em ,

Análise | The Dark Pictures Anthology: Man of Medan – Na sombra do passado

Quando a Supermassive Games fez seu grande debut com Until Dawn, um dos games de terror exclusivos do PS4, parecia para muitos jogadores que estávamos testemunhando o nascimento de uma produtora do calibre da Quantic Dream de David Cage.

O game de narrativa interativa contava com diversos clichês possíveis de filmes de terror e ainda assim cativou bastante pelo entroncamento de eventos mínimos resultando em grandes reviravoltas no terço final da experiência. A brincadeira era simples: tentar manter todos os jovens adultos vivos até o raiar do sol.

Mais fácil escrever do que fazer, com toda a certeza, afinal havia diversos personagens com personalidades bastante irritantes, flertando com o lado mais sádico do jogador em se livrar logo os que desagradavam.

Agora, quatro anos depois, a Supermassive retorna com outro game de terror de narrativa interativa com The Dark Pictures Anthology: Man of Medan. Lançado há pouco tempo e por um preço mais baixo, o game preserva as ramificações narrativas vistas no trabalho anterior da produtora, porém com uma qualidade muito menos esperada do que os jogadores esperavam.

Tempestade Imperfeita

O propósito da Supermassive é bastante simples: lançar oito jogos independentes com histórias de terror distintas pertencendo à dita cuja antologia. Separados apenas por seis meses de hiato, é um tanto alarmante que Man of Medan tenha sido lançado praticamente às pressas.

A história é bastante simples: um grupo de jovens mergulhadores querem explorar pontos de mergulho ainda não descobertos oficialmente. Por um infeliz acaso do destino, os jovens acabam atrapalhando os planos de pescadores locais super mal-encarados. Na mesma noite, os pescadores invadem o pequeno iate e sequestram os jovens querendo saber do que se tratava o “Ouro da Manchúria”, aparentemente um tesouro não descoberto.

No meio da noite, uma tempestade irrompe e joga todos os tripulantes diretamente para um cargueiro da Segunda Guerra Mundial chamado SS Ourang Medan. Subindo a bordo do navio-fantasma, o grupo acaba descobrindo segredos horrorosos que deviam permanecer esquecidos por todo o tempo que o Medan flutue.

Infelizmente, narrativa não é o forte de Man of Medan que praticamente é um título medíocre em diversos aspectos. Os diálogos, matéria-prima para sustentar um game de quase quatro horas, oscilam em extremos de qualidade. Por si, os personagens são bastante insossos, partindo de estereótipos típicos a la Scooby-Doo, um trabalho ainda mais rudimentar do que o realizado com os personagens de Until Dawn.

Algumas características tornam Alex e Julia os protagonistas mais interessantes enquanto Conrad, Fliss e Brad praticamente desmoronam com grandes ausências em porções da história – muito embora isso possa mudar completamente dependendo das escolhas do jogador. Alex e Julia são recém-noivos e, graças a isso, a interação entre os dois é bastante funcional.

Devido a circunstâncias ambientais dos cenários enferrujados do Medan, o casal pouco a pouco caminha em direção à loucura completa. Embora a ideia seja boa, a execução não é. Man of Medan passa constantemente a impressão de ser um game terrivelmente picotado, com a inserção de cliffhangers eficientes, mas que logo depois se tornam irrelevantes já que o acontecimento acaba esquecido em questão de poucos minutos.

Das trivialidades do game, parece apenas que a aliança de noivado de Julia se torna algo recorrente com poder emocional. Do contrário, o restante dos itens serve como macguffins nada elaborados para prolongar a narrativa – o grupo protagonista tenta resgatar uma bugiganga do iate que está com os pescadores malvados para conseguir ligar o barco e se mandar do Medan.

Obviamente, de pano de fundo para arrancar diversos sustos movidos apenas a jump scares, há todo o histórico conturbado que acometeu a tripulação totalmente devastada do navio-fantasma. Infelizmente, todo o mistério é facilmente decifrado horas antes da resolução surgir na história de tão previsível que é.

Parte de clichês bastante conhecidos por qualquer pessoa que esteja familiarizada com quadrinhos de um certo vigilante mascarado. Logo, por conta do mistério ser ruim e, ainda por cima, totalmente sem regras definidas já que as “assombrações” interagem com o jogador sempre de modo contraditório, há muito pouco que realmente salva a experiência desse game.

O que com certeza merece muitos elogios é a dedicação dos profissionais de level design, iluminação e também da direção artística envolvendo toda a atmosfera claustrofóbica do navio. Com muitos jogos de contraluz e alguns pontos de iluminação bem definidos, a atmosfera do game é bastante funcional e, com efeitos de sonoplastia, se torna uma experiência, no mínimo, tensa.

Os sustos realmente funcionam e a adrenalina percorre o seu corpo. Porém, não diria que é um jogo que consegue te paralisar de medo como certas sequências de The Last of Us ou de Resident Evil 7 que atingiram esse ápice de atmosfera.

O maior inimigo de Man of Medan é sua completa falta de polimento. O jogo precisava de mais alguns meses no forno para estar à altura da qualidade que uma produtora como a Supermassive promete. Os problemas são diversos: sincronia labial descompassada, problemas de colisão para movimentar os personagens em cenários apertados e, o pior deles, a péssima expressividade facial dos protagonistas.

Julia é a mais afetada pelo problema conseguindo momentos tão bizarros que seriam dignos de Mass Effect: Andromeda. É um trabalho tão cru e rudimentar que acaba te removendo da atmosfera do game. De resto, a interatividade continua morna assim como era em Until Dawn com itens servindo para complementar a investigação. Outros QTEs são usados nos raros momentos tensos nos quais os personagens precisam correr ou superar alguma adversidade física.

Mau Começo

Logo, não é exagero dizer que Man of Medan é uma experiência bastante entediante. O jogo custa menos que um game tradicional lançado no mercado, porém há de se considerar sua curta duração, embora o fator replay seja encorajado pelo próprio formato do jogo que possui 14 finais diferentes à disposição do jogador.

Entretanto, sempre achei um tanto exaustivo conhecer a mesma história apenas com alguns detalhes distintos. Porém, isso com certeza varia a cada jogador. Contando uma história fraca baseada em um mistério real intrigante, Man of Medan consegue apresentar uma atmosfera bacana que constantemente é quebrada pela pobreza gráfica e de animação facial nos personagens, além da dublagem ser medíocre. Talvez, valha mais a pena aguardar pelos próximos capítulos de The Dark Pictures Anthology.

The Dark Pictures Anthology: Man of Medan

Gênero: Narrativa visual, terror
Plataformas: Xbox One, PS4, PC
Estúdio: Bandain Namco

Avatar

Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Crítica | Bacurau – Kleber Mendonça se destacando entre os cineastas nacionais