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Guilherme Coral

Crítica | Amityville 3: O Demônio

O terror é um gênero cinematográfico que, constantemente, precisa se reinventar. O que assustava as pessoas há dez, vinte, trinta anos atrás não necessariamente irá surtir o mesmo efeito no espectador da atualidade. Em razão disso, ao longo da história dos filmes de horror vimos obras que brincam com nossas expectativas, misturando doses de comédia com os ocasionais sustos, como é o caso de Arraste-me para o Inferno e O Segredo da Cabana. Amityville 3: O Demônio, também conhecido como Pesadelo Mortal – Amityville 3 faz algo parecido, mas de maneira não-intencional, criando uma paródia de si mesmo e da própria franquia, que traz mais risadas do que medo efetivamente.

A trama se passa após os eventos dos dois primeiros longa-metragens e nos apresenta a John Baxter (Tony Roberts), um repórter especializado em desmascarar charlatões que alegam conversar com espíritos ou possuírem casas mal-assombradas. Após sua mais recente revelação, envolvendo um casal que morava na famosa casa em Amityville, Baxter acaba comprando a propriedade, logo descartando a ideia dela ser possuída pelo demônio ou algo assim. O que não esperava é que, uma a uma, as pessoas à sua volta seriam afetadas pela entidade presente naquele lugar.

Desde cedo o roteiro de William Wales – sendo essa a única obra assinada pelo roteirista – brinca com a metalinguagem, dialogando com a própria maneira como esses filmes de espíritos é filmada. O grande problema não é a premissa do filme em si e sim a maneira como ela é executada. Para começar, temos a velha história de sempre, de alguém se mudando para uma “casa endemoniada”, descobrindo, aos poucos, a real natureza daquele lugar. Wales não foge nem um pouco do óbvio e a brincadeira nos minutos iniciais vai embora, dando lugar a uma sucessão de eventos ridículos, marcados pela estupidez e praticamente todos os personagens.

Bom exemplo disso é a morte do corretor de imóveis, logo no início da projeção. Atacado por uma legião de moscas, ele simplesmente permanece colado na parede, sequer tentando escapar do quarto cuja porta fechara sozinha. Em seguida temos o protagonista vendo esses mesmo corretor caído no chão, pedindo, com as mãos, em seus últimos momentos, ajuda. O que o personagem principal faz? Absolutamente nada, fica apenas parado observando o sujeito como uma múmia, sem qualquer expressão – característica que, aliás, se mantém durante todo o filme, com o ator sendo incapaz de demonstrar qualquer emoção mesmo quando a filha de seu personagem morre – esse ponto, por sinal, é bastante sintomático na obra, visto que o roteiro simplesmente ignora a morte de diversos personagens.

Enquanto o protagonista mantém-se no marasmo de sempre, outros personagens não fazem o mesmo. Seu total oposto é Melanie (Candy Clark), colega jornalista, que entrega momentos de pura histeria enquanto grita aos quatro ventos de forma desesperada, proporcionando outra dose de risadas ao espectador – estranhamente, ela decide se conter um pouco mais quando está à beira da morte. Outros pontos que explodem qualquer limite do ridículo também estão presentes no filme, como quando o protagonista está dentro de um elevador em queda e ele automaticamente cola no teto, como se fosse atraído por um imã gigante. E não irei nem entrar em detalhes sobre a caracterização de certa criatura, que mais parece o meme “rage guy” do que um demônio de fato.

Amityville 3, portanto, é um filme que nos diverte e muito, mas não como terror e sim comédia. Com roteiro tenebroso, repleto de situações ridículas e atuações terríveis, essa obra mais do que prova que essa franquia precisava ser exorcizada, mandada de volta para o Inferno junto com o meme, digo, monstro presente nessa história. Evidente que, assim como a casa, essa assombração de franquia não iria embora tão fácil, rendendo mais quinze outros longa-metragens, que, só de pensar, sentimos arrepios.

Amityville III: O Demônio (Amityville 3-D, Estados Unidos – 19823)

Direção: Richard Fleischer
Roteiro: Fred Schuler, Clifford Capone, William Wales
Elenco: Tess Harper, Tony Roberts, Candy Clark, Carlos Romano, John Harkins, Meg Ryan, Lori Loughlin
Gênero: Terror, Thriller
Duração: 105 min

https://www.youtube.com/watch?v=hcCRBjG4hMM


by Guilherme Coral

Crítica | Dupla Explosiva

Obras que, de maneira quase metalinguística, brincam com seus próprios gêneros, têm se tornado cada vez mais comuns em Hollywood, rendendo-nos Kingsman: Serviço Secreto como perfeito exemplar disso. Não estamos falando de paródias, que, essencialmente, são filmes de comédia, mas sim filmes de ação, por exemplo, com boas doses de humor, que funcionam perfeitamente como homenagens aos clássicos que referenciam. Dupla Explosiva faz exatamente isso, herdando de obras como Máquina Mortífera (mesmo estando longe de um filme policial), Carga Explosiva, dentre outros, para construir essa premissa de um assassino de aluguel com um segurança pessoal.

A trama nos situa no meio de uma crise política na Bielorrússia, que teve o seu cruel ditador, Vladislav Dukhovich (Gary Oldman), deposto pelo povo. O julgamento do ex-líder, porém, não caminha para a sua condenação, visto que não existem provas que o incriminem de fato. A única esperança é o testemunho do assassino de aluguel, Darius Kincaid (Samuel L. Jackson), que deve ser transportado do Reino Unido para o tribunal internacional em Haia. Quando o comboio que levava a testemunha ao local é atacado, a agente da Interpol, Amelia Roussel (Elodie Yung) pede a ajuda de Michael Bryce (Ryan Reynolds), que cuida da segurança de alvos importantes, para que esse escolte Kincaid em segurança até o tribunal.

O roteiro de Tom O’Connor, em seu segundo trabalho como roteirista, estabelece uma premissa bastante básica, porém funcional, que, imediatamente, já nos mostra tudo o que está em jogo, definindo, portanto, a importância dessa missão que acompanhamos. O grande problema é que O’Connor não sabe utilizar tal simplicidade para desenvolver seus personagens, mantendo-os como figuras rasas, unidimensionais, movidos exclusivamente por um aspecto crucial de suas existências. Esse aspecto, claro, contribui para a extrema previsibilidade do longa-metragem, que não guarda sequer uma surpresa para o espectador – a partir do momento que Bryce e Kincaid, finalmente, se juntam, já sabemos tudo o que acontecerá.

Felizmente, Samuel L. Jackson e Ryan Reynolds conseguem nos divertir do início ao fim, com seus personagens constantemente alfinetando um ao outro. Sem qualquer ajuda do texto, os dois atores apresentam uma boa química, essa que funciona para nos manter atentos, muito embora a narrativa vá nos cansando cada vez mais, tanto pela previsibilidade, quanto pela sua longa duração, beirando as duas horas. Essa extensão é claramente provocada pelo excesso de sequências de ação, todas muito parecidas umas com as outras, por mais que não escondam muito a violência, utilizando-a de maneira a criar o humor. Isso, claro, nos faz ansiar por momentos de cômicos diálogos entre os dois personagens centrais da obra.

Ao menos a direção de Patrick Hughes não cai no velho problema dos cortes em excesso e câmera muito próxima e tremida, permitindo que entendamos o que está acontecendo em tela. Ironicamente, a já mencionada ausência de novidade, porém, faz desse um filme que não há muito o que se ver, de verdade. Não ajuda, também, o fato de que a montagem não sabe muito bem se decidir entre focar exclusivamente em um personagem ou alternar constantemente entre eles, causando um belo estranhamento no espectador. As sequências com Bryce e Kincaid separados são uma verdadeira bagunça e, em geral, longas demais, fazendo-nos ter completa consciência do tempo de duração da obra.

Dupla Explosiva, mais um exemplar de traduções genéricas de bons títulos, portanto, não foge do comum, entregando-nos uma comédia divertida, mas que nos cansa muito antes de chegarmos ao seu fim. Com um roteiro simplista, que não sabe se aprofundar em seus personagens e sequências de ação nada memoráveis, a obra se sustenta quase que exclusivamente em seu elenco. Mesmo Samuel L. Jackson e Ryan Reynolds juntos não são capazes de tornar esse filme em algo mais que puramente esquecível.

Dupla Explosiva (The Hitman's Bodyguard, Estados Unidos, China, Bulgária, Holanda – 2017)

Direção: Patrick Hughes
Roteiro: Tom O'Connor
Elenco: Samuel L. Jackson, Ryan Reynolds, Elodie Yung, Salma Hayek, Gary Oldman, Abbey Hoes, Alan McKenna
Gênero: Ação, Comédia
Duração: 118 minutos

https://www.youtube.com/watch?v=t7Q0Lr_bTfk&t=3s


by Guilherme Coral

Crítica | Uma Dama de Óculos Escuros Com Uma Arma no Carro

Através da linguagem cinematográfica o realizador de um filme pode subverter as expectativas do espectador, transformar o que ele enxerga em algo que não necessariamente é a verdade, como é o caso de Amnésia, de Christopher Nolan, que utiliza da montagem para colocar a história fora de ordem, criando o mistério de sua trama. Em casos como Garota Exemplar e A Garota no Trem é o roteiro que se encarrega disso, ainda que seus diretores, através da decupagem, brinquem com quem assiste a obra, nos fazendo interpretar situações de outra maneira. Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro une essas duas escolhas narrativas, nos entregando um thriller psicológico cujo mistério somente desvendamos no fim.

A trama acompanha Dany Dorémus (Freya Mavor), uma secretária que, a pedido de seu chefe, deve levá-lo ao aeroporto e, em seguida, devolver o carro para a sua casa. Subitamente, porém, a protagonista decide fazer uma curta viagem para a praia, onde jamais estivera. Nesse momento, coisas estranhas começam a acontecer, ao passo que pessoas desconhecidas passam a dizer que ela já estivera ali antes. Entrando em uma espiral de confusão, Dany começa a duvidar de sua própria mente, acreditando ter ficado louca, situação que se complica quando ela se envolve com questões perigosas.

Baseado no livro de Sébastien Japrisot, o roteiro de Gilles Marchand e Patrick Godeau logo cedo consegue captar a nossa atenção. Ficamos curiosos para saber o que de fato está acontecendo ali, se é apenas um golpe elaborado dado na mulher ou se ela realmente tem algum problema psicológico. Essa dúvida somente aumenta conforme vemos cenas de Dany conversando consigo mesma, como se tivesse dupla personalidade, com um de seus lados mais impetuoso, enquanto que o outro apresenta uma maior fragilidade. O texto, porém, deixa tudo na dose certa para que encaremos essas conversas como algo normal, como a típica pessoa em um dilema, tentando vencer seus próprios temores.

É aí que entra a excelente montagem e edição de Maryline Monthieux e Christophe Pinel, que avançam alguns detalhes futuros a fim de causar uma maior confusão no espectador, através de inserts ao longo da narrativa. Aliado a isso, temos a imaginação da própria Dany, que é colocada em tela através de curtos trechos os quais não sabemos se é o futuro, passado ou apenas algo imaginário. Tudo isso compõe um quadro de instabilidade quando se trata da mente da personagem, gerando a incerteza no espectador, que não sabe em quem acreditar: na mulher que diz que jamais estivera ali, ou naqueles que a reconhecem nos lugares pelos quais ela passa.

Além disso, em razão dessa montagem mais dinâmica, a obra acelera seu ritmo consideravelmente, tornando tudo uma viagem verdadeiramente frenética. Através de fusões, Monthieux e Pinel avançam determinadas ações, novamente dialogando com o tom de incerteza da obra, criando a sensação de que o tempo em questão é psicológico, mesmo não, necessariamente, o sendo. Freva Mavor, como a protagonista, somente faz toda essa construção ganhar ainda mais vida, desempenhando mais de um papel ao interpretar uma personagem apenas: são os diferentes aspectos da personalidade de qualquer um que ganham vida, são expostas no mundo real.

Infelizmente, a conclusão do longa não chega à altura da engenhosidade de seu desenvolvimento, com o texto saindo pela saída mais fácil, nos explicando minuciosamente tudo o que verdadeiramente aconteceu. Não é deixado qualquer espaço para a interpretação, visto que é tudo tão didático, que chega a parecer como o roteiro fosse um velho vilão de James Bond, explicando todo o seu plano maquiavélico. Em razão disso, tudo ganha um ar maior de irrealidade, transformando essa jornada psicológica crível em algo que tenta se aproximar do realismo, sem verdadeiramente conseguir. O que fora construído antes é jogado fora em um grande anticlímax.

Apesar disso, Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro continua sendo um filme instigante, sendo capaz de envolver o espectador nessa espiral de loucura, nos deixando sem saber exatamente no que acreditar. Ao utilizar um falso, ou não, tempo psicológico, nos vemos, a cada instante, tentando desvendar o que acontece em tela – uma pena que o texto tenha privado o espectador de pensar através de seu final, caso contrário, certamente seria uma obra verdadeiramente impecável.

Uma Dama de Óculos Escuros Com Uma Arma no Carro (La Dame dans l'auto avec des Lunettes et un Fusil, Bélgica/França – 2015)

Direção: Joann Sfar
Roteiro: Gilles Marchand, Patrick Godeau
Elenco: Freya Mavor, Benjamin Biolay, Elio Germano, Stacy Martin, Thierry Hancisse, Sandrine Laroche
Gênero: Thriller
Duração: 94 min

https://www.youtube.com/watch?v=2X8jRwB6rro


by Guilherme Coral

Crítica | Alien vs. Predador

No início dos anos 2000, após o fracasso (em todos os sentidos) de Alien: A Ressurreição, a franquia criada por Ridley Scott estava morta e enterrada e permaneceria assim, até Prometheus, caso Paul W.S. Anderson, responsável pela adaptação cinematográfica de Resident Evil, não tivesse decidido utilizar a ideia dos quadrinhos de juntar os xenomorfos com Predador em Alien vs. Predador. O grande problema é que Anderson, em toda a sua carreira, jamais nos entregou um filme que fosse minimamente bom e, surpreendentemente, mesmo com as expectativas muito baixas, ele consegue nos surpreender negativamente.

O roteiro, também de W.S. Anderson, é um amontoado de clichés e elementos genéricos reciclados de Resident Evil. Quando um dos satélites da Weyland Industries capta uma fonte de calor bem abaixo da superfície em uma região inabitada da Antártica, a companhia contra um grupo de indivíduos para explorar a pirâmide subterrânea que descobrem nesse local. Liderados por Alexa Woods (Sanaa Lathan) a equipe encarregada da exploração descobre que essas ruínas são uma estrutura ritualística, que abriga alienígenas mortais. Para piorar sua situação, outros seres do espaço chegam à Terra para iniciar uma caçada naquele lugar.

Fica bastante claro o quanto o diretor e roteirista se apoiou em Resident Evil para compor essa sua obra. Mais de uma vez vemos os personagens sendo situados dentro dessa grande estrutura subterrânea através do foco em um mapa holográfico vermelho. Anderson repete isso mais de uma vez através de inserções desnecessárias, mostrando o ponto de vista, brevemente, dos Predadores, o que apenas funciona para acabar com qualquer tensão no espectador, já que sabemos exatamente o que está indo em direção ao grupo de exploradores. O texto ainda utiliza o velho elemento dos “deuses astronautas”, criando um plano de fundo que simplesmente não funciona e nos distancia do foco da obra.

Seria injusto colocar a culpa desse grande fracasso apenas nesse deslize, afinal, de início já não nos importamos nem um pouco com os personagens centrais da história, todos rasos, sendo muito mal trabalhados ao longo da trama, servindo apenas como bucha de canhão, feitos para que o longa contasse com algumas mortes antes de seu clímax. Anderson tenta construir um filme de terror, utilizando a clássica linguagem que oculta os alienígenas até que eles estejam prontos para matar os pobres humanos. Qualquer possívelmedo, contudo, é estragado em razão do uso contínuo de clichés que tornam a trama extremamente previsível, chegando ao ponto do ridículo.

Vez por outra, contudo, o diretor abandona o gênero e parte para a ação, o que demonstra ser uma tragédia ainda maior. Primeiro temos o uso excessivo da computação gráfica em alguns trechos, garantindo uma gigantesca artificialidade à imagem, principalmente agora, mais de dez anos desde o lançamento. Para piorar, há o uso desenfreado de cortes e enquadramentos muito fechados, tornando a projeção uma verdadeira bagunça nessas situações, a tal ponto que rezamos para que a ação, enfim, seja interrompida. O único ponto no qual ela chega a funcionar é próximo ao desfecho da obra, mas, quando chegamos lá, já estamos cansados de tudo o que vimos até então.

Alien vs. Predador é mais uma prova de que Paul W.S. Anderson jamais dirigira algo bom. Trata-se de uma amálgama de elementos que apenas cansam o espectador, um verdadeiro desserviço às duas franquias que inspiraram essa união, não servindo como filme de terror, nem de ação. A franquia Alien não deveria ter sido desenterrada ainda (para dizer a verdade, nem com Prometheus isso deveria ter acontecido) e, ironicamente, depois de assistir Alien vs. Predador, nossa vontade é justamente a de enterrar essa tragédia em forma de longa-metragem.

Alien Vs. Predador (AVP:  Alien Vs. Predator, 2004)

Direção: Paul W.S. Anderson
Roteiro:  Paul W.S. Anderson
Elenco: Sanaa Lathan, Raoul Bova, Lance Henriksen,Ewen Bremner, Colin Salmon, Tommy Flanagan, Joseph Rye
Gênero: Terror, Ação, Ficção Cientifíca
Duração: 100 min

https://www.youtube.com/watch?v=jC1ngKr6QA8

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by Guilherme Coral

Crítica | Autópsia

Para a surpresa de todos, o gênero terror tem nos entregado alguns belos exemplares de filmes nesses últimos anos, com destaque para Invocação do Mal 1 e 2, O Homem nas Trevas, A Bruxa e, mais recentemente, A Cura. A Autópsia, terceiro longa-metragem do diretor André Øvredal, mais conhecido por O Caçador de Troll, é mais uma obra que consegue se configurar como um belo filme do gênero, ainda que esteja longe de ser perfeito, já que o realizador cai em velhos problemas comuns a esse tipo de filme.

A trama acompanha Austin (Emile Hirsch) e Tommy Tilden (Brian Cox) filho e pai, respectivamente, que trabalham como legistas em uma pequena cidade americana. Em um dia como outro qualquer, prestes a encerrarem o expediente, o xerife local, Burke (Michael McElhatton), chega no local com o corpo de uma mulher não identificada. Antes da noite terminar os dois precisam descobrir a causa da morte dessa “Jane Doe”, o que não esperavam, contudo, é que estranhos acontecimentos ocorreriam a partir daí, ao mesmo tempo que o mistério acerca desse cadáver aumenta. Não demora para que tudo se torne uma luta por sobrevivência.

Durante a primeira hora de A Autópsia, André Øvredal consegue criar um instigante clima de suspense, que imerge o espectador na narrativa, ao passo que ficamos cada vez mais curiosos para descobrir o que há de diferente nessa mulher desconhecida. O roteiro de Richard Naing e Ian B. Goldberg insere diálogos mais técnicos entre o pai e filho, de forma que não canse o espectador pelo excesso de vocabulário médico – pelo contrário, através das constatações desses legistas entendemos que há algo de errado com aquele corpo na frente dos dois e isso somente aumenta a nossa perplexidade, visto que tentamos entender o que ocorre ali.

Conforme as coisas estranhas começam a acontecer, o longa claramente tem sua narrativa alterada, mas isso não prejudica sua progressão, já que tudo dialoga com as descobertas de Austin e Tommy. Sabiamente, Øvredal não mostra demais ao espectador, deixando muito a cargo de nossa imaginação, o que, claro, funciona muito bem quando se trata desse gênero. Com uma decupagem que não nos permite criar um mapa mental daquele cenário, aos poucos nos sentimos mais claustrofóbicos, a tal ponto que queremos fugir dali tanto quanto os personagens em si. Curiosamente, isso entra em oposição à nossa vontade de descobrir mais sobre a “Jane Doe”.

Ironicamente, o grande problema da obra é justamente a necessidade que sente de explicar tudo. Veja, evidente que grande parte dos espectadores vão querer ter a resposta para tudo, mas isso nem sempre é o melhor caminho a ser seguido no terror, gênero que depende tanto de nosso imaginário para a construção do gênero. Dito isso, o caráter superexpositivo do ato final funciona como um banho de água fria depois de toda a tensão criada pela trama até aqui. Para piorar, temos ainda um epílogo completamente desnecessário e cliché. Igualmente dispensável é a presença da namorada de Austin, Emma (Ophelia Lovibond), que não desempenha qualquer papel ativo na narrativa.

Felizmente, os esforços de Brian Cox e Emile Hirsch nos distanciam desses problemas, embora não os apaguem por completo. Ambos trazem reações perfeitamente plausíveis, aliados, é claro, de um roteiro que não trata seus personagens como estúpidos, fazendo-os se portarem da maneira que, na realidade, alguém poderia se portar. Dito isso, é muito fácil se aproximar dos personagens principais, especialmente considerando que o longa não perde tempo com conflitos internos desnecessários, focando no que deve.

A Autópsia, portanto, se configura, sim, como um belo exemplar do gênero, por mais que deslize em determinados pontos ao longo da projeção, fazendo com que a narrativa fique levemente dilatada, por mais que tenha apenas oitenta e seis minutos. Com uma direção que sabe exatamente o que mostrar e um roteiro que somente erra mais consideravelmente nos trechos finais, temos aqui um filme envolvente que merece seu lugar na lista de bons filmes de terror lançados nos últimos anos.

Norman (The Autopsy of Jane Doe, 2016)
Direção: André Øvredal
Roteiro: Richard Naing
Elenco: Brian Cox, Emile Hirsch, Ophelia Lovibond, Michael McElhatton, Olwen Catherine Kelly, Jane Perry, Parker Sawyers
Gênero: Terror, Mistério, Thriller
Duração: 90 min


by Guilherme Coral

Crítica | Una

Una é um daqueles filmes que nos pegam de surpresa, que se esgueiram pelos lançamentos da semana de forma descompromissada, se configurando, imediatamente, como uma obra de grande força, trazendo um necessário, maduro e chocante olhar sobre uma temática extremamente controversa. Baseado na peça Blackbird de David Harrower, que assina o roteiro do longa-metragem, temos aqui um olhar perturbador sobre a pedofilia, que dispensa as costumeiras vilanizações às quais estamos acostumados.

É muito comum considerarmos como monstros pessoas que cometem certos tipos de crime, mas ao definir alguém através de um substantivo garantimos a eles uma certa imutabilidade, uma incapacidade de redenção que vai de encontro com a base de nosso sistema judiciário, nos jogando de volta à Lei de Talião, transformando as sentenças em apenas uma medida punitiva e não corretiva. Una é perturbador justamente por lidar de forma certa naquilo que tão facilmente nos sentimos compelidos a regredir a nossos estados mais primais como civilização.

Os primeiros minutos de projeção já nos entregam o peso de sua narrativa. Vemos uma menina de treze anos à frente de sua casa. Silenciosa ela caminha para uma cabana onde vê algo e um corte brusco nos leva para o claustrofóbico cenário de uma boate, com música eletrônica a todo o volume e luzes piscantes que apagam a individualidade daqueles ali presentes. Vemos, ali, Una (Rooney Mara), já crescida, que poucos instantes depois se encontra fazendo sexo com um estranho. Sentimos desde já que há algo de errado com ela, em sua expressão fisgamos o vazio típico de alguém preso em outro tempo ou situação – sabemos que a garota que vimos é ela e aquele é seu flashback.

A trama se desenrola e nos revela que a protagonista vivera, há tantos anos, uma relação pedófila com Ray (Ben Mendelsohn) que já estava em seus trinta anos durante o ocorrido. Anos, porém, se passaram e a então garota, agora mulher crescida, vai de encontro à sua antiga e problemática paixão. Na fábrica onde ele trabalha eles se encontram, iniciando uma jornada de reminiscências na qual verdades são reveladas e dores são trazidas à tona, sensação essa que é estampada no rosto de Ray, que empalidece ao ver Una mais uma vez.

Desde já enxergamos a força do elenco principal da obra, tanto Mara quanto Mendelsohn não precisam dizer uma palavra para exporem seus sentimentos. O olhar de terror do personagem masculino quando vê o seu caso de tantos anos atrás resume perfeitamente as sensações que o tomam de surpresa. Sentimos, desde já, o temor sentido por ele, de que sua vida reconstruída após o ocorrido poderia ser destruída. Mara, por sua vez, nos entrega uma menina presa no corpo de adulta, alguém que jamais conseguiu superar os traumas pelos quais passou, o que é refletido perfeitamente pelo fato de ainda morar na mesma casa com a mãe. Suas palavras jogam a culpa no pedófilo que arruinara sua vida, quase como se tentasse esconder que ainda nutre uma proibida paixão por ele – suas memórias oscilam entre o sonho e o pesadelo, com diálogos que, quando começam a se tornar saudosistas, são revertidos para a triste realidade.

Certamente trazer essa composição para as telonas não foi algo fácil. Transpor a linguagem teatral para o cinema é algo que poucos conseguem fazer, visto que a estrutura da peça muitas vezes é mantida em excesso, prejudicando o dinamismo necessário em uma produção cinematográfica. Tanto o diretor Benedict Andrews quanto o roteirista David Harrower, porém, partiram do teatro e agora se arriscam no audiovisual, eles entendem as diferenças dos dois formatos e compõem quadros tão intensos que chegamos a esquecer que tudo isso é baseado na peça Blackbird. Essa total consciência dos realizadores sobre essa nova abordagem ao texto original se reflete na própria mudança de título, que coloca Una como a personagem central, estabelecendo a narrativa sob seu ponto de vista.

Andrews ainda brinca com o teatro ao utilizar planos mais abertos que mostram a protagonista quase perdida na imensidão da tela, somos colocados, em pontuais momentos, como o espectador distante, enxergando a solidão da mulher, que não consegue abandonar seu passado. Partimos, então, para os closes tão sufocantes, que sabem exprimir a tensão existente entre os dois, revelando a tensão sexual e o medo presente em ambos, com silêncios que rapidamente se extinguem perante explosões por parte de dois personagens cujas dores tão facilmente enxergamos em seus rostos. A distancia dos planos abertos desaparece, enquanto somos jogados para dentro da tela em desconforto tão grande quanto os de Una e Ray, nos vemos presentes naquelas salas da fábrica e, assim como na narrativa, tudo ao redor deixa de existir, só permanecemos nós e eles.

Intercalando esses momentos de pressão, sem qualquer aviso ou preparação, temos os constantes flashbacks da protagonista e a montagem de Nick Fenton sabe utilizar esses momentos a fim de ilustrar a situação presente, oferecendo algumas respostas que nos mantém instigados com a projeção. A fotografia assume tonalidades oníricas, denunciando a incerteza da memória, que dialoga com a parcial verdade detida por cada um dos personagens – não existe o passado certo, apenas as etéreas lembranças banhadas nos sentimentos de cada um, ora saudosas, ora traumáticas, misturando a vontade de esquecer com o exato oposto, a necessidade de reacender tal chama.

Com isso, o monstro é desmistificado, ele se torna humano e nos vemos na desconfortável posição de entender o ocorrido, ainda que repudiemos tal fato. Quem há de dizer se a sentença cumprida por Ray foi justa? Ela refletiu o impacto na vida da garota de treze anos, que teve sua vida destruída, que jamais conseguiu se desvencilhar do passado? A vilanização deixa de existir e o retrato humano toma conta da narrativa, que coloca em tela essa difícil temática. Una não é uma história de vingança ou sequer de superação, é mais que isso, o filme nos mostra a realidade, por mais difícil que seja de assisti-la e, com isso, nos atinge em cheio, ao passo que enxergamos que não podemos substantivar as pessoas, não há apenas uma verdade e sim dolorosos pontos de vista, os quais explicam aquilo que preferimos simplificar através do bem e do mal.

Una (EUA, Inglaterra, Canadá - 2016)

Direção: Benedict Andrews
Roteiro: David Harrower
Elenco: Rooney Mara, Ben Mendelsohn, Riz Ahmed, Tobias Menzies, Poppy Corby-Tuech, Natasha Little, Tara Fitzgerald
Gênero: Drama
Duração: 94 min

https://www.youtube.com/watch?v=eQmoK72bk84


by Guilherme Coral

Crítica | Os Smurfs 2

O primeiro filme dos Smurfs em computação gráfica, realizado pela Sony Pictures Animation, passou longe de ser um sucesso de crítica, mas isso não refletiu em sua bilheteria, o que, naturalmente, geraria sua sequência Os Smurfs 2. O conjunto da obra, contudo, fora de início concebida como dois filmes e é importante lembrar que a terceira adaptação moderna, Os Smurfs e a Vila Perdida, é um reboot e não mais uma continuação. Ainda que siga a mesma estrutura narrativa do primeiro, esse segundo longa-metragem não se saiu tão bem, denunciando que a fórmula não foi tão certeira quanto os realizadores imaginavam.

A projeção tem início com os smurfs contando a história de como a Smurfette tornou-se parte do grupo, já nos preparando para qual seria o foco da trama. Pouco depois descobrimos os planos de Gargamel (Hank Azaria) para raptar sua criação da vila smurf e trazê-la de volta a seu lado, com a ajuda de Vexy (Christina Ricci) e Hackus (J.B. Smoove), os danadinhos, também criados pelo bruxo. Sabendo desse sequestro, as criaturas azuis precisam viajar para Paris a fim de resgatar Smurfette e, para isso, pedem ajuda a Patrick (Neil Patrick Harris) e Grace (Jayma Mays) novamente.

É bastante evidente, desde os primeiros minutos, qual o público-alvo da obra. Ao contrário de produções da Disney, Pixar e Dreamworks, que buscam proporcionar aventuras que satisfazem tanto o público adulto quanto o infantil, Os Smurfs 2 mira exclusivamente nas crianças, o que acaba transformando o longa-metragem em uma experiência realmente difícil para os mais velhos. Estamos falando, claro, de uma comédia “pastelão” bastante exagerada que assola toda a projeção, com gags atrás de gags que basicamente são formadas de personagens tropeçando, caindo ou fazendo caretas.

A trama em si também não ajuda, configurando-se como altamente previsível. Desde os primeiros minutos já sabemos exatamente o que irá acontecer, quebrando qualquer chance de imersão do espectador adulto, que espera uma boa história e é recebido com algo sequer capaz de entreter. A intenção dos realizadores é clara, mas não custava um pouco mais de refinamento por parte da equipe de roteiristas, que poderiam ter construído uma narrativa mais engajante, desenvolvendo de verdade seus personagens e não apenas os jogando em situações que buscam unicamente risadas da audiência. Dito isso, Os Smurfs 2 é um filme vazio, que não oferece muito ao espectador.

Nem mesmo Neil Patrick Harris ou John Oliver (como dublador do Vaidoso) conseguem nos cativar por todo o longa-metragem, ainda que consigam extrair algumas poucas risadas do público adulto em determinados pontos da história. Nada, porém, que salve a experiência como um todo. Estamos falando de interpretações exageradas em razão do que o texto pede, repetindo inúmeras vezes as mesmas piadas, nos fazendo sentir como se estivéssemos nas mesmas cenas, com elas apenas “coloridas” de forma diferente.

Se a obra conta com um trunfo, porém, é a sua computação gráfica, que consegue criar realistas texturas, especialmente no que diz respeito à peles dos smurfs. Além disso, toda a movimentação funciona de forma extremamente fluida e o que prejudica tudo é a inserção desse CGI em nossa realidade, ainda que, na maior parte das vezes, isso acabe funcionando ao longo do filme. No anterior tivemos Nova York e, agora, Paris, o que pode soar como uma receita de bolo, claro. Felizmente a cidade é bem utilizada em certos pontos, justificando a escolha.

Os Smurfs 2, portanto, segue a mesma fórmula de seu antecessor, se apoiando em um humor para lá de infantil, refletindo qual o público alvo da produção. Trata-se de uma experiência sofrida para os espectadores mais velhos e, por mais que esperemos uma maior profundidade do roteiro, isso jamais aparece. Não é por mero acaso que o longa se saiu tão mal na bilheteria, mostrando que é preciso saber entreter audiências de todas as idades quando se trata de animações em longa-metragem.

 Os Smurfs 2 (The Smurfs 2, EUA – 2013)

Direção: Raja Gosnell
Roteiro: David N. Weiss, David Ronn, Jay Scherick, J. David Stem
Elenco: Alan Cumming, Alex Martín, Anton Yelchin, Brendan Gleeson, Carolina Bartczak, Christina Ricci, Hank Azaria, Jacob Tremblay, Jayma Mays, J. B. Smoove, John Oliver (II), Katy Perry, Mario López, Mylène Dinh-Robic, Neil Patrick Harris
Gênero: Animação, Aventura, Família
Duração: 102 min


by Guilherme Coral

Crítica | A Cabana

Lançado em 2007, o livro A Cabana rapidamente se tornou um sucesso mundial, tomando conta das mesas de cabeceiras de inúmeras pessoas, muitas das quais passavam por crises de fé. No Brasil, estamos falando de uma época no qual tais obras se destacaram no mercado, com um crescimento do espiritismo em famílias que sempre foram católicas, não é por mero acaso que Nosso Lar estreou no mesmo período. É a fase do New Age, com uma visão universalista da religião e William P. Young, autor do romance original, explora esses pontos, embora se mantenha, em teoria, no catolicismo. Agora, dez anos mais tarde, o livro, enfim, ganha sua adaptação cinematográfica, com o mesmo nome.

A trama acompanha Mack Philips (Sam Worthington), que, quando criança, fora vítima de violência por parte de seu pai, que batia nele e em sua mãe. Agora, anos mais tarde, Mack é casado e tem duas filhas e um filho. Sua vida, contudo, é virada de cabeça para baixo quando, durante um acampamento, sua filha mais nova desaparece, tendo apenas suas roupas ensanguentadas encontradas posteriormente. Philips, então, entra em uma crise de fé até receber uma estranha carta, o convidando para a cabana onde as roupas de sua filha foram achadas. Lá ele se encontra com Deus, ou Papa (Octavia Spencer), como é chamado, Jesus (Avraham Aviv Alush) e o Espírito Santo, ou Sarayu (Sumire Matsubara) e deve aprender sobre o perdão antes que a culpa o consuma.

Cercado de polêmicas à época do lançamento do livro, A Cabana certamente conta com bastante coragem ao representar a Santíssima Trindade como uma mulher negra, um jovem de origem árabe e uma garota oriental, o que, por si só, já passa uma grande mensagem de aceitação, pedindo para que, não só o protagonista, como o espectador, se livre de seus preconceitos. Octavia Spencer, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por Histórias Cruzadas traz um imediato peso ao filme e, de fato, ela consegue fazer para a narrativa o que o roteiro falha miseravelmente: manter o espectador minimamente cativado. Infelizmente, seus esforços não sustentam uma bagunça que perdura por cento e trinta e dois minutos de projeção.

Para começar, tudo o que vem antes da chegada de Mack à cabana soa como um amontoado de desculpas para que o personagem entre em uma crise de fé. Não digo isso pelos eventos em si, mas pela forma como são retratados e trabalhados ao longo da obra. Embora a filha mais nova tenha sido dada como morta, aparentemente só o protagonista sofre com isso, já que o texto não se preocupa em demonstrar o impacto nos outros membros da família. Não existe uma preocupação sequer com os filhos adolescentes, que estiveram no acampamento. Para piorar, as dores da infância do personagem principal são ignoradas até certo momento da projeção e funcionam como um elemento extra, que não dialoga diretamente com toda a problemática do filme.

Com a espiritualidade abalada, seria apenas natural que o protagonista passasse a questionar sobre as coisas terríveis que Deus permite que aconteçam e, de fato, Philips chega a fazer tais perguntas para Papa, mas as respostas que recebem parecem mais uma forma de desviar da pergunta do que, de fato, respondê-la. Fica claro, portanto, que as mensagens oferecidas por essa figura divina parecem mais tiradas de um livro de auto-ajuda do que de algo com um maior teor filosófico ou teológico, caracterizando toda a obra como aquela que tipicamente busca deixar seu público feliz, não almejando colocá-lo em uma jornada de auto-descobrimento ou afirmação. Dito isso, se ao invés da santíssima trindade tivéssemos um padre ou algo assim, o efeito seria o mesmo, já que nenhuma verdade fora da obviedade é oferecida.

Ao lado de Spencer, Sam Worthington, não faz mais que desempenhar seu papel, mas o roteiro oferece a ele apenas o óbvio, ao colocar o personagem em sofrimento do início ao fim, tirando qualquer profundidade de sua personalidade, que se resume à sua infância conturbada e ao incidente que tirara a vida de sua filha. No fim, toda essa sua “aventura” soa como um gigantesco sermão sendo oferecido ao protagonista e, por consequência, ao espectador. A trama, portanto, soa extremamente dilatada, rapidamente prejudicando nossa imersão, enquanto rezamos para que o filme chegue ao seu fim.

A Cabana, apesar da forma corajosa como trabalha alguns de seus personagens, não consegue ser mais que um filme de auto-ajuda, desviando dos principais questionamentos de alguém com a espiritualidade abalada, focando unicamente no óbvio ao tentar passar mensagens que todos nós já escutamos. Por ser excessivamente longo, a obra perde nossa atenção logo na sua primeira metade e o que vem a partir daí não passa de uma jornada enfadonha e repetitiva, na qual a esperança de uma nova abordagem à religiosidade jamais se concretiza.

A Cabana (The Shack, EUA – 2017)

Direção: Stuart Hazeldine
Roteiro: Andrew Lahham, Destin Daniel Cretton, John Fusco, William P. Young
Elenco: Amélie Eve, Gage Munroe, Megan Charpentier, Octavia Spencer, Radha Mitchell, Sam Worthington, Tim McGraw, Alice Braga, Carson Reaume, Graham Greene, Nels Lennarson
Gênero: Drama
Duração: 132 min

https://www.youtube.com/watch?v=tbpGAowldac


by Guilherme Coral

Crítica | Os Smurfs e a Vila Perdida

A primeira tentativa de criar uma franquia nos cinemas estrelando as pequenas criaturas azuis começou bem em termos de bilheteria, conseguindo se manter entre os três primeiros em sua semana de estreia. Sua continuação, contudo, não obteve os mesmos números e se deparou com críticas igualmente negativas, em virtude de seu roteiro composto quase que unicamente de gagssem um maior aprofundamento na história. Quatro anos depois do segundo longa, então, os azuis aparecem novamente nas telonas em Os Smurfs e a Vila Perdida, que funciona como um rebootda franquia, abandonando a mistura de computação gráfica com live-action para nos entregar uma animação propriamente dita.

A trama segue uma premissa similar a Os Smurfs 2, nos contando a história de Smurfette (Demi Lovato) e como, de criação de Gargamel (Rainn Wilson), ela se tornou uma smurf. A pequenina, contudo, conta com um grande problema: sua principal característica. Todas as criaturas da vila tem seus nomes definidos a partir de traços de suas personalidades ou constituições, enquanto que ela é definida apenas por ser do sexo feminino. A garota entra, portanto, em uma jornada de autodescobrimento, enquanto ela, Desastrado (Jack McBrayer), Gênio (Danny Pudi) e Robusto (Joe Manganiello) tomam consciência da existência de outros smurfs, que são ameaçados pelo bruxo malvado, Gargamel.

É bastante claro, desde os minutos iniciais, o teor de feminismo presente na obra, que faz um belo uso do próprio caráter dessa sociedade. Embora seja, sim, mulher, Smurfette não pode ser definida apenas por isso, é sua personalidade que conta e esse é o foco da obra, que a toma como protagonista de uma aventura. Ouvimos ela dizer coisas como “eu não preciso ser protegida”, o que funciona como uma perfeita atualização da obra, dialogando com a temática de extrema relevância nos dias atuais, além de problematizar o estranho caráter da vila, que é composta inteiramente de homens, à exceção de uma garota.

Ao não trabalhar mais com o live-action, a franquia passa a contar com muito mais liberdade criativa, especialmente em seus cenários, que são verdadeiramente exuberantes, utilizando uma paleta de cores variada que colorem toda a tela, tornando o 3D como algo que embeleza a projeção e não apenas atrapalha o espectador (especialmente se ele utilizar óculos). Por esse ser um reboot os próprios personagens foram retrabalhados, com texturas diferentes, sem uma maior preocupação com o realismo. O cartunesco toma conta do longa-metragem e enxergamos isso como algo que deveria ter sido feito desde o início, especialmente considerando o público-alvo mais infantil.

Dito isso, as gags costumeiras continuam as mesmas, mas não exageram tanto no slapstick como nos dois filmes anteriores. Além disso, pelo simples fato de Gargamel ser feito em CGI as piadas são mais fáceis de se aceitar, dispensando caretas e atuações exageradamente dramáticas. O roteiro de Stacey Harman e Pamela Ribon ainda se apoia demasiadamente em uma comédia mais fraca, com apelo maior para as crianças que adultos, mas não temos aqui algo tão terrível quanto era anteriormente. Vale ressaltar, portanto, que, embora seja uma nova abordagem a esse universo, o público-alvo continua sendo o infantil, dispensando questões mais profundas como estamos acostumados em outras animações.

Felizmente, mesmo os adultos se verão mais engajados aqui, visto que o teor de aventura é maior, ainda que esse acaba se tornando um tanto repetitivo em certos momentos, exalando a previsibilidade. Isso é contra-balanceado pelos já mencionados cenários exuberantes e a sensação de que estamos vendo coisas novas, sem saber exatamente o que virá a seguir em termos de cenário. Nesse sentido, embora a narrativa seja óbvia, o filme foge do comum, inserindo uma certa originalidade quando comparamos com o segundo filme, especialmente, que é apenas uma repetição do primeiro, mudando de Nova York para Paris.

Os Smurfs e a Vila Perdida, portanto, ainda tem muito o que melhorar para fazer jus à clássica criação de Peyo, mas, ao menos, consegue nos proporcionar um bom entretenimento que faz um bom uso das características de cada personagem, ao mesmo tempo que atualiza a obra para as questões dos dias atuais. A escolha de trabalhar com o puro CGI foi acertada, eliminando muitos dos problemas relacionados à atuações exageradas e comédia slapstick. O reboot, pois, se demonstra eficaz, abrindo caminho para um bom futuro das criaturas azuis.

Os Smurfs e a Vila Perdida (Smurfs: The Lost Village, EUA – 2017)

Direção: Kelly Asbury
Roteiro: Karey Kirkpatrick
Elenco (Voz): Demi Lovato, Jack McBrayer, Mandy Patinkin, Danny Pudi, Joe Manganiello, Rainn Wilson
Gênero: Animação, Aventura, Família, Infantil
Duração: 90 min


by Guilherme Coral

Crítica | O Poderoso Chefinho

Um dos grandes e mais comuns receios de pais prestes a ter seu segundo filho é como o primogênito irá reagir à inevitável divisão da atenção com esse novo membro da família. Naturalmente que, quando o primeiro ainda é criança a situação se complica ainda mais, visto que não só ele precisa entender que o mundo não gira em torno de si, como começa a questionar sobre a origem dos bebês. O Poderoso Chefinho lida justamente com essas questões, trazendo mais uma leitura criativa sobre os diferentes aspectos de se ganhar um irmãozinho, algo que Cegonhas também trabalhara em 2016.

A história é narrada em off com um tom de flashback por Tim (com a voz adulta de Tobey Maguiree criança de Miles Bakshi) e nos conta sobre o grande acontecimento que mudou sua vida: quando seus pais tiveram outro filho. O protagonista nos conta que sua vida era perfeita, recebendo plena atenção de seus pais, que brincavam com ele constantemente, participando de suas grandes aventuras imaginárias. Evidente que ele enxergaria a chegada do bebê com relutância, especialmente por haver algo claramente estranho em relação a ele, que chega na casa de táxi, usando terno e com uma maleta. Tim precisa, então, se habituar à presença desse novo membro da família, enquanto descobre que ele conta com um plano envolvendo o trabalho de seus pais.

Um dos aspectos mais interessantes de O Poderoso Chefinho (péssimo título, já que o bebê é um empresário e não um gângster) é como a história pode não ser nada mais que parte da vívida imaginação do protagonista. De início presenciamos suas brincadeiras, com a animação em computação gráfica sendo substituída por uma mistura (ainda digital) de animação tradicional com a 3D, dando vida à sua explosão de criatividade, nos entregando as que certamente se configuram como as melhores sequências do longa-metragem. Isso, portanto, nos prepara para o que está por vir, dando a ideia de que toda a aventura e até mesmo o comportamento do pequeno irmão não passa da criativa percepção de Tim sobre a chegada do bebê. E, como deveria ser, em momento algum temos certeza desse fato, tornando a narrativa mais profunda.

Infelizmente, a profundidade de sua premissa morre no desenvolvimento do enredo, que assume um grande teor de previsibilidade. Somente de ouvir a sinopse do filme já sabemos de imediato um possível caminho que ele poderá seguir, claro, e chega a ser triste constatar que o roteiro se mantém exatamente nessa estrada, não nos entregando absolutamente nada de novo, à exceção de algumas gags envolvendo o comportamento do Boss Baby. A construção desse universo imaginário, no qual as crianças vem de uma fábrica, portanto, é desperdiçada, a favor da velha história que já cansamos de ver nos mais diversos filmes de inúmeros gêneros.

A animação em si também não nos oferece nada de novo, não representando nenhum grande avanço tecnológico, o que não chega a ser um defeito, apenas um fato. Afinal, a técnica já se aprimorou muito desde Toy Story (ou Cassiopeia) e, naturalmente, novos avanços se tornam cada vez mais difíceis, ainda que exista, sim, espaço para o crescimento, especialmente em relação à texturas líquidas. O trabalho dos animadores, portanto, cumpre seu papel aqui, transmitindo o grau de “fofura” necessário para que o público se encante com os bebês que vemos no longa, cuja inteligência nos remete imediatamente a Bebês Geniais.

O grande trunfo da obra é aquilo que já esperávamos: a voz de Alec Baldwin. Escalar o ator como dublador original do Boss Baby é simplesmente uma jogada magistral, garantindo o tom irônico perfeito em seus diálogos. O melhor é que Baldwin não tenta mascarar sua voz com um tom mais infantil e a emprega como ela é na realidade, o que certamente garante algumas boas risadas durante a obra. Infelizmente, o caminho previsível da trama diminui a ocorrência de ótimas situações como a da revelação sobre o bebê ser um empresário, sequência, a qual, é mostrada nos trailers. Dito isso, a narrativa assume um teor repetitivo, que rapidamente cansa o espectador.

O Poderoso Chefinho, portanto, é um daqueles clássicos exemplos de uma ótima e divertida premissa sendo transformada em um filme comum, que parece ter vindo direto de uma fábrica tamanha é a falta de ousadia do roteiro em inovar. Por mais que nos entregue alguns trechos bastante cômicos e outros que fazem um belo uso da criatividade de seu personagem principal, o filme acaba cansando, ganhando nada mais que apatia do espectador, que não mais consegue se envolver com a progressão do enredo. Uma verdadeira pena, já que Alec Baldwin como um mini-empresário usando fraldas, que cai no sono de vez em quando, contava com muito potencial.

O Poderoso Chefinho (Baby Boss, EUA – 2017)

Direção: Tom McGrath
Roteiro: Michael McCullers
Elenco (Voz) :  Alec Baldwin (Bebê), Lisa Kudrow (Mãe), Tobey Maguire (Velho Tim, Narrador), Jimmy Kimmel (Pai), Miles Christopher (Tim)
Gênero: Animação, Comédia, Família
Duração: 97 min

https://www.youtube.com/watch?v=QYYsJkUl7TY


by Guilherme Coral

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