Cada um deles nos oferece novos elementos e deixa muito para nossa interpretação, se apoiando fortemente no role playing, que não se resume apenas a escolher habilidades ou poderes. Nós construímos a história de Knights of the Old Republic mais do que nunca.
Em termos de mecânica, o game permanece praticamente o mesmo de seu antecessor, com poucas mudanças que apenas melhoram a fórmula. Uma bela introdução são as classes avançadas, que dão um ar novo ao jogo e permitem um aprofundamento maior do treinamento Jedi visto no jogo anterior. Os novos poderes e habilidades transformam a progressão ainda mais fluida e se encaixam perfeitamente com nosso estilo de jogo e existe um grau de customização ainda maior, com novas armaduras e mais opções de upgrades para nossos equipamentos. Dito isso, amplas novas possibilidades podem ser exploradas pelo jogador.
Um elemento a ser notado em The Sith Lords é a sua reverência ao game original. Há um respeito profundo pelo trabalho da Bioware, que entregara os direitos para desenvolver essa sequência de bom grado, confiantes no trabalho da Obsidian. Esses pontos em comum são sabiamente utilizados pelos desenvolvedores para expandir a atmosfera mais sombria e triste de KOTOR II, trazendo de volta lockais que apareceram ou apenas foram mencionados no primeiro. Andar pelas ruínas de Dantooine é uma experiência especialmente avassaladora, especialmente pelo fato de que fora lá que conseguimos nosso primeiro sabre de luz em Knights of the Old Republic. Tudo isso cria em nós a perfeita concepção de que esse universo está à beira da ruína.
Nada, porém, poderia nos preparar para o planeta final da história. Não entregarei nenhum spoiler para quem ainda não jogou, mas se preparem para visitar esse local, que, inclusive, fora trazido de volta para o universo de Star Wars na segunda temporada de Rebels. Aqui o brilhantismo do roteiro se eleva à décima potência, nos entregando um desfecho memorável e desesperador. Aqui Kreia é firmada, definitivamente, como uma das melhores personagens do Universo de Star Wars e sua relação com o Exilado um dos pontos altos do game.
Knights of the Old Republic II: The Sith Lords pode acabar sendo, muitas vezes, deixado de lado pelos fãs de Star Wars, mas estamos falando de uma obra simplesmente obrigatória para qualquer apreciador da franquia. Repleto de ambiguidade moral, diálogos muito bem escritos e um design de personagens memorável, o game se destaca entre as obras do Universo Expandido, como uma das que mais apresenta sua própria identidade, de forma que não se trata apenas mais uma história de Star Wars e sim uma narrativa intimista, sombria e avassaladora sobre as consequências das escolhas que tomamos na vida.
Star Wars: Knights of the Old Republic II – The Sith Lords
Desenvolvedor: Obsidian Entertainment
Lançamento: 06 de dezembro de 2004
Gênero: RPG
Disponível para: PC, Xbox
Crítica | Obrigado por Fumar - A Ironia de Jason Reitman
O consumo de cigarro foi um fator que lentamente adentrou a cultura popular, atingindo seu ápice nos anos 1960 – somente nos EUA, por exemplo, mais de 40% da população consumia os produtos das diversas gigantes do tabaco – qualquer um que tenha assistido Mad Men certamente terá essa noção bastante fresca na cabeça. Desde então o que vimos foi uma queda vertiginosa desse hábito, com o cigarro gradualmente desaparecendo de filmes, séries e anúncios e locais fechados não mais tolerando a constante fumaça proveniente do produto, ao passo que os danos causados pela inalação dos elementos químicos neles presentes passou do conhecimento mais restrito para o senso comum.
É justamente contra esse tipo de aversão ao produto anteriormente tão popular que Nick Naylor (Aaron Eckhart) deve lutar. Ele é o principal lobista representando a indústria tabagista, pulando de entrevista em entrevista, talk show em talk show, buscando convencer as massas de que o cigarro não é o demônio. Não que ele não admita os danos causados pelo produto, ele está muito ciente deles (apesar dele próprio ser fumante), mas sua grande tarefa é minimizar o impacto desses malefícios nas vendas e na opinião pública. Seus conflitos são travados principalmente com profissionais da saúde e políticos que buscam regulamentar cada vez mais a indústria em questão. Obrigado por Fumar, portanto, não é um filme sobre o ato de fumar ou não e sim sobre um homem que defende o indefensável, sobre o advogado do diabo – afinal, em sua própria linha de raciocínio, todos contam com um direito de defesa.
O roteiro de Jason Reitman, baseado no livro de Christopher Buckley, é, sem dúvidas, um dos maiores méritos da obra. De forma inteligente ele se mantém neutro acerca do consumo de tais substâncias. Trata-se de uma história movida pelos seus personagens, ou melhor, pelo protagonista e os elementos que o cercam. A construção de Naylor chega a ser impressionante, mesmo sabendo o que ele defende, em ponto algum chegamos a sentir algum desprezo por ele. Suas convicções são sólidas e o que enxergamos é apenas um homem que permanece fiel a seus ideais.
Naturalmente a direção do próprio Reitman, que já provara, desde então, repetidas vezes seu talento, não deixa a desejar. Com planos que evidenciam a inquietude de seus personagens (especialmente após o ponto de virada na metade do filme), sabemos perfeitamente onde, psicologicamente falando, se encontra cada um deles. Ao mesmo tempo ele sabe garantir a dose certa de incerteza, criando sutis suspenses que, com o decorrer do longa, acabam vindo à tona, quando já praticamente esquecidos pelo espectador.
O trabalho de Aaron Eckhart também não há de ser desdenhado. Enxergamos nele a figura do lobista perfeito, um homem que conseguiria vender estrume como a coisa mais maravilhosa do mundo e não para fins de adubagem. Evidentemente sua aparência ajuda, mas o poder de sua atuação está em seu tom de voz, a maneira como gesticula, a pausa entre cada palavra, os sorrisos. Tudo isso vende seu personagem como um verdadeiro santo, em suas próprias palavras, ocara que no colégio conseguia todas as garotas. Com isso, Reitman cria um óbvio paralelismo com Lúcifer, o diabo se esconde atrás de um rosto bonito. Paralelamente, cada vez mais enxergamos a humanidade do protagonista, seu cuidado com seu filho chega a ser palpável, se tornando cada vez mais evidente conforme o longa-metragem progride. A aproximação do público com o personagem (o que ocorre quase que imediatamente, em virtude da narração em off nos primeiros minutos) permite, consequentemente, que as doses de humor negro sejam bem mais efetivas. Cada argumento e saída esperta do personagem provoca inevitáveis risos no espectador, que passa a torcer pelo protagonista.
No fim, Obrigado por Fumar é um filme perfeitamente resumido pelo seu título, que traz consigo uma inerente ironia, que imediatamente nos atrai. Jason Reitman abre sua carreira nas telas grandes com um longa-metragem inesquecível, um estudo de personagens e comportamentos com fortes críticas sociais além de doses saudáveis de sarcasmo, que irão entreter a qualquer espectador. E somente para deixar totalmente claro: esse filme não defende ou ataca o cigarro.
Obrigado por Fumar (Thank You for Smoking – EUA, 2005)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman (baseado no livro de Christopher Buckley)
Elenco: Aaron Eckhart, Cameron Bright, Maria Bello, Joan Lunden, Mary Jo Smith, J.K. Simmons, Robert Duvall, Katie Holmes
Gênero: Drama, Comédia
Duração: 92 min.
https://www.youtube.com/watch?v=Df32RijORLo
Crítica | Crown Heights - As Muitas Falhas dos Sistemas Judiciário e Penitenciário
Distribuído pela Amazon Studios, Crown Heights é um daqueles filmes que levam o espectador a odiar a atual realidade na qual vivemos, enquanto que explicita as muitas falhas do sistema penal e carcerário americanos, que, evidentemente, também se aplicam ao nosso. Trata-se de um longa-metragem assustador, de função narrativa bem definida, que, apesar de seus deslizes, demonstra o poder de uma boa história e o próprio talento do diretor, Matt Ruskin.
Baseado em fatos, o longa nos conta a história de Colin Warner (Lakeith Stanfield), morador de Crown Heights, no Brooklyn, que é preso por um assassinato que ele não cometeu. A partir daí, a obra foca tanto na vida de Colin dentro da prisão, quanto nas tentativas de seu melhor amigo, Carl “KC” King (Nnamdi Asomugha), de inocentá-lo. Em uma sociedade que não abre espaço para que a verdade seja escutada, especialmente no caso de cidadãos negros, essas tentativas falham uma após a outra, desmotivando Warner, conforme os anos passam. Seu amigo, porém, jamais desiste dessa missão de libertar Colin.
O mais aterrador de Crown Heights é como todo o caso desse assassinato foi claramente deturpado a fim de conseguir o rápido encarceramento do suposto culpado. Esse aspecto, claro, é possibilitado pelo foco do roteiro, que mostra tudo pelo ponto de vista tanto de Colin quanto de KC, de tal maneira que sabemos, sem a menor sombra de dúvidas, que o protagonista é inocente. É interessante notar como o texto, do próprio Ruskin, que também assina a direção, não busca retratar seu personagem central de forma idealizada – ele não é uma pessoa violenta, mas está longe de ser perfeito, como é mostrado em uma das cenas iniciais, na qual ele rouba um carro, ou quando ele entra em uma briga na prisão.
O foco aqui não está na impunidade e sim nas falhas do sistema, que faz pessoas pagarem por crimes que jamais cometeram, enquanto outros, verdadeiros culpados, são deixados livres. Por vezes também enxergamos como de “correcional” essas instituições não tem nada, visto que a corrupção já se alastrara por elas completamente. Mesmo com tais aspectos em mente, vem como surpresa o tom otimista da obra, que, sim, gera certo sentimento de raiva no espectador, mas estimula a luta para que tais absurdos sejam corrigidos e não se repitam. Esse não é um filme para simplesmente mostrar o que há de errado, é um chamado para que estejamos atentos a tais situações.
Não podemos confundir, porém, otimismo com utópico – Crown Heights mais do que exibe as dificuldades de nos livrarmos dessas condenações indevidas, ponto explicitado pelos rápidos inserts de discursos de políticos, que buscam não resolver a raiz do problema e sim trabalhar em cima das consequências da desigualdade social. Na mesma linha, vemos as autoridades responsáveis fazendo pouco caso da situação de Colin, apenas mudando suas ações quando a mídia passa a se envolver – em outras palavras: se o povo não sabe, qual o problema?
O roteiro de Ruskin, contudo, não é ausente de problemas, como podemos ver pela sua estrutura fragmentada, incapaz de manter um ritmo fluido por toda a projeção. Com cartelas aparecendo ocasionalmente, a fim de mostrar há quantos anos Warner está na cadeia, o longa acaba criando uma narrativa episódica, que pode cansar o espectador. Não ajuda, também, a falta de cuidado em relação à caracterização de Colin, cuja aparência permanece basicamente a mesma durante todo o filme, mesmo com vinte anos de diferença entre o início e o fim do longa, aspecto que quebra a verossimilhança e até desvaloriza o belo trabalho de atuação de Lakeith Stanfield, que encarna seu personagem de maneira crível e tocante.
Tais aspectos, porém, não prejudica nosso aproveitamento de Crown Heights, filme que consegue nos envolver do início ao fim, mesmo com sua narrativa fragmentada. Trazendo à tona todos os problemas dos sistemas judiciário e penitenciário, esse longa, distribuído pela Amazon Studios, certamente merece ser assistido, provando o quanto nossa sociedade precisa mudar antes que a real justiça possa ser alcançada.
Crown Heights (idem - EUA, 2017)
Direção: Matt Ruskin
Roteiro: Matt Ruskin
Elenco: Lakeith Stanfield, Nnamdi Asomugha, Natalie Paul, Adriane Lenox, Marsha Stephanie Blake, Zach Grenier, Josh Pais
Gênero: Drama
Duração: 94 min.
https://www.youtube.com/watch?v=JgrFRyMsWiY
Crítica | A Vida Marinha com Steve Zissou - Uma Aventura Nada Convencional
Inesperado. Essa, possivelmente, é a característica que melhor define o que é A Vida Marinha com Steve Zissou. É, sobretudo, uma aventura que começa com um propósito e nos leva por águas totalmente desconhecidas e por mais que o personagem principal seja estranhamente familiar, o filme consegue ser uma constante quebra de expectativas.
Começamos em um teatro italiano onde será exibido o novo filme do documentarista Steve Zissou (Bill Murray). Após uma leve introdução por parte do apresentador começamos a assistir essa obra fictícia. O tema: exploração marinha que acaba levando à morte de um dos integrantes da viagem e melhor amigo de Steve. Ao termino da première do filme, um fracasso completo, Zissou revela suas intenções de buscar o tubarão mítico que matou seu amigo e se vingar, terminando, assim, a continuação da obra que acabará de apresentar. O ceticismo é geral, mas isso não impede a viagem de acontecer. Neste ponto a aventura começa.
Logo, porém, diferentes empecilhos e elementos não planejados vão se inserindo na trama, gerando sucessivas situações inacreditáveis. Wes Anderson consegue, assim, construir a sutil comédia de seu filme, quase que inteiramente galgada nas brilhantes atuações de seu elenco e, é claro, na quebra de expectativa. Bill Murray, à primeira vista nos entrega um personagem incrivelmente semelhante a Herman Blume, de Três é Demais (Rushmore). São, contudo, as nuances de sua personalidade, suas reações explosivas e muitas vezes fora do senso comum, que acabam tornando Steve Zissou uma figura única. O protagonista, porém, ganha sua força plena através das ótimas interações com sua tripulação – desde seu suposto filho, Ned Plimpton (Owen Wilson) e seu caso amoroso Jane (Cate Blanchett) até um de seus devotos tripulantes Klaus Daimler (vivido brilhantemente por Willem Dafoe).
Ainda assim não é somente a retratação de cada um desses personagens que garante a força da obra. A Vida Marinha com Steve Zissou é notável também pelas mudanças ocorridas seja no interior quanto no exterior de cada uma dessas figuras. Há uma clara evolução desses tripulantes ao longo da trama o que garante ainda mais doses de inesperado dentro do longa-metragem. Essa progressão por parte do roteiro, aliada à ótima montagem e edição de David Moritz provoca uma distinta sensação de passagem de tempo – aquela realmente foi uma longa viagem para todos. Os diversos letreiros amarelos que destacam os momentos dramáticos do filme resultam em uma sensação de documentário datado e certamente contribuem para o tom irônico do filme. Essa viagem ainda, constantemente, é ilustrada pela música de Seu Jorge, que adapta diversas canções internacionais para o português, como Life on Mars (David Bowie), além de representar um personagem dentro do filme que garante diegese à parte da trilha sonora.
Essa jornada, porém, não é totalmente ausente de problemas, ao ponto que o filme conta com alguns problemas de ritmo que, por vezes, acabam por torná-lo mais lento. Essas poucas ocorrências, contudo, são disfarçadas pela fotografia de Robert Yeoman, que mais uma vez consegue nos prender em momentos contemplativos em planos que raramente são estáticos e sim contam com uma precisa movimentação por menor que ela seja. Seu trabalho em conjunto com a direção de Anderson nos proporciona, por exemplo, um notável plano sequência em meados do filme que acompanha Steve subindo pelas diversas escadas de seu navio em meio a diálogos e uma mise-en-scène marcante. Importante ressaltar, também, que os enquadramentos de Yeoman são essenciais para o tom de comédia da obra.
A Vida Marinha com Steve Zissou é, sem dúvidas, um longa fora do comum, trazendo um entretenimento garantido e risadas sinceras provocadas pelas situações inacreditáveis que o Team Zissou passa ao longo de sua jornada. É uma quebra de expectativas tanto para nos espectadores quanto para os próprios personagens dentro do filme, que torna está uma aventura imperdível e fantástica no sentido literal da palavra.
A Vida Marinha com Steve Zissou (The Life Aquatic with Steve Zissou, EUA – 2004)
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson, Noah Baumbach
Elenco: Bill Murray, Owen Wilson, Anjelica Huston, Cate Blanchett, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Michael Gambon, Noah Taylor, Bud Cort, Seu Jorge, Robyn Cohen, Waris Ahluwalia
Duração: 119 min.
https://www.youtube.com/watch?v=yh401Rmkq0o
Crítica | Beijos Proibidos - A Inconstância do amor
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e considerado por uma variedade de críticos como uma das melhores obras de François Truffaut, Beijos Proibidos mais uma vez traz para o centro da narrativa o personagem Antoine Doinel, alter-ego do próprio Truffaut e protagonista da obra-prima Os Incompreendidos e do curta Antoine et Colette. O espectador que não assistiu a tais filmes, porém, não deve se preocupar – Beijos Proibidos se sustenta por si só e não requer nenhum conhecimento prévio. Assim como em seu primeiro longa-metragem, o diretor trabalha em cima das dificuldades do amor – dessa vez, contudo, a paixão entre o homem e a mulher sob uma ótica mais bem-humorada, trazendo consigo doses bem posicionadas de risadas e tensão.
Antoine (Jean-Pierre Léaud) é um jovem, já por volta de seus vinte e poucos anos, que, aparentemente, não consegue acertar em nada. Alistou-se no exército somente para passar a maioria desse tempo na prisão militar por desacato. Quando é dispensado (sem a menor honraria) do serviço, passa a trabalhar em um hotel, onde poucas noites depois é mandado embora por violar a privacidade de uma cliente. No ramo amoroso, é perdidamente apaixonado por Christine Darbon (Claude Jade), uma linda moça que, ao seu ver, não corresponde seus sentimentos. Sua desolação amorosa, ainda que acompanhada pela sua incansável insistência, acaba o levando por caminhos nada convencionais e logo se torna um detetive particular, cuja primária ocupação é nada mais que invadir as relações pessoais de indivíduos afora.
acompanha o emocional do protagonista através dos constantes movimentos de câmera e cortes bruscos, dando à narrativa uma nítida sensação de inquietação. A montagem, em especial, pode causar um desconforto nas audiências, porém, mesmo o espectador médio perceberá a importância dessa sensação. Jean-Pierre Léaud, mais uma vez, vive magistralmente essa representação em tela do diretor e consegue nos passar, desde os primeiros planos, a excentricidade de seu personagem. Sua linha de raciocínio está longe de ser cem por cento clara e o diretor faz bom uso dessa característica para causar bem-vindas risadas no espectador.
Rapidamente o clima sedimentado pela obra se torna um de seus maiores atrativos, convidando o espectador a sentir como seus personagens. A identificação é praticamente imediata, trazendo à tona em nossa memória as loucuras que já fizemos pelo amor. O roteiro, porém, não permanece nessa infindável jornada de conquista amorosa e insere pontuais e marcantes dúvidas em seu protagonista, que garantem uma evidente riqueza ao texto. Pouco a pouco a imprevisibilidade preenche a narrativa, ao mesmo tempo que passamos a pensar como o personagem central.
Esse conhecimento que temos do protagonista vai sutilmente se formando ao longo da projeção. Enquanto acompanhamos as peripécias de Antoine, sua empreitadas como investigador particular, sua personalidade é firmemente construída. Seu olhar e linguagem corporal transmitem as palavras que sua boca parece querer esconder, ao ponto que seu constante silêncio sustenta o humor da obra. A discreta evolução do personagem se faz nítida quando, já nos minutos finais do longa-metragem, olhamos para trás: Doinel, por mais que mantenha sua personalidade inquieta, é uma pessoa completamente diferente daquela que fora dispensada do exército, distanciando-nos temporalmente do princípio da narrativa.
Com uma mistura perfeita de humor e drama, François Truffaut nos traz mais um inesquecível capítulo da vida de Antoine Doinel. Beijos Proibidos é um filme que mostra o talento desse diretor, que sabe trabalhar cada aspecto de seu audiovisual para compor essa narrativa sobre a inconstância do amor. Definitivamente uma obra que merece ser conferida e que, evidentemente, se sustenta por si só, dispensando um conhecimento prévio de Os Incompreendidos, ainda que esse, sem dúvidas, também seja um filme obrigatório.
Beijos Proibidos (Baisers Volés – França, 1968)
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Claude de Givray, Bernard Revon
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claude Jade, Delphine Seyrig, Michael Lonsdale, Harry-Max, André Falcon, Daniel Ceccaldi, Claire Duhamel
Gênero: Comédia, drama
Duração: 90 min.
https://www.youtube.com/watch?v=KCELURpFlrs
A Figura do Holograma | O Final de Han Solo: Uma História Star Wars Explicado
Contém spoilers
Próximo ao fim de Han Solo: Uma História Star Wars, Qi'ra contata o verdadeiro líder da Aurora Vermelha (Crimson Dawn), que aparece através de um holograma e, para a surpresa de todos, ele é ninguém menos que Darth Maul! Sim, aquele mesmo que foi cortado ao meio pelo jovem Obi-Wan Kenobi em A Ameaça Fantasma. Maul conta com uma extensa história no novo cânone da saga, mas para aqueles que somente assistiram os filmes, é natural que uma grande dúvida seja levantada: como ele sobreviveu?
A intenção deste artigo é justamente explicar isso, além de colocar todos a par do passado, presente e futuro desse personagem, cuja história vai muito além daquele combate com Kenobi e Qui-Gonn Jinn. Dito isso, o texto a seguir traz spoilers tanto de Clone Wars, quanto de Star Wars Rebels.
Como ele sobreviveu?
Após ser cortado na altura da cintura e cair no abismo do palácio de Naboo, Maul utiliza a Força, abastecida principalmente através de sua ira, para agarrar uma saída de ar durante a queda. Ele então consegue chegar até um contêiner de lixo e é levado até o planeta Lotho Minor, onde vive em meio ao lixo, conseguindo alimento através de um acordo com uma criatura local, Morley. Nesse período, Maul teve suas pernas (que ele perdeu na luta) substituídas por um aparato de seis pernas, possibilitando que ele andasse novamente. Por anos ele permanece ali, gradualmente enlouquecendo, enquanto seu desejo de vingança, de acabar com Obi-Wan, permanece vivo.
Durante as Guerras Clônicas, seu irmão, Savage Opress, guiado pela Mãe Talzin, de Dathomir, planeta natal de Maul, acaba encontrando o antigo guerreiro Sith. Opress o leva de volta para Dathomir, onde Talzin restaura sua mente e dá a ele um par de novas pernas robóticas.
O primeiro grupo Criminoso
Antes de liderar a Aurora Vermelha, Maul chegou a formar outro grupo criminoso, o Shadow Collective (também durante a animação Clone Wars), que contava com membros recrutados do Sol Negro e do Cartel dos Hutts. A intenção, como sempre era a de se vingar dos Jedi e Maul e Opress estavam bem próximos disso.
Com esse novo exército, Maul tentou tomar o planeta Mandalore, mas sem sucesso e acabou sendo preso. Naturalmente que ele e seu irmão conseguiram escapar e pouco após Maul atrai Kenobi para o planeta e assassina a amada do Jedi, Satine, de Mandalore, na sua frente. A rivalidade dos dois é, assim alimentada ainda mais. Mas a sensação de vitória de Maul não duraria muito, já que ele acabaria sendo derrotado por Darth Sidious pouco depois, chegando a ter seu irmão morto durante a luta.
A Aurora Vermelha
Após o término das Guerras Clônicas e a ascensão do Império, Maul retornou a Dathomir, onde fundou a Aurora Vermelha, utilizando Dryden Vos (interpretado por Paul Bettany no filme) para atingir seus objetivos. Nesse ponto, se levarmos em conta sua personalidade em Rebels é provável que ele ainda esteja nutrindo seus sentimentos de vingança por Kenobi, os Jedi e Sidious. Sua história, no entanto, não termina aqui e possivelmente veremos mais de sua relação com Qi-Ra em próximos filmes ou HQs e livros.
Ao término de Han Solo: Uma História Star Wars o ex-Sith convoca Qi'ra para Dathomir.
Morte
De fato, não há muito espaço para ser explorado quando se trata de Maul, já que seu destino final foi selado em Star Wars: Rebels. O spin-off de Han Solo se passa aproximadamente dez anos antes de Uma Nova Esperança, o que dá uma margem de oito a nove anos para que o personagem seja explorado. Quando o encontramos em Rebels ele está sozinho, portanto há de se esperar que vejamos o fim de Qi'ra em algum ponto.
Mas partindo para o que já foi exibido.
Após tentar assumir Ezra Bridger, um jovem Jedi, como seu aprendiz na segunda e terceira temporadas do desenho, Maul, sem sucesso, mantém seus planos de encontrar Kenobi e o consegue. Maul vai até Tattooine, onde duela com o mestre Jedi (em um dos melhores duelos da franquia), e acaba morrendo em seus braços, encerrando essa rivalidade de décadas, encontrando redenção nos braços daquele que tanto odiou.
Essa, portanto, é toda a trajetória (resumida) de Maul - ainda há espaço para ser mostrado mais de sua jornada, mas seu final já foi escrito. Resta aguardar para saber o que ele fez entre Han Solo: Uma História Star Wars e Rebels.
Han Solo: Uma História Star Wars | A Corrida de Kessel em menos de 12 parsecs explicada
Contém spoilers
Um dos maiores problemas envolvendo a introdução de Han Solo no primeiro Star Wars é sua tentativa de mostrar a velocidade da Millennium Falcon, claro que ele estava apenas tentando se vangloriar quando disse que a nave fez a corrida de Kessel em menos de 12 parsecs - o que ele (e George Lucas) não levaram em consideração é que parsec é uma medida de espaço e não de tempo, o que levantou muitas sobrancelhas ao longo dos anos, inclusive a de Ben Kenobi.
Agora, com Han Solo: Uma História Star Wars, essa pequena inconsistência foi explicada e, de fato, passou a fazer sentido!
Quando tentam escapar de Kessel no novo spin-off, Lando diz que é impossível percorrer esse trajeto em menos de vinte parsecs - é um caminho perigoso e a única rota segura é a com essa distância. Basta pensar na corrida de Kessel como se fosse um grande labirinto, no qual existem muitas saídas, mas somente uma é conhecida. No entanto, Han e sua equipe precisam entregar o combustível bruto antes que ele exploda, forçando-o a pegar um pequeno atalho, se aproximando da bocarra (Maw) mais do que deveriam. Com isso, Solo consegue sair dali em menos que 12 parsecs (arredondando para baixo).
Portanto, Han Solo: Uma História Star Wars finalmente fez as palavras de Han no primeiro Star Wars fazerem sentido.
Leia nossa crítica do filme.