Comentei algumas vezes em outras de minhas críticas sobre a franquia Sexta-Feira 13, mas aqui essa questão fica mais relevante. Enquanto Jason Voorhees executava suas matanças anualmente, o fenômeno de Freddy Krueger e A Hora do Pesadelo já havia despontado, e começava a roubar os holofotes do Queridinho da Mamãe de Crystal Lake. A cada novo filme da série, o lucro era menor, enquanto a franquia protagonizada por Robert Englund arrecadava praticamente o dobro que cada novo capítulo da Paramount. Foi aí que começou a integração dos universos, com executivos da Paramount e da New Line (proprietária de A Hora do Pesadelo) negociando um possível crossover entre as duas franquias, que só viria a acontecer em 2003, com Freddy vs Jason.
Porém, empolgada com a ideia de um confronto de Jason com algum outro personagem, os produtores começavam a brincar com esse conceito e praticamente exploravam todas as possibilidades possíveis, até que o roteirista Daryl Haney soltou a pérola: “Todo filme termina com alguma adolescente sobrevivendo, e se tivessemos uma garota com poderes de telecinese?”. Basicamente, daí nascia Jason vs Carrie, a Estranha, também conhecido oficialmente como Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua. Mas por mais divertido que o conceito seja, não é o bastante para salvar o filme da mesmice.
Após a tradicional recapitulação dos eventos de filmes anteriores, a trama nos apresenta à Tina Shepard (Lar Park Lincoln), uma jovem que lida com o trauma de ter matado acidentalmente seu pai, em uma consequência de seus misteriosos poderes telecinéticos. Em busca de um tratamento e uma forma de entendê-los, ela busca ajuda em uma clínica localizada no antigo Crystal Lake, mas o descontrole de seus poderes acaba trazendo Jason Voorhees (Kane Hodder) de volta das profundezas do lago, e mais mortes começam.
Olha, quando o assunto é ideias bizarras, eu sou a primeira pessoa a animar. Fiquei triste quando desistiram do crossover de Anjos da Lei com Homens de Preto, sou o maior apoiador da ideia de Velozes e Furiosos no espaço e estou até mesmo animado para ver Jason X, que levará o assassino de Crystal Lake ao espaço. Porém, por mais que A Matança Continua tenha um conceito sobrenatural interessante, é pessimamente desenvolvido e raramente usa essa singularidade para oferecer inovações à franquia. Mesmo com uma verdadeira mutante na equipe, o texto de Haney e Manuel Fidello ainda perde tempo com subtramas adolescentes genéricas, com um tratamento artificial e risível para as tentativas de integração de Tina com os jovens; e outra, que tipo de clínica psiquiátrica fica no meio do mato ao lado de uma república adolescente? Bizarro, mesmo.
O pior é ver como o roteiro se leva a sério ao tentar abordar os poderes de Tina. É tratado como se fosse a coisa mais normal do mundo, e ainda temos o ridículo trauma do passado que fica voltando em flashbacks para atormentar a protagonista. Quando Jason retorna, temos mais uma série de assassinatos, que realmente não parecem ter mais criatividade ou imaginação, e nenhum dos personagens envolvidos conseguem captar nosso interesse. Nem mesmo a protagonista, que tenta ter um arco mais desenvolvido, consegue sair da mesmice, e não ajuda que Lar Park Lincoln seja uma péssima atriz.
Saindo do departamento de maquiagem para a direção, John Carl Buechler não traz muito de novo. Sua câmera faz o serviço e traz suspense quando a narrativa requer, valendo mencionar a “homenagem” a um dos planos icônicos de Tubarão, quando uma bela moça nua nadando no lago é atacada por Jason, e vemos o POV contra plongée embaixo d’água. Buechler ganha mais força quando enfim chegamos ao confronto entre Tina e Jason, com efeitos de telecinese bem empregados e criativos o bastante para serem usados contra o assassino – que ganha aqui uma maquiagem verdadeiramente assustadora, mérito do antigo emprego de Buechler.
Foi uma tentativa admirável e fora da caixinha, mas infelizmente o sétimo Sexta-Feira 13 não funciona tão bem.
Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua (Friday the 13th Part VII: The New Blood, EUA – 1988)
Direção: John Carl Buechler
Roteiro: Daryl Haney e Manuel Fidello, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Lar Park Lincoln, Kane Hodder, Kevin Blair, Susan Blu, Susan Jennifer Sulivan, Terry Kiser, Elizabeth Kaitan
Gênero: Terror
Duração: 87 min