Crítica | Anna Karenina (2012) - Um novo conceito de teatro filmado
Um clássico literário sempre apresenta dificuldades em ser adaptado para o cinema. A ambição de alcançar um resultado favorável (ou alguns dólares a mais) muitas vezes leva a múltiplas versões da mesma história, como foi o caso da tragédia de Anna Karenina. Mas ao contrário das outras adaptações que a obra de Leo Tolstói já recebeu (e foram muitas), o diretor Joe Wright resolve quebrar o convencional e proporcionar uma criativa abordagem; mas infelizmente a estética se sobressai à narrativa.
Adaptado por Tom Stoppard, o texto nos leva à Rússia Imperial do século XVII, onde conhecemos diversos personagens envolvidos em diferentes situações da alta classe da sociedade. No núcleo delas, está Anna Karenina (Keira Knightley), esposa do influente e poderoso Alexei Karenin (Jude Law, quase irreconhecível), que acaba por arriscar toda a sua posição social e dignidade ao se envolver amorosamente com o sedutor conde Vronksy (Aaron Taylor-Johnson, o Kick-Ass).
Não li o livro de Tolstói (que é considerado um dos melhores trabalhos de literatura de todos os tempos), mas confesso que não fui cativado totalmente por sua história. O excesso de narrativas e personagens é capaz de confundir o espectador (notem que há dois personagens importantíssimos que compartilham do mesmo nome) e estende a duração além do necessário. Por exemplo, não acho interessante acompanhar a trama secundária sobre o Levin de Domnhall Gleeson (um dos irmãos Weasley, de Harry Potter), que mesmo servindo como uma antítese da queda da protagonista, empalidece diante de elementos superiores.
Estes não narrativos, já que o roteiro de Stoppard é falho em nos criar envolvimento com as personagens, enchendo o longa de diálogos expositivos (frases do tipo “Mas que homem bom!” ou “Seu marido é um santo!” servem apenas para martelar características que já haviam sido estabelecidas anteriormente), mas sim na técnica que Joe Wright propôs. Levando a ideia de que as relações na alta classe “não passam de encenação”, o diretor apresenta as ações de Anna Karenina desenrolando-se em um palco de teatro: começamos até com uma cortina e muitos dos cenários vão alternando-se manualmente, necessitando até de “ajudantes” para montá-los em diferentes transições de cena. O momento em que dois personagens saem de um escritório para ir jantar é particularmente inspirado, merecendo aplausos por sua eficaz velocidade e as trocas de vestimentas realizadas pelos figurantes (que de operários, transformam-se em garçons) e reconhecimento ao impecável design de produção de Sarah Greenwood.
E Wright não se limita apenas a artifícios teatrais, oferecendo também diversas mise-em-scènes que contribuem de forma eficiente (e com muita exuberância) à história. Um baile onde todos os convidados encontram-se repentinamente congelados no tempo a fim de destacar a dança de Anna e Vrosnky (e o impacto que esta ação causa) e os pedaços de um bilhete rasgado que vão se transformando em uma nevasca são algumas de minhas preferidas. Há também recorrentes indícios que ajudam a antecipar o desfecho da trama, que terá uma locomotiva como peça fundamental, manifestando-se de forma brilhante através de cortes rápidos e os inspirados acordes musicais de Dario Marianelli - que entrega aqui um de seus melhores trabalhos até então.
Com um elenco competente e bem entrosado (onde Keira Knightley mostra novamente que só deveria fazer filmes de época), Anna Karenina é um estimulante exercício técnico, mas falho ao apresentar e desenvolver sua história. Mas que fique aí a admirável intenção do diretor Joe Wright: abordagens radicais para obras clássicas.
Anna Karenina (EUA/Inglaterra - 2012)
Direção: Joe Wright
Roteiro: Tom Stoppard, baseado na obra de Léo Tolstói
Elenco: Keira Knightley, Aaron Taylor-Johnson, Jude Law, Domnhall Gleeson, Kelly Macdonald, Alicia Vikander, Alexandra Roach, Emily Watson, Matthew Mcfadyen, Cara Delevingne, David Wilmot
Gênero: Drama
Duração: 129 min
https://www.youtube.com/watch?v=RxtsC_LZ9eI
Crítica | Hanna - Era uma vez uma pequena assassina...
Quando Chloe Grace Moretz arrepiou as telas na pele da assassina Hit-Girl em Kick-Ass: Quebrando Tudo, uma versão um tanto mais sombria e fantasiosa acabou pipocando nas salas de roteiristas de Hollywood. Saído das mentes dos roteiristas Seth Lochhead e David Farr, Hanna é uma aventura bizarra e muito interessante, onde o diretor Joe Wright traz uma visão muito particular para criar um tipo de conto de fadas misturado com o gênero da espionagem.
A trama acompanha a jovem Hanna (Saoirse Ronan), que é treinada por seu pai (Eric Bana) para se tornar uma assassina profissional. O grande mistério do longa gira em torno da perseguição que a menina sofre da CIA e da agente Marissa (Cate Blanchett). Dizer mais do que isso, seria spoiler, então paro por aqui.
Pra começar, Saoirse Ronan continua provando seu inquestionável talento ao assumir diferentes personagens ao longo de sua carreira. Assumindo o papel-título aqui, ela enche Hanna com uma estranheza e inocência admiráveis; criada em cativeiro em uma cabana no Ártico, a jovem desconhece praticamente qualquer tipo de objeto tecnológico ou moderno (ao menos que você conte a habilidade desta com uma arma de fogo). A jovem atriz consegue traduzir para as telas essa aura de alienamento com muito carisma, mostrando também muita garra nas cenas de ação, onde suas expressões oscilam bem entre o minimamente calculado e uma fúria puramente bestial.
Vindo de dramas de época e adaptações de romances, Joe Wright é uma escolha inusitada para dirigir um thriller de espionagem. Com auxílio do diretor de fotografia Alwin Kücher, proporciona uma dos melhores espetáculos visuais que o gênero já viu nos anos recentes, passando de cenários surreais bem desenhados por Sarah Greenwood, que acertadamente toma referências de contos dos irmãos Grimm - dentro da já mencionada proposta dos contos de fadas - até lutas em planos sequência e planos longos; Eric Bana protagoniza a melhor delas, quando seu personagem é seguido por assassinos em uma estação de metrô. O uso de um playground infantil como palco de um violento confronto também mostra a inteligência narrativa de seu realizadores, oferecendo uma boa analogia visual à vilã de Blanchett, na forma de uma criatura gigantesca com longas presas.
No entanto, Hanna sofre em seu roteiro. Introduzindo-se de forma misterioso e subjetivo (e acertando nesse quesito), o longa perde forças quando mostra a protagonista contracenando com uma família viajante (começando pela artificial Jessica Bardein, que interpreta Sophie) e diversas vezes perde o foco de sua história e, assim, prolongando-a sem necessidade. Por exemplo, é interessante observar Hanna em um encontro amoroso – retratando assim a vida que esta nunca terá – mas descartável no sentido da trama. Aliás, a tal família simplesmente é esquecida no terceiro ato, comprovando como fora um investimento redundante.
Contando também com uma empolgante trilha sonora eletrônica assinada pelo The Chemichal Brothers, Hanna é um bom thriller de ação que traz ótimas performances e uma direção mais do que inspirada. Só faltava uma história mais focada e que não se levasse tão a sério; com Kick-Ass deu mais do que certo.
Hanna (EUA/Inglaterra - 2011)
Direção: Joe Wright
Roteiro: Seth Lochhead e David Farr
Elenco: Saoirse Ronan, Eric Bana, Cate Blanchett, Jessica Bardein, John Macmillan, Jason Flemyng, Tom Hollander, Olivia Williams
Gênero: Ação
Duração: 111 min
https://www.youtube.com/watch?v=covjHpO__8M
Crítica | Azul é a Cor Mais Quente - E o amor é o sentimento mais forte
Ovacionado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, o francês Azul é a Cor Mais Quente surpreende pela vitória, já que dedica-se a um dos temas mais controversos e mal recebidos pela ala conservadora: relacionamentos homossexuais. Sem temer preconceitos ou julgamentos daqueles mais sensíveis, o diretor Abdellatif Kechiche comanda um dos mais chocantes, ousados e, principalmente, belos filmes de 2013.
A trama é livremente adaptada da graphic novel Le Bleu est une couleur Chaude de Julie Maroh, e acompanha o despertar sexual da jovem Adèle (Adèle Exarchopoulos, dona do sorriso mais lindo da galáxia) quando esta descobre o amor através de Emma (Léa Seydoux), uma aspirante a artista assumidamente lésbica.
Em suas extensas 3 horas de duração, o filme é um fascinante estudo por dentro de uma protagonista incrivelmente tridimensional. O roteiro assinado pelo próprio Kechiche acerta pela naturalidade de seu texto (e, devo apontar, que as legendas brasileiras realizaram um ótimo trabalho ao optar por uma tradução coloquial e “moderna”) e o realismo pelos rumos da história. Mesmo que não haja uma divisão demarcada, os créditos finais trazem o título La Vie d’Adèle – Chapitre 1 & 2 (A Vida de Adèle – Capítulos 1 & 2), e é muito fácil de se percebera diferença entre esses capítulos: a primeira metade da projeção se dedica habilidosamente à formação de um amor inédito e as transformações de sua protagonista, enquanto a metade final explora as duras – e naturais, de fato – desse relacionamento.
Porque Adèle e Emma, apesar da fervorosa paixão manifestada nas cenas de sexo mais explícitas que você verá em um bom tempo (e que são sim, desnecessariamente pornográficas), são pessoas completamente diferentes. Felizmente Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux confiam completamente em seu diretor, não só pelas desafiadoras cenas citadas a pouco, mas pela espontaneidade e química incrível, capturadas através de imagens predominantemente tecidas por profundos close ups em seus rostos; por um momento, não parecem duas atrizes e sim duas pessoas reais. Seydoux já fez pontas aqui e ali em filmes americanos (como Bastardos Inglórios e Meia Noite em Paris) e entrega um desempenho honesto e sem estereótipos, enquanto Exarchopoulos é uma espetacular revelação e certamente vai hipnotizar o espectador do início ao fim com sua construção dramática consistente e essencialmente juvenil (há uma diferença de aproximadamente 5 anos entre Adèle e Emma): sorri timidamente, mastiga de boca aberta o tempo todo e constantemente oferece indagações como “Por que chamam de Belas Artes? Existe Artes Feias?”. Sem falar que Exarchopoulos, assim como sua companheira, não decepciona quando o roteiro demanda por momentos trágicos e intensos.
Vale observar também, a importância da cor azul na trama. Através de pequenos detalhes e recursos, Kechiche e seu designer de produção/figurino insere de forma inteligente a cor em diversos momentos (e de forma sutil, algo que me incomodou muito em Precisamos Falar sobre o Kevin, que praticamente joga na cara seus excessos de vermelho), ao trazer por exemplo o esmalte das unhas de uma personagem secundária (mas essencial), paredes, tampinhas de caneta e, é claro, a cabeleira característica de Emma.
Azul é a Cor Mais Quente é uma bela experiência que conta com incríveis performances, responsáveis por fazer deste um dos mais sinceros e humanos trabalhos sobre o tema. Um filme que deve ser lembrado não por sua polêmica, mas simplesmente por sua abordagem sincera ao que realmente importa: o amor.
Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d'Adele - Chapitre 1 & 2, França - 2013)
Direção: Abdellatif Kechiche
Roteiro: Abdellatif Kechiche
Elenco: Adèle Exarchopoulos, Léa Seydoux, Salim Kechiouche, Aurélien Recoing, Catherine Salée, Benjamin Siksou, Alma Jodorowsky, Jerémie Laheurte
Gênero: Drama, Romance
Duração: 180 min
Crítica | Frances Ha - A revelação de Greta Gerwig
O nome de Greta Gerwig certamente soa estranho para você, mas não se engane: você já a viu por aí. A atriz arranjou pequenas participações em comédias como Arthur – O Milionário Irresistível, Sexo sem Compromisso e, recentemente, no Para Roma, Com Amor de Woody Allen. Nenhum dos papéis acima fez jus ao talento de Gerwig, que mostra a que veio no divertido e despretensioso Frances Ha, novo filme de Noah Baumbach.
A trama… bem, digamos que é um filme difícilimo de se vender. O roteiro é assinado por Baumbach e a própria Gerwig (casal na vida real), e traz as desventuras da excêntrica Frances, incluindo a relação decadente com sua melhor amiga Sophie (Mickey Sumner) e seus esforços para ser uma dançarina de sucesso, que lhe garantiria a renda para enfim ter seu próprio apartamento.
Frances Ha é um filme essencialmente de personagens. Rodado em preto e branco e em uma razão de aspecto compacta, o longa de Baumbach é uma experiência bastante contemplativa: não há muitas reviravoltas dramáticas aqui, ou mesmo situações que provoquem gargalhadas no espectador (afinal, o filme é uma comédia), mas o charme de sua narrativa encontra-se na tridimensionalidade de seus personagens; eficiência alcançada graças ao ótimo roteiro (cujas piadas está aqui de forma muito sutil, as melhores delas em forma de comentários dentro de contexto como “É tipo viver uma sitcom” ou “E com gatos” e a pontualidade de seu entrosado elenco.
Mas nem preciso acrescentar que é Greta Gerwig quem está acima de seus colegas de cena. A atriz se sai muitíssimo bem ao criar uma Frances com personalidade própria (sua postura física quase máscula é um dos fatores decisivos nessa composição) e algumas nuances acertadíssimas que definem diversas características da personagem: reparem como ela sempre devora alimentos com notável agressividade, ressaltando a situação econômica difícil em que se encontra. Gerwig também apresenta uma química incrível com Mickey Summer: bastam alguns segundos de projeção (onde encontramos Frances e Sophie “brigando” na rua) para estabelecer de maneira sólida a amizade entre as duas.
Mesmo que seja dominado pela dramaturgia, não quer dizer que Bumbach e sua equipe técnica não possam brilhar. O departamento que mais se destaca aqui é, sem dúvida alguma, a montagem de Jennifer Lame, que confere economia e velocidade a uma série de longos eventos (que ganham também planos geniais que tornam desnecessária a exposição via diálogo). Em uma cena, por exemplo, acompanhamos Frances lutando para vencer o fuso horário e aproveitar uma noite de sono, mas nossa orientação não vem dos lábios da atriz, mas sim de um relógio digital; cujo horário vai avançando através de cortes quase imperceptíveis. Tais elementos ajudam que a experiência de 86 minutos seja ainda mais prazerosa.
Tendo a explicação para seu título revelada apenas na última cena (e agora que entendo seu significado, é impossível não esboçar um sorriso ao contemplar tais palavras), Frances Ha é um filme leve e eficiente em sua simples proposta. E que a ótima Greta Gerwig consiga papéis melhores em Hollywood, esse nome é pra não se esquecer.
Frances Ha (EUA - 2013)
Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Noah Baumbach e Greta Gerwig
Elenco: Greta Gerwig, Mickey Summer, Adam Driver, Michael Esper, Michael Zegan, Grace Summer
Gênero: Comédia
Duração: 86 min
https://www.youtube.com/watch?v=YBn5dgXFMis
Crítica | O Lado Bom da Vida - Quando os clichês conseguem conquistar
Investida um tanto inusitada do cineasta David O. Russell, O Lado Bom da Vida tem muito clichês em suas duas horas de duração e já podemos adivinhar seu desfecho por simplesmente olhar um pôster ou trailer do filme. Mas quando é feito de forma tão original e orquestrada com maestria por uma direção acertada, roteiro inteligente e um elenco espetacular, como não resistir?
Adaptada do livro homônimo de Matthew Quick, a trama gira em torno de Pat (Bradley Cooper), que é internado em uma instituição psiquiátrica após agredir gravemente o homem com quem sua esposa Nikki o estava traindo. Quando consegue a liberdade, volta para a casa dos pais e começa um plano para reconquistar Nikki, só que no percurso ele conhece a excêntrica Tiffany (Jennifer Lawrence), com quem se compromete a ajudar para um concurso de dança em troca de uma chance de reencontrar sua esposa.
Depois de ter sido indicado ao Oscar por O Vencedor em 2011, David O. Russell enfim me satisfaz completamente e comprova seu talento por trás das câmeras. E de um drama de boxe até uma “dramédia romântica”, é de se admirar a brusca mudança e me impressionei com a segura direção de O. Russell, que passeia com a câmera na mão pelo elenco, utiliza de zooms nos momentos certos (como a ótima cena em que o protagonista descobre algo fundamental sobre uma carta, por exemplo) e até de uma dinâmica cena em primeira pessoa em um flashback, que – sendo colocada em determinado momento da narrativa – ao aplicar tal recurso, torna-se ainda mais surpreendente.
Tal dinâmica vai se mantendo durante a projeção e a montagem habilidosa de Jay Cassidy e Crispin Struthers garante um ritmo formidável ao filme, fornecendo economia às cenas de passagem no tempo (como as rápidas leituras de Pat, que abre certo livro e cortes depois já o vemos fechando e atirando-o de uma janela) e velocidade nas cenas de dança, sem torná-las incompreensíveis ao exagerar na “picotagem” e manter sua fluidez.
Famoso por seu Phil em Se Beber, Não Case! Bradley Cooper rapidamente foi ascendendo em sua carreira como ator, e agora surpreende com sua incrível carga dramática, ainda que preserve – com inteligência – grande porção de seu carisma cômico. Encarnando um sujeito diagnosticado com bipolaridade, é notável ver a naturalidade do ator em mudar repentinamente de humor, seja para garantir um efeito divertido, como quando sua raiva subitamente transforma-se em alegria ao ter sua forma física elogiada por outro personagem, ou para chocar, onde a simples busca de um vídeo pelo personagem resulta neste agredindo os pais (o ótimo Robert De Niro e a simpática Jacki Weaver).
Mas quem de fato rouba a cena é a irresistível Jennifer Lawrence, favorita ao Oscar de Melhor Atriz deste ano. Em uma performance cheia de nuances (suas expressões de raiva, e uma risada irônica em certo momento, são soberbas), Lawrence acerta ao exibir a notoriedade de Tiffany e também sua força - algo que já havia feito muitíssimo bem em Jogos Vorazes - o que torna a personagem praticamente invulnerável emocionante. E quando o roteiro vai se aprofundando em sua alma, percebemos sua humanidade (e sentimentos ocultos) a atriz assume essas características com a mesma dedicação, em um trabalho memorável.
Com uma admirável química entre os dois protagonistas e um ritmo eficiente que fazem as 2 horas de filme parecerem minutos, O Lado Bom da Vida só peca ao recorrer a clichês típicos do gênero em sua conclusão, incluindo até mesmo elementos supersticiosos para justificar as inúmeras coincidências. Mas como o próprio Pat diz ao reclamar de Adeus às Armas de Hemingway: “a vida já é dura como é, seria pedir demais por um final feliz?”
No caso deste belo filme, é aceitável.
O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, EUA - 2012)
Direção: David O. Russell
Roteiro: David O. Russell, baseado na obra de Matthew Quick
Elenco: Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker, Julia Stiles
Gênero: Comédia, Romance
Duração: 122 min
Artigo | Os Últimos Jedi não liga para o que você pensa sobre Star Wars. E isso é ótimo.
SPOILERS!
Acho que nem mesmo o mais pessimista dos fãs esperava uma reação tão polarizante para Star Wars: Os Últimos Jedi. Ainda que tenha conquistado a crítica e boa parcela do público-alvo, diversos fãs da saga criada por George Lucas iniciaram um pesado movimento contra o novo filme da saga da Disney, acusando-o de destruir a mitologia dos personagens, entregar respostas decepcionantes, entre outros argumentos - alguns válidos, sem dúvida, enquanto outros até chegaram no absurdo de envolver a extrema direita no meio.
Depois de assistir ao filme de Rian Johnson pela primeira vez, fica claro que uma reação dessas era esperada. O Episódio VIII não dança de acordo com a música. Ele não liga para o amor dos fãs pelo mito de Luke Skywalker, está literalmente cagando para as infinitas teorias sobre a identidade de Snoke ou dos pais de Rey. O Episódio VIII tem até mesmo a cara de pau de não oferecer um único duelo de sabres de luz, tecnicamente falando. E por mais que isso possa parecer negativo, acaba por ser simplesmente a melhor coisa que já aconteceu com essa franquia em anos.
Já estamos carecas de saber que O Despertar da Força, por mais que seja um ótimo filme de uma execução inexistente na maioria dos blockbusteres contemporâneos, é um jogo seguro por parte de J.J. Abrams. Um remake escancarado da estrutura e dos acontecimentos de Uma Nova Esperança, algo compreensível considerando o tamanho da responsabilidade de se trazer Star Wars de volta ao grande público - voltando às origens após a recepção negativa da trilogia prequel. Rogue One já começava a apresentar novidades também, voltando-se mais para um filme de gênero do que as convenções tradicionais da saga, mas é mesmo com Os Últimos Jedi que a produtora de Kathleen Kennedy mostra coragem. Não só Os Últimos Jedi é diferente de O Império Contra-Ataca - salve algumas inevitáveis semelhanças temáticas - mas é o Star Wars mais diferente de todos, algo que explica em parte a reação tão negativa de alguns fãs.
A Tragédia de Luke Skywalker
Logo no primeiro ato do filme, um gesto extremamente simbólico acontece: Rey está com Luke Skywalker em Ahch-To, enfim concretizando o gigantesco cliffhanger que encerrara O Despertar da Força: ela entrega o sabre de luz perdido ao Mestre Jedi, que então contempla com espanto. Foram dois anos de expectativa para este momento, com a promessa de que Luke Skywalker enfim retornaria à ação, especialmente após ficar praticamente ausente do Episódio VII. E é aí que a figura envelhecida de Mark Hamill faz o impensável: joga o sabre de luz para trás, dá de costas para Rey e sai andando apressado, completamente ignorando o pedido da jovem aprendiz da Força. É Rian Johnson alertando que este filme não vai se desenrolar como o esperado, e que ele simplesmente não se importa em destruir tudo o que conhecemos sobre Luke em prol de uma boa história - o próprio Mark Hamill não concorda com esta visão de Luke, preferindo algo mais tradicional e heróico para o filho de Darth Vader.
Bem, mesmo que pareça tão radical para os fãs ver Luke dessa maneira, é sempre bom lembrar que Luke está apenas seguindo o velho modus operandis dos Jedi após um massacre de aprendizes: o auto exílio em uma terra distante, algo que tanto Obi-Wan Kenobi quanto Yoda fizeram após a ascensão do Império e a destruição da Ordem Jedi com a Ordem 66. Ver Luke ali, sozinho e esperando para morrer na sede o primeiro Templo Jedi, não é algo exatamente inesperado, tampouco é sua longa recusa ao chamado de Rey. É bonito que Johnson use um fan service como dispositivo de trama, fazendo R2-D2 tocar a antiga mensagem da Princesa Leia pedindo o auxílio de Obi-Wan Kenobi, a mesma que fez o jovem fazendeiro largar sua rotina tediosa e partir em direção aos dois Sóis de Tattooine para se juntar à Rebelião. Luke percebe que agora ele é Obi-Wan, e novamente sua irmã Leia implora por ajuda nesse período de trevas, o que justifica a leve inclinação de Luke para tentar fazer Rey compreender sua visão.
Nesse ponto do treinamento, não há muito o que falar - e a maioria parece concordar nisso: Rian Johnson faz um trabalho excepcional em sua visão da Força. Nunca antes havíamos visto uma representação visual tão inventiva do grande poder do universo de Star Wars dessa forma, com cortes para ilustrar os diferentes pontos da ilha de Ahch-To, as sensações e até o ciclo da vida, quase como um mini Terrence Malick. Claro, uma reclamação constante dessa cena é a do nível das piadas de Luke, que debocha de Rey quando a jovem tenta "alcançar" a Força com suas mãos. Não vejo problema algum nisso, afinal Star Wars sempre foi permeado por humor (algo que as pessoas parecem ter se esquecido), e o próprio Mestre Yoda é dono de um senso de humor quase senil, provocado por seu exílio. Devo lembrar que Yoda e R2 saíram no tapa por uma bolacha? Pois é.
Mais pra frente, aprendemos um pouco mais do conflito interno de Luke Skywalker. Enfim alguns assuntos são realmente tratados como deveriam, com Johnson reconhecendo a estupidez dos Jedi em terem permitido que Darth Sidious e o Império crescessem com tanta facilidade bem diante de seus narizes, e que a extinção fez com que os Jedi tornassem-se endeusados e mistificados pela maioria. É um bom uso dos prequels como recurso dramático, e tem a coragem de ver os grandes heróis da saga como incompetentes, incluindo ele mesmo; a culpa de Luke está ligada também a seu orgulho, do nome de Skywalker e sua confiança em treinar o próprio sobrinho. Vale apontar, em nenhum dos filmes foi mostrado algum Jedi treinando algum membro de sua própria família, o que justifica também porque a revolta de Ben Solo o atingiu com mais força do que as tragédias de Obi-Wan e Yoda: era sua própria família. Admitindo com vergonha, e após um breve conflito com Rey, Luke confessa que pensou em extinguir Ben antes que este se transformasse em Kylo Ren, sendo tentado pelo Lado Sombrio. Após a tragédia, é bem compreensível que o herói tenha se "fechado" para a Força.
É necessário que o próprio Yoda retorne em forma de fantasma, naquele que é certamente o mais belo momento do longa. É quando o antigo e sábio mestre oferece mais uma lição valiosa, fazendo Luke enxergar que seu fracasso com Ben Solo é algo que não deve ser escondido, e sim encarado e passado adiante; é o que motiva as ações do clímax, e um dos momentos mais importantes da história.
Quando Luke enfim retorna à Força, é em um dos momentos mais espetaculares da saga, mas com igual parcela de polêmica. Através de uma projeção criada pela Força, Luke se manifesta em Crait e ajuda a Resistência a fugir da Primeira Ordem, enfrentando Kylo Ren em um confronto "virtual". Muitos também reclamaram que este é um desserviço à Luke Skywalker, com os fãs clamando que não tiveram o grande retorno à ação do personagem. Ledo engano. Apenas lembrem-se do treinamento de Luke com Yoda em O Império Contra-Ataca, onde o Mestre diz claramente, ao explicar sobre a natureza da Força, que somos "seres luminosos, não dessa matéria crua", apontando para os músculos de Luke. O clímax de Os Últimos Jedi é a maior representação dessa valiosa lição, o clássico "a mente vence os músculos", com Luke usando todo o seu conhecimento e poder com a Força para criar uma ilusão, servindo à grande moral no roteiro de Johnson, a de que nem todas as batalhas precisam ser vencidas para garantir uma vitória. O poder acaba custando a vida de Luke, que não simplesmente morre, mas após um filme inteiro recusando sua conexão com esse plano místico, enfim o aceita novamente, e o Mestre Jedi tornando-se parte dela é o melhor desfecho possível para essa jornada de rejeição. Sem falar que, claro, é lindo demais e faz uma rima visual emocionante com Uma Nova Esperança.
E não se esqueçam: da mesma forma como Obi-Wan e Yoda "entregaram-se" à Força em seus respectivas partidas deste plano, é bem provável que Luke possa reaparecer como um Fantasma da Força, afinal, Obi-Wan e Yoda o fizeram. Se é necessário para o Episódio IX, é uma outra questão inteiramente...
"Deixe o Passado Morrer"
Mas Star Wars não pertence mais a Luke Skywalker. Como é de costume nas trilogias da saga, cada uma delas é protagonizada por uma geração diferente, com as figuras do passado retornando apenas como uma espécie de guia ou papel de mentor para os novos jogadores, que agora são Rey, Finn, Poe Dameron e Kylo Ren. Mais especificamente, Os Últimos Jedi dá bastante espaço para os dois novos Force Users da trilogia, Kylo e Rey, oferecendo mudanças significativas nas jornadas de cada um.
A sucateira de Jakku, por exemplo, por muito tempo foi teorizada como a filha perdida de Luke Skywalker, Obi-Wan Kenobi, Snoke, Jyn Erso, praticamente tudo foi imaginado para Rey. No fim, Johnson nos entrega a resposta que parece mais decepcionante, mas que no fim é a mais empolgante para os novos rumos da saga: Rey é filha de um casal de gatos pingados que nunca deram as caras na história. Duas figuras aleatórias que trocaram a jovem Rey por dinheiro e acabaram mortos em alguma vala do deserto de Jakku. Como diz Kylo Ren, a menina vem do nada.
Não entendo como isso possa ter deixado fãs insatisfeitos. O fato de Rey ser só uma qualquer só fortalece o legado de Star Wars, sendo mais um bom exemplo (ao lado do Officer K de Blade Runner 2049, por exemplo) da jornada do anti-escolhido. Tudo em O Despertar da Força nos fazia acreditar que Rey estava predestinada a ser especial, e isso é verdade, mas sua linhagem não tem nada a ver com isso. A ideia de que qualquer um pode atingir a grandeza, de que um garoto nerd possa ser picado por uma aranha radioativa por puro acaso é algo muito mais poderoso do que um arquétipo do Escolhido. Nesse sentido, a jornada de Rey é até mais identificável do que a de Luke em Uma Nova Esperança, já que ele sempre foi filho de Darth Vader e irmão da Princesa Leia, então a aventura acabaria batendo à sua porta eventualmente. Rey, vindo do nada, é uma total estranha nessa história, e isso é sensacional, da mesma forma como a cena final, onde vemos um grupo de crianças contando histórias sobre os feitos de Luke Skywalker servem como um microcosmo desse tipo de narrativa, da esperança vindo do nada.
Já Kylo Ren, pode não parecer quando vemos sua posição ao fim do longa, mas tem uma drástica transformação. O filho de Han Solo não vai para a Luz e não se torna "um dos mocinhos", mas toda a sua índole é diferente agora. Kylo era obcecado pelo legado de Darth Vader, aspirando para se tornar uma versão digna do grande vilão da trilogia original, com um apego gigantesco ao passado e ao desejo de satisfazer o Líder Supremo Snoke, figura misteriosa responsável por sua caída no Lado Sombrio da Força.
Kylo e Rey se aproximam bastante ao longo de Os Últimos Jedi, através de uma conexão misteriosa que os faz enxergarem projeções deles mesmos - uma boa brincadeira com a montagem, além de ser um próprio foreshadowing para a habilidade de Luke durante o clímax. Tudo nos leva a ler que um deles acabará trocando de lado, seja Rey para o Lado Sombrio, seja um retorno de Ben Solo para a Luz. No fim, Kylo acaba matando Snoke e salvando Rey, mas isso não significa uma volta para a luz. É quando o vilão tem sua maior catarse, a de que ele não quer mais uma simples cópia do passado, e sim criar algo novo. Não é uma questão sobre bem e mau (um maniqueísmo que o Episódio VIII está desesperado para quebrar, e chegaremos a ele), mas sim a de criar uma nova ordem - e contando com o auxílio de Rey para isso, mas a jovem acaba optando por seguir seu próprio caminho.
"Deixe o passado morrer, mate-o se for necessário." Uma frase que representa tanto o arco de Kylo Ren nesse filme, um sujeito que agora está interessado em criar seu próprio caminho, ao invés de seguir lendas do passado, como a própria franquia de Star Wars. Não precisamos de mais uma relação de "Darth Vader e Imperador", algo que claramente estaríamos condenados a ter com Snoke e Kylo se o vilão acabasse sobrevivendo, mas sim algo diferente, pela primeira vez. Kylo Ren é o novo Líder Supremo da Primeira Ordem, sendo o primeiro grande "vilão aprendiz" da franquia que não obedece a nenhum superior, e isso é algo empolgante para ser explorado no Episódio IX. Já é hora de conhecermos os tais Cavaleiros de Ren, e ver como Kylo comporta-se como um líder de verdade. E por mais que meus impulsos mercadológicos gritem dentro de mim, é bom que Kylo Ren não retorne com uma nova máscara, já que não há mais nenhum interesse do personagem em ser um novo Vader.
Poe Dameron e a Liderança
Um dos personagens que felizmente teve um destaque maior em Os Últimos Jedi - é de se admirar como Johnson distribuiu bem as funções no roteiro - é o piloto Poe Dameron, promovido para Comandante da Resistência. É uma das melhores seções do filme, e também a que tem o maior furo de roteiro.
Quando a General Leia é substituída no comando pela Vice-Almirante Holdo, uma das maiores relações antagônicas do filme tem início, com a superior vivida com cinismo por Laura Dern se recusa a responder às perguntas de Poe, oferecer algum tipo de plano ou proposta de fuga para a Resistência, toda reunida naqueles últimos transportes. A falta de transparência de Holdo quase sugere algo sinistro, levando Poe e um grupo de soldados a organizar um motim, tudo em nome da sobrevivência da Resistência, que o piloto julga estar nas mãos de uma incompetente.
Porém, o plano de Holdo era simples: carregar os transportes em segredo para enviá-los ao planeta de Crait, uma antiga base da Aliança Rebelde a alguns quilômetros dali. É uma chance para escapar e conseguir reforços, já que os cruzadores da Primeira Ordem não estão rastreando os veículos menores. Pode parecer coincidência que Crait tenha literalmente aparecido no meio do nada, mas Holdo obviamente sabia disso. O espectador só descobre junto com Poe, mas fica a dúvida: porque Holdo não informou a Poe de sua real intenção, podendo assim evitar um motim e uma considerável perda de tempo?
Claro, isso faz parte da grande lição de Poe Dameron. Desde a primeira cena, o piloto encrenqueiro acredita no combate direto, jamais em fugir de seu dever. A experiência com Holdo o ensina que ele deve estar disposto a aceitar ordens e, ao observar o trabalho e eventual sacrifício da personagem de Dern, que às vezes a distração é a melhor saída - vide o que Luke Skywalker faz no final, e que Poe segue como exemplo e até recita as mesmas palavras de Holdo: "ser a fagulha que inicia o fogo", mas agora para destruir a Primeira Ordem.
Se toda a "ignorância" de Holdo fosse justificada com alguma reviravolta bizarra da personagem estar envolvida com a Primeira Ordem, até faria mais sentido, mas soaria como algo tolo. O fato de que temos essa falha de comunicação para ensinar uma lição a um personagem, que está destinado a crescer para tornar-se o sucesso de Leia no comando da Resistência, é algo que torna tudo muito mais aceitável e digno.
A Questão com Canto Bight
Ok, vamos falar sobre Canto Bight. É sem dúvida o elo mais fraco do filme, e o que provoca menos interesse do espectador, especialmente considerando que a montagem de Bob Ducsay acaba nos intercalando principalmente entre a missão de Finn e Rose com o treinamento de Rey em Ahch-To. Porém, não acho que este planeta cassino seja de forma alguma uma coisa ruim.
Star Wars sempre foi sobre a exploração de mundos novos, algo que acontece em todos os filmes. Infelizmente, por mais sofisticado que seja, O Despertar da Força falhou em apresentar um mundo realmente novo em sua variedade de planetas, contentando-se em novas versões do ecossistema de deserto, floresta e neve (Jakku, Takodana e a Base Starkiller), não chegando nem perto da inventividade visual de George Lucas em sua trilogia prequel. Não que Johnson também chegue, mas é definitivamente um passo além, e Canto Bight é uma das maiores provas disso. Vi algumas queixas de que esse segmento não se parece com Star Wars, e essa é a grande prova de estar vendo algo novo: todas aquelas raças alienígenas, em um ambiente bem similar com a Terra, é uma grande conquista visual, e segue para expandir a mitologia do universo.
Claro, acaba soando como um atraso narrativo, mas isso não é algo novo em Star Wars. Até mesmo em O Império Contra-Ataca, poderíamos dizer que a "caverna" onde a Millennium Falcon se esconde durante a fuga do Império não acrescenta muito à trama, mas é inegável que a sequência tornou-se icônica, e - novamente - expandiu o universo ao nos apresentar novas criaturas, algo que os porgs e Cuidadoras em Ahch-To, e as raposas de cristal em Crait, também fazem com eficiência. E, além de meras formas de vida coadjuvantes, todas elas oferecem algum tipo de dispositivo para a trama, além da óbvia preocupação em vender brinquedos, algo que também nunca foi novo para Star Wars. Que atire a primeira pedra quem não quis um porg na estante de casa.
Voltando à missão de Finn e Rose, pode-se dizer que é algo redundante. Nada dá certo, a dupla é traída pelo ladrão vivido por Benicio Del Toro e são incapazes de desativar os dispositivos de rastreamento no Supremacy do Líder Supremo Snoke. Isso só comprova como Johnson não optou pelo caminho fácil, trazendo dificuldades reais para os personagens, ao mesmo tempo em que os desenvolve e explora novos terrenos da saga. DJ é um personagem sem bandeira, e que explica como ambos os lados da guerra estão errados, e sua lealdade está para aquele que fizer a maior oferta. É DJ quem finalmente acaba provocando à Finn - ao lado de Rose - sua definitivamente derrocada para a Rebelião. Pois no início do filme, o ex-stormtrooper não pensa no coletivo. Ele só quer se reencontrar com Rey e salvar sua própria pele, tentando fugir do cruzador da Resistência na primeira tentativa, mas sendo interrompido por Rose. Ao fim da projeção, ao derrotar a Capitã Phasma e declarar-se como "escória rebelde", o arco de Finn está completo: após servir à Primeira Ordem, desertar, conhecer diversas pessoas com visões diferentes e fazer a diferença, o jovem enfim escolheu seu lugar, e se mostrou até pronto para sacrificar-se em prol de seus amigos.
Uma Nova Esperança
Star Wars: Os Últimos Jedi não é o filme que os fãs esperavam, e isso é ótimo. Explode qualquer expectativa ou teoria em função de uma história muito particular e intimista, que está mais preocupada com as decisões e evoluções de seus personagens, que não precisam seguir qualquer conceito ou padrão existente, destruindo suas fundações para criar algo novo. É natural que isso incomode parcela dos fãs, mas também requer um certo amadurecimento; é necessário libertar Star Wars.
Como alguém que cresceu brincando e assistindo os filmes de ambas as trilogias quando criança, acho maravilhoso que esse choque esteja acontecendo, e o universo dessa galáxia muito, muito distante só tem a melhorar.
Leia mais sobre Star Wars
Crítica | Jumanji: Bem-Vindo à Selva - Um dos melhores filmes de game já feitos
Duas coisas são apostas de alto risco na Hollywood atual, e vêm sendo produzidas com cada vez mais frequências: adaptações de videogames e continuações/reboots para clássicos e cults do passado. O segundo caso até vem se garantindo nas telas, com novos capítulos para Star Wars, Jurassic Park e até uma obra da magnitude de Blade Runner acabou ganhando uma inusitada continuação, mas obras baseadas em games ainda sofrem com produções mal encontradas e confusas. Dito isso, é de se admirar que este Jumanji: Bem-Vindo à Selva aposte nessas duas vertentes, na do saudosismo e do videogame, e encontre um equilíbrio agradável e surpreendentemente divertido.
A trama serve como uma continuação do original de 1996, mas com uma bem-vinda atualização - retrô, claro - de se conceito. Dessa vez, o famoso tabuleiro do Jumanji virou uma fita de videogame, um artefato que é encontrado pelos jovens Spencer (Alex Wolff), Fridge (Ser'Darius Blain), Bethany (Madison Iseman) e Martha (Morgan Turner) quando são forçados a ficar na detenção da escola. Magicamente transportados para dentro do jogo, o grupo ganha a cara dos avatares dos personagens escolhidos, com as formas de Dwayne Johnson, Kevin Hart, Jack Black e Karen Gillan, e logo precisam encarar uma aventura para salvar a selva de Jumanji das mãos de um vilão inescrupuloso (Bobby Cannavale), sendo a única forma de voltar à realidade.
Clássico da Sessão da Tarde, Jumanji não era o tipo de filme que realmente gritava por um revival na década de 2010, até mesmo porque o filme estrelado por Robin Williams não é exatamente um grande primor de cinematografia - um filme divertido, e só. Saído de comédias bem irregulares (ver Sex Tape), é um alívio que Jake Kasdan tenha compreendido exatamente o tipo de projeto que estava fazendo, uma aventura de matinê B cujo único propósito é a diversão, e ainda consegue o bônus de ser um dos filmes que melhor entende o conceito de um videogame nas telas. O roteiro assinado por Chris McKenna, Erik Sommers, Scott Rosenberg e Jeff Pinkner adota bem os clichês e estrutura típicas de um game, desde a ideia de saltar de fase (algo já meio batido em filmes como Scott Pilgrim contra o Mundo), mas explorando novo território nas personas de seus personagens - cada um com habilidades específicas e que se manifestam de forma divertida, especialmente o fator "intensidade e concentração" de Johnson, ou a vulnerabilidade de um dos personagens a... bolo, o que rende uma boa e inesperada gag.
Além disso, o texto ainda brinca com os conceitos de cutscenes e inteligência artificial, tendo uma sequência exageradamente expositiva (propositalmente) sendo jogada no meio da narrativa, com a intenção de explicar a origem do vilão e o backstory do macguffin principal que os jogadores devem encontrar. Há ainda a boa sacada dos personagens não jogáveis, sendo meros bonecos digitais presentes ali apenas para entregar informações, frases repetitivas e outros macetes típicos da plataforma, algo que um ator como Rhys Darby faz muito bem na figura do "personagem que passa a missão" no início da narrativa. São recursos elegantes que servem à narrativa, ao mesmo tempo em que tiram sarro da artificialidade dos próprios, e tudo isso garante boas piadas.
Mas nada supera o entrosamento do elenco. Todos os adolescentes da vida real fazem um trabalho competente, mas é mesmo quando o elenco mais "estelar" entra em jogo que a diversão começa, já que todos ali interpretam figuras fora de seu arquétipo. Nada pode ser mais divertido do que ver o brutamontes Dwayne Johnson interpretando um nerd inseguro e que mal consegue interagir com garotas, e que está constantemente se espantando com o tamanho de seus músculos - e digo sem medo que este é um dos poucos casos em que o ator realmente traz uma performance, já que vemos muito de Spencer nele. De forma similar, mas mais extrema, Jack Black se sobressai ao interpretar uma garota patricinha e viciada em redes sociais, rendendo os momentos de humor mais óbvio, com a figura de Black sendo excessivamente afetada e amedrontada, mas é inegável que o efeito funciona. Partindo da mesma premissa, Karen Gillan e Kevin Hart também divertem, ainda que Hart não saia muito de seu padrão mais estabelecido, e Nick Jonas tem uma participação de luxo com um personagem que replica a situação de Robin Williams no original, e o músico até que se sai bem.
Não é um filme perfeito, claro. Tecnicamente, há uma dependência muito grande em efeitos visuais, que acabam demonstrando sua artificialidade em diversos momentos, seja com cenários virtuais ou animais selvagens completamente renderizados - mas partindo por um lado, até mesmo videogames têm sua parcela de gráficos ruins, não? E ainda que traga boas cenas de pancadaria, Kasdan é mais um adepto da escola Anthony e Joe Russo do obturador de câmera alto, garantindo uma velocidade um tanto excessiva durante os golpes, chutes e saltos, o que nunca fica bom em um efeito 3D - ainda que a conversão seja bem decente em sua maioria. Por fim, vale mencionar o ótimo trabalho de Henry Jackman na trilha sonora, que oferece uma música intensa, old school e mais épica do que o esperado.
Dado tudo em jogo, o novo Jumanji se sai muito melhor do que o necessário, alcançando não só um resultado bem superior ao original, mas também sendo um dos filmes que melhor entende a linguagem de um videogame - e deixando cada vez mais claro que a metalinguagem talvez seja a chave para acertar essas adaptações amaldiçoadas. Com um elenco em sintonia e a mais pura intenção de divertir, é um belo pipocão.
Jumanji: Bem-Vindo à Selva (Jumanji: Welcome to the Jungle, EUA - 2017)
Direção: Jake Kasdan
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers, Scott Rosenberg e Jeff Pinkner, baseado na obra de Chris Van Allsburg
Elenco: Dwayne Johnson, Kevin Hart, Jack Black, Karen Gillan, Bobby Cannavale, Nick Jonas, Alex Wolff, Ser'Darius Blain, Madison Iseman, Morgan Turner, Rhys Darby
Gênero: Aventura
Duração: 119 min
https://www.youtube.com/watch?v=IYB1QUjLivM
Crítica | Se Beber, Não Case! - Uma Ressaca Épica
Comédia tem tudo a ver com pontos de vista, principalmente o humor negro. Se alguém leva um tropeço gigantesco em um restaurante, derramando toda sua comida pelo chão, a reação imediata pode dividir-se entre o espanto e, claro, o riso. É uma filosofia muito adequada ao caso de Se Beber, Não Case!, hit surpresa de Todd Phillips que faturou um Globo de Ouro e rendeu uma trilogia dado seu imenso sucesso de público e crítica. Ambos merecidos, sem dúvida alguma.
Escrito por Jon Lucas e Scott Moore, o longa começa com a chegada do casamento de Doug (Justin Bartha). Para a ocasião, ele viaja para Las Vegas com seus amigos Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e o cunhado Alan (Zach Galifianakis) para uma despedida de solteiro lendária. O que deveria ser uma noitada de diversão se transforma em um pesadelo quando, na manhã seguinte, todos acordam sem memória sobre a noite anterior, além do fato de Doug ter desaparecido.
Olhando para essa premissa, Se Beber, Não Case! poderia muito bem ser um suspense na linha de Amnésia, e aí voltamos ao que falamos no primeiro parágrafo: pontos de vista. É uma situação extremamente assustadora a que o trio de protagonistas enfrenta, mas graças ao hilário roteiro de Moore e Lucas e a direção certeira de Todd Phillips, temos uma das comédias mais divertidas da década passada. Lembro-me de assistir pela primeira vez e ficar chocado com o fato de, logo após os personagens brindarem os shots no telhado do Caesar’s Palace, vermos toda a noitada acelerada em um time-lapse. Sem ter visto nenhum trailer, esperava que o filme fosse se concentrar nos eventos da noitada, mas fui positivamente surpreendido ao ver que esse seria um filme sobre as consequências.
Ambientar os eventos na manhã seguinte à grande noite e trazer seus personagens encontrando uma série de evidências bizarras é a fórmula do sucesso, e ela funciona pelo elemento surpresa. Desde o tigre preso no banheiro, um bebê no armário e um chinês pelado pulando do porta-malas do carro, o roteiro não se cansa de trazer momentos de impressionar e fazer rir no processo. O entrosamento entre os três protagonistas é outro ponto alto, com Bradley Cooper se destacando como o “cérebro” da equipe, Ed Helms divertindo como o histérico Stu e Zach Galifianakis roubando a cena com a excentricidade de seu barbudo Alan e as ações um tanto… Duvidosas que faz ao longo da projeção – a cena do “na mesa não, Carlos” permanece engraçadíssima de tão errada e politicamente incorreta.
A resolução da história também demonstra inteligência por parte dos roteiristas, que vinham espalhando as pistas durante toda a narrativa, apenas para que tivéssemos uma solução que surpreende pela simplicidade. A condução de Todd Phillips também merece aplausos, já que revela-se um diretor muito preocupado com o visual, entregando lindas tomadas que capturam a vida noturna de Las Vegas e o perigo dos desertos de Nevada; chegando até mesmo a homenagear Cassino com um close up dos óculos do divertido Sr. Chow (vivido com insanidade por Ken Jeong).
Sabiamente utilizando os créditos finais para oferecer uma de suas melhores piadas, Se Beber, Não Case! é uma comédia que impressiona pela engenhosidade e a construção de sua ótima trama, contando com o auxílio de uma direção acertada e um elenco protagonista absolutamente entrosado.
Se Beber, Não Case! (The Hangover, EUA – 2009)
Direção: Todd Phillips
Roteiro: Jon Lucas e Scott Moore
Elenco: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Mike Epps, Heather Graham, Sasha Barrese, Jeffrey Tambor, Ken Jeong, Rob Riggle
Duração: 100 min
Lista | Os 10 Melhores Vilões de Star Wars no cinema
Quando o assunto é vilões, Star Wars é um dos que mais pode se orgulhar do altíssimo nível de seus antagonistas. Lordes Sith, caçadores de recompensa, gângsteres e Cavaleiros de Ren são alguns dos exemplares que podemos encontrar no lado sombrio daquela galáxia muito, muito distante, e reunimos escolher aqui os 10 melhores vilões de Star Wars no cinema.
Porém, limitaremos esse ranking apenas aos personagens que apareceram no cinema, então não se espante pela ausência de figuras como Asajj Ventress, Grão Almirante Thrawn ou Durge.
Confira:
10. General Grievous
A Vingança dos Sith
Vilão introdutório de A Vingança dos Sith, o líder do exército dróide dos Separatistas é um assassino de Jedi nato, e que ganhou um destaque maravilhoso na animação Clone Wars. Já no cinema, Grievous é um híbrido alienígena-mecânico que aparece tossindo e constantemente fugindo dos protagonistas, mas impressiona pelo visual bem formulado, suas técnicas de fuga fora do convencional e a habilidade de usar quatro braços em um duelo de sabres.
9. Boba Fett
O Império Contra-Ataca, O Retorno de Jedi
Uma das figuras mais adoradas e icônicas de toda a saga, trajando uma armadura mandaloriana simplesmente legal demais. Mas, sendo bem sincero, o que exatamente Boba Fett fez de tão incrível? Claro, ele tem os gadgets, a inteligência e usou a melhor estratégia para capturar Han Solo e a Millennium Falcon durante a perseguição do Império, mas com exceção disso e um belo figurino, nada demais. E vamos concordar: que morte mais estúpida e ingrata.
8. Jabba, o Hutt
A Ameaça Fantasma, O Retorno de Jedi
Primeiro grande antagonista de O Retorno de Jedi, Jabba é a lesma gigante do qual Han Solo está sempre reclamando e fugindo, e que acaba por enfim capturá-lo no Episódio VI. De comportamento grotesco, o Hut representa uma forma de vida preguiçosa, bon vivant e que subverte nossas expectativas em relação a vilões da saga. É uma criatura sem qualquer tipo de movimento ou ameaça física, mas que apresenta poderes maiores de chantagem, lábia e toda uma legião de seguidores, mercenários e dançarinas a seu dispor.
7. Diretor Orson Krennic
Rogue One: Uma História Star Wars
Poucos oficiais imperiais foram tão bem formulados como o Diretor Orson Krennic. Na pele de um inspirado Ben Mendelsohn, o diretor científico do projeto da Estrela da Morte é um sujeito estressado e que batalha com as injustiças que os departamentos superiores do Império lhe fazem aturar, sempre subestimando seus talentos e inteligência. Krennic é também uma figura fria e sarcástica, não hesitando em atacar a família de um amigo para persuadi-lo a ganhar sua aliança. E também, claro, que capa branca mais estilosa.
6. Jango Fett
Ataque dos Clones
Isso mesmo, Jango Fett está na frente de seu filho, Boba. Por mais adorado que o caçador de recompensas apresentado em O Império Contra-Ataca seja, seu pai é uma figura muito mais ativa, habilidosa e inteligente. Jango não só é um manipulador nato, como também enfrenta diversos Jedi sem fugir, seja com o uso de seus gadgets sensacionais ou suas habilidades de combate corpo a corpo. Um excelente capanga, e o mais bem vestido de toda a galáxia.
5. Darth Maul
A Ameaça Fantasma
Homem de poucas palavras (pouco mais de uma dúzia, pra ser exato), o vilão preferido dos fãs da trilogia prequel é um dos elementos visuais mais marcantes de toda a saga. Chifres, pintura facial preta e vermelha e um inconfundível sabre de luz duplo. Darth Maul não ganhou no cinema todo o desenvolvimento que merecia, mas certamente foi um vilão interessante, misterioso e que deu trabalho para os jedi Qui-Gon Jinn e Obi-Wan Kenobi, resultando no duelo mais fascinante dos 8 filmes - a atuação física de Ray Park é um primor.
4. Grand Moff Tarkin
Uma Nova Esperança, Rogue One: Uma História Star Wars
Nada como a elegância e sofisticação do grande Peter Cushing para viver um vilão dessa magnitude. Responsável por manter Darth Vader em uma coleira e infernizar a vida de Orson Krennic, o Grand Moff Tarkin é uma figura de autoridade como poucas, onde sua obsessão por eliminar a Aliança Rebelde revela sua frieza e megalomania, com Tarkin sendo capaz de destruir um planeta inteiro apenas para torturar o psicológico da Princesa Leia. Pode não ser um vilão de ações, mas definitivamente é uma figura marcante.
3. Kylo Ren
O Despertar da Força
Muitos fãs da franquia detestam Kylo Ren, e o acham um dos mais fracos vilões da franquia. Respeitosamente, estão todos errados. O filho de Han Solo e Leia Organa é um dos personagens mais complexos e bem trabalhados de toda a saga. Adam Driver dá vida a um jovem inseguro e que precisa aturar o fardo de viver à sombra daquele que foi o grande vilão da galáxia: Darth Vader. Assim, Kylo é um vilão de temperamento esquentado, pavio curto e até maneja um sabre de luz que parece feito às pressas e sem muito cuidado. Um vilão em formação, cujo medo é justamente a tentação de encontrar a Luz, algo que o leva a matar seu próprio pai.
2. Darth Sidious/Imperador Palpatine
A Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones, A Vingança dos Sith, O Império Contra-Ataca, O Retorno de Jedi
Grande arquiteto da queda dos Jedi, Darth Sidious é um gênio. Disfarçado como Palpatine no Senado da República, e fazendo a cabeça da Ordem Jedi enquanto se aproximava do jovem Anakin Skywalker. O futuro Imperador galáctico é um manipulador sem igual, e um sujeito assustadoramente calculista e engenhoso na execução de seus planos, que tomam tempo e demoram para entrar em ação. O Sith é pura maldade, e do tipo que se diverte com o tipo de atrocidade que comete, o que torna este um dos mais perigosos seres da galáxia - tanto em suas habilidades como espadachim quanto em conhecimento da Força, que lhe permite disparar raios das mãos.
1. Darth Vader
A Vingança dos Sith, Uma Nova Esperança, O Império Contra-Ataca, O Retorno de Jedi, Rogue One
Darth Vader não só lidera a maioria das listas de personagens de Star Wars, como também figura em posições altas em diversas listas sobre grandes vilões da História do Cinema. Com um visual simplesmente imbatível, a respiração mecânica que virou um dos sons mais reconhecíveis do planeta, a voz profunda de James Earl Jones e todo o arco de transformação trágico e impressionante de Anakin Skywalker, que transforma-se em um híbrido mecânico após ferimentos de batalha, Vader é tudo o que um bom antagonista deveria ser. Ameaçador, inquietante e com muita complexidade em seu backstory. E um salve especial para aquele massacre no corredor de Rogue One.
Concorda com nossa lista? Qual vilão de Star Wars merecia entrar? Comente!
Leia mais sobre Star Wars
Especial | Fargo
Uma das melhores e mais subestimadas séries da atualidade, a antologia de Noah Hawley faz um trabalho fantástico em capturar o humor negro e existencial da filmografia dos irmãos Joel e Ethan Coen, criando uma série com alguns dos melhores personagens dos últimos tempos. Aqui, reunimos todo o nosso conteúdo dessa verdadeira pérola do FX.
Confira:
CINEMA
Crítica | Fargo: Uma Comédia de Erros (1996)
Publicado originalmente em 24 de junho de 2018
TELEVISÃO
Crítica | Fargo - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 15 de setembro de 2016
Crítica | Fargo - 2ª Temporada
Publicado originalmente em 11 de dezembro de 2017
Guia de Episódios | Fargo - 3ª Temporada
Publicado originalmente em 20 de abril de 2017
LISTAS
Os 15 Melhores Personagens de Fargo
Publicado originalmente em 19 de maio de 2017