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Crítica | A Garota no Trem, de Paula Hawkins

Algumas obras levam vários anos para serem lançadas como filmes depois que os direitos são comprados, gerando assim uma expectativa e ansiedade por parte de seus fãs. Não foi isso que aconteceu com A Garota no Trem. O livro escrito por Paula Hawkins foi lançado em 2015 e nesse ano já ganhou um filme (que a nossa equipe já analisou, confira!). E é claro que quando vemos uma história gerar tanto interesse assim, podemos acreditar que algo interessante existe e nesse caso, o livro não decepciona.

Conhecemos Rachel Watson, uma mulher divorciada e alcoólatra que pega o mesmo trem todos os dias para ir e voltar de seu trabalho em Londres. No caminho o trem costuma parar em frente a uma casa onde ela gosta de observar um jovem casal e criar teorias sobre a vida deles na sua cabeça. O casal tem algo de especial e nostálgico, já que eles moram na mesma rua onde ela morava com Tom, seu ex marido. Além claro de, do trem, eles parecerem extremamente felizes e apaixonados. Porém Megan (a moça do casal) acaba desaparecendo misteriosamente e todos acreditam que Rachel viu algo já que parece que foi vista onde a vítima foi vista pela última vez.

Rachel não é confiável. Não consegue ficar um dia sem beber e sempre liga ou tenta encontrar com seu ex marido, além de não se lembrar de nada da noite em que Megan desapareceu, tendo apenas pequenos flashes do que pode ter acontecido. Mas está empenhada a provar para si mesma que não teve nada a ver com esse caso, que não matou Megan. Então decide contar ao marido de Megan, Scott, e à policia que a viu com um outro homem na varanda dias antes. Scott passa a confiar nela, mas a polícia ainda não.

Seguindo a mesma fórmula de outros livros de sucesso, como Garota Exemplar, esse surpreende no quesito desenvolvimento do mistério em torno do desaparecimento de Megan. O leitor precisa colher as pistas que a história lança até a conclusão e o uso de três narradoras contando os fatos foi uma escolha inteligente da autora para esse fim.

A principal narradora é a própria Rachel, vemos toda a história principal pelos seus olhos, cheios de conflitos internos e problemas causados pela não superação de seu divorcio e pelo vício na bebida. A segunda narradora é Megan, que nos apresenta fatos da sua vida e alguns de seus conflitos internos até desaparecer. Esse talvez seja o ponto mais importante, pois ela nos dá detalhes extremamente ricos que contribuem muito na montagem do “quebra-cabeça”. E a terceira narradora é Ana, a nova mulher de Tom. O foco dela é principalmente questionar Rachel e os fatos que ela apresenta, querendo assim confundir o leitor. Afinal ainda não sabemos se Rachel é boa ou má, na verdade nem ela mesmo consegue saber direito seu papel em tudo isso, já que não se lembra muito da noite.

Não se engane, essa escolha de usar as três mulheres como narradoras não foi algo aleatório. Todas estão ligadas por diversos fatores, incluindo alguns conflitos internos quanto aos seus relacionamentos. E acredite, esse é o ponto mais belo da história! A autora conseguiu retratar assuntos como abuso e depressão com toda a sutileza esperada e ao mesmo tempo com toda a monstruosidade necessária, tudo isso tendo como pano de fundo o desaparecimento da Megan. Tudo isso pode parecer confusa e realmente é se não prestar muita atenção, o único artifício usado ara diferenciar quem está escrevendo o capítulo é o próprio nome dele que no caso é o nome da narradora.

Porém como vários outros excelentes livros, esse também tem um pequeno problema na sua conclusão que nesse caso acontece muito rápido. Não existe uma preparação, nenhum desenvolvimento. Acontece apenas dos pontos certos e importantes serem ligados e a “solução” é jogada na cara do leitor e isso me decepcionou um pouco. Mas não é algo de atrapalha tanto assim, pois mesmo sendo apressado, o clima de tensão que foi criado durante toda a narrativa continua no conflito final.

Se procura um thriller que busca tirar o leitor de sua área de conforto com questionamentos que vão além da ficção e um mistério que no primeiro momento pode ser óbvio, mas se a cada capítulo te surpreende essa deve ser a sua escolha. A Garota no Trem mesmo com uma conclusão apressada não decepciona com sua narrativa rica e com um mistério digno de grandes autores já consagrados.

Obs: Se ainda não assistiu ao filme recomendo que leia o livro e corra para assistir. Não é só uma adaptação fiel, mas visualmente belíssimo. Acredite, vale muito a pena!

A Garota no Trem (The Girl on the Train, Reino Unido – 2015)
Autor: Paula Hawkins
Publicação no Brasil: Grupo Editorial Record
Tradução: Simone Campos
Páginas: 378 páginas

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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