Uma das minhas grandes reclamações enquanto acompanhava a série Sexta-Feira 13, era a de que todos os filmes acabavam em um repetição tediosa ao sempre situar suas histórias em um acampamento; ou alguma variante envolvendo matas fechadas e casas de campo. Dessa forma, imaginem minha empolgação ao contemplar o título Sexta-Feira 13 Parte VIII: Jason Ataca Nova York, filme que enfim sugeria a ideia de termos Jason Voorhees fora de seu habitat natural. Porém, é frustrante assistir ao oitavo capítulo da franquia e se deparar com um desperdício de potencial tremendo.
A trama começa quando um casal de namorados passeia de barco pelo antigo Crystal Lake, e após circunstâncias mais absurdas do que as do sexto filme, Jason Voorhees (Kane Hodder) é despertado novamente, agora seguindo um grupo de adolescentes que prepara-se para ir até Nova York para uma excursão acadêmica. Com o grupo saindo de navio até a ilha de Manhattan, Jason entra escondido na embarcação e promete levar sua onda de assassinatos até a Big Apple.
Com a decepção de A Matança Continua, um filme que a Paramount esperava conseguir um novo respeito e até reconhecimento em prêmios, o estúdio simplesmente já não sabia o que fazer com a franquia. Sendo o último filme da série sob propriedade do estúdio, que então cederia os direitos para a New Line, Rob Hedden foi escolhido para escrever e dirigir o longa, que realmente parece algo feito sem muito ânimo ou criatividade. É o caso de “Velocidade Máxima ser Duro de Matar em um ônibus”, mas com Jason sendo Jason em Nova York. Ou melhor, Jason em um navio, já que o filme demora para enfim fazer jus ao título, nos forçando a acompanhar um arco terrível envolvendo alguns dos mais chatos personagens de toda a franquia – pobre Peter Mark Richman, que tenta dar credibilidade a um personagem tão mal escrito e caricato.
Quando a trama enfim chega a Nova York, e isso demora mais de 1 hora, até que a situação fica um pouco mais divertida, mas não como poderia. Temos tiradas bacanas como aquela em que o assassino contempla um grande bilboard com uma máscara gigante de hóquei, uma caminhada memorável pela Times Square e até uma perseguição por dentro dos vagões de um metrô. Porém, nunca sentimos a grandiosidade ou o escopo da cidade, e Jason sempre está concentrado naquele grupo específico formado por Rennie e seus amigos, ignorando qualquer outro civil pela rua. Vale apontar também que, dado o orçamento limitado da produção, muitas cenas foram filmadas em Vancouver, e à noite, o que nos dá muito pouco da real Nova York.
E Hedden até se esforça para tornar essas cenas interessantes, mesmo com o orçamento reduzido – com exceção de tudo envolvendo o navio, que é simplesmente maçante. Uma das cenas mais memoráveis de toda a franquia é quando o durão Julius (V. C. Dupree) enfrenta Jason em um combate corpo a corpo, tentando derrubá-lo com uma série de jabs e socos, até literalmente não conseguir se manter em pé e suas mãos começarem a sangrar. Em um belo exemplo do trabalho de efeitos especiais e da direção de Hedden (que alterna entre planos plongée e abertos com inteligência), Jason arranca a cabeça do jovem com um simples soco. Esse filme merece a menção só por essa hilária cena, mesmo. De resto, as já conhecidas perseguições e jogos de gato e rato dos anteriores, mas agora nos corredores de um navio e em túneis subterrâneos.
Um verdadeiro desperdício de proposta, e uma triste despedida de Jason Voorhees de sua casa, Paramount Pictures. Agora, depois de sair do campo e visitar uma das maiores metrópoles do mundo, não havia muitos lugares que o assassino da máscara de hóquei poderia ir. Bem, havia um…
Sexta-Feira 13 Parte VIII: Jason Ataca Nova York (Friday the 13th Part VIII: Jason Takes Manhattan, 1989 – EUA)
Direção: Rob Hedden
Roteiro: Rob Hedden, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Jensen Daggett, Scott Reeves, Barbara Bingham, Peter Mark Richman, Martin Cummings, Gordon Currie, V. C. Dupree, Alex Diakun, Kane Hodder
Gênero: Terror
Duração: 100 min