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Crítica | Turma da Mônica: Lembranças – As doces memórias da infância

As já famosas Graphics MSP, graphic novels concentradas nos personagens criados pela lenda Maurício de Sousa, pode ter sido a melhor coisa que aconteceu à Turma da Mônica em muito tempo.

Depois do sucesso que Astronauta: Magnetar de Danilo Beyruth conseguiu, rapidamente o projeto foi expandido, garantindo outras novas pérolas tão brilhantes quanto a estreia dessa linha distinta e corajosa do editorial de Maurício de Sousa.

Os irmãos Cafaggi, Vitor e Lu, provavelmente tiveram a tarefa mais difícil: cuidar da Turma da Mônica sob esse novo olhar. Não com personagens secundários que propiciam mais liberdade de criação, mas com o quarteto mais famoso do Brasil: Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. Tudo começou com fofíssima Laços em 2014 que agora será o primeiro filme live action da turma.

O sucesso encomendou uma sequência tão bonita quanto: Lições. E agora, para fechar essa “trilogia do L”, temos outra edição tão pura e doce quanto as outras: Lembranças. Como nas outras histórias, essa aqui se relaciona diretamente com o tema, trazendo um punhado de aventuras distintas que lidam com as ditas “lembranças” guiando as crianças para um novo amadurecimento e das lições de viver o presente aprendendo com os erros do passado ou apenas lembrando com ternura de antigas memórias.

Querida Infância

O que é mais brilhante entre as histórias dos Cafaggi é o fato deles serem da geração que cresceu com as histórias da Turma da Mônica entre diversos gibizinhos. Em vez de trabalharem somente com nostalgia barata, os dois se aventuram em detalhes realmente valiosos, explorando um pouco mais sobre a personalidade das crianças sem, obviamente, fugir das características principais.

Cebolinha continua sendo o mestre dos planos, Cascão vai bem nos esportes e odeia água, Magali é comilona e Mônica continua a gordinha dentuça carinhosa e ameaçadora de sempre. Porém, em pouco mais de cem páginas, os dois conseguem tornar toda a turma mais complexa, na medida do possível.

Apesar de termos diversas aventuras, algumas se estendem pela graphic inteira como as tentativas da Mônica conseguir um convite para uma festa de aniversário de uma antiga colega e a formação do novo clubinho do Cebolinha. Nisso, as tais ‘lembranças’ surgem. Seja do Cebolinha com os primeiros momentos do seu antigo clubinho, enquanto ainda bebê, ou das trapalhadas da Mônica no aniversário da colega no ano anterior, cujas consequências a fizeram não ser convidada nesse ano.

O roteiro é particularmente inteligente em deixar a turma separada em duplas até a metade da história. Vemos Cebolinha e Cascão em aventuras distintas as da Mônica e Magali. Com isso, conseguimos aproveitar com distinção as atividades de cada um com interesses claramente discrepantes, seja no consumo de entretenimento ou de brincadeiras diferentes.

O curioso é que Lembranças sabe bem quem está consumindo a obra. Claro, ela é funcional para crianças, mas afeta os mais crescidos de modo diferente, ao fazer nos recordar da infância propriamente dita. Vitor é inteligente ao selecionar temas que são muito comuns à infância de cada leitor como ir à banca compra gibis – aliás, esse trecho é até metalinguístico, fazendo uma piada com a própria Panini de modo pouco invasivo – comer delícias características da idade, fazer traquinagens na escola como jogar cola na mala de um colega, fugir dos valentões agressivos, dormir na casa dos amigos, ver seriados de animações japonesas, entre diversas outras coisas.

Mas não pense apenas que o roteiro elabora temas felizes e iluminados. Há também as decepções e melancolia, apesar de não muito exploradas em texto, mas sim através da arte incrível de Lu Cafaggi que continua excepcional em trazer nova vida ao mundo criado por Maurício. Particularmente, Lembranças tem trechos de flashbacks dos personagens lembrando o que fizeram há anos. Nisso, a artista segue o convencional para distinguir os quadros, alterando levemente o traço e usando cores mais próximas do sépia. Aqui há os momentos mais fortes da nostalgia dos personagens, incluindo até mesmo o primeiro encontro de Cebolinha com Mônica.

Quando a turma se reúne, enfim, a mesma acuidade com os personagens permanece. As brincadeiras mudam, segredos são criados, laços e lições são concretizadas.

 

Conquista da Memória

Mesmo que Lembranças não ouse em ir muito além para explorar sentimentos um pouco menos brandos para os personagens, há muito o que ser celebrado nesse final de trilogia. A arte fofa e bela de Lu Cafaggi evoca um sentimento muito vivo nas páginas que parecem saltar aos olhos, além da diagramação que sabe sim aproveitar os momentos mais cinematográficos da HQ. Já o roteiro de Vitor merece todos os elogios e muito mais por conseguir amadurecer os personagens sem apelar para clichês emocionais, mas sim através de momentos tão únicos e, ainda assim, tão presentes na vida de cada leitor.

Além de ser uma excelente história, Lembranças consegue seu principal objetivo: se tornar uma doce memória para o leitor.

Lembranças (Idem, Brasil – 2017)

Roteiro: Vitor Cafaggi
Arte: Lu Cafaggi
Páginas: 100
Editora: Maurício de Sousa, Panini

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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